Alma de Coordenadora Pokémon - Fita da Vida escrita por Kevin


Capítulo 12
Beta


Notas iniciais do capítulo

Um dia de atraso deve ser normal, né?



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— Saí logo! -

Eu esmurrava a porta com a mão direita fechada, gritando sem me importar com o tamanho do escandá-lo que estava fazendo. Era questão de dignidade humana aquela porta se abrir, o patife de Aries sair e eu entrar naquele banheiro. Dentro de menos de dois minutos, se eu aguentasse tanto, tudo o que estava no meu estômago, sem contar o que estava na bexiga, iria ganhar o ar livre. Se eu destruísse ainda mais a roupa que usando, além do chão do quarto onde estávamos, eu estaria com problemas.

— Sua moça! - Berrei batendo na porta novamente e comprimindo as pernas. - Era só um banho de quinze minutos! Está tentando se embelezar como uma donzela para o casamento? -

Escutei as chaves e depois a fechadura girando. Desapoiei-me da porta e já estiquei a mão para dentro para arrancá-lo de lá, ao mesmo tempo em que a porta se abria. Talvez tenha sido o movimento de dois segundos, que nem reparei se ele estava vestido ou não. Quando consegui fechar a porta, senti o cheiro que empesteava o banheiro.

— Aries! - Berrei sentir o cheiro terrível que estava no banheiro, não sei como não passava para o quarto, mas parecia que ele havia morrido ali dentro a semanas.

— Nunca apresse um homem no banheiro! - Eu o escutei dizer do outro lado da porta em meio a risadas.

Alma de Coordenadora Pokémon
— Fita da Vida -
Episódio 11: Beta


Às vezes eu me perguntava se eu teria coragem de me vingar das coisas que Aries fazia comigo. Era minha terceira semana como coordenadora e eu poderia dizer que finalmente estava começando a me acostumar com isso de jornada, mas nada me faria me acostumar com Aries! O corpo já não doía tanto, eu já não acordava esquecendo estar em jornada e dedicava-me diariamente a cuidar de Audino. Ou talvez seria melhor dizer que me dedicava diariamente a tratá-la e a ser ignorada por ela, mas ao menos ela não mais me batia, o que significava um avanço. Mas, aries continuava a ter aquele olhar louco faiscante e a me tratar como idiota.
Após passar duas noites presa naquele buraco, como se aquela fosse a prisão da cidade, sendo xingada pela maioria dos moradores que me culpavam pelo ocorrido, já que Aries achou melhor esconder o fato que abaixo deles era um local de Convenção de Evolução, partimos para Pewter e meu querido companheiro de caminhada falava para todos que encontrávamos pelo caminho que meu mau cheiro era de nascença.
Acho que o pior foi ele ter me feito ficar naquele buraco por tanto tempo. Eu merecia, mas sem banho e fazendo minhas necessidades ali mesmo, esperando a noite cair para não fazê-lo aos olhos de todos que vinham me ver, o castigo parecia ter mais sadismo do que o necessário. Por toda a jornada até Pewter não tivemos banho e isso fez com que nossa entrada fosse altamente vergonhosa, ainda mais no centro pokémon local que estava lotado.
Lembro da expressão de terror que a Joy local fez ao sentir nosso odor, imaginando que havíamos sido atacados por algum Skuntank para estarmos cheirando tão mal. Eu sequer sabia que pokémon era aquele, mas não tive tempo para me defender, já que imediatamente Aries disse que era falta de banho da minha parte. Risadas olhares curiosos e debochados. Eu o teria surrado ali mesmo, não fosse a enfermeira Joy me dar uma notícia que me freou de imediato, só havia um quarto.
Lembro da minha expressão de terror refletida em uma das janelas. Eu pretendia ficar em Pewter por duas semanas e pelo visto eu teria que ficar no mesmo quarto de Aries, sem nenhuma privacidade. Talvez a privacidade não fosse o meu problema maior, já que apesar de completamente sádico, ele parecia manter o limite do respeito homem mulher para comigo. Mas, eu queria ficar longe dele por algum tempo, uma hora que fosse, na hora de dormir que fosse e não poderia fazê-lo. Tentei pensar que seria apenas besteira da minha cabeça, mas a prova de que eu iria enlouquecer era que ele correu para o banheiro e se trancou lá mesmo sabendo que eu precisava usá-lo.

— Desculpe querida, como nos outros centro o almoço é servido das onze da manhã as duas da tarde. - Joy sorriu sem graça. - Eu te deixaria ir a cozinha fazer algo, mas como o centro estar cheio isso pode criar alguma confusão se todos verem e quiserem cozinhar algo por eles mesmos. -

Às vezes eu me pergunto se conseguirei me vingar de Aries em algum momento por todo o transtorno que ele me causa. Não bastava me humilhar, agora iria me fazer passar fome. Não havia outra alternativa, eu teria de explorar a cidade e achar um lugar barato para minha refeição. E teria que ser realmente barato já que eu ainda precisaria passar em um mercado para comprar alguns itens de necessidade feminina e quem sabe umas duas ou três peças de roupas a mais, já que mais uma estava sem condições de uso.
Pewter era realmente uma cidade grande. Ela havia começado como uma vila de operários da pedreira e acabou crescendo. Havia bastante poeira no ar e banhava a maioria das grandes construções que predominavam num concreto cinza, que eu já não sabia se era poeira de minério ou pedra, ou simplesmente tintura. Ainda assim, era a maior cidade que eu já estive e possuía de tudo em quase todas as ruas. A cada rua que eu passava havia pelo menos uma lanchonete, mercado e farmácia. O centro pokémon parecia ficar bem no meio da cidade e ao norte estava um museu pokémon que eu gostaria de visitar e esperava ter dinheiro para isso após o concurso, se é que eu conseguiria participar.
O museu era mundialmente famoso e seria um pena estar em Pewter e não visitá-lo, poderia conseguir até ver alguma exposição nova. A oeste encontrava-se os outros dois locais que colocavam, junto com o museu, a cidade no mapa. O ginásio oficial da liga pokémon de Kanto, onde seu líder era um famoso criador pokémon que possuía um dos maiores centro de criação pokémon do mundo. Mesmo não sendo turista, tenho certeza que com minha criatividade eu poderia aprender algo nesses três locais que me ajudassem nos concursos.
Eu estava maravilhada com a cidade, apesar de um pouco suja, era muito diferente das de Jotho em questão financeira. Jotho possuía de 8 a 12 cidades consideradas verdadeiras metrópoles, as outras todas teriam um tamanho minúsculo e insignificante como a minha cidade, Holly. Mas, Kanto parecia ter uma valorização de cada cidade de uma forma que as tornavam únicas. Não sei se isso se dava pelas lideranças locais ou qualquer outro fator, mas até a economia era nitidamente mais atraente. Achei que isso era apenas em Tin, mas mesmo na cidade de Nark, onde tecnicamente não utilizei do comércio local pessoalmente, as coisas pareciam ter uma qualidade maior por preços mais acessíveis.
Escolhi minha lanchonete justamente pelo preço. Depois de muito andar decidi parar numa lanchonete toda envidraçada, que parecia deixar a poeira local do lado de fora. Da calçada eu via a tabela de preços presa acima do balcão e um sanduíche saudável com um suco de frutas que não levaria todo o meu dinheiro. Mais do que isso, a lanchonete possuía refeições com nomes de pedras, provavelmente extraídas da mineradora e aquilo era uma história que eu gostaria de escutar.
Eu poderia dizer que era a fome, mas a verdade era que o sabor realmente era delicioso. Enquanto comia a atendente comentava sobre a escolha dos nomes das refeições e eu observei que alguns clientes estavam acompanhados de seus pokémon. O que me fez ficar distraída por alguns instantes, em Holly ter os pokémon liberados em estabelecimento comerciais alimentícios era proibido.

— Retire o que disse! -

O grito assustou a atendente que chegou a dar um pulo para trás. Era voz de mulher jovem e parecia muito irritada, evitei olhar o alarde. Fosse o que fosse talvez ela não tivesse a noção de que estava chamando a atenção de todos. A atendente parecia ter a mesma ideia, pois sorriu para mim e preparou-se para voltar a me dar atenção.

— Retire o que disse, ou juro que essas terão sido tuas últimas palavras em uma vida relativamente em paz! -

A situação parecia não ter se resolvido e agora havia uma ameaça, ou algo parecido com uma ameaça. A atendente desviou o olhar, parecendo analisar se a situação estaria a incomodar outros clientes e parou durante algum tempo olhando para um ponto fixo e acabei não resistindo. Não por querer presenciar o barraco, mas porque eu não lembrava de ter visto nenhuma mulher além de mim e a atendente enquanto olhava os clientes. Na verdade, o mais próximo seria uma senha com uns cinquenta anos. Girei na cadeira e fitei o ponto da confusão.
Perdi o ar por um momento e me perguntei se eu deveria levantar e interferir, ou o quanto eu realmente merecia ser chamada de idiota por não ter notado-o ali. Olhos brancos a faiscar em um olhar louco e alucinado anunciando que estava prestes a mergulhar em uma luta sangrenta. Era Aries que estava no centro da confusão, mas curiosamente ele estava sozinho, pois um rapaz loiro de cabelo estranhamente alisado afastava-se dele a passos largos, passando pelo balcão e jogando algumas notas nele, como quem estava dando uma gorjeta ou esmola.
Aries acompanhava o rapaz com os olhos, mesmo depois que ele saiu da lanchonete, continuou a olhá-lo pelos vidros, enquanto ele andava pela calçada. Pensei em levantar e ir até ele, mas não precisei pois ele se locomoveu para a saída e então me viu.

— Sinto muito pelo ocorrido! -

Não tive certeza se era para mim ou para a atendente que ele disse aquilo, ao parar junto a minha mesa, mas ele saiu da lanchonete. Apressei-me a pagar, arrancando algumas notas surradas do bolso, e seguindo correndo para fora do estabelecimento para alcançar Aries. Felizmente ele pegou a direção contrária ao do rapaz com quem ele teve uma contenda. Aparentemente ele pretendia seguir de volta ao centro pokémon, ao menos era esse o caminho que ele fazia quando o alcancei.

— Não diga nada! -

Ele resmungou de uma forma irritada. Eu não sabia o que havia acontecido, mas fiquei extremamente curiosa para saber, afinal quantas vezes o vi irritado com algo? Mas, eu não era como ele! Se ele precisava de espaço, ou não queria falar sobre o assunto, assim seria.

— Vou procurar Beta. Quer ir comigo? - Falei a ele. - Acho que sozinha eu me perderia. -

Era mentira. Estava a duas ruas de uma das principais avenidas da cidade e Hina havia me instruído de como chegar ao consultório de Beta a partir do centro pokémon, para caso eu me complica-se com o endereço. Pela Avenida Principal, Ônix, eu deveria seguir até próximo a rodoviária, de onde estávamos eu podia ver. Ou seja, eu não tinha como me perder. Só queria dar a ele algo para fazer.
Às vezes eu preferia não ser boazinha. Aquele foi o momento que eu tinha a oportunidade de fazê-lo sofrer e estendi a mão. Como pagamento aquele patife me mordeu!
Aries olhou-me de cima a baixo e deu uma risada, seu estresse parecia ter ido embora, já que tinha algo para se divertir, eu. Pareceu procurar por algo e então parou uma mulher que estava passando.

— Ela não acreditará se eu disser. - Ele disse a mulher. - Fale o que tem na blusa dela e nos dentes, por favor. -

Era uma senhora que ficou confusa durante alguns instantes com as falas de Aries, mas ao me olhar sua face confusa desapareceu. Olhou para Aries dando um sorriso engraçado e depois olhou para mim com sorriso condescendente.

— Minha filha é igualzinha, não tem modos e nem vergonha de sair na rua assim. - Eu fiquei confusa se ela estava falando isso comigo, com Aries ou com ela mesma. - Tem algo verde agarrado entre seus dentes e molho respingado por toda a sua blusa. -

Olhei para blusa e percebi que era verdade. Comi o sanduíche com tanta vontade que não percebi que ele deveria estar pingando molho. O pior, já estava ficando seca. Suspirei e vi a senhora me estendo um pequeno espelho, retirado da bolsa, junto com um fio dental.

— Seja rápida querida, estou atrasada, mas não posso deixá-la com esse monstro no meio dos dentes. - Ela sorriu satisfeita enquanto via eu usando o fio dental no meio da rua. - Sempre achei que as garotas de sua idade fossem mais vaidosas, felizmente você não parece se incomodar em passar o fio dental no meio da rua. -

Meio que parei o movimento. Fiquei tão envergonhada por ter uma estranha falando que eu estava com os dentes sujos que sequer notei minha ação seguinte. Olhei para Aries que ria e já estava até parando um garoto que passava, para olhar a cena. Aries não podia ser tão idiota! Não podia! Consegui voltar a mim, retirando o verde e agradecendo com um sorriso para a mulher que guardou o espelho e voltou a andar rapidamente.
Comecei a andar em direção ao consultório de Beta sozinha, deixando aquele patife rindo com o outro rapaz. Eu preocupada com ele, tendo ajudá-lo e ele caçoando de mim na rua e com estranhos. Aquelas humilhações teriam que acabar! Eu precisava fazer algo!
Imaginei que ele fosse me alcançar, mas acabou ficando para trás e me deixando ir sozinha. Talvez fosse melhor, a senhora Bluenda havia avisado várias vezes para eu ir sozinha, pois quanto mais irritada, mais caro ela cobraria. Apesar de Aries saber se comportar e ser meu sócio, por assim dizer, eu não poderia arriscar. Já nem tinha dinheiro o suficiente para comer, nem saberia dizer quanto eu precisaria para pagar a consulta.
Quando cheguei ao consultório havia um atendente bem apessoado na recepção, ele me olhou segurando uma risada e lembrei-me que estava com a blusa manchada de molho. Odiei-me por aquilo, mas respirei fundo, o mico já estava sendo pago.

— Chamo-me Mirian Miller, acredito que a senhora Bluenda tenha pré-agendado uma consulta para minha Audino. -

— Só um... - Sua voz saiu engraçada e ele respirou fundo. - Desculpe-me. Mas, se comeu na lanchonete Le Molho, espero que saiba que isso não sai. - Pisquei algumas vezes imaginando se era a lanchonete em que fui, que acabei não gravando o nome. - Descendo avenida virando a esquerda duas quadras depois, com tabela de preço dando para ver da calçada, acima do balcão. -

Acho que ele compreendeu completamente que reconheci a lanchonete, pois minha cara de decepção foi grande. Era mais uma blusa destruída. O que eu iria fazer se continuasse a perder roupas assim?
Ele fez um sinal para esperar alguns instantes enquanto ele mexia rapidamente no computador. Ele era bem apessoado, com músculos fortes e definidos e uma pele lisinha, deveria ter por volta dos vinte e dois anos e definitivamente não entendia o que ele estava fazendo atrás da mesa da recepção de um consultório de nutricionista. Talvez fosse um faz tudo, mas ele não parecia o tipo de pessoa que trabalhava em recepção.

— Ache... - Ele novamente pigarreou. - Estou perdendo a voz devido a um resfriado da semana passada. -

Ele tinha uma voz estranha. Parecia mais rouca que uma voz normal e as vezes, quando ele ia começar a falar, afinava. Preparou-se para dizer-me alguma coisa, mas o telefone na mesa tocou. Ele o pegou sem dizer nada e imaginei que não era uma ligação externa e sim interna. Dei-lhe alguma privacidade e olhei para porta que daria dentro do consultório, onde provavelmente Beta estaria. O restante da recepção era até bem normal, com a exceção de um Persian que estava parado nos olhando. Eu diria que ele não estava nem ai para mim ou qualquer pessoa naquela sala, mas não me importei muito com ele.

— Senhorita Miller. - O atendente chamou-me. Ele havia desligado o telefone. - Está com sorte, temos um horário vago para o jantar de hoje. Esteja no restaurante neste endereço as oito da noite, deve levar quem está viajando com você. E preencha isso antes de sair. -

informações demais ao mesmo tempo. O atendente parecia realmente rápido em dar informações, mas entendi perfeitamente a informação de que eu teria que ir para um restaurante a noite.

— Jantar? Restaurante? - Balancei a cabeça negativamente. - Não posso fazê-lo. Não tenho dinheiro para isso. -

O atendente já havia colocado o formulário sobre a mesa e levantado-se, parecia apressado para fazer algo e, ao que parecia, deixar-me-ia sozinha na recepção.

— Não se preocupe. A primeira consulta, a de avaliação e integração, é gratuita. - Ele disse. - Se não se entenderem sobre trabalharem juntas, cada um seguirá para seu lado e Beta terá tido o prazer de ter sua companhia em um jantar que ela mesma pagará. - Ele riu. - Num restaurante em que ela é a nutricionista que ajuda a criar parte do cardápi... - Ele parou tossindo de forma estranha, antes disso sua voz já havia afinado umas três vezes.

<><><><>

Gostaria de poder matar Aries! Quando voltei ao centro, animada para falar com ele sobre nosso jantar em um restaurante chique ele já havia me tornado motivo de piada no centro. Ele teve a capacidade de filmar minha higiene bocal, no meio da rua. Agora chamavam-me de a menina da limpeza. Era possível aquilo?

— Você deveria estar usando algo melhor! -

O comentário de Aries teria me irritado, não fosse o fato de que eu estava concordando com ele. Havia destruído dois jogos de roupa e uma blusa. Aquela era meu último jogo de roupa, com exceção do conjunto de moletom e minha roupa de dormir. Havia ainda a roupa que Kenan me deu, que eu sequer havia visto e não iria me prestar a usá-la.
Mas, talvez eu pudesse ter visto e talvez até usado-a, já que o restaurante era chique e eu estava com blusa de algodão e short de lycra e sandálias. Eu estava completamente destoante do ambiente e Aries havia se arrumado bem para o jantar, em um estilo social como se fosse uma reunião de negócios.

— Perdoe-me pela demora, mas precisei passar em casa para vestir algo que combinasse com minha cliente para ela não se sentir muito deslocada. -

A voz veio de trás e nos viramos de imediato ao reconhecermos a voz. A mesma voz feminina da parte da hora do almoço, mas a pessoa já estava do outro lado da mesa encarando-nos antes que pudêssemos realmente fitá-la com atenção.
Loiro de olhos olhos castanhos e um cabelo com uma franja alisada que era engraçada. Uma blusa de algodão com estampas de coração e uma bermuda branca acima do joelho. Nos pés eu não conseguia ver, mas agradecia, temendo que ele estivesse usando uma sandália. Era o rapaz com quem Aries havia desentendido-se pela manhã.

— Prazer, Sou Beta e vocês devem ser Mirian Miller e Aries Olimpo. - Ele disse aquilo tudo olhando para Aries, sorrindo como se estivesse animado com aquilo. -

— Você é... - Senti a mão de Aries me toca discretamente. - … é... - Ele era gay? - É a pessoa que vai salvar minha vida e minha pokémon! -

Levantei e fui cumprimentá-la, ou cumprimentá-lo. Como eu deveria tratar essa pessoa na minha frente? Estendi a mão, mas fui agarrada e beijada na face, como se aquele homem de vinte e cinco anos fosse uma adolescente.
Olhei para Aries que não fazia sinal de que iria levantar-se e imaginei que a noite iria ser um desastre, mas que eu deveria ter ficado sentada.

— Isso é uma consulta e para começar o jantar é para nos conhecermos mais. - Beta agitou as mãos e sorrindo. - Para criar uma dieta para um pokémon preciso saber dos hábitos alimentares de sua coordenadora. Normalmente é complicado para um pokémon comer algo de sua dieta se seu humano fica comendo coisas deliciosas próximo a ela. -

Pisquei ao escutar aquilo e nunca pensei sobre isso. Eu não vivia com nenhum pokémon e mesmo sabendo que havia ração especial para cada tipo de pokémon, não via com maus olhos se eles tomassem um sorvete ou roubassem um pedaço de meu bolo. Beta poderia ser uma pessoa completamente estranha visualmente falando, mas tinha um conhecimento grande.

— Quer dizer que eu terei que seguir uma dieta também? - Questionei.

— Você e todos os que estiverem junto desta pokémon. - Beta sorriu para Aries. - Por isso está aqui meu caro senhor Olimpo e não por ter me ofendido durante a hora do almoço. - Engoli um seco pois senti a acidez na fala. - E vamos começar por mudar a palavra dieta pelo termo reeducação alimentar. Entende significa? -

Balancei a cabeça informando que não.

— Basicamente é você mudar seus hábitos alimentares para a sua nova condição de vida. - Disse Aries de uma forma seca. Eu via o quanto ele estava incomodado e aquilo começou a me deixar animada. Aquela noite era minha vingança particular, mesmo não planejada. Beta o incomodava e isso era ótimo! - Você vivia uma vida urbana e agora viaja, então seu habito alimentar não pode ser o mesmo. Assim como precisa se adaptar a um habito alimentar que ajude seus pokémon a acostumarem-se ao que precisam. -

— Nossa! - Foi tão feminino e fofo a fala de Beta que eu jurava que era uma mulher a minha frente. - Você não é só um rostinho bonito, é rosto, corpo e muita cuca no lance. - Deu um sorriso cheio de dentes e eu diria que quase sedutor para Aries. - Normalmente é a parte mais demorada para explicar aos treinadores e coordenadores e você resumiu divinamente. -

Fechei os olhos suspirando. Agora seria a vez de Aries me zoar. Diria que eu se ele não intervisse levaríamos a noite toda apenas naquele tópico, iria questionar se eu realmente entendi ou diria que ainda seria necessário desenhar para que eu compreendesse, mas nada foi dito. Nada foi sequer esboçado.

— Como se conheceram? - Eu fiquei curiosa.

— Pouco antes do seu vídeo de limpeza dental. - Ele riu. - Ele esbarrou em mim, eu pedi desculpas e ele começou a rir. Quando perguntei qual era a graça ele disse minha voz e pedi para que ele explicasse aquilo e ele disse que não era todo o dia que via uma pessoa como eu. -

— Chamei-o de viado. -

Aries cortou Beta e senti que os olhos da nutricionista se estreitaram de uma forma que eu jurava, ele só não voou no pescoço de Aries por que havia uma mesa entre nós.
Beta explicou que precisava me ver comer e então pedimos nossos pratos e jantamos enquanto ela, como queria que fosse tratada, informava tudo sobre a reeducação alimentar. Maria Bluenda havia ligado e falado de minha Audino e ele sabia que haveria um desafio grande, mas que estava realmente interessado nesse caso. Aries ficava calado todo o tempo e parecia se irritar a cada olhada de Beta para ele.

— Entenda, reeducação alimentar é para uma saúde total. - Beta havia terminado sua refeição e voltava a falar conosco procurando concluir sua explicação. - Quem o faz descobre seu verdadeiro ser, pois as comidas com suas substancias tóxicas, mesmo que positivas, ocultam nosso melhor. Pense na gordura, pense no açúcar, pense no exceção de vitaminas. - Ela pausou terminando sua bebida. - Não é para perder peso ou recuperar vigor físico, a mente descobre um novo jeito de funcionar. Meu melhor exemplo e Bruno Bluenda, ele sempre sempre cheinho, não por comida, mas por ossos largos. Mas, aquele garoto, desde que passou a se reeducar alimentarmente sente a confiança que pode agradar qualquer mulher e ele é um fofo na verdade. -

Revirei os olhos. Até os homossexuais achavam Blue interessante. Isso era alguma piada?

— Imagine o que vai acontecer com você sua Audino quando a reeducação Alimentar fizer efeito em vocês. O que se esconde atrás destas camadas insossas que você tem?

Ele sorriu para mim enquanto eu parava sem entender. O que ele queria dizer com aquilo? Ele estava me chamando de sem graça? Sem gosto?

— Engraçado, eu vejo idiotice antes da menina sem graça. - Aries comentou em um tom desanimado. - Bem, terminado nossa refeição, acho que nos resta saber se a aceitará como cliente e como faremos isso. -

— Irei aceitá-la porque Maria Bluenda pediu e esse é um desafio que não posso recusar. - Ela sorriu. - Além disso, adorarei ver você desabrochar. Faço esse trabalho por amor. Gosto de ajudar os jovens a se encontrar e a enfrentar o que descobrirem sobre eles mesmos. Eu não tive apoio nenhum quando me descobri. -

— Você quer dizer quando saiu do armário? - Questionou Aries.

— Isso mesmo! - Ela novamente sorriu para Aries. - Você é um safadinho, sempre entendo o que estou falando. -

Aries revirou os olhos e me olhou como se eu fosse a culpada de tudo aquilo e fosse pagar por fazê-lo sofrer.

— Fui coordenador até os 16 anos de idade, então em um grande festival eu acabei ficando encantada por uma garota, que mais tarde descobri que era um garoto. Resisti ao sentimento, mas numa de minhas batalhas da segunda fase eu estava para perder e ela me deu incentivo e ganhei. Quando fui agradecer ela me beijou, meu pai que foi parabenizar-me viu e me bateu ali mesmo. Seis meses depois fui atrás dela, porque não conseguia deixar de pensar... - Beta parou por alguns instantes. - Desculpem-me! - Ela riu passando a mão no cabelo. - As vezes tenho essa ideia idiota de falar da minha vida para os clientes. Ninguém quer saber quando passei de Max para Beta. -

— Não se preocupe! - Eu disse. - Adoraria saber sua história se estiver precisando conversar. -

— Sua companheira de viagem é uma fofa, né? - Ele disse olhando para Aries. - Por isso, iria cobrar 2500 pelo atendimento de um ano. Podendo dividir em até dez vezes. Bem, mais o desconto que dou para os clientes de Maria Bluenda- Eu sorri com aquilo, mas o sorriso de Beta desapareceu. - Mas, como você desrespeitou-me mais cedo volto ao meu preço original de cinco mil. E como chamou-me de viado durante o jantar serão dez mil. -

— O que? -

Exclamei talvez alto demais pois senti alguns olhares curiosos em nós.

— É... - Aries balançou a cabeça pensando naquilo. - Você é uma biba careira. -

— Vinte mil! - Disse Beta sem nenhum sorriso.

— Aries! - Gritei com ele no meio do restaurante e ele me olhou como se não fosse culpa dele. - Beta, por favor! Não tenho como pagar tudo isso. Além disso, Aries não diz essas coisas por mal. Ele até se desculpará se você quiser. -

A expressão de Beta passou de algo sério para algo sorridente e olhou para Aries. Também olhei para ele que ficou imóvel e acertei-o no braço indicando que era para ele falar algo.

— O que? É mentira que ele é homossexual? -

— Trinta mil! -

Dei-me por vencida. Parei de encarar Aries ou Beta. A senhora Bluenda havia avisado-me que era para eu estar sozinha e basicamente eu não a escutei. Mas, como eu poderia imaginar que Aries iria não só irritar, mas insultar Beta a ponto dela querer descontar tudo em mim?

— Por favor! - Aries finalmente encarou Beta nos olhos. - Você vai cobrar trinta mil por dizermos que você é homossexual? Trinta mil por dizer a verdade! Eu não falei que você é agasalhador de croquete, que você seca pau, ou que é uma moçoila virgem e enrustida. Se a verdade te ofende deveria evitar falar como mulher, se vestir como mulher e agir como mulher. Aceite quem você é e talvez eu te peça desculpas e assim não queira parecer uma boneca de luxo se prostituindo. -

— Quarenta mil! -

— Então coloque cinquenta mil! Por você é gay e tem vergonha disso! -

Um silêncio se fez na mesa. Levantei o olhar e Aries olhava para Beta tentando decifrar o sorriso que ele estava dando. O sorriso era sensual e enigmático, parecia flertar com Aries só com o olhar.

— Eu tenho uma proposta para você! - Beta desviou o olhar para mim e um sorriso sapeca surgiu. - Faço de graça, garanto desconto de comida numa rede supermercado que atende a quase toda Kanto, faço a reeducação alimentar dos próximos pokémon que capturar e ainda te ensino um pouco do que sei de coordenação. E a única coisa que precisa fazer é convencê-lo a sair comigo nesta noite pra balada! -

Senti a corrente de energia passar por mim e olhei para Aries perplexa com o que eu estava ouvindo. Ele havia sido ofendido e humilhado, mas agora querida sair com aquele que havia dito tudo aquilo? Agora ele estava chantageando-me a forçar Aries a sair com ele em troca do patrocínio dele para a recuperação de minha pokémon? Bom, não exatamente recuperação.

— Com licença! - Levantei-me com calma e a classe que eu ainda sabia ter. - Obrigado pelo jantar e a oferta. Meu amigo não está a venda. -

Saí da mesa dando alguns passos que em seguida multiplicaram-se, Aries vinha atrás de mim.

— A oferta encerra-se as onze da noite! -

A voz de mulher de Beta ecoou pelo restaurante, mas continuei andando.

<><><><>

A porta do banheiro se abriu e vi Aries com um pijama azul. Ele novamente havia demorado mais do que uma pessoa normal, mas desta vez ele não havia dito quanto tempo ia demorar. Ele me olhou e percebeu que eu havia deixado apenas a luz do abajur acesa no quarto.
O quarto era simples, um beliche com penteadeira próxima a cama debaixo, onde eu ficaria. Um sofá e o guarda roupa. Não havia mais nada que pudesse ser atraente no quarto.
Levantei abraçada a minha roupa de dormir e entrei no banheiro. Eram umas dez e quarenta da noite e por isso o centro pokémon já estava silencioso, mas isso só tornava mais esquisito o silêncio que havia se formado entre Aries e eu desde que saímos do restaurante. Nada fora dito, ou sequer pareceu que queríamos dizer algo um ao outro, já que a nenhum momento nos prestamos a olhar um no rosto do outro.
Fechei a porta atrás de mim e a tranquei. Ia apenas passar uma água para retirar a poeira, nada de sabonete, fazer necessidades ou outros mais. Mas, não podia esquecer dos dentes e foi por ali que resolvi começar.

— Por que não aceitou a proposta dele? -

Ouvi a voz dele vir de trás da porta. Não respondi, simplesmente acabei de escovar os dentes. Não tinha como responder aquilo para ele.

— Quando ouvi a voz de Beta imaginei que tivesse armado para mim. Passei boa parte do jantar esperando que algo estranho acontecesse. - Ele parou por alguns instantes. - Mais estranho do que já era, mas então ele começou só a me olhar como se eu fosse alguém do clube dele. -

Abri o chuveiro, mas não consegui entrar. Não sem respondê-lo.

— Você merecia que eu armasse para você! - Eu disse me aproximando da porta. - Está sempre me fazendo parecer idiota na frente das pessoas. Quando vai me ensinar algo é de forma grossa e sem vontade, sem contar que cria formas de me humilhar a todo o momento. - Eu não acreditava que estava colocando aquilo para fora, mesmo que escondida a atrás da porta. - Talvez, você torne idiota por andar com idiotas. Só não sei quem está influenciando quem! -

— Por que não aceitou a proposta? - Ele questionou. - Entendo que duvidava que eu iria aceitar, mas você nem tentou. Por que não tentou? -

— Você pode ser um idiota e me tratar como uma idiota, mas é meu amigo ou pelo menos quero pensar assim - Eu disse. - Além disso, que tipo de proposta era aquela? Ele estava trocando mais de cinquenta mil para sair com você? Ele estava literalmente te chamando de prostituto e eu de cafetina. - Respirei fundo. - Você parece se incomodar com ele, não me importa se é preconceito ou a coisa é só com Beta, se você não se manifestou quando ele propôs eu não poderia pedir para você. Não tenho direito de pedir para se arriscar por mim novamente. Eu sou culpada do ocorrido por ter sido uma má coordenadora com minha pokémon. -

Ele não disse nada e eu entrei no chuveiro. Não demorei muito e após me enxugar e mudar de roupa, abri a porta do banheiro e dei cara com Aries vestido para sair para alguma festa. Fiquei olhando para ele sem entender.

— É preconceito! - Ele disse conferindo o figurino de calça jeans desbotada, uma camisa cinza e tênis. Ele tinha aquilo tudo na mochila? - E você está errada. Nenhum de nós dois está influenciando o outro para ser um idiota, estar com um idiota não faz o outro um idiota. E estar com um boiola não me fará ser um boiola. - Ele sorriu. - Sou homem o suficiente para sair para a balada ao lado de um homossexual e para ajudá-la a conseguir o sonho de presentear sua mãe com a taça. -

Eu não consegui dizer nada. Ele foi para a porta e abriu, mas antes dele sair e eu corri até ele o abraçando. Não existia outra coisa para fazer, porque não existiam palavras para o que ele iria fazer. Eu acho que eu tenho certeza que não sairia com uma lésbica por ele.

— Não se preocupe que devolverei ele inteiro. - A voz feminina me fez soltá-lo rápido, Beta estava parada na frente de nosso quarto. - Mas, prometi que aquelas seriam suas últimas palavras em paz e essa noite vou fazer você não ter paz pelo resto de sua vida! -

— Vamos antes que eu desista. - Ele fechou a porta e eu fiquei imaginando que tipo de balada Beta levaria Aries.


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