Alma de Coordenadora Pokémon - Fita da Vida escrita por Kevin


Capítulo 16
Fama Indesejada?


Notas iniciais do capítulo

Acho que esse episódio vai levantar umas questões sobre o mundo sombrio da coordenação pokémon!

Afinal, existe Fama Indesejada?



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— Acorda! Acorda! –

Meu corpo era sacolejado e acordei assustada, com um salto e levando a mão à frente do corpo. Estava tendo um pesadelo e alguém que resolveu me acordar, ou por piedade diante dos meus gritos ou por incomodo pelos mesmos.

No pesadelo eu enfrentava Amora e Rachel na batalha final de um concurso. Não entendia porque as duas ao mesmo tempo, mas parecia tão natural que todos ao redor gritavam para as duas acabarem comigo. Elas estavam vestidas com roupas negras e mandavam seus pokémon atacarem não apenas Audino, mas também a mim. O ambiente estava um pouco escuro e eu via uma grande sombra atrás delas, como se as comandassem.

Claro que eu entendia o pesadelo, ou ao menos o motivo de tê-lo. Eu estava sendo motivo de piada e ridicularizada em toda Kanto por conta da apresentação de lavar pratos e da desistência e a figura que mais balançava tal bandeira era Amora. Mas, eu imaginava que Rachel estivesse fazendo o mesmo, já que ela era implacável. Eu estava com medo, mas tudo piorou depois que minha mãe falou para que eu tomasse cuidado com o lado sombrio da coordenação.

A primeira vez que escutei sobre aquilo foi com Kenan e eu sequer pude compreender o que ele estava falando. Mas, agora que minha mãe alertou-me sobre isso eu posso dizer, estou vendo-o com certeza. Nenhum dos dois me contou sobre o que era realmente esse lado sombrio, mas posso dizer que estou diante aos efeitos. Coordenadores sendo superficiais e esnobes a ponto de achar que uma tarefa simples como lavar prato era indigna deles e por isso tentando destruir minha imagem diante ao público.

 

— Levanta! Vem! -

 

Olhei para Beta, aquele homem que escolhera ser mulher que estava com roupão de ceda a me puxar desesperadamente da cama do seu segundo quarto de hóspedes.

 

— Estou bem! - Eu disse tentando acalmá-la. - Foi só um pesadelo. -

 

— Pesadelo? - Ela parou de me puxar e ficou me olhando como quem não estavam entendendo nada. - Parece mais com um sonho de cinderela! -

 

— Vai começar! -

 

Escutei o berro de alguém vindo da sala e imaginei ser de Blue, mas não tive tempo real de processar de quem era a voz. Fui arrastada da cama aos tropeços até a sala, Beta parecia tão entusiasmada com algo que por um momento me perguntei se ela sabia que a força que ela estava usando era digno de um homem que malhava sempre.

Na sala Hina estava abraçada a uma almoçada e parecia tão animada quanto Beta ou Blue que comia um cereal posto em uma tigela.

A televisão naquele momento apresentava um telejornal de Kanto que eu já havia visto uma ou outra notícia em uma das minhas estadias nos centro pokémons. De repente a televisão começou a exibir minha imagem e a de Audino lavando pratos, era a apresentação que eu tinha feito no concurso e me transformado em insolente e covarde.

 

“Essa é literalmente a história da gata borralheira. A mocinha que se mata fazendo trabalhos domésticos e é mautrada pelas pessoas em sua volta até que num passe de mágica torna-se uma princesa e abala o mundo daqueles que a esculacharam.”

 

Este era o áudio que vinha enquanto o vídeo da apresentação era mostrado. Eu fiquei confusa e sentei-me sem compreender. De repente uma imagem minha, que eu nunca havia visto antes, apareceu. Eu estava com uma roupa bonita, estranha e que eu nunca havia visto.

 

“Se contos de fada não existem quero ser amigo de Mirian Miller! A menina tem estrela ou uma senhora fada madrinha! Após ser chamada de covarde por sua adversária, por não subir ao palco para a batalha da segunda fase do Concurso Pokémon de Pewter, ainda teve boa parte da comunidade de coordenadores pokémon chamando-a de insolente por lavar pratos durante uma apresentação. Ainda assim, ela amanhece como batedora de um recorde de lavar pratos, junto a sua Audino, e é defendida por uma Top-coordenadora de renome”.

 

Minha imagem bonita, que eu nunca havia visto, desapareceu e deu espaço para uma moça de corpo esbelto com uma colante vermelha e um lenço na cabeça que tentava esconder, ou não, uma vasta cabeleira castanho claro. Ao lado dela estava um pokemon ave com penas de fogo, bípede e maior que ela, a legenda dizia ser May, Top-coordenadora e Mestre de Cerimônia de Hoeen.

 

“Eu teria cinco a seis críticas para fazer quando a apresentação que estão chamando de Máquina de Lavar, mas nenhuma que tenha relação com o fato dela ter lavado prato em cima de um palco. Achei esplêndido! Foi criativa e mostra que podemos fazer arte com qualquer coisa. Lavei pratos em casa, na minha infância, nas minhas jornadas e continuo lavando! Não vejo mal algum em um coordenador fazer esse tipo de tarefa. Compreendo se outros companheiros de profissão e aspirantes ao mesmo discordam, respeito a opinião e por isso peço respeitem as pessoas trabalhadoras! Ao criticarem Mirian por lavar pratos vocês parecem se esquecer que existem pessoas que ganham a vida fazendo isso. Muitos podem ter escolhido a profissão coordenador pokémon, mas o mundo dá voltas. Nem todos vivem como coordenadores a vida inteira e será lamentável se a prepotência de vocês os mantiverem longe de oportunidades de emprego não por acharem indigno de um coordenador, ou ex, lavar um prato, e sim por não saberem!”

 

Ela deu um sorriso tão malicioso antes do ancora do jornal reaparecer em sua bancada que não ficou dúvidas, era um tapa de luvas muito bem dado que ela estava dando.

 

“Fiquem conosco durante o dia pois traremos mais desta reviravolta de Mirian Miller que promete revelar o motivo por não ter participado da segunda fase do concurso!”

 

— Eu o que? -

 

Questionei alarmada enquanto o jornal entrava em comercial. Meus três amigos olharam-me esperando que eu dissesse algo, mas a verdade era que nada poderia ser dito e eles bem sabiam disso. O único momento que saí da casa de Beta foi para ir ao Centro Pokémon pegar minhas coisas e eles ficaram comigo todo o tempo, inclusive Hina assistira-me a falar com minha mãe por quase toda a vídeo-chamada.

Eu não havia feito nenhuma declaração, não havia prometido nenhuma entrevista ou mesmo tirado, algum dia, aquela estranha e bela foto que mostravam na televisão.

 

— Você vai! -

 

A voz tinha um tom louco e debochante. Olhei para a direção da porta de entrada, certa de que veria um Aries posudo em suas roupas de couro e com os olhos quase brancos a faiscarem. Talvez eu tivesse visto tal coisa, não fosse a mochila que voara em minha direção, tampando toda a minha visão. Meus reflexos não foram os melhores e a mochila acertou meu rosto levando meu corpo para trás e me fazendo cair.

Retirei a mochila para o lado, com a ajuda de Blue e levantei-me encarando Aries por alguns instantes. Mas, desisti. Ele realmente estava com aquele olhar de que estava para entrar em uma luta de vida ou morte e infelizmente, não parecia haver outro alvo além de mim na mira daqueles olhos doentios.

 

— Então você tem uma roupa como a da foto. -

 

Olhei para o lado e vi que Blue havia aberto a mochila e retirava duas peças de roupa que pareciam-se com as que eu supostamente usava na foto mostrada na televisão.

 

— O que significa isso? - Beta perguntou a Aries enquanto eu pegava a roupa olhando sem compreender. Eu era meio lerda. - Já sei! Está dando uma de fada madrinha! - Ela disse toda animada.

 

— Vá se vestir e não vire abóbora na hora da entrevista! - Ele ordenou-me puxando uma cadeira e sentando-se. - Tem uma hora e meia para se aprontar ou vai desejar ter morrido na noite que nos encontramos. -

 

 

 

Alma de Coordenadora Pokémon
— Fita da Vida -
Episódio 15: Fama Indesejada?

 

 

Algumas pessoas me olhavam enquanto eu caminhava pelas ruas de Pewter em direção ao centro pokémon. Tentei ignorar ao máximo, perguntando-me se todos estavam reconhecendo-me da reportagem de mais cedo e querendo questionar-me o motivo que logo mais seria revelado, mas ao passar por um prédio espelhado vi meu reflexo e soube que era apenas o visual chamando a atenção.

Uma blusa preta e mangas compridas de um tecido gostoso de tocar. Uma jaqueta de couro que era um pouco mais curta no tronco, ficando apenas na altura do meu umbigo com uma calça couro, ambas azul-claro, e botas pretas bem femininas que até fingiam ter um pequeno salto. Tirando uma ou outra mancha de machucado nas mãos e no rosto, eu estava idêntica a foto exibida, coisa que me assustava.

Hina tentou explicar-me que alguns estilistas costumavam desenhar suas roupas exclusivas já com as medidas corretas do corpo de seus donos e com alguns truques de computador, faziam a imagem conceitual parecer uma foto real da pessoa usando a roupa. Ela ficou tão animada ao perceber tal coisa que fez questão de tentar deixar meu cabelo como o da foto e felizmente o penteado não era nada de diferente do meu cabelinho curtinho que ela havia feito na minha estadia em sua casa.

Eu estava idêntica a foto e não sabia explicar a Hina, que estava sendo uma boa amiga, como aquilo poderia ser possível. Eu imaginava que era coisa do Grupo Olimpo que me prometera equipamentos e até o momento havia recebido pouquíssimas coisas. Mas, como poderia explicar isso para ela sem mentir ou contar tudo sobre a situação da minha mãe? Como explicar que eu era uma coordenadora contratada e patrocinada se eu parecia ser tão incompetente? Minha sorte era ela ter que se arrumar para sair também ou talvez tivesse que ter que descobrir como explicar tudo isso.

A chegada cousou-me uma sensação de medo que me fez eparar a poucos metros da porta. Inicialmente os coordenadores não falavam comigo e eu não falava com eles, seguido por eles quererem me atacar e eu fugir deles fortemente, mas agora o local deveria estar praticamente vazio. Poucos deveriam restar de todos aqueles competidores e outros que vieram pelo concurso e isso significava não ter que lidar com tudo aquilo, mas e seu os poucos que ainda estivessem ali fossem justamente os agitadores?

A porta se abriu e dois garotos saiam, com suas mochilas de viagem, despedindo-se da enfermeira Joy. A dupla parou e me olharam durante alguns instantes e gelei por ter um novo ataque, mas eles pareciam um tanto envergonhados ao me olhar e simplesmente abaixaram a cabeça e partiram. O que aquilo significava?

 

— Parece que sua fama deixou as coisas mais calmas. - A voz de Joy era realmente tranquilizadora. - Tive medo que voltasse a entrar naquela tristeza e reclusão por causa desses eventos. -

 

Sacudi a cabeça meia sem jeito. Não havia feito nada para que aquilo acontecesse e novamente não poderia sair contando toda a história.

 

— Seus amigos já estão esperando-a na área de convivência. -

 

Joy deu-me passagem para dentro do centro pokémon e foi fazer alguma de suas inúmeras tarefas. Não que agora fossem muitas com a nítida evasão que havia acontecido, o lugar agora era silencioso e tranquilo. A ala do refeitório estava vazia, a recepção tinha apenas a Joy mexendo calmamente em um computador e eu podia ver uma pequena movimentação na área de vivencia para onde eu deveria me encontrar com algumas pessoas que eu não conhecia, mas que Joy disse ser minhas amigas.

Aproximei-me da sala e não fui notada, já que os seis pareciam concentrados em suas tarefas. Eram umas seis pessoas que organizam, aparentemente, um local para entrevista.

Eu não sabia exatamente o que havia ido fazer ali. Sabia que iria ser entrevistada no centro e depois teria que tirar fotos para que registrassem no livro de recordes o marco que Audino e eu havíamos estabelecidos, mas era tudo. Imaginei que teria a oportunidade de conversar com Aries para que ele explicasse-me tudo, mas ele apenas certificou-se que eu estaria arrumada como deveria e informou o que aconteceria dizendo que me encontraria mais tarde.

Por alguns instantes até imaginei que o olhar louco e pronto para a briga não era para mim e sim algo que o incomodava a todos esses dias, mas eu teria que perguntar depois. Naquele momento eu precisava saber o que fazer quanto a entrevista.

Eu pensei que conversaria com um repórter e ele faria anotações, ou mesmo gravações, e depois leria minha declaração. Mas, estando ali vendo aquelas seis pessoas trabalhando, percebi que estava muito errada. O que estava acabando de ser montado eram equipamentos de gravação com câmeras e microfone, uma tela branca para colocar algo projetado ao fundo, posteriormente, e outros mais. Identifiquei que posicionaram duas das poltronas uma ao lado da outra, um pouco inclinadas para que pudessem pegar rostos ao mesmo tempo. A entrevista seria filmada, talvez transmitida ao vivo.

 

— Então você é a nossa notória coordenadora! - Um homem de terno preto e cabelos grisalhos aproximou-se de mim abrindo os braços. Ele não parecia ser de idade, talvez seus quarenta anos. - Vamos fazer história revelando a história não contada! - Ele abraçou-me e sequer esperou que eu o fizesse de volta. – Sabia que deveria ter trago um maquiador, essa cicatriz no rosto pode não ser agradável. -

 

Ele segurou meu rosto analisando-o com cuidado e de repente soltou-o por alguns instantes e parou voltando a olhar-me com interesse. Imaginei o que ele estava analisando. Eu devo confessar que a roupa me deixou muito bonita e favoreceu as partes do corpo que eu não tinha, mas não a ponto de um homem desta idade ficar me encarando desta forma. Acabei ficando constrangida por não entender aquele olhar tão intenso.

 

— Pensando bem, você apareceu com essa cicatriz nos dois concursos e acredito que isso não venha a sumir com o temp… - Ele parou de falar ao perceber que me assustei com aquela informação. - Relaxa! Estava tentando te fazer aceitar a cicatriz. Não sei nada de recuperação de cútis. -

 

Ele riu e caminhou até as poltronas e mostrou com as mãos onde eu deveria sentar. Respirei fundo e olhei para as demais pessoas que estavam ali. Três câmeras, um que parecia ser o assistente do homem e outro uma mulher que parecia coordenar tudo.

 

— Tudo bem… - Eu disse dando um primeiro passo, mas acabei parando de repente. - Eu sou Mirian Miller, é um prazer conhecê-los! E vocês? -

 

Tirando o homem do terno preto, os demais se olharam por alguns instantes até que a mulher começou a rir. Ela veio até mim e colocou-me um microfone discreto preso a jaqueta.

 

— Sou Clara! - A mulher disse. - Produtora de filmagens externas. - Parecia algo importante pensei. - Desculpe nossos modos, normalmente as pessoas famosas ou aspirantes a mesma que entrevistamos são um pouco esnobes e não querem papo. Então passamos a ser diretos para minimizar os estragos. -

 

— Entendo. - Comentei. - Tentarei não causar muitos estragos. -

 

— Estão vendo, é isso que vai ser uma bomba no programa. - O homem de terno já estava sentado com todo um ar de apresentador de Talk Show. - Entre a vergonha e o constrangimento ela consegue soltar algumas frases que mexem com você. -

 

Franzi o cenho sem entender o que ela queria dizer ou como poderia achar que me conhecer tão bem.

 

— Nosso assistente e faz tudo Diego estará pronto para te dar aguá, mostrará alguns cartazes para te dar dicas do que fazer se percebermos que você travou e qualquer coisa que possa necessitar durante a entrevista. - Após apontar para um jovem cheio de espinhas ela apontou para os cameras. - Huguinho, Zezinho e Luizinho farão as filmagens e Luizinho é o que tentará pegar mais foco em você, então toda vez que for responder alguma pergunta ele estará posicionado numa diagonal que você possa olhar tanto para ele quanto para o Renan, nosso apresentador das estrelas. -

 

Eu já tinha escutado aquele dizer antes. Apresentador das Estrelas era um programa de entrevista famoso que possuía versões para cada região, em Jotho era apresentado por um jovem Mestre Pokémon, mas nem por isso os entrevistados eram majoritariamente do ramo de batalhas. Lembro que Maurício gostava do programa. Agora em Kanto eu não sabia sobre o apresentador.

 

— Precisa apenas ser natural. No começo você vai se sentir um pouco travada, mas ajudarei com algumas perguntas leve e descontraída para que o público em casa te conheça e depois faremos as perguntas que o povo que saber. - Ele sorriu e voltou a apontar o meu lugar. - Claro, esta sendo gravado, podemos editar se errar. Sem pressão de ser ao vivo! -

 

Respirei aliviada com aquilo e sentei-me da maneira mais confortável possível e escutei uma risada do assistente. Tentei me endireitar, mas não sabia em que posição ficar. A roupa me permitia todo o ripo de movimento, mas eu tentava algo que não me deixa-se a vontade por horas.

 

— Tente pernas cruzadas no início e alterne quando cansar. Alterne também quando precisar de tempo para responder que será uma dica para Renan enrolar um pouco mais a pergunta. - O assistente começou a dizer. - No geral nossas poltronas de entrevistas te permitem ficar como num divã de análise, mas como tivemos pouco tempo para nos preparar, optamos pelas clássicas poltronas do centro pokémon. -

 

— Fama inesperada é assim! - Renan sorriu e eu ri só para não deixá-lo sem graça. - E isso é o que vamos ver com Mirian Miller que tentará nos mostrar como uma coordenadora saí de gata borralheira para Cinderela. -

 

Ele havia começado o programa sem me avisar. Fiquei sem graça e resolvi que a posição que eu estava era o suficiente, por hora.

 

— Fale um pouquinho de você! De onde vem? Quantos anos têm? Para onde está indo? Por que está indo? -

 

— Eu sou uma garota urbana de dezesseis anos que descobriu interessada em viver uma jornada pokémon e amadurecer nesse processo. - Aquilo não era mentira. - Com 16 anos eu nunca havia feito muito por conta própria e via junto a minha mãe centena de concursos que pareciam realmente fazer algo de bom por quem assistia e imaginei o que poderia fazer por quem participava. - Tipo presentear minha mãe antes dela ficar novamente entre a vida e a morte. - Eu sou de Holy, uma cidade de Jotho, próximo a New Bark e só vim a Kanto por intermédio de alguns amigos. - Eu fui sequestrada, mas não precisavam saber disso. -

 

— Uou! Parece que alguém aqui se sente muito à vontade diante das câmeras. - O apresentador brincou. - O que é estranho pois quando vemos Mirian Miller em seu costumeiro moletom cinza a instantes de subir ao palco e instantes depois de sair dele… Como posso dizer isso? Parece uma jovem tímida rezando para que tudo acabe logo. - Ele me olha. - Essa Mirian que estamos vendo é muito diferente da outra. Por que isso? -

 

Fiquei sem resposta. Vi que o assistente levantou a placa para eu dizer “Bem…” e prolongar cruzando as pernas, mas ao olhá-lo vi Joy espiando a gravação e soube o que falar.

 

— Um pouco mais de um mês atrás eu era uma Mirian urbana e a jornada até a cidade de Tin em Kanto revelou, para mim mesma, uma Mirian nova. Existe uma Mirian se descobrindo nesse mundo de jornadas pokémon. As ações da Mirian do moleton é meu lado urbana falando alto, mas na hora que a apresentação começa a Mirian da jornada se revela porque a situação muda. - Era aquilo que eu havia aprendido com a Joy da cidade de Tin. - Todos nós temos muitas facetas que acabam só se revelando quando uma situação nos força a isso. Jornada com pokémon tem muito disso. -

 

— Devo concordar totalmente! - O apresentador disse. - Sou um ator que só fui mesmo me descobrir pronto para qualquer papel, assim como a habilidade de improvisar, quando contracenei com um pokémon, psyduck, que parecia não saber nem o que estava acontecendo nas filmagens e isso exigiu muito de mim. -

 

Ele era ator? Eu não conseguia lembrar dele em nenhum filme que assisti.

 

— Mas, já que claramente hoje A Mirian do moleton ficou na cama e deixou a Mirian da jornada sair, vamos falar um pouco da sua apresentação Máquina de Lavar. - E lá vinham as perguntas complicadas. Cruzei as pernas para que ele enrolasse enquanto eu tentava manter a calma. - Não vou perguntar motivos. Se quiser dizer as intenções, fique à vontade! Mas, o que quero saber é de onde tirou essa ideia e como descobriu que conseguiria fazer aquilo! -

 

Era uma pergunta aberta para que eu dissesse o que eu bem entendesse. Escolhi ser curta na resposta, mas então vi Aries, encostado em uma parede me encarando. Olhos faiscando, um ar louco de que estava pronto para sair do seu lugar e me encher de pancada. Quatro dias atrás eu estava enfiada numa cozinha, com pena de mim mesma. Três dias atrás eu estava enfiada numa cozinha treinando para mostrar que eu não devia ter pena de mim mesma. Dois dias atrás fui aos palcos mostrar que não deveria ter pena de mim mesma e ontem eu fiquei trancada numa casa porque eu não ter pena de mim mesma significou fazer as pessoas me odiarem.

Coordenadores de vários cantos declararam que eu era insolente e covarde. Eu não conseguia sair nas ruas sem ser apontada, ofendida ou até mesmo perseguida. Mas, hoje alguém me deu a oportunidade de esclarecer tudo e eu não podia deixar isso de lado. Alguém saiu em minha defesa e Aries parecia pronto para me matar se eu não agarrasse a oportunidade.

No entanto, o que eu deveria responder? Qual era a resposta certa? Levantei-me e levei a mão ao bolso pegando a pokebola de Audino e a liberei.

Minha parceira surgiu olhando em volta, sem muito entender o que estava acontecendo e eu abaixe-me junto a ela abraçando-a. Só havia uma resposta, uma verdade.

 

— O motivo foi minha Audino! - Eu disse e apontei para alguns lugares que a câmera deveria focar no corpo da pokémon, locais que ainda estavam falhos devido as queimaduras. - Antes deste ano eu era apenas uma garota que fazia tarefas de casa e passei um verão lavando pratos. Quando cheguei a Pewter Joy estava atarefada demais com o centro superlotado e resolvi ajudá-la já que não tinha condições de participar do concurso. - Eu parei tentando evitar falar de minha depressão. - Minha Audino viu e quando percebi ela estava fazendo o mesmo, naquela velocidade espantosa. -

 

Eu ri por alguns instantes.

 

— Não iriamos participar do torneio porque estou apenas com uma pokémon, Audino e ela está ferida permanentemente. - Me senti estranha falando sobre aquilo. - Mas, ao vê-la lavando os pratos naquela velocidade, ajudando-me numa tarefa rotineira eu pensei, ela pode ainda subir aos palcos. E daí que não pode batalhar? Ela pode ao menos participar da primeira fase. -

 

— Então sua pokémon está doente? - O apresentador olhou-a e voltou-se para mim. - E como é isso? Por quanto tempo ela estará inapta para as batalhas? -

 

— Provavelmente para… - Não consegui dizer. - Uma glândula do corpo dela não está mais funcionando e assim ela não pode fazer movimentos energéticos e tem mais dificuldade de se recuperara de ferimentos. Um golpe pode ser fatal. -

 

— E com isso vocês duas desistiram da segunda fase. Alguém que enfrenta a primeira fase com tantas limitações não pode ser chamada de covarde. - Ele disse. - Eu diria que a pessoa que começou a chamá-la de covarde é a covarde por não verificar os fatos. -

 

— Não sei. Só sei que fui para a primeira fase para mostrar para mim mesma e para Audino que a vida continuava e que não existiam só batalhas na vida. -

 

Eu a recolhi enquanto o apresentador parecia pensar no que dizer a seguir. Era nítido que ele não sabia sobre o motivo de eu ter desistido. Era estranho a televisão noticiar que revelariam se ainda não tinham a entrevista.

 

— Eu pretendia perguntar sobre o recorde estabelecido, mas claramente foram pegas de surpresa e não era o propósito. - Ele só esperou-me sentar novamente. - Então eu quero saber mais sobre essa condição especial de sua Audino. Como ela aconteceu? Foi em uma batalha? Algum treinamento? Ela nasceu assim? -

 

Minha culpa. Era a resposta certa e eu não estava preparada para assumir isso em público. Assumir par amim era algo, assumir para Audino era algo, assumir para meus amigos era algo, mas assumir para o mundo eu não poderia fazer.

 

— Imagino que possa ter acontecido isso no concurso de Tin, já que lá você realmente levou uma surra. - Ele estava tentando me ajudar a dar uma resposta visto que eu demorava. Eu via Aries sorrindo maliciosamente, esperando que ou eu assumisse a culpa ou seguisse as dicas de Renan e colocasse a culpa na minha adversária de Tin, Rachel! - Você culpa Rachel pela condição de sua pokémon? -

 

— Não! - Bradei na mesma hora que ele sugeriu aquilo. Eu não queria mentir, eu não mentiria e não culpava ninguém além de mim mesma. - Eu não culpo ninguém além de mim mesma! - Eu havia dito aquilo rápido e com certa agressividade. Respirei fundo enquanto Renan olhava-me. - Ela se feriu sim na luta contra Rachel em Tin, mas que culpa minha adversária tinha se eu fui inexperiente e incapaz de comandar ataques ou defesas, deixando a surra acontecer? Ela estava ali para enfrentar alguém que chegou na final, assim como ela! Enfrentar alguém que os juízes diziam ter notas perfeitas. A culpa não é de Rachel, é minha. -

 

— Não seja tão dura consigo mesma. - Renan falou. - Sou ator e apresentador e pouco sei sobre batalhas, mas sei sobre pressão de nossos erros. Eu chamaria isso de fatalidade que poderia acontecer com qualquer um. Culpa é atribuída a quem faz as coisas sabendo das consequências ou sabendo que está errado. Você claramente ama sua pokémon e está pronta para cuidar dela por toda a vida e esse é o tipo de pessoa que inspira as outras. Prova disso é que inspirou a muitos com a Máquina de Lavar. -

 

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Renan fez mais alguns discursos que eu não consegui acompanhar ainda sendo filmado. Mas, fiquei pensando no que ele falou de inspirar. Eu não compreendi bem o que ele falou, mas me diverti com Clara mostrando os trechos que pretendia dar uma rápida editada para ficar algo mais compacto e dar um clima mais dramático. Ela até mostrou-me a música que pensou em colocar de fundo para a parte da história de Audino.

Com aquilo tudo eu estava morrendo de fome, mas a equipe das fotos dos recordes estava acabando de chegar. Almoçaríamos juntos, em uma conversa descontraída e depois faríamos uma nova entrevista e fotografariam Audino e eu lavando os pratos sujos do centro pokémon para o registro.

Procurei por Aries, mas ele não estava no quarto. Voltando pelo corredor esbarrei com alguém que eu não esperava ver. Olhos verdes, cabelo ruivo, Blusa vermelha e um short jeans. Rachel estava vestida de forma simples, mas tinha uma aparência muito bela. Como podia?

 

— Oi. -

 

Eu disse ao passar por ela e o mundo virou de cabeça para baixo, literalmente. Vi o mundo girar e de repente eu estava no chão, tendo meu braço sendo torcido nas costas. Gritei três vezes, de surpresa, de dor e por socorro.

 

— Por que não falou que a culpa era minha? -

 

A voz dela parecia zangada. Eu estava sentindo que ela quebraria meu braço se eu não respondesse logo, mas eu não conseguia entender a pergunta. Ela queria que eu dissesse ao mundo que ela fez aquilo com minha pokémon?

A entrevista só iria ao ar a noite, mas ao que parecia ela deve ter espiado as filmagens assim como Joy e Aries. Ela nem deveria estar no centro por sinal, os quatro finalistas tinham ganhado uma tarde no centro de criação de Brock, com direito a almoço e acompanhantes. Blue saiu cedo com Hina, pois iriam ao museu antes e imaginei que os demais talvez fossem fazer isso também.

 

— Responda! -

 

Ela apertou ainda mais meu braço.

 

— Eu não te culpo! -

 

Gritei e senti que ela me soltou. Fiquei no chão sentindo a dor no braço por alguns instantes e percebi que ela ainda estava ali a me encarar. Sentei-me a olhei, temerosa com tudo aquilo.

 

— Eu não estou perguntando se sou culpada ou se me acha culpada. - Ela parecia nunca sorrir, a não ser nos palcos. - Tenho plena convicção das minhas habilidades e dos meus pokémon. Se você tivesse se defendido em vez de mandar sua Audino se encolher deixando-a ser acertada de cima para baixo, pelo golpe, ela teria até ficado de pé, sem desmaiar. -

 

— Então… - Pensei por um instante no que ela havia dito. Rachel parecia ter um poder incrível, mas eu tinha que lembrar que ela era iniciante como eu e por isso seu pokémon não tinha como ser assustadoramente mais forte. Mas, aquilo não importava mais. - O que quer saber então? -

 

— Por que não me contou que a culpa era minha? - Ela repetiu. - Por que não veio falar como sua pokémon ficou? -

 

— Do que isso adiantaria? - Eu disse levantando-me. - Você disse que iria me queimar no palco. Você deixou claro que queria acabar comigo. Não acho que estava preocupada se Audino ficou bem depois da batalha ou não, ou teria procurado-nos. - Respirei fundo e repeti. - Do que isso adiantaria? Iria só parecer que eu estava a culpando. Além disso descobri isso quando cheguei a Pewter, não tinha como ter falado. -

 

Ela ficou olhando-me por algum tempo. Não havia diferença ela saber no inicio, agora ou mais tarde. Mesmo que a culpa fosse dela, coisa que eu não conseguia aceitar, ela não poderia fazer nada para resolver. Não era também por esse motivo que eu gostaria de virar amiga dela, para que ela sentisse pena de mim.

 

— Você é uma idiota! -

 

Ela disse dando as costas e seguindo pelo corredor. Aquilo me deixou perdida. Eu idiota? Contaram meu apelido para ela? Não! Sem brincadeira alguma ela não poderia me chamar assim!

 

— Talvez! - Eu disse. - Mas, isso também não adianta de nada para você! -

 

Eu não entendia qual era o problema de Rachel comigo. Talvez fosse apenas TPM, algumas meninas surtam com isso. Mas, não importava o que ela dissesse, não havia nada que ela fizesse ou a envolvesse na minha vida. Ela foi minha adversária e nada mais. Bom, era minha rival claramente, mas nada nada mais.

 

— Vou acertar coisas! - Disse Rachel de costas desaparecendo no corredor.

 

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— Será que tem do sanduíche daquele dia? -

 

Perguntei para a atendente sorridente daquela lanchonete que fui no meu primeiro dia em Pewter. Eu Não consegui almoçar no centro pokémon, já que eles comiam e entrevistavam-me ao mesmo tempo. Eram cinco pessoas fazendo perguntas e elogiando-me o tempo todo e isso além de me deixar acanhada, não colaborou em nada comigo.

Assim eu estava faminta e a única coisa que eu pensei foi em comer em algum lugar que ninguém fosse ficar me incomodando. A lanchonete foi o local que imaginei ser um porto seguro, mesmo que algumas pessoas lá estivessem as três da tarde, não acreditava que fossem muitas pessoas interessadas numa coordenadora com fama repentina. Afinal, era dia de semana!

 

— Ele não está nas coisas que falei que era para comer. -

 

A voz de Beta me deixou desanimada. Eu queria ficar um pouco sozinha para pensar em tudo aquilo. Eu estava com o rosto centro mostrado constantemente na mídia e de alguma forma, parte da população me odiava e outra parte apoiava-me dizendo que eu os inspirava. Como assim eu os inspirava?

 

— Não atrapalhe as minhas vendas! - A garçonete olhou brava para ela. - Além disso ela não precisa se preocupar com o corpo. Está perfeita do jeito que é. - Fiquei sem graça com o comentário e a vi me olhar. - Vou trazer num instante o mesmo pedido da vez passada. E… - Ela sorriu sem graça. - Poderia me dar um autógrafo ao final? -

 

Autógrafo? Eu?

 

— Clar… Por que? - Não consegui deixar de lado a surpresa e estranheza. - Tipo… eu dou sim. Mas, meu autógrafo significa algo? -

 

— Para mim sim! - Ela sorriu e foi para dentro da cozinha da lanchonete.

 

— Você é tão fofa sendo bobinha desse jeito. -

 

Beta estava sentado numa mesa ao fundo, só havia ela e eu. Não havia percebido-a quando entrei e por isso me sentei na mesma mesa que havia sentado-me da primeira vez. No entanto, vi que ou eu iria até ela ou ela ficaria lançando aquelas charadas para mim.

 

— Do que ela está falando? - Perguntei enquanto me sentava junto a ela. - Por que alguém iria querer meu autógrafo? -

 

— Você agora é famosa! - Beta disse. - A três motivos para ela querer seu autógrafo. Primeiro, você é detentora de um recorde e isso a faz famosa. Segundo, você transformou em arte algo que ela faz todo dia como meio de ganhar a vida. Inspirou as pessoas a valorizar essas ações corriqueiras, pois elas podem fazer eles irem longe! -

 

— Espera… Eu inspirei? - Fiquei completamente confusa. - Como assim eu inspirei? -

 

— Todo coordenador pokémon inspira as pessoas com suas apresentações, se forem realmente boas. Sua apresentação desencadeou o ódio de muitos coordenadores. Mas, não apenas pela ousadia em dizer que coordenadores deveriam lavar pratos ou por fazê-los sentirem-se rebaixados. Muitos reconheceram que a apresentação teve sentimento e inspirava as pessoas e isso revolta aqueles que não conseguem fazer esse tipo de apresentação. -

 

Fiquei surpresa com aquilo. Eu inspirava as pessoas. Eu não estava pronta para ser fonte inspiradora de ninguém, por isso ainda não havia escrito uma linha de um bom livro, apenas tinha rascunhos e manuscritos. Era surpreendente descobrir, também, que coordenadores que não conseguiam alcançar o posto de musa inspiradora odiavam-me. Acho que isso explicava porque tantos estavam agressivos comigo. Não era a insolência de lavar pratos, era a inveja falando neles.

 

— Você sabe muito sobre coordenadores. - Disse a Beta. - Deveria ter sido muito boa. -

 

— Eu deixei de servir para esse mundo quando descobri-me socialmente mulher. - Comentou ele tomando um pouco de uma vitamina. Acho que ela percebeu que eu fiquei olhando um pouco confusa para ele. - Max era um coordenador promissor que chamava sua parcela de atenção, mas não inspirou ninguém em sua carreira até se descobrir homossexual. -

 

— Max era seu antigo nome, né? - Tentei forçar a memória de nossas conversas.

 

— Sim! - Ela sorriu. - Como homem eu nunca consegui fazer uma apresentação inspiradora. Mas, quando me descobri homossexual o Max passou a ter uma legião de fãs, a maioria simpatizante da comunidade LGBT – Ele riu. - O que me fez questionar-me se eu era bom realmente, ou só estavam torcendo por mim por ser da comunidade LGBT. Na região que eu estava coordenadores gays não são comuns, outras regiões são menos conservadoras e temos coordenadores gays aos montes, mas lá não era assim. -

 

— Sofria preconceito? - Perguntei.

 

— Mais de mim mesmo, que ainda estava descobrindo-me, do que das pessoas ao redor. - Ele riu. - Eu tinha uma fama indesejada para mim e para meus familiares que constantemente eram bombardeados de perguntas que não queriam responder, ou nem sabiam como responder. -

 

— Sei como é isso. - Não apenas da minha fama repentina e das perguntas sobre a covardia e Audino, mas em Holy sempre perguntavam sobre minha mãe e sua doença. Eram todos amigos e gente que queria ajudar, mas não era como se quiséssemos falar disso todo o tempo.

 

— Então, um certo dia eu estava assistindo televisão e passaram uma reportagem sobre mim e minha tendência a viadagem. Título ridículo! - Ele pareceu realmente irritado. - Mas, apesar de ser uma falta de respeito a minha privacidade ali eu percebi que eu não era apenas um gosto por homens que eu possuía, mas também pelas atividades das mulheres. -

 

— Como assim? - Perguntei sem entender.

 

— Naquele dia eu percebi que eu não tinha apenas uma orientação sexual diferente, mas socialmente eu fazia coisas de mulheres que eu não percebia e que a maioria achava que era por eu ser coordenador e que era mais por vaidade. - Ele sorriu. - Nesse dia entendi esse posicionamento e que a fama que eu estava atraindo só pioraria. Então assumi socialmente o lado mulher, com minhas roupas rosas, quase femininas, minha aparência mais feminina e abandonei os palcos para que minha fama repentina não pudesse ser ligada à homoafetividade assim dizerem que eu influenciava as pessoas a serem como eu. -

 

Beta fora Max um dia. Mas, ao descobrir-se diferente percebeu quero diferente trazia fama. Uma fama indesejada que não permitia a ele se descobrir como ela sem que sua família sofresse com isso e ele fosse dado como um coordenador que tentava influenciar as pessoas a serem gays. O mundo da coordenação era sombrio e agora eu compreendia isso.

 

— Eu posso lidar com a fama. Mas, não a que chega ao ponto de influenciar o comportamento das pessoas. - Ela comentou. - Para que eu pudesse assumir meu lado ela, precisei abandonar a coordenação. Mas, isso é porque eu queria assumir uma posição social de um gênero diferente do que nasci. Se fosse apenas orientação sexual, como nossa garçonete, eu teria continuado. -

 

— Ahn? - Eu olhei para a cozinha e via que a garçonete estava vindo com meu pedido. - Você disse que ela é… Como? -

 

— Orientação sexual é diferente de ideologia de gênero. - Ele disse rápido. - E a orientação sexual dela é que constrói o terceiro motivo dela querer seu autógrafo. Ela é mulher, gosta de ser mulher, mas se interessa sentimentalmente e sexualmente por mulheres. - Ele certamente viu minha cara de chocada. - E eu confesso que você é uma fofa e certamente isso é o que deve atraí-la para você! -

 

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Sempre ouvi dizer que mulher era complicada e precisava vir com manual de instrução. Evidente que eu devo admitir que sou muito complexa de entender, apesar de ser muito simples em minhas ações. De repente, se forem olhar Rachel talvez até possa concordar que mulheres são complicadas, ou talvez nossa idade adolescente nos faça complicadas.

Mas, se Aries não precisa de manual de instruções, ninguém precisa. Ele arma aquele circo, fica me ameaçando com palavras, com os olhares e muitos outros e sequer fala comigo para me explicar o que deu nele para fazer tal coisa. Agiu estranho nos últimos dois dias e agora resolve fazer tudo isso sem me consultar, explicar ou ao menos me informar.

Beta pode estar certa quanto a fama, eu não sou o tipo de pessoa que estou preparada para o tipo de fama que a coordenação pokémon gera e muito menos lidar com o fato de que estou no ramo de fazer as pessoas sentirem algo com minhas ações e porém a boca no mundo.

 

— Influenciar pessoas com uma apresentação pokémon não é algo que eu realmente sabia que faria! -

 

Eu resmunguei saindo do banheiro trajando uma das novas roupas que estavam na mochila. Sai olhando para baixo, reparando na roupa e imaginando quem teria escolhido.

 

— Deveria ter lido o contrato! -

 

Saltei assustada! Eu deveria estar sozinha na casa de Beta naquele horário, não tinha ideia de como Aries havia entrado. Talvez eu tivesse esquecido a porta aberta ou talvez Beta fez uma pausa nas suas consultas e o deixou entrar.

 

— Acho que não estava na descrição do serviço mesmo. - Eu ri indo para o sofá e olhei percebendo que ele continuava com o faiscar nos olhos. - Bem, que tal contar um pouco sobre o que foi o dia de hoje? Como armou a entrevista e assinou o livro dos recordes? -

 

— A ideia não foi minha! - Comentou Aries. - Recebi-a após sua apresentação e antes que eu pudesse comprovar essa influência positiva sobre as pessoas que sua apresentação teria eu vi a desgraça acontecendo. - Demorei refletindo que realmente daria certo, ainda mais que você não é o tipo de pessoa que saiba lidar com a pressão e o improviso que tudo precisaria. -

 

— Mas, porque não me contou nada? - Questionei. - Eu tinha o direito de saber que iria usar minha apresentação para registrar um recorde e que iria revelar minha história com Audino. -

 

— Você tem o direito de saber não de opinar. - Comentou Aries e os faiscavam como se ele estivesse em batalha. - Você tem um contrato com o Grupo olimpo e nós. Deveria ter lido o contrato, podemos usar sua imagem e suas façanhas como bem entender. Tirando a história de sua mãe, que o acordo é só no final, tudo que fizer será explorado! Inclusive se for patética demais exploraremos isso como a forma que um coordenador não deve ser! -

 

Pisquei aturdida com aquilo. Ele estava bravo! Como se eu tivesse feito algo de errado!

 

— Por que está bravo? - Questionei! - Eu não fiz nada de errado? -

 

— Gastei mais de duzentos mil para conseguir fazer a entrevista e o registro do recorde acontecer hoje para apagar as chamas da insolência gritada pelos coordenadores. - Ele levantou-se. - O próximo concurso que entrar é melhor você levar a fita! -

 

— Duzentos mil? - Eu que levantei irritada. - Foi tudo comprado? -

 

— Não comprado e sim acelerado. As pessoas realmente inspiraram-se e outras odiaram. Levaria duas semanas até tudo vir a mídia e teríamos que ficar presos aqui em Pewter durante todo esse tempo. Estamos correndo contra o tempo para minha empresa e o presente de sua mãe. -

 

— Por que está jogando isso na minha? - Perguntei gritando.

 

— Porque alguém sabe do conteúdo de nosso contrato e falou que se você não ganhar uma fita no próximo concurso e sua imagem melhorar, vai dizer aos jornais sobre sua mãe e como o Grupo Olimpo está chantageando você usando a doença de sua mãe! -

 

Arregalei os olhos e sentei-me. Alguém achava que Aries e seus irmãos estavam me chantageando? Alguém estava chantageando Aries por minha causa?

 

Aries se aproximou de mim com aquele ar perigoso.

 

— Você não seria capaz disso, pelo que conheço de você. - O sorriso dele não apareceu, apenas a parte perigosa. - Mas, se estiver envolvida de alguma forma com essa chantagem, vou te caçar como a um pokémon! -


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Notas finais do capítulo

Quero agradeceu a todos que estão acompanhando, aos comentários que começaram a voltar e agradecer especialmente a Aizen e a recomendação fera que deu a fic essa semana!

Então galera! Vamos nos unir nesses momentos finais da primeira parte da fic!!



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