Alma de Coordenadora Pokémon - Fita da Vida escrita por Kevin


Capítulo 14
Inspiração


Notas iniciais do capítulo

E mais um episódio!!



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Inspiração! Dizem que é um estímulo a mente humana que surge da admiração que uma pessoa pode ter por outro ser vivo ou alguma coisa! Bem, não tenho isso na minha vida e o dicionário ainda vem querer dizer que é a capacidade criativa que artistas, como escritores, possuem para executar suas obras. Parece que todos dizem querem dizer que preciso de uma inspiração para seguir firme no meu propósito da taça. Confesso, eu concordo com essas definições, mas não muda em nada o fato de que saber o que é inspiração não serve para encontrar inspiração.

O importante para o artista é saber como conseguir inspiração e isso ainda estava faltando-me. Sempre foi um desafio, apesar de trabalhar duro para o meu sonho de ser escritora, encontrar a harmonia da inspiração para com os meus temas. O mundo parecia exalar pokémon para todos os lados e como nunca quis escrever a respeito as inspirações as vezes faltavam. Mas, agora que estou nesse mundo pokémon achar a inspiração ainda permanece faltando. Tudo parece comum e rotineiro, sem contar alheio a minha proposta.

Mas, eu estava empolgada após um dia inteiro em um ginásio e Brock tinha razão, a última batalha dele foi muito interessante. Havard não era só bonito, era talentoso em batalhas e no palco. Aquilo me amedrontava, mas animava-me ao mesmo tempo. Havard fazia a linha de treinadores e coordenadores ficar bem fina e parecer não existir e isso era ótimo, já que Kenan e Blue pareciam deixar claro que existia uma diferença entre eles.

Havard havia conseguido inspirar-me? Não! Mas, admitia estar encantada com ele. Era bonito, uma voz gostosa e não me fazia parecer uma idiota, mesmo ele falando de coisas que eu sequer sabia enquanto me falava de suas experiências como coordenador. Mas, qualquer empolgação acaba diante de Aries e seus comentários.

Quando cheguei ao Centro Pokémon ele estava na recepção e sorriu maliciosamente ao nos ver juntos. Gelei, imaginando que tipo de absurdo ele iria dizer, mas acabou não dizendo nada de anormal além de “a enfermeira Joy está a sua procura” e logo em seguida encaminhou-me até a enfermaria, deixando Havard para trás.

 

— Queria falar comigo enfermeir… -

 

A enfermaria era bonitinha, mas estava com a enfermeira, minha Audino e Beta. Aquilo não parecia ser nada bom e isso me fez perder a fala. Nenhum dos três tinha uma cara boa e eu temia que Audino saltasse e viesse me estapear. Logo agora que havia apenas falhas na pelugem em sua cabeça e em um ponto de sua barriga. Ela estava ficando linda visualmente de novo!

 

— Onde esteve o dia todo? - Beta questionou-me com aquela voz que eu ainda não conseguia me acostumar. - Como pode deixar sua pokémon com um estranho o dia todo? -

 

— Ela estava namorando… Ela é dessas! -

 

Aries! Lá estava ele e seus comentários maldosos, tentando me deixar mal na frente das pessoas. Ele possuía um time perfeito para as piadas comigo ou talvez eu possuísse um time perfeito para municia-lo.

 

— Estava tentando aprender algo sobre batalhas com Brock. Não quero fazer Audino ficar assim na próxima vez. - Eu disse um pouco envergonhada, mas então percebi que aquilo era ridículo. - E não a deixei com um estranho. Deixei com você, minha nutricionista, amiga do meu companheiro de viagem. - Falei irritada e cruzando os braços. - Sei que eu preciso passar mais tempo com a minha pokémon, mas você falou que ia fazer testes e passou a noite na farra. Achei que ia demorar! -

 

— Isso foi uma tentativa de raiva. - Beta sorriu animadamente. - Fica com raiva. Eu gosto disso! - Ela olhou para Audino. - Quer dizer que essa coisa insossa que é sua coordenadora ainda tem sangue nas veias. -

 

Os quatro naquela sala riram e eu apenas suspirei lembrando das coisas que Brock havia me dito. Eu precisava me inspirar. Eu precisava da personalidade pokémon. O que eu iria fazer para alcançar isso?

 

— Mirian… - Joy começou. - Eu já havia feito a maioria dos exames em Audino quando chegou. Beta veio me mostrar e ter certeza do resultado dos dele, por isso estávamos na enfermaria. -

 

— O que aconteceu? Ela deveria estar nova em folha em um mês ou dois. - Eu falei alarmada. - Vai demorar mais? Eu estou fazendo algo de errado com o tratamento? – Mas, os olhares deles diziam algo que eu entendia perfeitamente e aquilo tirou toda a animação que eu tinha. – Ela nunca vai se recuperar? -

 

Eles não falaram nada e aquilo serviu como resposta para início do meu pesadelo. Minha única pokémon teve sua primeira e última luta sem ter ao menos chances de se defender, por minha causa.

 

 

Alma de Coordenadora Pokémon
— Fita da Vida -
Episódio 13: Inspiração

 

 

Audino havia sido escolhida a dedo para mim por ser uma ótima companheira. Poderia ajudar a cuidar a minha mãe quando eu parasse com os concursos e ainda aprendia uma gama de movimentos que supririam minhas necessidades iniciais de coordenadora. No entanto, deveriam ter me dito que nada supriria minha inexperiência em batalhas, talvez se alguém tivesse me dito isso as coisas não estariam assim.

Naquele dia eu estava motivada. Poucos competidores, o treino de golpes havia sido mais do que satisfatório para a primeira vez, eu havia tido uma nota perfeita na primeira fase e ido para as finais como a favorita. Era o começo mais inspirador que uma pessoa poderia ter. Mas, para quem realmente aquilo era inspirador?

Para quem estava assistindo? Para quem iria me enfrentar? Para mim? Ou para Audino que sequer perguntei a ela se ela estava interessada naquela vida?

Enviei uma pokémon para uma batalha que ela não tinha como vencer e ainda contra alguém que mataria para vencer. Audino saiu viva por sorte, mas nunca mais seria a mesma e só agora eu estava descobrindo isso.

A primeira Joy a cuidar de Audino acreditava nessa recuperação e a senhora Bluenda também acreditava. No entanto, um mês após o tratamento que eu estava seguindo à risca a Joy de Pewter descobriu algo que a Joy de Tin não poderia descobrir na época, os danos do golpe foram mais profundos e algumas substâncias não estavam mais sendo produzidas em seu corpo. Algo havia sido afetado a ponto de não mais funcionar.

Beta percebeu isso nos exames e precisou confirmar com Joy, pois aquilo significava mais do que ter que tomar remédios para a vida toda e uma alimentação regrada. Ao que parecia, ela poderia ter uma vida totalmente normal, com os cuidados certos. Mas, não podia efetuar ataques energéticos e levar muitas pancadas, pois sua recuperação seria lenta a ponto de um golpe ser fatal.

Ou seja, a primeira vez que minha pokémon lutou foi a última.

A explicação foi bem detalhada onde tentaram me falar da biologia, fisiologia, física dos golpes e muitos outros, mas eu não conseguia acompanhar. Eu sempre fui forte para cuidar de minha mãe e por mais abalada que eu ficasse com algumas notícias médicas, eu conseguia acompanhar qualquer explicação pois eu me sentia responsável por cuidar de minha mãe. Mas, eu não era a culpada por minha mãe estar daquele jeito e isso fazia toda a diferença para o caso de Audino.

Audino nunca mais pisaria em um palco por minha causa, nunca mais colocaria os pés em uma arena por minha causa. Ela jamais poderia correr riscos e sentir a emoção de defender-se de um forte golpe, ou sentir-se inspirada e reerguer-se após um golpe que tenha a derrubado. Tudo por minha causa!

Eu comecei a chorar antes de conseguir ganhar o quarto e trancá-lo. Chorei por horas até adormecer. Acho que Aries até arrombou a porta, já que quando acordei ele já estava dentro do quarto, dormindo profundamente.

 

— Mirian? -

 

Eu apenas olhei para o lado. A única pessoa que sabia que eu estava ali, a pelo menos três dias, era a Joy que inicialmente tentou me impedir de ficar escondida na cozinha, mas depois de algumas horas vendo que eu tentava me distrair cozinhando e lavando, ela pareceu apreciar a ideia.

Em casa eu era assim! Se algo me deixava magoada ou preocupada demais e não podia contar com Maurício para conversar e me ajudar passar por aquilo, eu ia para a cozinha. Nada de tara por limpeza ou amante do fogão, mas era a coisa que eu sabia ser construtiva para minha casa. Com minha mãe doente era bom sempre ter comida pronta e tudo estar limpo.

A situação de Audino era uma para eu conversar por horas com Maurício. Ele me animaria, mostraria que eu era culpada e ainda assim iria me fazer encarar a situação como uma pessoa que precisa resolver as consequências de seus atos. Ele me faria ver algo que só ele estava vendo e que qualquer outra pessoa não veria ou esnobaria se visse. Mas, não tive coragem para ligar para ele. Temi que ele ainda estivesse zangado comigo, afinal não tentei reconciliar-me com ele em um mês inteiro e eu não passava um dia sem ao menos trocar meia dúzia de mensagens com ele.

A cozinha era meu porto seguro, por mais que eu não quisesse. Mas, todo porto em algum momento recebe navios piratas para saquear a pequena paz que conseguiram construir.

 

— Bem que achei que a comida tinha um gosto oculto e os pratos estavam mais limpos. -

 

Uma piadinha. Talvez eu tivesse pedido por isso, já que quando ele entrou e chamou por meu nome eu o ignorei. Aries não era Maurício, não poderia esperar que ele fosse o meu ombro amigo. Naquele momento eu estava lavando os pratos, o almoço havia terminado e tinha mais de trezentos itens para lavar. Eu tinha bastante coisa para distrair-me e assim não falei nada.

 

— Eu conheço pessoas que ficariam com raiva do adversário que fez isso. Pessoas que não aceitariam esse tipo de resposta e iriam atrás de terceira ou quarta opinião, ainda mais estando na cidade de um famoso médico pokémon com quem praticamente passou um dia inteiro. - Ele parou por algum momento. - Conheço pessoas que seguiriam suas vidas e agora conheço uma pessoa que se esconde na cozinha. - Ele deu de ombros. - As pessoas são estranhas. -

 

— Não me amole! - Respondi irritada. - Sou fraca e culpada, quer algo mais? -

 

Ele me encarou por alguns instantes e de repente tacou com força algo em mim, bateu na minha testa e me fez dar uns passos para trás. Quando dei por mim ele já saia e minha Audino se materializava. Ele havia tacado a pokebola dela em mim.

 

— Não me importa que é fraca, culpada ou qualquer coisa que sua mente pequena esteja usando para te fazer sofrer. Resolva-se com sua pokémon. A vida das duas continuam. - Ele disse isso e começou a sair. - Ah... Oito da noite na casa de Beta. Se atrasar é quebra de contrato com o Grupo Olimpo! -

 

Não o olhei. Voltei minhas mãos dentro da pia com água e sabão e deixei aquela informação desaparecer. A última coisa que eu precisava era preocupar-me com o contrato que eu tinha com o Grupo Olimpo. Como eu podia querer honrar minha mãe com a Taça em nome da vida dela agora que eu havia acabado com a vida de outro ser?

Olhei por cima do ombro e percebi que ela estava lá, parada me olhando esperando por algo. Voltei a cabeça para a louça, sem coragem de encarar minha pokémon. Eu me sentia culpada e não tinha coragem de olhar nos olhos dela e não fiz isso desde que recebi a notícia. Ela ficou aos cuidados de Joy até então, mas ao que parecia ou Joy achava que ela não tinha mais o que fazer ou Aries queria me fazer sofrer.

Concentrei-me em lavar tudo e quando terminei e voltei-me para pegar um pano de prato para enxugar as mãos, lá estava ela. Audino estava parada na mesma posição, encarando-me intensamente. Não sei se ela tentava me ler, tentava me repreender, tentava esperar por algo que eu não sabia o que era. Imagino o que ela deve ter pensado durante todo esse tempo, enquanto eu lavava toda a louça.

 

— Audi. –

 

Ela tomou a iniciativa. Mas, o que Audi queria dizer? Eu não tinha habilidade para entendê-la e as vezes achava que ela não me entendia. Mas, claramente ela sabia exatamente o que estava acontecendo e eu era a parte problemática de toda aquela situação difícil da vida dela.

 

“Audi! Audin. Audino! Audino. AU!” Ela disse isso com o semblante sério, sem aquele sorriso adorável ou mesmo aquele olhar quase malvado. Eu não tinha ideia do que ela estava dizendo e isso só me deixou mais para baixo. A pokémon que eu destruí estava tentando me dizer algo, que eu sabia, não era nada bom, e eu era incapaz de compreender. Eu era mesmo uma idiota.

Ela ficou me olhando esperando dizer algo e eu não sabia nem o que fazer. Aproximei-me dela ajoelhei-me, para ficar na altura dela.

 

— Sinto muito! - Eu disse fechando os olhos. - Não consigo entender uma única palavra do que diz. - Mantive os olhos fechados e abaixei um pouco a cabeça. - Não tenho nem como justificar o que está acontecendo com você! É minha culpa e não posso fazer nada para mudar isso! Facilite as coisas para mim, desconta sua raiva e frustração no meu rosto com seus tapas e só para quando a sua dor passar. -

 

E eu poderia dizer outra coisa? Eu poderia fazer outra coisa? Eu não tinha o que fazer. Aries disse que não havia o que fazer. Beta disse que não havia o que fazer. Joy disse que não havia o que fazer! Então que chances de inspirar-me a tentar algo eu poderia ter se ninguém me dava um único fio de esperança?

Senti suas mãozinhas em minha cabeça e respirei fundo para suportar a dor que viria. Eu sabia que havia a chance da física distrair-me da emocional, quando traí Aries e Angel foi assim. Mas, eu nunca saberei se isso aconteceria novamente já que ela abraçou-me ao invés de me bater.

 

<><><><>

Sonhar é bom e inspirador e estava sentindo falta disso. Meu sono era pesado e parecia que nunca dormia o suficiente. As vezes dormia por horas, mas eram como minutos e as vezes, como essa tarde, eu dormia por minutos, em um rápido e inesperado cochilo, que pareciam horas.

Esse cochilo me deixou um pouco confusa, pois sonhei com Maurício, meu melhor amigo. Ele ainda estava bravo comigo e disse que eu era idiota de querer fazer algo que eu não sabia e que deveria fazer o que eu sabia, pois era o suficiente. Ele repetiu isso tantas vezes que acordei com Audino me sacudindo e dando tapas em meu rosto, por eu estar repetindo essa frase enquanto dormia, provavelmente.

Eu lembrava dele sempre dizendo para simplificar as coisas quando estávamos complicando tudo. Era engraçado ele dizer isso, já que ele é que sempre complicava tudo.

Eu ainda não sabia nada do mundo pokémon e as vezes consigo ter certeza que jamais saberei. Existe algo altamente complexo na relação humano pokémon que nem mesmos os mais estudiosos conseguem explicar o que faz seres tão diferentes criarem vínculos. Mas, resolvi seguir este conselho louco do Mauricio, em meus sonhos e simplesmente simplificar essa minha relação com minha pokémon.

Audino me perdoara, ou eu poderia dizer que aquilo foi um perdão. Talvez, não fosse um perdão e sim uma compreensão que eu não tinha culpa de nada, ou apenas estava tentando me confortar. No entanto, aquilo não me importava. Simplesmente iria simplificar aquele abraço tão complexo em entender como algo que era apenas para sentir e aceitar. E como era bom saber que ela estava enfrentando aquilo melhor do que eu. Eu precisaria de mais tempo para não me sentir culpada e mal com tudo aquilo e um tempo maior para conseguir colocar-me de volta ao rumo.

Confesso que por aquele dia, talvez por muito tempo, a ideia de que eu estava numa boa com Audino era a melhor do mundo. Para que palavras se gestos e atitudes são muito mais fáceis de se entender, não? Simplificar! Mauricio é um gênio!

Audino ficou fora da pokebola na cozinha vendo-me preparar o jantar e agora caminhava comigo pelas ruas de Pewter em direção a casa de Beta. Eu estava sentindo falta de Mauricio comigo, meu ombro amigo e pensei que talvez manter Audino comigo, todo o tempo iria fazer um elo maior entre nós surgir. Não sei se era forçar a barra, mas eu precisava começar por algum lugar com ela depois daquele abraço.

 

— Vejo uma melhora? -

 

Uma voz questionadora e totalmente animadora. Parecia quase um flerte para comigo e Audino. Era o jeito de Beta falar a quase todo o momento. Estava sempre nos encarando num ar provocativo e desafiador, como se houvesse algo escondido em suas palavras e ele estivesse ansioso que as pessoas descobrissem o que era. Talvez por isso ele e Aries, começaram com o pé esquerdo e no final tivessem ficado amigos. Afinal, meu companheiro de jornada fazia isso, né? Provocava e dizia coisas que eram para nos fazer pensar. A diferença é que Aries me deixava com raiva e Beta havia um misto de sem graça e confusa.

 

— Boa noite! - Saudei não respondendo a pergunta. - Espero não estar atrasada, acabei cochilando. -

 

— Estando com esse ar mais interessante e acompanhada de sua pokémon, você poderia chegar aqui amanhã que ainda seria bem vinda. -

 

Beta estava na porta de seu consultório quando cheguei. A casa era no segundo andar e parecia haver mais pessoas lá dentro. Deveria ser Aries, não o vi quando entrei no quarto para me arrumar, se é que eu poderia dizer que aquilo era me arrumar, então imaginei que ele tivesse ido na frente.

Fui conduzida pelas escadas que jamais teria achado sozinha e surpreendi-me com o apartamento que estava beirando uns gastos de quase quinhentas mil pratas fáceis. Beta gostava do chique e sofisticado, eu percebia isso por suas roupas sempre sociais e nitidamente de marca, mas não esperava que uma nutricionista tivesse dinheiro para tanto. Mas, a julgar que ela se mostrou extremamente careira, eu deveria imaginar algo do tipo para sua casa.

 

— Mirian! - A voz de Hina ecoou pela sala enquanto a menina de cabelo azul cruzou o ambiente abraçando-me. - Fiquei com medo que não viesse e fosse permanecer trancada na cozinha. -

 

Pisquei um pouco assustada. Olhei e Vi Blue jantando, mando apenas um sorriso, enquanto Aries lia alguns documentos fazendo uma cara de deboche.

 

— O que estão fazend... -

 

Parei a fala lembrando-me que havia combinado de encontrá-los em Pewter para o concurso que seria em dois dias. Com os últimos acontecimentos havia esquecido deste detalhe e acabei não lembrando que se eles chegassem não teriam onde ficar, uma vez que o Centro Pokémon estava cheio. Eu vi as mochilas de viagens deles próximo a uma das portas que deveria dar em quartos e compreendi que ficariam na casa de Beta enquanto estivessem em Pewter.

 

— Vocês sabem que eu estava na cozinha? - Perguntei para Hina. - Sabemo que descobrimos sobre Audino? -

 

— Sabemos até que Aries e Beta saíram pra noite. - Blue parou de comer sorrindo. - O que é estranho já que nunca imaginei esses dois andando juntos ou mesmo que Beta fosse pegar mais de um homem por noite naquela disputa maluca. -

 

Eles pareciam saber bem mais do que eu sobre tudo. Encarei Beta por alguns instantes e o mesmo Audino o fez.

 

— O que posso dizer, sou uma fofoqueirazinha. - Um sorriso sem graça surgiu e um bater de palmas como se aquilo não fosse importante. - Mas, vamos ao que interessa. Começaremos com a análise das planilhas de reeducação alimentares de cada um, seguiremos em sequencia para o nosso jantar, porque preciso confirmar se saberão o que comer e depois vamos gastar um tempo aparecendo a fazer pokeblocos para Audino, pois isso facilitará a não ingerir o que não deve. -

 

— Então não vamos tentar tirar Mirian da fossa? - Perguntou Blue parecendo aliviado. - Que bom! Temia ter que beijá-la como alternativa final. -

 

Arqueei a sobrancelha encarando-o por alguns instantes.

 

— Ela parece que deu uma desencanada por conta própria. Inspirá-la vai demorar um pouco mais e beijá-la só vai deixá-la aérea. - Beta colocou as mãos em meus ombros como se me abraça-se. - Ela não é apenas sem personalidade no mundo pokémon, mas também no mundo normal e temo que nunca tenha beijado. -

 

Aries e Blue começaram a rir e fiquei vermelha com aquilo. Virei-me para Beta, mas antes que eu pudesse fazer algo Audino já estava batendo na cara dela.

 

— Viu? Até mesmo sua pokémon tem uma personalidade. - Beta massageou as bochechas. - Eu estava só brincando. Sei que você está de rolo. - Ela olhou para Aries. - Como é o nome do rolinho dela? -

 

— Havard! -

 

Eu fiquei irritada com aquilo tudo e ia brigar com Beta, ficando com um olhar pensativo. Hina olhando para mim assustada e apenas Aries continuou suas risadas. O que realmente interrompeu tudo aquilo foi o questionamento de Blue.

 

— Havard? -

 

Ele chegou a levantar da cadeira e bater as mãos na mesa. Fiquei assustada com aquela reação dele. Será que ele nutria algum sentimento por mim? Não ele era do tipo mulherengo e não podia ser simples ciúmes de mim. Então, seria outro rival dele? Assim como Kenan e Rachel?

 

— Eu não estou de rolo com ninguém. - Eu disse com calma encarando Blue. - Estou focada e tenho muitos problemas para ficar envolvendo-me com qualquer pessoa. -

 

— Ainda bem! - Blue disse aliviado. - Aquele cara não é confiável. Fique longe dele! -

 

— O que? - Cruzei os braços. - Aquele cara enfrentou uma tempestade para salvar a vida de Tommy, não fica me cantando, ridicularizando e deu-me ótimas dicas mesmo achando que seria meu adversário em concursos futuros. - Permaneci encarando Blue. - Por que ele não seria confiável? -

 

Aries olhou para Blue esperando a resposta, ele gostava de ver o circo pegar fogo e não precisar por lenha na fogueira parecia ser cômodo para ele.

 

— Mirian... - Hina chamou-me a meia voz. Parecia constrangida com tudo aquilo. - Não temos provas que falem que ele não é confiável. Apenas uma certeza, que tipo de coordenador deixa de participar de um concurso que ele sabe que vai ganhar, logo no inicio da temporada? -

 

Eu demorei para processar a pergunta. Demorei a noite toda para entender o indagamento e quais eram os efeitos dela. Eu só fui me dar conta do que realmente incomodava Hina e Blue quando estava deitando-me na cama do centro pokémon, após recolher Audino para sua pokebola. Isso é, só foi cair minha ficha umas quatro para cinco horas depois.

 

— Por que um coordenador abriria mão de participar de um concurso ganho? -

 

Meu questionamento foi em voz alta e por isso um rosto do nada apareceu na minha frente, ponta cabeça. Aries já estava em sua cama, a parte de cima de beliche, e debruçou-se para olhar-me. Eu tomei um susto pelo ato dele e também porque seus olhos brancos eram muito nítidos na escuridão do quarto.

 

— Tipo... - Temi que ele fosse me sacanear por ainda estar pensando naquilo. - Esquece! -

 

Virei para o lado e senti o movimento dele voltando para sua posição na cama.

 

— Eu não sou coordenador então não posso dizer que entenda o que ele fez. Também não me parece que coordenadores pensem como caçadores, treinadores ou nenhum outro profissional da área pokémon. - A voz dele saiu calma e suave como nunca escutei antes. - Eu entro em competições que me forneçam desafios e não aquelas que sei que ganharei. Talvez, ele seja esse tipo de pessoa, alguém que busque o que realmente pudesse lhe desafiar. -

 

Ele calou-se e aquilo me pareceu o tipo de coisa que Aries faria e ao mesmo tempo me pareceu Maurício dizendo aquilo. Eu queria acreditar naquela opção, mas não foi aquilo que minha mãe sempre falou.

 

— Minha mãe sempre disse que um coordenador não pode perder nenhuma oportunidade de subir aos aos palcos, ou pode ser que nunca mais suba. Coordenação tem muito de se mostrar, estar em evidência e ele não o ter feito realmente levanta o questionamento de que tipo de coordenador ele é. - Eu comentei. - Ele pode ser do tipo que só quer os concursos que o desafiem, mas isso realmente não importa muito. -

 

— Então qual o problema? - Ele voltou a debruçar-se. - Por que ficar então se perguntando sobre o tipo que ele é? -

 

— Isso leva-me a pergunta do tipo de coordenadora que eu quero ser. -

 

<><><><>

 

— Mirian? -

 

Acordei sobressaltada. Olhei e vi os cabelos róseos próximo a mim. Esfreguei os olhos e vi a enfermeira Joy. Ela parecia tão preocupada que eu não tive certeza se ainda estava sonhando.

 

— Eu estranhei ver Audino na cozinha sozinha e vim te procurar. -

 

Saltei da cama, batendo com a cabeça na parte de cima do beliche.Levei a mão na cabeça resmungando e me contorcendo de dor. Olhei a pokebola e vi que ela estava aberta. Eu sabia que alguns pokémon saiam das pokebolas por conta própria, algumas vezes, mas não imaginei que fosse o caso da Audino ou de um inicial.

 

— Eu pensei que tinha me entendido com ela. - Corri para o banheiro trocando rápido de roupa. Ainda estava escuro e Aries acordou com minha agitação, mas nada disse. - Sinto muito pelo incomodo Joy. Não vai mais se repetir. -

 

— Se acalme, não é como se ela estivesse aprontando algo. - Joy riu. - Na verdade, está sendo tão útil quanto você. -

 

Abri a porta do banheiro já pronta para ir a cozinha e fiquei olhando Joy sem entender. Vi Aries observando a situação sem nada dizer, até que sentou-se e saltou da parte de cima da cama.

 

— Defina útil? - Ele falou e logo depois bocejou. - Mirian não pediu para que ela fizesse nada, certo? -

 

— Não pedi. - Disse. - O que ela está fazendo? -

 

— Lavando os pratos, como você fez nos últimos três dias. - Ela disse. - E tão bem quanto você, talvez até melhor! -

 

Inspiração! Dizem que é um estímulo a mente do ser vivo que surge da admiração que uma pessoa pode ter por outro ser vivo ou alguma coisa! As vezes você demora a compreender que está sendo inspirado por algo e as vezes percebe de imediato que aquilo é sua fonte inspiradora. Mas, a sensação de que está influenciando outras pessoas e sendo fonte de inspiração é algo completamente maluco.

Faça o que sabe fazer! A frase de Maurício voltou a ecoar em minha mente novamente. Eu era uma aspirante a escritora e quando me inspirava ia em frente para não perder a inspiração, por mais louco que parecesse. Naquele momento eu havia inspirado minha pokémon a lavar pratos comigo e aquilo eu sabia fazer. Por que não usar isso?

 

— Joy! - Eu olhei para ela certa de que mais tarde eu já não estaria confiante para o que está para fazer. - Preciso de sua ajuda! -

 

Eu havia inspirado Audino e isso tinha preço um preço que eu teria que pagar. Mas acho que a verdade era que minha pokémon havia inspirado-me também.


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Notas finais do capítulo

O episódio pareceu ser meio parado? Mas, finalmente Mirian vai fazer algo que ninguém esperava! No próximo episódio Mirian vai descobrir do que ela é feita...



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