Perdida em Crepúsculo: além do sonho. escrita por Andy Sousa


Capítulo 32
Diálogos.


Notas iniciais do capítulo

Queridos, este é o último de hoje, aproveitem!
Quero avisar que vou responder todas as reviews - inclusive as dos puxões de orelha.
Muito obrigada por comentarem, por acompanharem. Vocês fazem uma menina mais feliz! ♥

Boa leitura :)



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Aneliese PDV

"Te dei amor, coloquei meu coração dentro de você,
O que eu poderia fazer quando você começou a falar enquanto dormia,
Dizendo coisas que faria comigo, eu não estava assustada.
Agora estou encontrando facas embaixo dos lençóis,
Fotografias destruídas minhas, estou em desespero.
Ursinho de pelúcia, você era meu ursinho de pelúcia,
Você era confortante e quietinho,
Como o amor se tornou tão violento?
Tudo era tão doce, até você tentar me matar.
Eu joguei você fora, mas não superei você,
Eu apenas não te conhecia,
Mas agora você voltou
E é tão aterrorizante como você me paralisa.
Agora você está aparecendo na minha casa,
Respirando fundo no telefone,
Eu estou tão despreparada, eu estou assustada pra caramba."

Teddy Bear – Melanie Martinez

~*~

Antigamente eu costumava me preocupar muito com os estudos, era habituada a chegar em casa e já fazer a lição, mesmo que esta fosse só para semanas depois, montava esquemas complexos para elaborar meus trabalhos, era engajada nas questões escolares, pois realmente me interessava por elas. Eu era uma garota tranquila, sem graça até, eu diria. Minha vida se resumia a estudos, família e amigos.

Mas antigamente eu ainda não tinha conhecido Crepúsculo, tampouco vindo para Forks.

Agora era como se estivesse dentro de uma tempestade sem fim, que sempre insistia em me lançar em direções diferentes, que fazia com que o ruído dos trovões me impossibilitasse pensar com clareza. Eu necessitava de grande esforço para me manter concentrada nas tarefas, muitas vezes fazia os deveres apenas para passar o tempo, porque me assombrava ficar com a mente aberta às tentações.

Eu me sentia muito tola por não conseguir controlar meus próprios sentimentos, me sentia muito vítima deles. Me perguntava se fora mais feliz quando não sabia sobre as desilusões que um coração partido podia trazer...

Estava sentada no sofá, as pernas dobradas sobre o assento enquanto abraçava meus próprios joelhos, me encolhendo, assustada demais com as ameaças do mundo exterior, já havia me acostumado que o ruído dos relógios fosse minha única companhia, eles se misturavam entre si e eu havia criado diversas melodias em minha cabeça, distraída com o passar do tempo. Já havia alguns dias que não chovia e o silêncio nas tardes invernais se tornava ainda mais proeminente, percebera que além do frio, eu também não me familiarizara ao vento, quando ele era forte adentrava as frestas e o barulho me lembrava uma lamúria.

Eu mal me movimentava ao respirar, estava muito quieta, desde que chegara do trabalho estivera esperando por Charlie, mas ele simplesmente parecia que não iria chegar nunca. O fato de encarar os ponteiros do relógio esporadicamente me indicava que a culpa do tempo passar tão devagar era minha.

Eu era atenta a qualquer som anormal, agora mais do que nunca tentava me agarrar à promessa de Alice de que ela estaria me vigiando, eu não ousava pensar que estava por minha conta contra os perigos que Forks guardava, pois estes se encontravam muito além de minha capacidade de defesa. Viera remoendo durante todo o dia a conversa que havíamos tido na escola, mas a parte que me assolava não era a que eu esperaria, eu pensava apenas sobre o final de nosso diálogo, quando ela urgentemente me alertara do perigo.

Como pudera ter feito isso? Será que tinha ideia do estado em que havia me deixado?

Você tem que confiar que ela estará cuidando de você.

Era racional pensar assim, afinal porque Alice iria se incomodar em me afligir só por diversão? Não, eu acreditava que ela falara de uma ameaça real e também que só havia compartilhado seu receio comigo porque não acreditava de fato que algo fosse acontecer, do contrário simplesmente teria guardado segredo.

Contive a vontade de rir de mim mesma, eu já acreditava em Alice novamente, já começava a confiar até mesmo minha vida em suas mãos, parecia muito irresponsável, mas eu não tinha escolha, a vida em Crepúsculo me ensinara a não ser arrogante quando se tratava de minha segurança, eu podia acreditar o quanto quisesse que era poderosa, capaz de vencer meus inimigos, mas era mentira. Perto destas criaturas sobre-humanas eu era apenas vítima.

Então Alice sabia que havia perigo.

— Afinal não estou louca – murmurei.

Mas talvez estivesse melhor acreditando em minha ilusão de que tudo era invenção de minha cabeça, ter a confirmação de um fato como esses não era nada bom, não era à toa que eu estava apavorada.

Charlie enfim chegou, confirmei pelo barulho do carro parando no quintal e também a luz dos faróis que iluminou as janelas, momentaneamente ofuscando minha vista. Saí de meu refúgio, desdobrando as pernas que já estavam dormentes, demorei alguns minutos esperando o sangue voltar a circular normalmente e foi tempo suficiente para ele vir até meu encontro.

— Porque está com a luz desligada?

Pisquei e olhei em volta, era verdade, eu não havia acendido as luzes, minha visão havia se acostumado à escuridão e eu me senti tão confortável que sequer percebi.

— Quando cheguei o sol estava quase se pondo – dei de ombros.

Charlie alcançou o interruptor e pôde me examinar com cuidado.

— O que aconteceu?

— Nada.

— Não minta para mim Aneliese, não vai adiantar.

Refleti por um instante, eu não me dera conta de que havia mentido, tinha se tornado automático evitar expor meus problemas, eu não achava mais que alguém se interessasse por eles.

— Eu não sei... Só estou um pouco confusa, no geral – isto era verdade.

— Algum problema na escola? Algo no trabalho?

— Está tudo bem – reafirmei, mas vendo que ele não aprovara minha resposta, emendei - Charlie, não se ofenda, eu não estou mentindo, só não sei ao certo como lhe explicar – esquivei.

Sua boca se retorceu em um esgar e ele se retirou para a lavanderia, lavou as mãos e então veio para a cozinha procurar por algo para comer, novamente eu não havia preparado nada, sequer soube como pedir desculpas.

— Está tudo bem? Você chegou tarde hoje, alguma novidade sobre o desaparecimento? Eu vi os panfletos na escola pela manhã.

Cerca de cinco minutos depois ele estava de volta à sala com um pão abarrotado de mortadela, sentou-se e deu uma grande mordida, mastigou lentamente e quando viu que eu não iria desistir, só então resolveu falar comigo.

— Você está se cuidando não está? Ouça Aneliese, as coisas não estão melhores.

Meus olhos se arregalaram.

— Alguém mais se machucou?

Ele discordou com um leve movimento da cabeça.

— Graças a Deus, não! Mas desaparecimentos por aqui não são comuns e este não é o primeiro este ano.

Pude sentir a dúvida estampada em minha face. Charlie prosseguiu:

— Uma mulher. Ela costumava fazer trilhas pela região e a encontramos alguns dias depois do marido dar por sua falta.

— Eu não fiquei sabendo disto, ela está bem?

Ele me encarou por um segundo e taciturno, tornou a comer seu sanduíche.

Não foi difícil interpretar sua falta de palavras.

— Ela morreu – observei baixinho.

Por fim a conversa pareceu se tornar demasiada séria e ele se levantou para ligar o televisor.

— Fez bem em vir embora direto do trabalho, já falou com seus colegas sobre sair da tal banda?

— Eu não vou sair da Marrow.

Suas sobrancelhas se ergueram. Ao terminar a refeição ele se encaminhou para a cozinha, deixou o prato sobre a pia e retornou, desta vez com uma lata de cerveja em uma das mãos.

— Outra vez vai beber?

Ele estancou no meio de uma passada parecendo confuso.

— Já é a terceira esta semana. Preferia que não tornasse isto um hábito – apontei.

Eu temi que se ofendesse e talvez até me xingasse, mas surpreendentemente deu meia volta e depositou a bebida em seu lugar na geladeira.

— Obrigada – murmurei quando passou por mim para se sentar no sofá.

— Está tudo bem, você está certa. Sue já havia me alertado sobre isso.

— Sue?

— A mulher de Harry. Quero dizer, viúva. – Fez-se silêncio enquanto ele se recordava do amigo. – O velho Harry abusou das doses e isto acabou por lhe fazer mal.

Então Charlie ainda mantinha contato com ela, era natural, afinal ele também conhecia Sue de longa data, mas eu sabia que não era por acaso, eles acabariam juntos, fiquei feliz por ver o início de sua relação se desenrolando.

— Você não está feliz?

Ele desviou os olhos da tela.

— Como?

— Não está feliz, não é? É por isso que anda bebendo – conjecturei.

Ele se ajeitou em sua poltrona e deixou a tevê no ‘mudo’. Me indicou que me sentasse no sofá à sua frente.

— Não sou eu quem parece amargurado aqui – assinalou. Fiz menção de dizer algo, mas ele logo continuou – sou o xerife desta cidade há muito tempo, Aneliese, já encarei situações graves. Acredite em mim, eu estou muito bem. Só um pouco cansado, é por isso que bebo, estou velho, não infeliz.

— Não sente saudades de Bella? Me sinto tão inútil por ter perdido meu celular, era uma maneira fácil de contatá-la.

— Os pais sempre sentem falta dos filhos, não é? Mas talvez seja você quem sente mais a ausência de seus parentes, já faz algum tempo que está aqui e o Natal se aproxima, já pensou em voltar para ver sua família?

As festas de fim de ano, eu jamais passara uma só data longe de Julio e Lindy, esta seria a primeira vez. Será que poderia significar alguma coisa?

— Eu não pensei sobre isso – admiti.

— Pois eu sim. Me parece que você anda muito solitária, sem amigos. Nem mesmo Jacob a visita mais. Se fosse mais velha eu não veria problema em que se refugiasse no trabalho e nos estudos, mas você é nova demais para isto.

— Mas eu faço porque gosto – procurei fazê-lo entender meus motivos e não mais tratar daquele mesmo assunto.

— Sim, pois você é uma boa menina, afora algumas ideias absurdas que tem – ele sorriu de sua forma contida, um mero movimento da boca.

— Fico feliz que tenha essa impressão sobre mim, mesmo depois que o deixei passar fome mais uma vez.

— Eu estou bem – reafirmou. – Posso comer um sanduiche de vez em quando, na verdade este costumava ser meu jantar.

À vontade em sua costumeira poltrona ele ajeitou o volume da tevê, o noticiário falava exclusivamente sobre esportes. O observando tive a visão de meu pai sentado na sala em uma manhã de domingo, assistindo às corridas automotivas, que era algo de que ele gostava. Ironicamente sempre acabava de mau-humor, por causa do péssimo desempenho do piloto brasileiro, terminava debatendo com minha mãe, que não aprovava nenhum tipo de vício e mesmo assim quando chegava a hora do almoço lá estávamos os três rindo e conversando sobre os assuntos da semana, sobre os problemas que meus primos arranjavam, sobre as novas plantas que minha avó cultivava...

Cada lembrança que tinha de minha vida no Brasil parecia tão perfeita, mesmo que eu soubesse que era efeito das saudades, me indagava se tudo havia se tornado tão ruim como eu fizera parecer no final. A conversa com Charlie havia colocado os fatos em evidência, principalmente aqueles que eu procurava ignorar, ao final não pude deixar de notar que havia fundamento em seu conselho: o que mais havia para mim aqui?

Pedi licença, me retirando do cômodo com o pretexto de querer ir me banhar, contudo, o motivo por trás da decisão era outro, eu precisava ficar um pouco sozinha.

Segura escondida entre as quatro paredes do banheiro me senti mais inclinada a analisar minha situação e não me demorei, pois eu precisava ser objetiva, além disso não era mais costume meu tomar banhos longos.

Depois de refletir, eu tinha chegado à uma conclusão.

Sentia que se alguma vez tivesse havido qualquer missão que eu viera cumprir nesta cidade, seu tempo já havia se esgotado e agora só o que fazia era protelar meu retorno. Talvez esperasse por mais alguma coisa, um milagre, uma mudança extraordinária, entretanto mesmo que estes chegassem a vir, eles não seriam capazes de apagar o passado e o passado fora bom em me modificar.

Assim como Bella, eu estava convicta de três coisas: a primeira era que em Forks eu sofria demais e não podia dizer que houvesse espaço para mais dor dentro de mim; a segunda era que minha confiança nos vampiros e nos lobisomens estava profundamente abalada.

E a última certeza era de que eu ainda amava Edward.

Algumas lágrimas escapavam de meus olhos, dando vida à tristeza que habitava meu peito. Nada daquilo que havia concluído era favorável a mim e nada seria capaz de me manter onde estava.

Agora era inevitável.

— Eu tenho de partir – sussurrei.

— Quantas pessoas?

— Umas vinte – Mike encolheu os ombros.

— Nossa. Eu não esperava que fossem tantas.

— O Bar do Bill é um dos melhores lugares aos arredores daqui. Ninguém perde a chance de ir a um show lá, você vai ver quando chegar, o local é cheio de bugigangas, tem mesa de bilhar, jogo de dardos...

— Bem, fico feliz que mostrem interesse, com certeza o tal Bill também não fará objeção – fiz piada.

Mike riu.

— Vai ser uma noite boa.

O brilho em seu olhar me indicava que ele estava à procura de algo mais para se divertir, do que apenas jogos e considerei um bom momento para encerrar a conversa e retornar ao trabalho. Era quase a hora do almoço e Joshua como prometido havia ido até a loja entregar as entradas, entretanto no final não se mostrou suficiente e ele e Mike ficaram de providenciar o restante na hora do show, segundo Josh, Billy gostava do lugar cheio e eles não teriam problemas em conseguir ingressos para todos.

Ao final, o grupo se mostrara muito maior do que eu previra, todos os meus amigos tinham combinado de ir ver nossa apresentação.

Eu empilhava as caixas de curativos, separando-as por fabricante, mas o serviço infelizmente não se mostrou desafiador o suficiente para minar meu nervosismo crescente. Pela manhã, pouco antes de sair para o trabalho eu conversara com Charlie, fizera meu último e angustiado pedido, mas a recusa havia sido imediata, além de novamente me proibir, ele me lembrara de que estava de castigo e que os ensaios da próxima semana teriam que ser cancelados, não desistira de sua missão de me tirar da Marrow, para ele, me manter segura era mais importante que qualquer passatempo.

O problema era que ele fora explícito em sua ordem, sem deixar brechas, além disso, sabia que o xerife confiava em mim, ele me avisara que depois do expediente iria até a aldeia visitar seus amigos, Billy, Sue e seus filhos e ver como estavam agora que já se passara semanas desde a morte de Harry; Charlie jamais estaria ausente se sequer desconfiasse que eu ousaria desobedece-lo, ao que tudo indicava ele estava convencido de que eu permaneceria em casa. E de fato eu estava dividida em minha própria opinião.

Há dois dias jamais cogitaria a possibilidade de deixar os garotos na mão, mas agora via tudo por um panorama diferente, o relato de Charlie sobre os desaparecimentos em Forks me fez questionar a segurança da cidade e eu percebia enfim que minha vida aqui estava sem rumo, o que afinal eu esperava de meus dias? Não era como se houvesse um futuro para mim aqui, eu estava dentro de uma história, pelos céus!

Enfim eram coisas suficientes para inquietar uma garota e eu simplesmente não conseguia deixa-las de lado.

A atenção redobrada que dispensava às minhas tarefas, por causa de minha distração com meus próprios pensamentos fez com que o tempo passasse mais rápido, pensei ser cedo demais quando senhora Newton me indicou que podia tirar minha pausa para o almoço. Num momento de déjà-vu me recordei de um sábado em que me encontrara tão ansiosa quanto agora, fora o dia do baile, entretanto me sentira mais feliz naquela ocasião, ao menos eu pensava saber o que estava fazendo e neste instante continuava a me sentir apenas levada pela maré.

Não era de meu feitio ficar assim, não gostei nada da sensação.

Eu sempre trazia minha refeição de casa, como o quadro de funcionários era pequeno tínhamos um espaço agradável à nossa disposição para os momentos de lazer, os Newton sabiam ser bons patrões, prezavam seus funcionários então na cozinha contávamos com uma mesa sempre limpa, geladeira e micro-ondas. Enquanto aguardava meu macarrão esquentar me surpreendi ao ver pálidos raios de sol adentrarem a janela, sua luz mesmo fraca iluminou o lugar e o tornou mais aconchegante. Com a tigela de volta em minhas mãos me precipitei para a pequena área do banco que era atingida pelo sol, era delicioso sentir o calor naturalmente adentrando meus poros.

Eu já havia me despedido do tempo morno, finalmente me conformando com a presença do inverno, por isso foi animador sentir o brilho da luz sobre mim, mesmo que a loja tivesse ar condicionado, a natureza cumpria seu papel com êxito. Mais tranquila do que eu poderia esperar, pude fazer minha refeição calmamente, naquele pequeno espaço de tempo me pareceu que os problemas sequer existiam e sustentei essa linha de pensamento pelo maior tempo que pude.

Talvez seja um sinal de que tudo ficará resolvido, pensei.

E nisto ao menos eu acreditava, independente do que decidisse, ao final do dia eu estaria em casa, quando enfim repousasse minha cabeça em meu travesseiro mais tarde, eu estaria bem.

Eu estaria bem.


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Notas finais do capítulo

Eu volto com mais, não se preocupem. Obrigada de coração pra quem está acompanhando até aqui, sei que ultimamente não estou fazendo por merecer, mas o que posso fazer é postar bastante, né? Então isto eu farei!
Quando voltar, teremos PDV de Jacob e Edward!
Beijos a todos :}