Perdida em Crepúsculo: além do sonho. escrita por Andy Sousa


Capítulo 8
Entre amigas.


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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Aneliese PDV

"Tempo nunca foi suficiente, não.
Eu sempre tentei me encaixar em sua vida
Sem consideração nenhuma com a minha.
Errado, tudo estava certo e agora se foi.
Como uma árvore você me cortou e me deixou
Como se eu nunca pudesse dizer ‘não’.
Me afogando em uma escuridão cinzenta,
Sem saída para me resgatar, estou segurando a barra.
Enganada sem ninguém para culpar,
Você me deixou aqui sem vestígios quando eu te apoiei.
Então, me diga, porque eu?
Eu sequer poderia saber e você me deixou sozinha.
Você roubou minha felicidade,
Minhas inseguranças estão jogadas pelo chão
E se quer pensou, nem por um segundo, não!"

Why Me – Jess Glynne

~*~

Chegamos à frente de uma construção larga, a fachada coberta por vitrines que exibiam peças da estação a preço de oferta e segui as meninas para o interior. Sem perder tempo elas foram até os fundos, estavam familiarizadas com o processo e Angela bondosamente me explicou que era ali que se concentravam os vestidos de festa.

Tratava-se de araras abarrotadas de peças espalhafatosas, cheias de lantejoulas, mas ao olhar melhor percebi que também havia opções simples ofuscadas pelo montante de panos que compunham as outras. Não tive muita ideia de por onde deveria começar então apenas peguei o primeiro vestido que vi e corri para os provadores; estava um tanto emocionada por fazer minhas compras sozinhas, minha mãe era feroz em assuntos que envolviam moda, jamais me permitira sair desacompanhada e no final eu sempre acabava optando por aquilo que ela escolhia. Desta vez, entretanto tinha a oportunidade de levar o que quisesse, mesmo que se tratasse de uma fantasia de pato.

O dinheiro e a responsabilidade eram apenas meus.

Logicamente que a opção inicial havia sido um desastre e tive de refinar minha pesquisa, gloriosamente eu não era a única indecisa.

— Não é possível! – Choramingou Jessica. – Eu simplesmente me apaixonei pela parte de cima desse, mas amei a saia daquele outro. Que dom eles tem de fabricar peças invertidas!

Todas gargalharam.

Presenciar a luta das garotas me deixou mais calma, todavia ainda assim parecia que estava em uma busca sem fim. As horas continuavam a avançar a passos largos apenas porque estávamos brincando, rindo e conversando feito tagarelas. Havia tempos que eu não me divertia tanto. A certa altura, porém achei melhor me sentar e respirar um pouco, não parecia que havia feito muito avanço com o decorrer das horas.

Recostei minha cabeça sobre a parede e suspirei. Novamente pensei em minha mãe e no que ela faria se estivesse aqui. Inúmeros comentários saltaram à lembrança e fechei os olhos tentando encontrar sentido. Por mais mandona que pudesse ser ela sempre optava por coisas estonteantes, sempre cedia à sua vontade porque confiava em seu julgamento. Lindy tinha um dom extraordinário para escolher o melhor, o mais bonito, o mais elegante.

Estando por minha própria conta achei melhor voltar à realidade, se continuasse sem ter sorte acabaria saindo daqui de mãos vazias. Havia uma arara próxima a mim e as peças em sua maioria eram de cores escuras, então o único vestido em tom vermelho sangue saltou à vista sem sequer fazer esforço. Algo nele me atraiu, me levantei e fui para perto o retirando com cuidado de onde estava.

Vermelho. Será?

Não adiantaria ponderar eu teria de vestir então voltei para o provador. Não era muito fácil lidar com o braço machucado, levei minutos fazendo os ajustes, mas enfim estava pronta. Os espelhos se encontravam do lado de fora e saí de meu esconderijo mordendo o lábio de ansiedade. Angela e Jessica estavam conversando e ao me verem surgir sorriram.

— Liese! É esse, não há dúvidas, ele ficou lindo em você!

— É verdade. Você está maravilhosa amiga, vem ver!

Encorajada pelos comentários caminhei até o centro e me virei devagar, ao observar meu reflexo fiquei imediatamente contente. Eu gostei imensamente do que vi, era uma peça simples, sem texturas, o vermelho era onipresente, mas ao contrário do que imaginei não ficou vulgar ou exagerado. Eu me senti verdadeiramente bonita.

— O que você achou? – Perguntou Ang.

— Eu gostei – sorri. – Gostei muito, na verdade.

— Que bom! Eu também acho que escolhi o meu – olhou para baixo observando a peça que usava.

Notei que era exatamente o vestido que ela escolhia no livro e não hesitei em dizer que havia caído muito bem em sua silhueta. Então ficamos dando pulinhos de alegria por termos terminado nossa missão.

— Muito obrigada pela consideração de vocês – observou Jessica.

Angela e eu reservamos nossas peças e ficamos à disposição de nossa amiga ajudando-a a também encontrar o vestido ideal. Lauren ficou ausente por vários minutos - tempo suficiente para que eu revirasse a loja e encontrasse a ousada peça rosa choque que Jess usaria – e quando voltou usava um modelo marrom-escuro de decote exagerado e costas nuas. Pareceu-me um tanto vulgar, mas como era sua escolha achei melhor não comentar.

— Então acho que é isso – Jessica sorriu em júbilo. – Conseguimos!

Ela puxou todas em um abraço grupal e rimos desajeitadamente espremidas umas contra as outras.

— Bem, não por completo. Ainda faltam as bijuterias – comentou Lauren.

— Sim, é verdade. E também gostaria de comprar alguns itens básicos, meu perfume favorito se espatifou no chão e não sobrou sequer uma gota – emendei.

— Foi assim que você disse que se machucou, não foi?

— S-Sim – sorri amarelo.

Ninguém mais fez perguntas e pude passar ao próximo passo com alívio.

O lado bom da loja de departamentos era sua versatilidade de produtos, encontrei tudo o que precisava em um só lugar e finalizei as transações fugazmente feliz com o resultado.

— Você anda bem de salto Liese? – Questionou Jessica apontando a caixa onde estavam minhas sandálias recém adquiridas.

— Sei que costumo usar tênis, mas se tratando da escola acredito que seja o ideal. – Expliquei calmamente. – E respondendo à sua pergunta: sim. Eu ando excepcionalmente bem.

Ela e Lauren se entreolharam.

— Sei que soa esnobe de minha parte falar assim, mas acreditem, não é. Eu não tive escolha, quando completei nove anos minha mãe me deu meu primeiro scarpin.

— O quê? Assim tão nova?

— Sim – meneei a cabeça. – Meus pais são advogados, a imagem conta muito nos negócios e tínhamos sempre de estar apresentáveis para a sociedade. A fachada de uma família feliz.

Caminhávamos preguiçosamente em direção à saída.

— Mas vocês não eram felizes?

Encarei Angela.

— Pelo contrário, nós éramos muito felizes. Ainda somos.

Que forma estranha eu usara para me expressar, realmente fizera parecer que não estávamos satisfeitos com nossa vida, não era verdade. Eu amava meus pais e eles me amavam, éramos abençoados e afortunados.

Mas talvez o vazio estivesse o tempo todo dentro de mim.

Não era como se antes fosse infeliz, era apenas uma sensação estranha de que o passado não me trazia a real ideia de uma vida plena. Ao refletir me dei conta de que havia um instante decisivo na mudança da história, um marco inegável entre a ilusão da felicidade e a felicidade que eu considerava real. Não quis pensar sobre isso, mas meu cérebro não falhou em organizar as imagens em um passeio de avião seguido de uma cidade chuvosa.

Quando cruzamos a porta giratória e nos vimos do lado de fora fomos surpreendidas por um vento gelado. Já anoitecia e os resquícios de sol haviam ficado extintos, o céu agora era apenas gradiente em tons escuros.

— Caramba que frio!

— Sim, está congelante. O que a gente faz? Eu planejava jantar antes de ir, estou morrendo de fome, vou desmaiar se tiver que dirigir assim.

— É verdade, também estou faminta e uma refeição não sairia nada mal.

— Porque não fazemos o seguinte: você e a Ang vão até o restaurante e garantem nossos pedidos e Aneliese e eu iremos buscar os casacos no carro – ofereceu Lauren.

— Acho uma boa ideia, estou doida para sair desse vento. Que tal comermos no La Bella Italia? Eles têm lareira.

— Estou dentro com certeza – afirmei.

Como ninguém fez objeção tratamos de nos separar. Lauren e eu aproveitamos para levar as compras até o carro, andávamos a passos rápidos, a ventania sem fim nos forçando a movimentar os membros e assim procurar nos aquecer. Quando alcançamos o automóvel já era noite. Colocamos tudo no porta-malas, depois tratamos de fazer uso de nossos agasalhos, era reconfortante estar no abrigo, livre do frio, sentada no banco estofado.

— Eu não quero sair daqui – confessei num riso nervoso.

— Estive pensando se não seria melhor levar o carro mais para perto.

— Não sei... Será que há vagas disponíveis?

Lauren fez uma careta.

— Não tenho certeza. Parece que não temos escolha além de sair daqui – riu.

— Pois é.

— Eu não vi o seu vestido Liese, de que cor é?

— Vermelho.

— Ah, menos mal. É que seria bem estranho se tivéssemos escolhido peças parecidas. Pensando bem nenhuma de nós sequer tem o gosto semelhante ao da outra.

— Sim, boa observação.

— E você já tem um par? Eu não soube de nada sobre quem você vai levar.

Ergui as sobrancelhas um momento e então relaxei.

— É que meu acompanhante não estuda na Forks High School, ele é de La Push.

— Ele é quileute?

— Sim.

— Oh. Isto é... Inesperado.

— Imagino que sim, mas Angela me disse que era permitido convidarmos pessoas de fora.

— Não, não é a isto que me refiro.

Pisquei. Ela me olhou como quem tratava uma informação óbvia.

— Pensei que você fosse com Edward Cullen.

Ah. Ele.

— Bem, não. Edward não é meu par.

— Vocês não estão juntos?

— Acredito que esteja claro que não.

O que ela queria com aquelas especulações? Assunto para fazer fofoca mais tarde? Pensava que tivéssemos superado as diferenças, mas sua atitude me deixou com sérias dúvidas.

— Lauren, me desculpe, mas porque você quer saber sobre estas coisas? Acaso não pensa em espalhar boatos, não é?

Ela me olhou ofendida, mas mantive a firmeza em meu rosto, não era como se tivéssemos sido grandes amigas, eu a tratava com cordialidade, mas jamais deixara de ter desconfiança.

— Eu não vou fazer fofoca se é o que está insinuando.

— Me perdoe, mas é que não vi outro fundamento neste questionário...

— Eu não tenho um.

— O quê? – Não compreendi o que ela queria dizer.

Não pareceu muito à vontade enquanto afundava no banco e deixava os ombros caírem.

— Não tenho um par para o baile, é o que quero dizer. Ainda não convidei ninguém.

— Como não? Mas eu pensei que você fosse com Tyler, ao menos foi o que a Jessica disse.

Ela estava no assento do motorista e eu no banco de trás, contudo pude ver pelo espelho quando revirou os olhos.

— Jamais falei que iríamos juntos, mas foi o que ela entendeu. Tyler me convidou para ser sua acompanhante, mas eu não lhe dei qualquer resposta.

— Eu não sabia disso. Mas porque não quer ir com ele? É um cara tão legal.

— Sim, é um cara legal. É meu amigo de infância, mas deixou para me chamar no último instante, eu estava certa de que seria uma das primeiras a receber o convite e me equivoquei. Então comecei a me perguntar se isto não seria um sinal.

Um sinal? Ela tinha de ser mais específica, eu não acompanhava sua linha de raciocínio. Meu silêncio deve ter servido como prova de minha incompreensão, Lauren se ajeitou no lugar e se virou para me olhar.

— Você disse que não tem mais nada com o Edward e que eu saiba ele não convidou ninguém, então pensei que talvez estivesse apenas esperando ser chamado. Quero dizer, você vai com outro, porque ele não poderia fazer o mesmo?

Meu rosto estampou a surpresa, eu não esperava que ela fosse dizer aquilo.

— Isto não soou muito gentil – apontei com a voz séria.

— Você tem planos de convidá-lo? – Questionou sem se deixar abalar.

— Não. Já disse que não.

— Então o que pode haver de tão ruim no que eu quero fazer? Ele está solteiro e seus irmãos já formam casais. Casais bem esquisitos, por sinal, mas ainda assim casais – devaneou.

Pareceu ser informação demais para um espaço tão pequeno, me movi um pouco para o lado e abri a janela colocando meu braço para fora para sentir a temperatura.

— Está ficando mais frio, se não sairmos daqui de uma vez vou acabar desistindo do jantar.

Não pude deixar a irritação ausente em meu tom, mas eu estava exaltada pelo que ouvira. Só que eu não tinha o direito de estar, Lauren por mais insensível que pudesse ser estava certa. Edward estava sozinho, ele não tinha de prestar contas a ninguém e podia levar quem bem entendesse aquela bendita festa. Eu sequer havia pensado sobre isso, na realidade não acreditava verdadeiramente que ele fosse ir. Contudo havia uma pequena possibilidade de que eu estivesse enganada e esta possibilidade conseguiu me inquietar.

Dando o assunto por encerrado deixamos o aconchego do Mercury e voltamos para a ventania persistente. Apesar daquela se tratar de uma cidade turística a escuridão e o clima desfavorável haviam conseguido deixar as ruas desertas, me senti ansiosa por ir ao encontro das garotas e colocar logo alguma coisa no estômago.

Seguíamos caladas por um trecho completamente vazio, era uma pequena travessa mal iluminada que levava à avenida principal de onde havíamos vindo. De repente um ruído ecoou da parte mais escura do caminho e Lauren me olhou nervosamente.

— Não deve ser nada, talvez apenas um gato – procurei lhe acalmar.

Ela assentiu e aumentamos a velocidade de nossas passadas, faltava poucos metros para alcançarmos a rua quando uma mulher surgiu à nossa frente nos fazendo parar bruscamente.

— Vão a algum lugar? – Sua voz soou divertida e tinha um timbre infantil.

Eu a conhecia e ao perceber senti meu coração perder o batimento e minhas pernas ficarem trêmulas.

Era Victoria.


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