Perdida em Crepúsculo: além do sonho. escrita por Andy Sousa


Capítulo 5
O funeral.


Notas iniciais do capítulo

Bem, eu agradeço a quem comenta a fic, porque realmente isso impulsiona qualquer autor e no meu caso me faz muito feliz. Agradeço aqueles que acompanham, aos leitores fantasmas, aos leitores antigos e aos novos. De todo jeito vocês me ajudam a continuar, obrigada! :)
Boa leitura!



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Aneliese PDV

"Querido, quando nos vimos pela primeira vez
Eu nunca havia sentido nada tão forte.
Você era como meu amante e meu melhor amigo,
Tudo embrulhado com uma fita.
E de repente você se foi,
Eu não soube como agir.
É como um choque que me atingiu
E agora meu coração está morto.
Eu me sinto vazia e oca.
E eu nunca me entreguei a alguém
Da maneira que me entreguei a você.
Você sequer reconhece o quanto me magoou.
Somente um milagre me traria de volta
E você é o único culpado."

Rehab – Rihanna feat. Justin Timberlake

~*~

– Porque está deixando que ele mande em você?

O encarei por um instante, essa discussão não devia ter acontecido, ainda assim respondi a sua pergunta, porque me senti insultada.

– Jacob não manda em mim, estou fazendo isso por que quero, mas ele tem razão em não me querer perto de você.

– E você confia nele? Um lobisomem! Não percebe que abre mão da companhia de um monstro pela de outro?

– Confiança é algo que se conquista e ele conquistou a minha. E sim, Jacob é suscetível a se transformar em uma criatura perigosa, mas seria incapaz de me machucar – não consegui manter a firmeza que queria, pois me recordei de que ele já estivera a ponto de fazer isto.

Edward soltou um riso de superioridade.

– Sabe que não consegue mentir para mim. Se conhece o perigo então porque insiste em ficar perto dele?

– Porque mesmo que um dia ele chegasse a perder o controle, mesmo que dilacerasse meu corpo as feridas não doeriam tanto quanto as que você causou em mim. Seria uma dor física. Eu saberia que um dia iria me recuperar.

Seu rosto demonstrava desânimo.

– Não acha que o tempo será capaz de fazê-la me perdoar?

– Não sei – encolhi os ombros. – Mas espero ansiosamente que sim. Só que você não estará presente quando essa hora chegar.

– Liese...

– Não Edward. Chega! Você disse que errou muito, mas eu errei também: em ter acreditado, me aproximado e entregado a você sem antes saber do que era capaz. E muito mais em não ter imediatamente me afastado de você. Eu estava confusa, mas não tenho o direito de brincar com os sentimentos de Jacob, é uma boa pessoa e gosta de mim e é minha obrigação protegê-lo.

Comecei a me afastar, mas ele segurou minha mão.

– Liese, não faça isso, não vá embora. Por favor, eu estou te pedindo! Sei que o que fiz foi horrível e pelo jeito imperdoável, mas mesmo assim preciso que fique. Escute-me: não existe nada para mim sem você. Nunca existiu! Durante o tempo em que estive longe apenas menti para mim mesmo, fingi ser capaz de ser feliz sozinho, mas não sou. – Se aproximou até nossos rostos ficarem a centímetros de distância. – Por favor, eu preciso de você – implorou com olhos torturados.

– Não. Eu não vou ficar e pare de me perseguir, isto não vai adiantar.

– Eu não posso. Você não me deixa escolha! Como posso provar que me arrependi? Como fazê-la acreditar que mudei e jamais, jamais a machucaria novamente?

– Não há maneira de conseguir isso...

– Sim, há. Há uma maneira, mas você não quer me dar chance. Porque não admite que também está mentindo para si mesma? Ou você está apaixonada pelo lobo?

Abri minha boca tentando falar, mas tornei a fechá-la e fiz o mesmo mais duas vezes. Eu não sabia o que dizer. Porque eu não sabia o que dizer? E porque isso me deixou tão nervosa? Eu não devia quaisquer explicações a ele.

Mas talvez você deva explicar a si mesma.

– Eu sabia. Você não o ama Aneliese, não a ele. Mais cedo me disse que não sentia nada mais por mim, isso é verdade?

– Eu... Eu tenho que ir – procurei me desvencilhar, mas ele me segurou com firmeza.

– Porque você quer fugir? É porque estou certo, não estou? Você ainda me ama.

O olhei em silêncio, sem qualquer palavra que pudesse dizer para contestar o que ouvia. Tive ódio de mim mesma por ser tão fraca, eu tinha de ir embora. O controle que Edward conseguia exercer sobre mim era ridículo, absurdo.

– Eu não amo mais você.

– Como pode saber?

– E como não saberia? Depois de ter me tratado da pior forma e me abandonado você ainda espera que eu sinta algo? Eu não quero mais sentir. Você diz que se arrepende e que gostaria de ter a capacidade de voltar atrás, nós dois sabemos que é impossível, mas se quiser que eu seja feliz, se quiser que seja capaz de perdoá-lo então me deixe em paz. Porque enquanto estiver por perto eu não vou conseguir. Você fala sobre o amor, mas não sabe nada sobre ele e eu infelizmente sei. E você nunca me amou do jeito que eu amei você. Nunca realmente se importou. Estou cansada de machucar meu coração, por favor, apenas me deixe ir.

Quando enfim soltou minha mão pude secar as lágrimas que haviam escapado.

– Então é isso? Vai ficar com Jacob? Vai fazer isso apenas para me manter distante?

– Sim, eu vou ficar com ele, mas não por sua causa e sim porque quero. Nem tudo gira a sua volta e em breve poderei dizer o mesmo de mim.

A discussão havia me esgotado, a única força que encontrei foi para mover minhas pernas e caminhar, ficando cada vez mais distante do hospital.

Edward não me seguiu.

Eu nunca pensei que fosse ver Charlie chorar.

Aquilo me cortou o coração mais que todas as coisas. A chuva caindo, o dia cinzento, tudo isto parecia espelhar a tristeza nos rostos dos presentes, era a despedida daquele que soubera ser um amigo, que fora um pai, um esposo amado. Era de fato muito triste. Na véspera a família teve de preparar o velório às pressas, o caixão de Harry havia ficado exposto durante a madrugada e agora pela manhã era feito seu enterro. Mal o sol raiara e já havia uma nuvem escura encobrindo a felicidade.

Fiz questão de acompanhar Charlie, achei que era meu dever, mas ao chegar ao cemitério senti que estava sobrando. Tive tempo para pensar sobre a sensação e vi que me julgava um pouco traidora. Me aproximara destas pessoas, vivera com elas quando foi conveniente e com o retorno dos Cullen as larguei. Talvez fosse exagero pensar assim, mas minha mente me julgava indiscriminadamente.

Não tive mais notícias de Edward, sequer chegara a vê-lo outra vez e esperava que pelo tempo que fosse possível a situação se prolongasse. Não gostava da pessoa que eu era perto dele, não mais. Ou eu usava da mágoa ou me deixava levar, mas o equilíbrio que demonstrava nas demais ocasiões era difícil de ser mantido em sua presença.

E eu continuava usando de um truque que me fora muito útil: não pensava. Não analisava nada, tampouco tentava entender, se quisesse manter minha lucidez essa era a melhor maneira.

Observei quando o padre deu a benção final e o caixão aos poucos foi adentrando a cova. Já me acostumara com o som do choro de Leah e de sua mãe, me dava muita pena vê-las tão desoladas. Contudo talvez fosse Seth quem me causasse mais compaixão, pois se lamentava em silêncio, as lágrimas molhando o rosto de um menino que mal tivera tempo de aproveitar a presença do pai.

Era apenas árduo...

Quando não havia nada mais a ser feito as pessoas aos poucos começaram a se dissipar. Uma pequena procissão de sombrinhas escuras devia ser a visão de quem nos olhasse do céu. Permaneci imóvel, segurando meu próprio guarda-chuva, os pés em um sapato de salto alto, o corpo em um vestido preto. A elegância fúnebre me incomodava muito, mas havia sido o mais apropriado que encontrara para vestir.

Então ao restar apenas a esposa, os filhos e alguns amigo ao redor do túmulo senti que era a hora de lhes dar privacidade. Mesmo Charlie estando entre eles eu sabia que aquela reunião não me dizia respeito e vagarosamente me retirei seguindo a trilha de pedras que levava até os portões do cemitério.

Isso não é uma brincadeira. Essa ilusão... Tampouco é um sonho. Isto é muito real.

Havia forma de pensar diferente?

Ouvi passos próximos a mim, mas continuei meu trajeto, então um rapaz alto se pôs ao meu lado e acompanhou meus movimentos.

– Eu sinto muito – falei baixinho.

Ele assentiu.

– Jacob, eu sinto muito por tudo.

– Sei que sim.

Não tive chance sequer de lhe dar um abraço, ele não permitiu, saiu de perto de mim e foi se juntar às outras pessoas; o que me restou fazer foi ir até a radiopatrulha e aguardar, não demorou até que Charlie surgiu, se despediu dos demais com um aceno e veio até mim. Nos acomodamos no carro e ele saiu para a estrada.

– Pode aproveitar o dia para descansar, não precisa ir à escola hoje. Conversarei com o senhor Greene, você tem que se recuperar do ferimento.

Me senti outra vez constrangida pela atitude infantil, Charlie sem dúvidas tinha a cabeça tão cheia de preocupações que não questionou nenhuma vez a mesma mentira que eu havia contado ao doutor Munch. Não sentia que merecia ficar afastada da escola, também não achei adequado aceitar os três dias de licença do trabalho, mas ninguém quis me ouvir quando tentei dialogar.

Só que eu não estava sendo verdadeira. A razão maior para ter aceitado a sugestão de não ir ao colégio era porque sabia que assim teria mais algumas horas longe do destino que voltara para me assombrar.

Ele me levou até a casa, mas não ficou. Sequer quis saber quando lhe disse que devia fazer o desjejum, me avisou que tinha demasiado trabalho acumulado e daria um jeito de comer algo na delegacia, mas eu o conhecia o bastante para entender que se tratavam de desculpas. Era seu jeito de lidar com a dor, quem era eu para protestar?

Não foi agradável permanecer sozinha, a casa de algum modo pareceu grande demais e sombria. Pensei que o melhor era me movimentar, fazer algum barulho para tentar criar a impressão de um dia comum. Subi até o quarto e me livrei das roupas disposta a tomar banho. Não havia nada fora do lugar, eu me encarregara de tudo, ajeitara as coisas do jeito que estavam dispostas anteriormente. A ideia de voltar para casa se resumiu apenas a isto: uma ideia. Por enquanto eu iria ficar, não podia abandonar Charlie quando ele mais precisava de amparo.

Depois de limpa desci e fui até a sala, contra todos os costumes me empoleirei no sofá e liguei a televisão, era uma boa forma de me manter dispersa dos problemas. A campainha soou de repente e calcei minhas pantufas indo até a entrada, abri a porta e Jacob estava no portal.

– Jake! O que você...?

Ele mantinha a cabeça baixa, então ergueu o rosto e me permitiu ver as lágrimas, se adiantou até mim e me abraçou. Dei um jeito de fechar a porta e em meu ombro ele chorou. Não fiz nada, apenas esperei.

Enfim ele se acalmou e se afastou.

– Me desculpe, eu não sabia que se sentia assim, não imaginei que fossem tão próximos.

– Bem, ele era amigo de meu pai e esteve presente em quase toda minha vida. Mas acho que o mais triste foi ver Seth. Essa angústia que ele sente eu sei bem como é.

Assenti.

– Também me emocionou vê-lo, Jacob, eu sinto muito de verdade. Se houver qualquer coisa que eu possa fazer para ajudar...

Ele passou a mão por meu rosto.

– E você, como está? Nem mesmo me ocupei em perguntar, ainda sente alguma coisa por causa da queda?

Pisquei e então entendi a que ele se referia.

– Não, eu estou bem – sorri. – Até ontem pela manhã minha garganta chegou a doer, mas agora não sinto mais nada.

– Isso é bom.

– O dia hoje nada tem a ver sobre mim e ainda assim você se lembra de me proteger.

Deu de ombros.

– O que mais eu poderia fazer? – Então ficou sério. – Mas me pergunto se não me preocupo em vão, você mostrou saber perfeitamente se cuidar sozinha.

– O que quer dizer?

– Sabe o que quero dizer.

Prendi os lábios.

– Jacob, se fala de Edward, quero que saiba que estou arrependida por ter estado tão perto dele, contudo acho que deva saber que quem paga o preço pelo atrevimento sou eu. Não há uma lembrança boa que eu possa relacionar à sua visita.

– Ele não desistiu de ficar perto de você.

– Não.

– Entendo. Você não me deve nada, sabe. Tem de fazer o que achar certo.

– Jacob, não. Por favor, não fale como se estivesse se despedindo.

Ele colocou as mãos ao redor de minha cintura e me trouxe para perto.

– Eu quero você Aneliese, acho que sabe perfeitamente disso, mas só porque seu corpo está em meus braços não significa que seu coração também esteja.

Sacudi a cabeça.

– Não, não fale assim. Eu me sinto tola pelas atitudes que tomei e se a consequência for afastar você então saberei que agi da pior maneira.

– Você quer que eu fique?

– Eu preciso que fique. Você é meu melhor amigo, é tudo que tenho.

Vagarosamente ele balançou a cabeça.

– Apenas um amigo. Não basta para mim.

– Sei que é cedo demais para fazer juras de amor, então ao menos me deixe tentar. É minha vez de lhe pedir uma chance de fazê-lo feliz.

Eu não queria ser responsável por essa expressão de amargura que via. Não podia lidar com isso.

– É isso o que quer? Porque sei que é o que eu quero.

Mordi o lábio e fiz que sim com a cabeça.

Ele respirou fundo.

– Tudo bem. Acho que ganho o direito de lhe roubar um beijo sem que isto saia dos padrões.

– Se é o que quer – provoquei.

Passou a mão por meu rosto, em seguida por meu cabelo me fazendo um carinho, então seus olhos ficaram ferozes e ele sorriu maliciosamente.

– Vou fazer com que você veja que sou o cara certo para você Aneliese, quero que tente se lembrar se alguma vez ele já a beijou assim.

Com uma mão prendeu meu corpo, me chocando contra o dele e com a outra apoiou minha nuca e me trouxe para perto, desde o primeiro contato ele foi agressivo, mas não me machucou, apenas anuviou minha linha de raciocínio. Eu me dera conta de que extraordinariamente ele estava vestido, usava calça social, sapatos e uma camisa preta de mangas longas, sua vestimenta para a cerimônia a que havíamos comparecido; ainda assim eu sentia todo o calor emanando de seu corpo.

E era a palavra perfeita para descrever nosso contato: calor.

O calor humano que eu não podia encontrar em Edward.

Jacob não se preocupou em ser cuidadoso, contudo sendo muito mais forte que eu ele sabia delinear os limites e sabia brincar com eles de uma forma muito persuasiva. Não foi por acaso que pareceu urgente o tempo todo, firme. Queria me mostrar que esse tipo de relação era impossível entre uma humana e um vampiro.

E novamente o que fiz foi manter minha mente calada, distante e sem chance de me julgar.

Eu apenas ainda não aprendera a ignorar o que sentia.


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Notas finais do capítulo

Estes foram os de hoje, andei um pouco ocupada estes últimos dias, devia ter postado eles antes, mas logo eu voltarei com mais. Beijos!