Alma de Coordenadora Pokémon - Fita da Vida escrita por Kevin


Capítulo 15
Insolência


Notas iniciais do capítulo

Às vezes você encontra inspiração dentro de si próprio e às vezes do lado de fora, ao olhar para si mesmo no espelho. Mirian encontra inspiração em sua Pokémon e seu amigo.
O que será que ela planeja fazer com essa inspiração? Vocês conferem agora em mais um episódio!



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— Quer mesmo fazer isso? - Eu perguntei hesitante. - Já perguntei isso antes, mas acho bom confirmar. -

 

A resposta era a esperada. Um tapa em meu rosto que meu deu a certeza, ela estava comigo nessa. Recolhi-a para a pokebola e comecei a caminhar pelo corredor. A cada passo eu sentia a pressão, coração batendo forte, frio na barriga, gritos e aplausos da plateia e a apresentação de Gray ressoando em meus ouvidos.

 

— Vocês a conhecem como a garota da nota perfeita, Mirian Miller! -

 

A expectativa só aumentava com aquele tipo de apresentação e duvidava que a sorte sorriria para mim novamente. Hoje eu era a centésima primeira no meio de duzentos competidores. Eu tinha um minuto de apresentação e desta vez, a plateia já havia sido agraciada com a apresentações excelentes.

Aguardei os aplausos acabarem, parada no centro e com postura ereta. Quando percebi o cronometro começou a contar, apontei para a esquerda, como se demonstrasse um produto e um rapaz da produção trouxe um carrinho cheio de pratos completamente sujos. Cinco segundos se passaram e todos olhavam curiosos.

Estendi as mãos para a direita, com o mesmo movimento da demonstração de um produto, um pequeno tanquinho de lavar, com água, espuma e esponja foi levado até o meio do palco. Mais cinco segundos passaram-se.

Saquei a pokebola liberando Audino que surgiu com uma pequena touca de faxina na cabeça, avental e luvas. Não era apenas fantasia, serviam para esconder as falhas que ainda haviam na pelugem. Ela girou graciosamente no lugar, gastando cinco segundos.

 

— Um prato! -

 

Eu disse forte! Audino foi à pilha suja pegondo um prato, foi ao tanquinho e rapidamente estava sorrindo com o prato totalmente limpo demonstrando-o para o público que pareceu entediado. Não os culpava, não havia nada de interessante no ato de lavar pratos. Segui, apontando para um contador posto perto de onde Audino depositava o prato limpo. Aquilo havia tomado outros cinco segundos.

Gastamos vinte segundos com a preparação e não parecia que alguém estivesse interessado numa pokémon que lavando pratos, era comum. Mas, minha apresentação era para ser simples e com algo que eu costumava fazer. Eu lavo um prato em vinte segundos e isso já é mais rápido que muita gente, mas Audino lava um prato em um segundo. Espero que isso surpreenda, pois tenho a partir de agora quarenta segundos.

 

— Cem pratos! - Gritei.

 

Audino fez uma cara feroz e de repente estava lavando pratos como louca. Pegava o prato, lavava demonstrava-o e guardava-o em um segundo. Pedi para acionarem uma música que quase ditava o ritmo da ação de Audino. Algumas pessoas olhavam curiosas o contador aumentar rapidamente, mas a maioria não estava prestando atenção. Já esperava por isso!

 

— Vamos fazer duzentos para quem acha que não consegue! Audino, Time Duplo e Tapa Duplo! -

 

Era como se houvessem cinco Audinos lavando os pratos. O Time Duplo não tinha efeito real no lavar pratos. Era apenas uma Audino fazendo tudo, mas a ilusão criada pela velocidade dava a ideia de uma tropa de Audinos pegando, lavando, demonstrando e guardando. Isso mantinha a atenção na pokémon permitindo que as reais ações de encurtar o tempo ocorressem, eu discretamente aproximar os pratos sujos e endireitar a pilha de pratos limpos não fosse notada. Com isso seriam oitenta pratos em quarenta segundos.

Mas, o Tapa Duplo era a verdadeira arma para o lavar de pratos. Dois tapas de um lado e dois de outro e tudo estava limpo, dois com sabão e dois de enxágue. Era uma ação que permitia dois pratos a mais serem limpos dentro de um segundo. Ao total eram quatro pratos por segundo e isso já faria uma bela marca de cento e sessenta pratos.

Demorei para criar aquele efeito, talvez pudesse aumentar a quantidade de movimentos pokémon envolvidos se tivesse mais do que um dia para preparar tudo. Felizmente, Audino por conta própria fazia a marca de duzentos, eu só precisava criar a teatralidade.

 

— Cem? - Alguém gritou. - Minha lava-louças faz vinte por hora! -

 

Um grito da plateia ao alcançarmos a marca de cem pratos fazendo todos ficarem agitados. Em segundos estavam torcendo pela marca de duzentos, mesmo que parecesse impossível. Aplaudiam, parecendo ignorar o fato que faltavam dez segundos.

 

— Audinos, concentrem-se todas nos pratos! -

 

As diversas Audinos deixaram tudo de lado e concentraram-se apenas em lavar. Na verdade, a Audino deixou de lado o demonstrar os pratos limpos que gastava uma parte do tempo e agora estava concentrada só em esticar os braços para a sua esquerda, dar os tapas de limpeza e esticar o braço para a direita. Quando fiz o teste só com aquilo lavava-se mais de duzentos pratos, mas não parecia impressionante, tinha que haver o jogo de velocidade e demonstrações ou não traria emoção.

 

— Oito, sete… -

 

Aprendi algo no ginásio, pressão incentiva. Quando há uma torcida por você, por mais estranha e alheia, você supera seus limites e ninguém presente naquela plateia podia dizer ser alheio a uma pokémon lavando duzentos pratos em um minuto. Audino não precisava do incentivo, mas a plateia precisava sentir-se parte daquilo. Torcer, incentivar, dizer quanto tempo faltava já que o contador era rápido demais. O público era parte da apresentação. E se não fizessem isso por conta própria, a mesma pessoa que falou sobre a máquina de lavar faria isso, Beta estava bem instruída e por ter sido coordenadora não achava errado ou ilegal.

 

— Seis. - Audino estava na máxima velocidade que conseguia. – Cinco! - Posicionei todos os pratos que faltavam. - Quatro… - Abrir espaço para os pratos finais. – Três. - A plateia estava de pé. - Dois! - Os jurados ficaram de pé. - Um! - Posicionei-me a frente de uns pratos que não pareciam tão limpos.

 

Um apito anunciava o fim do meu tempo para apresentação e com isso uma ofegante Audino parava de lavar reverenciando o público em meio a gritos de Máquina de Lavar.

 

 

Alma de Coordenadora Pokémon
— Fita da Vida -
Episódio 14: Insolência

 

 

Era engraçado como me senti bem durante e após a apresentação. Nâo sei explicar como ou por que. Mas, o mesmo aconteceu da outra vez. É isso o que todo o coordenador sente? Alguém sente o que eu sento?

Máquina de Lavar. Um apelido estranho para uma pokémon, mas muito mais estranho para uma pessoa. Bom, não tão estranho já que era assim que me chamavam. Durante as férias do ano passado trabalhei em uma lanchonete para arrecadar dinheiro para algumas dividas pessoas e tive que lavar pratos muito rápido ou não teria tempo para tudo. Ali eu descobri uma habilidade doméstica com os pratos e recebi o Apelido de Máquina de Lavar. Era tão engraçado descobrir que minha habilidade doméstica viesse a encantar minha pokémon a ponto dela imitar-me.

Quando Joy contou-me que minha pokémon estava lavando como eu, numa velocidade incrível, lembrei como todos ficavam impressionados na lanchonete com a minha velocidade para lavar. Como as pessoas que iam na minha casa ficavam surpresos com a velocidade e as pessoas em que eu ia nas casas e lavava tudo antes que eles não me deixassem ajudar. Brock ficou impressionado com minha velocidade e ele era um jurado bem como Joy. Eram dois jurados que me dariam boas notas, deveria ser o suficiente.

Eu não achava que nosso lavar pratos nos levaria muito longe, afinal eram duzentos participantes experientes com a ideia de que se chegassem a segunda fase era um indicio de que chegariam a taça. No entanto, a inspiração estava tomando conta de mim a cada segundo e eu não queria deixar passar.

O sonho com Mauricio inspirava-me a seguir em frente e simplificar as coisas fazendo o que eu sabia. A postura de Audino e o potencial dela de fazer o mesmo que eu deixava-me totalmente certa de que eu precisava fazer algo para quebrar aquele clima de derrota. Inspirada pelo sonho e pela minha pokémon eu entendi que aquela seria a nossa apresentação. Não tinha pretensões a avançar, não tinha pretensões a ganhar. Só queria provar para mim mesma e para minha pokémon que a vida continuava.

Aplausos, sensação de dever cumprido e o olhar animado de Audino diziam-me que a vida continuava. Já estava nos corredores e os aplausos e gritos por Máquina de Lavar ainda eram audíveis, certamente o coordenador que viria depois de mim não estava nada feliz com aquilo. Foi dito que cada um tinha um minuto e trinta segundos para entrar e trinta para sair. Ou seja, eu tinha apenas dois minutos de holofotes e estava tomando bem mais que isso, mesmo não estando mais no palco. O evento estava sendo atrasado Mas, o que eu podia fazer?

Agarrei Audino abraçando-a e percebi, ela estava bem cansada. Não havia movimento de energia, não havia golpe levado. Mas, ela realmente estava exausta. Talvez pelo desgaste do treinamento anterior que foi o dia inteiro, ou realmente pela deficiência de algumas substancias.

Parei diante a porta da sala de espera. Estávamos divididos em quarenta coordenadores para as cinco áreas e eu não havia ficado com ninguém conhecido, o que resumia-se em Hina, Blue e Havard já que Tommy pareceu pouco interessado em falar comigo quando mexi com ele e a ruiva Rachel fuzilou-me com um olhar que me perguntei porque ela ainda queria me matar se já estava morta. Olhei para Audino e retornei-a para pokebola, ainda havia as falhas na pelugem e o cansaço era evidente, ela merecia seu espaço para descansar.

Entrei e os olhos estavam fixos na tela, Havard estava se apresentando. Usando seu Dewott ele estava fazendo chover em meio a arena, mas estava terminando. A plateia parecia muito empolgada e já aplaudia e já via aqueles coordenadores com quem eu dividia a sala conversando sobre a apresentação. Fui até a mesa onde serviram um pseudo café da manhã e peguei um suco. Fiquei virada para a mesa, tomando com calma pensando se eu ainda lembrava o que estava na minha reeducação alimentar. Senti um arrepio na nuca, era como se estivessem me observando. Ergui o copo para mais uma golada e usei-o como espelho e pude ver, não era um observador eram muitos. Quase toda a sala estava virada para mim, olhando-me. Eu não sabia se devia ou não encará-los. Mas, não podia ficar no café para sempre, foi então que escutei algo que eu não esperava.

 

— Aquilo foi algum tipo de protesto ou você é insolente assim mesmo? -

 

Achei que uma confusão estivesse começando, por isso virei-me para ver o que estaria acontecendo. Mas, percebi que a confusão era comigo. Havia uma moça com roupa colante e um cabelo castanho preso em rabo de cavalo que me encarava com cara de poucos amigos. Apenas olhei para ela esperando que ela explicasse, afinal eu não tinha ideia do que estava acontecendo.

 

— Ainda é sonsa! - Ela disse. - Vem com esse agasalho cinza ridículo numa tentativa barata de imitar Gray. Não fala com ninguém no centro como se fosse celebridade por uma nota perfeita e então resolve lavar pratos como apresentação claramente ridicularizando a arte da apresentação. -

 

— Não estava ridicularizando. - Foi automático! Talvez eu tivesse sido impulsiva naquele momento se não falasse do lavar pratos, mas era impossível aceitar que alguém falasse mal do que eu havia acabado de fazer feito. - A plateia gostou! É uma habilidade como qualquer outra. -

 

— No seu mundinho de idiota talvez, mas apresentação de verdade é como aquela! - Ela apontava para Havard saindo do palco. Dei de ombros já que só havia visto os segundos finais. - Percebi que é insolência mesmo. -

 

Ela bufou e deu um passo em minha direção e instintivamente dei um para trás, mas a mesa era o limite no qual eu já estava encostada. Eu sentia o coração palpitar e sentia que estava de frente para uma ameaça muito diferente da que Rachel se apresentou no concurso passado. Tive medo de ficar estática e forcei-me a dizer algo.

 

— D.. - Respirei fundo para segurar o gaguejamento. - Deixa eu ver se entendi. Eu vou lá no palco, lavo pratos de uma forma que você não consegue e a plateia adora e sou insolente por isso? -

 

— Sim! - Outro pareceu responder e entrar na discussão. Até então, todos apenas olhavam. - Quem já ouviu falar de um coordenador lavando pratos? Isso é humilhante! -

 

— É uma atividade que todas as pessoa fazem! -

 

Eu respondi não acreditando que estava escutando aquilo. Preparei-me para sair, mas fui barrada pela garota de cabelos castanhos. Ela tinha pele clara, cabelos castanhos, olhos castanhos. Nisso tinha minhas características, mas era um pouco mais alta e tinha muito mais corpo, que ficava bem nítido naquela roupa colante.

 

— Eu ainda não acabei com você. - Ela disse olhando-me e esticou um dedo para minha cara.

 

— Talvez ela esteja terminando. -

 

Era uma voz conhecida por mim, mas parecia conhecida por todos. Da porta Havard aparecia encostado no batente da porta, com um ar presunçoso que eu ainda não havia visto nele.

A garota que me encarava virou-se para a porta e os dois pareciam se confrontar com os olhos. Havard apenas olhou para o relógio e levantou um dedo para o ar, como quem esperava algo acontecer.

“Essa é a última chamada para a Amora Amada!” Foi uma voz eletrônica que soava quando o competidor não estava posicionado, cinco minutos antes de sua apresentação, no corredor de acesso. Se lá não estivesse, 3 minutos antes seria desclassificado. Esse era um concurso onde a pontualidade era obrigatória e parecia que perder tempo com qualquer coisa poderia ser a desclassificação.

A garota de roupas colantes correu pela porta empurrando Havard, não consegui sequer ver a expressão que ela fez ao descobrir que estava para ser desclassificada por atraso.

 

— Venha! -

 

Havard fez sinal para mim e eu o segui um pouco atordoada com tudo aquilo.

 

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As vezes eu achava que sacava o que era aquele mundo pokémon. Saí de casa achando que tudo era fácil, que a vida era fácil. Mas, na verdade, tudo era mais complexo do que eu gostaria que fosse. Eu não tinha a menor noção do que se passava na cabeça dos coordenadores e a menor noção do que realmente deveria passar na minha cabeça eu sendo coordenadora. Que tipo de pessoas eram os coordenadores? Eu fui ofendida e acusada de coisas que eu não estava fazendo e parecia que não estavam interessados em saber da verdade. Minha mãe não era assim, os coordenadores que minha mãe admiravam não eram assim!

Que tipo de pessoas eram os coordenadores?

 

— Eu não sei o que teria acontecido se Havard não tivesse chegado naquele momento. -

 

Eu ainda estava abalada, era complicado para mim entender que eu era diferente de qualquer outra coordenadora. Eu não estava planejando afrontar ou debochar de ninguém e não entendia como uma tarefa doméstica poderia ser tão criticada. Ser caçada por pokémon era uma coisa, mas caçada por humanos? O que isso significava?

 

— Ia apanhar! - Aries olhou-me com um sorriso debochado. - Ainda bem que existem câmeras lá, teria sido uma pena perder isso! -

 

 

Era o primeiro comentário que ele fazia desde que Havard me deixou ao lado dele na arquibancada e sugeriu que saímos antes que as coisas ficassem feias. Ele foi rápido em agrupar com Beta e partirmos para o apartamento dela. Eu estava curiosa sobre o que ele havia achado da apresentação e ainda mais com o que ele estava achando daquela situação de que eu precisava fugir dos demais coordenadores da competição. Aquele comentário descontraído e rotineiro dele foi aliviador. Seria estranho ele não falar que queria me ver apanhar.

Até eu devo admitir que as câmeras seriam boas para que eu pudesse ter como incriminá-los por aquilo. Amora! Eu lembro quando Blue alertou-me sobre ela e sinceramente, não achei que fosse uma pessoa ou que ela pudesse querer mesmo me fazer mal. Nós nem nos conhecíamos até hoje.

 

— Se tivesse nos contato que iria competir lavando pratos teríamos contato que isso era ser insolente. - Comentou Blue. - Quem nos viu com você antes ficou nos questionando a respeito como se nós tivéssemos realizado a apresentação. -

 

Blue e Hina passaram por dificuldades nas salas de esperas deles. Blue precisou empurrar um garoto e ameaçar bater nele em dado momento. Felizmente Hina teve a mesma ideia que Havard e foi tão rápida quando Aries para decidir o que fazer, refugiar-se no apartamento de Beta, onde ninguém poderia chegar perto.

 

— Eu não queria criar expectativa! Nem queria colocar vocês em problemas. - Eu estava com um misto de medo e raiva. - Esses coordenadores são... São... - Bufei para tentar extravasar. - Além disso, não era pelo concurso era para saber que Audino e eu ainda podíamos! - Eu disse indignada. - O que há de errado com lavar pratos? -

 

Já almoçávamos, era uma da tarde e eu ainda tentava entender como eu podia ser insolente por lavar pratos. Era um absurdo! Tivemos que deixar o local do concurso antes do resultado final da primeira fase ser anunciado para não corrermos risco de sermos atacados.

 

— Querida, sua apresentação foi legal! - Beta começou empolgada. - Mas, a maioria dos treinadores aspiram estrelato e desde o início de suas carreiras tentam ser estrelas e fazer de suas vidas um palco. Não limpam chão, não lavam pratos ou qualquer tarefa doméstica que eles achem ser algo de empregados. -

 

Aquilo eu sabia. Aprendi isso bem no caminho para Pewter, coordenadores não faziam as tarefas que os treinadores normalmente vaziam em suas viagens. Gastavam todo o seu dinheiro hospedando em hotéis e evitando qualquer trabalho doméstico ou braçal.

 

— A maioria acha indigno qualquer trabalho braçal. - Hina comentou. - Quando você fez aquilo começaram a se perguntar se você estava fazendo uma arte protesto ou realmente era a sério. - Hina me encarou vendo que eu estava confusa. - Artistas expressam todos os sentimentos, inclusive revolta. Então, se fizesse uma apresentação sobre como lavar pratos é tedioso e não combina com coordenadores era o que os competidores teriam chamado de esplendido. Mas, ficaram confusos por estar dando tudo de si como se fosse para ser algo divertido e inesperado. -

 

— Vocês pensam assim? - Perguntei encarando os irmãos Bluenda.

 

Eu tinha medo do que eles iam falar. Havard tentou dizer aquilo para mim e não fui capaz de compreender devido a pressão. Mas, eu gravei o elogio dele na mente, foi inovador e animou o publico.

 

— Não somos como a maioria. - Hina sorriu. - Fazemos tarefas domésticas em casa quase sempre! -

 

De repente Blue se levantou e foi até a televisão ligando-a. Estava próximo da hora dos comentários finais e do anúncio dos classificados. Aquele era um recorde para os concursos do ano. Eram esperados cem participantes e o número simplesmente dobrou. Com isso os prêmios programados para serem distribuídos para aqueles que passaram para a segunda fase tiveram que ser revistos para ficar justo com todos os participantes. A maioria ganharia algum valor em dinheiro e os cem primeiros ganhariam desconto de cinquenta por cento na próxima inscrição de concurso. Tentou-se aumentar a quantidade de finalistas, mas as finanças pareciam não bater. Ao que parecia, todos os que haviam ganho alguma cortesia de inscrição grátis desde o começo do ano resolveram usar em Pewter e isso desequilibrou o caixa.

 

— Já temos as notas de classificação após duzentas maravilhosas apresentações. - Elliot estava com um microfone e parecia pronto para anunciar os oito finalistas. - Mas, antes da anunciação das notas, precisamos escutar nossos jurados que até o momento não puderam se manifestar devido aos nossos ajustes de tempo. -

 

Blue pareceu entediado com tudo aquilo e voltou a comer. De fato se eles iam fazer um comentário cada, as chances deles citarem a sua apresentação era uma em duzentos.

Todo coordenador, até mesmo eu, após sua apresentação esperava ansioso pelos comentários do juri e do cerimonialista. Não havia um que não fizesse questão de escutar o senhor Sukizo iniciar suas falas com seu jargão, Joy falar o quanto seus pokémon estavam bem e o terceiro jurado surpreender com algum comentário enlouquecido.

Naquele momento eu entendia que Blue deveria se sentir como todos os outros coordenadores, os que competiam e os que apenas assistiam.

 

— Fantástico! - Aquele era o membro da família dos Sukizo começando a falar. - Eu deveria imaginar que o nível estaria alto em Pewter. Mas, Amora sem dúvida alguma aumentou o nível de uma forma sublime. Ela sem dúvida alguma é a grande favorita! -

 

Hina e Blue torceram o nariz enquanto Beta fazia uma careta. Eu pessoalmente senti o coração palpitar devido ao nome dela. Eu ainda estava amedrontada.

 

— Nada poderia ter me deixado mais animada que as apresentações de hoje. - Joy começou seu comentário. - Quase todos os pokémon poderiam estar em condições melhores e neste quesito posso destacar que Amora levou muita vantagem por isso. Mas, eu não destacaria a apresentação de Amora que foi fantástica, mas uma que abordou a simplicidade de um ato e o transformou em arte junto a sua pokémon. Mirian Miller e sua apresentação Máquina de Lavar sem dúvidas surpreendeu. -

 

Apenas Blue estava fora da mesa, assistindo de perto a entrevista, mas naquele momento todos levantaram-se indo para juto da televisão. Eu fui a última a chegar, não imaginava que minha apresentação viesse a ser elogiada, nem quando acabei e muito menos após entender que ninguém estava me levando a sério, apesar da empolgação do público. Seria aquele elogio um incentivo de Joy como um santo remédio para a depressão que passei por esses dias?

 

— Devo dizer que é uma honra ter sido escolhido pela ACP para ser jurado mais uma vez. - Brock começava suas considerações. - Admito que Amora é um ponto fora da curva neste concurso e que ela de longe estava com uma perfeição em suas técnicas que só vejo em treinadores de elite, encontrar isso em coordenadores é incrível. - Brock parou alguns instantes. - Mas, devo confessar que não foi a apresentação dela que chamou minha atenção. Duas fizeram-me sentir algo que a muito não sentia. Uma já foi comentada, a Máquina de Lavar e a outra foi o Don Juan. -

 

Blue saltou em seu lugar arregalando os olhos. Eu não havia visto a apresentação dele, mas definitivamente era a apresentação dele.

 

— O pokémon veio a plateia e seduziu cada mulher próxima com um efeito incrível. - Brock parecia animado. - Essa é a arte que está perdida! Achar os movimentos pokémon certo para realizar toda essa sedução, sem perder o compasso em um espaço tão curto de tempo é frenético. -

 

Comecei a rir junto com Beta. Ela sabia o que eu apenas desconfiava, Brock era mulherengo e mais do que a apresentação, foi a ideia de um pokémon como ele que o ganhou.

 

— E agora… A listagem! -

 

A televisão se encheu de fotos e notas. Não dava para acompanhar exatamente a ordem, pois foram sendo lançados por cinco segundos dez fotos de competidores e suas notas. Eu vi a minha e havia tirado até uma nota razoável. A tela começou a mostrar a classificação de baixo para cima e fiquei surpresa por ver que o último colocado havia sido Tommy.

 

— Não! - Um berro de Hina me assustou. - Uma posição abaixo da zona de classificação de novo! -

 

Fui para abraçar Hina novamente, ela estava a cada dia batendo na trave. Para mim estar entre os dez de duzentos era algo incrível, mas imagino que sendo o quarto concurso dela ela estava esperando algo deste. Aquela ideia de que Pewter era o palco para o Grande Festival estava nela muito mais forte do que eu imaginava. Mas, Hina ficou de olhos arregalados olhando a tela.

Olhei a tela e vi que Amora era a primeira, Havard o segundo e a diferença entre os dois era pequena. Mas, de Havard para Rachel e Blue que eram terceiro e quarto eram questão de décimos. Dali havia um certo abismo em notas para o quinto colocado e novamente décimos separavam todos os demais, inclusive a oitava e última colocada, eu.

 

— Você passou? -

 

Hina parecia assustada com aquilo. Ela virou-se para mim e encarou-me ainda com o olhar perdida. Olhei Aries que fitava a situação com curiosidade e percebi que todos estavam olhando-me daquela forma.

Eu não conseguia entender como aquilo havia acontecido. Eu poderia entender a boa nota, mas como eu fui me classificar? Por que? Aquilo não fazia sentido! Eu não podia estar classificada!

 

— Desculp… -

 

Tentei me desculpar com ela. Eu precisava desculpar-me por aquilo. Não fosse minha ideia idiota de participar daquele concurso só para provar que eu ainda estava viva, ela estaria em sua primeira segunda fase.

 

— Parabéns! - Hina finalmente pareceu se recuperar do choque. - Você foi melhor! Não precisa se desculpar por isso! - Ela sorriu me abraçando. - Faça seu melhor agora na segunda fase por nós duas! -

 

— Por isso preciso me desculpar! - Eu disse sem conseguir corresponder ao abraço. - Não vou a segunda fase! -

 

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A primeira fase de um concurso era uma apresentação artística onde algo precisava ser mostrado. A maioria achava que o divino precisava ser mostrado, mas haviam pessoas que queriam usar de suas habilidades para mostrar o que era arte. Eu não era nem uma e nem outra, não sabia o que realmente era arte e isso criava problemas que eu não estava pronta para enfrentar ainda.

Olhar nos olhos de Hina e ver o quanto ela estava frustrada por não ir a segunda fase era difícil. Ela não amava os palcos, mas estava se dedicando e tinha claramente um talento e propósito com aquilo e eu desta vez tinha sido a pessoa que ficou entre ela e a classificação.

Não seria um problema se eu estivesse indo em direção a fita, mas acho que ninguém além de mim parecia lembrar que Audino não podia combater. Eu queria provar que a vida continuava, que o estado de saúde de Audino não interferiria no que ela já tinha demonstrado e no que eu já tinha construído. Que ainda eramos uma equipe em formação e a caminho do Grande Festival. Mas, eu só pretendia participar da primeira fase, Audino não podia levar nenhum golpe pois havia risco de morte, mesmo que houvesse essa possibilidade de arriscarmos, ela ainda era totalmente inexperiente em batalhas.

A ficha de Aries caiu rapidamente e ele voltou para a mesa para terminar sua refeição. Blue pareceu compreender rápido também, mas o que ele poderia fazer? Ele precisava se preparar para o que estava por vir, pois ele batalharia em breve e Beta pareceu indecisa entre me parabenizar ou consolar Hina.

A segunda fase era uma batalha artística, minha amiga de cabelo azul estava pronta para isso e não estava aceitando bem aquela situação. Voltou a mesa para terminar de almoçar e todos acabamos seguindo ela.

 

— Sinto muito por não conseguir apreciar sua vitória. - Hina comentou cabisbaixa. - Você fez o dever de casa, mesmo diante as limitações. Eu respeito isso, só estou um pouco desapontada comigo mesma e por a vaga para a luta estar ali e eu não poder lutar. -

 

Eu levantei e a abracei. Aquele era o tipo de coordenadora que estava tentando ser uma pessoa melhor e eu respeitava. Que tipo de pessoa eu estava sendo? Para levar um troféu para minha mãe eu estava acabando com as chances das outras pessoas e por mais que nem eu e nem ela sonhássemos com aquilo sentia-me mal por ter ido a um concurso que não pretendia ir até o final.

 

— Bom… Pelo menos você admite que precisa se dedicar mais. - Beta começou a falar. - Por que não fazemos alguns exercícios para entender o que aconteceu? -

 

Aries pareceu tão confuso quanto eu, mas Hina pareceu animada com aquilo.

 

— Não precisamos analisar Amora, a apresentação dela foi realmente incrível. Ela simplesmente criou uma montanha-russa de gelo na arena. - Blue balançou a cabeça. - Ela já está na sua quarta temporada e tem muita habilidade. -

 

— Correto! O mesmo podemos dizer de Havard. Ele foi muito bem e acho que a beleza de Amora, apesar de jovem, contou pontos para com Brock. - Beta falou animada. - Então começamos por Rachel! O que acha Hina? -

 

Minha amiga do cabelo azul parecia desanimada para qualquer coisa, mas pareceu aceitar que precisava participar daquilo que era para mim uma novidade.

 

— Ela usou um pokémon de pedra capturado nas redondezas com movimentos típicos dos pokémon que trabalham na mineração. - Hina pensou por alguns instantes. - Ela conquistou a atenção da plateia mostrando que movimentos como Quebra Pedra e Carvar podem ser usados para outras coisas além da mineração. Sem contar que era um pokémon conhecido e certamente apreciado por todos, ou até mesmo tido pela maioria. - Parou alguns instantes. - Conquistou a Joy levando um pokémon surrado para o centro e o deixando em ótimas condições para a apresentação, mostrando saber cuidar dele e conquistou Brock por usar um pokémon de pedra. -

 

Blue e Beta concordaram e naquele momento percebi que meu plano inicial daria certo. Avaliar os jurados e explorar seus gostos, Rachel que era muito boa como coordenadora estava fazendo o que eu, nada boa, havia planejado fazer. DROGA! Por que funcionava para ela e para mim não? Lembrei! Eu não consegui nem começar a fazer isso!

O Líder do ginásio local tem um tipo especifico de habilidade que ao ser explorado no concurso chamava a atenção dele em detrimento a qualquer outro. Era ego de especialista sendo atacado.

 

— Blue explorou bem o ponto fraco de Brock com a sedução. - Beta riu.

 

— Eu não tinha certeza se a apresentação iria ter um efeito muito forte em todos os jurados, então resolvi usar o beijo adorável na Joy para ter certeza que ela estaria encantada com a apresentação. - Blue sorriu. - Assim como fez em sua primeira apresentação. -

 

— Eu? - Eu não tinha certeza do que ele estava falando e mesmo repassando minha pseudo apresentação perfeita, eu não consegui entender. - Eu fiz o que? -

 

— Você usou um ataque atrativo nos jurados na primeira apresentação, aquele Olhos de Bebe, com isso os jurados ficaram psiquicamente voltados a achar sua apresentação incrível! - Hina comentou. - É uma jogada inteligente e arriscada, pois se o golpe não funciona ou o mestre de cerimônias acha que está tentando influenciar a nota, as coisas podem acabar mal. -

 

Calei-me evitando dizer que não sabia daquilo. Eu usava o movimento voltado para os jurados porque eu queria que eles vissem perfeitamente o movimento e não por querer enfeitiçá-los. Eu realmente sou tão despreparada que faço as coisas sem saber?

Olhei para Aries que esteve calado durante quase o dia todo, não falando nada desmotivador para mim ou mesmo sendo Aries. Ele apenas estava lá, para tudo o que estava acontecendo. Nenhuma sombra do caçador, guerreiro zoador ou coisa assim. Algo estava acontecendo e eu não tinha certeza do que era, mas sabia que não era boa coisa.

 

— Aries? - Eu chamei. - Quer tentar? -

 

— Isso amiguinho! Sua vez, vou facilitar para você! Vamos falar da apresentação da Mirian. - Beta animou-se ao tentar incluir Aries na conversa. - O que acha que ela fez? -

 

Ele ficou olhando o grupo por algum tempo pensativo e deu uma risada.

 

— Além de provocar a irá de quase duzentos coordenadores com sua insolência? - Ele segurou o riso. - Ela parece ter usado o conhecimento de que Brock viveu fazendo trabalhos domésticos e que Joy tem passado maus bocados com justamente com esses trabalhos. - Ele pareceu pensar em outra coisa. - E não é só esses dois. Na verdade, a maioria das pessoas aqui na cidade de Pewter sofrem com essa tarefa, afinal a maioria trabalha na mineradora e quando chega a hora de lavar tudo parece chato, mais sujo do que deveria com o pó que permeia a cidade. O irritante e chato de repente se tornou alucinante. -

 

Todos olhavam assustados para Aries que havia feito uma análise, aparentemente, correta da minha apresentação. Bom, eu não tinha aquela capacidade, mas era correta. Eu apostei no lavar pratos por ser algo simples e que eu gostava de fazer e adicionando os elementos de apresentação eu fiz algo que chamou a atenção. Eu não sabia se concordava ou não com os coordenadores que achavam aquilo uma insolência, mas eu tinha medo do que viria a seguir.

 

— Além disso esse concurso prezou muito a pontualidade e você fez uma apresentação baseada em superar o curto espaço de tempo. - Comentou Hina. - Diretamente não afetou a nota de Joy e Brock, mas mexeu com o senhor Sukizo que é da organização e certamente com o Elliot. -

 

Blue estava pronto para dizer algo e Beta já parecia ter mais uma análise para fazer. O que era aquele exercício eu não sabia, mas parecia que minha simples apresentação tinha muitos fatores ocultos explorados que eu não sabia.

 

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— Pode isso? - Eu estava indignada. - Insolente e covarde? -

 

No dia seguinte os jornais só falavam da minha apresentação e desistência da segunda fase, sem nem tentar. Tudo o que aconteceu na segunda fase pareceu pequeno. Rachel enfrentando Amora em uma luta arrasadora que terminou em empate e foi decidida por voto de minerva de Elliot, já que Brock votou em Rachel, Sukizo em amora e Joy absteve-se. Amora saiu vitoriosa o que pareceu tão injusto já que Rachel precisou lutar antes e estava claramente cansada, enquanto Amora seria minha adversária e eu a fiz vencer por WO.

Os jornais não quiseram noticias que Blue perdeu para Havard nos últimos segundos ou tão pouco que a final de Amora contra Havard. Citaram apenas que o moreno ganhara a fita e focaram totalmente na desistência covarde da competidora Mirian que ridicularizou o mundo da coordenação com a máquina de lavar. Precisavam pegar pesado assim?

 

— Acho que você foi bem filha. - Minha mãe parecia estranha na videochamada. - Sem dúvidas merecia ser finalista, pois fez arte na primeira fase. Infelizmente, as pessoas não sabem que sua desistência era por causa de sua pokémon e os demais coordenadores são realmente estrelinhas. - Ela riu. - Você pisou no calo de muita gente com a apresentação que fez. -

 

Minha mãe estava doente e isso eu sabia. Mas, algo havia acontecido para deixá-la apática e não era a doença e os remédios. Da última vez ela claramente não havia gostado da apresentação e agora eu vejo que ela não está escondendo que gostou.

 

— Talvez ainda não entenda, mas você falou para o mundo que coordenadores lavam pratos. - E minha mãe parecia tão sábia. - Então vou dizer só uma vez isso para você, cuidado com o lado sombrio da coordenação. -

 


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado!
Na verdade, espero que estejam gostando! Pois a fic está no fim… O que? SIM! Mas, não estória da fic!
Planejei a fic Alma de coordenadora Pokémon em 3 par 4 partes que começavam mostrando que nem todo mundo se saí bem na vida pokémon, a fic não conta a história mágica de ninguém e mostra diversos personagens que estão dando duro para sobreviver nesse mundo pokémon.
Mas, a segunda parte, em uma nova fic começará e teremos todos os personagens mostrados (os importantes) ganhando vez, nossa protagonista em uma situação inesperada e uma fic que realmente vai mostrar como ser coordenador pokémon.
Fita da Vida está chegando ao fim e sem mostrar grandes coisas sobre coordenação, mas vamos ver se a fic seguinte é o que todos queriam para essa.



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