Perdida em Crepúsculo: além do sonho. escrita por Andy Sousa


Capítulo 31
Passível de falhas.


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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Aneliese PDV

"Se você não é a pessoa certa para mim,
Porque eu odeio a ideia de ser livre?
E se eu não sou a pessoa certa para você,
Porque nós passamos por tudo o que passamos?
Está tão frio aqui em sua imensidão,
Eu quero que você seja meu guardião,
Mas não se você for tão imprudente.
Se você vai me desapontar, faça com cuidado,
Não finja que não me quer,
Nosso amor não virou águas passadas.
O que é que você está esperando?
Você jamais parece conseguir ir embora.
E de quem você está se escondendo?
Nós não estamos vivendo como fugitivos.
Será que lhe pedi demais?
A única coisa que queria era seu amor..."

Water Under The Bridge – Adele

~*~

Meu humor estava péssimo, eu não dormira nada bem esta madrugada, tivera pesadelos, me senti o tempo todo incomodada como se alguém estivesse me observando, acordei várias vezes ao longo da noite sobressaltada com o barulho do vento, além disso se possível havia esfriado ainda mais, então minha disposição para sair da cama esta manhã não fora maior do que na véspera.

Considerava um grande feito ter vindo à escola, com efeito desejava que minha suspensão pudesse ter durado ao menos mais um dia. Logo na entrada avistara Edward e Lauren andando de mãos dadas e não conseguia tirar a cena de minha mente. Por sorte ao menos as aulas foram produtivas, na troca do segundo tempo aproveitei para ir ao banheiro, ao sair notei que algumas pessoas se aglomeravam em frente ao quadro de avisos e não pude conter minha curiosidade em fazer o mesmo.

Uma menina alta de cabelos louros se deslocou e foi possível que eu avistasse o que causava comoção, era um cartaz do Departamento de Polícia de Forks, em letras garrafais se lia claramente a palavra ‘desaparecido’. Dei um jeito de abrir caminho entre os presentes e consegui ler o que dizia o enunciado, era informada a data do desaparecimento, características físicas e telefones para contato, debaixo da foto impressa havia a identificação: Spencer Armstrong Davies.

Meus olhos pousaram sobre a imagem de um garoto de cabelos castanhos e sorriso tímido, não tive dúvidas de se tratar da foto do anuário, devia ser a melhor que a família encontrara, eu acreditava que Spencer não fosse adepto de fotografias. Algo me incomodava enquanto analisava aquele papel.

— Aneliese - Angela surgiu ao meu lado, algumas pessoas haviam saído e deixado o espaço livre. – É Spencer, não é?

Assenti.

— Coitado – falei. – Seria loucura se dissesse que tenho a impressão de já tê-lo visto antes?

Ela refletiu antes de responder.

— Acredito que não, afinal ele estudava conosco, apesar de sermos de séries diferentes. Talvez tenha esbarrado com ele pelos corredores ou no refeitório.

— Sim, é verdade. Quando penso por esse lado tenho vontade de voltar no tempo e arranjar um jeito de mantê-lo seguro, de lhe avisar sobre o perigo.

— Alguém que em um instante está junto a nós e no seguinte desaparece realmente é inquietante – concordou.

Ela me indicou que seria melhor irmos para a sala e não fiz objeção em acompanhá-la.

Eu pensava sobre o que havia acontecido, só nesta semana tinha perdido meu celular e ficado de castigo, sem falar no aparente fim de meu relacionamento com Jacob e nas frequentes tentativas de Lauren em me provocar. Eu sequer me atrevia a pensar na confusão de sentimentos que sentia por Edward, pois esta era de longe a pior parte a lidar. Além disso, faltava um dia para a apresentação e além de ter sido proibida de ir, eu conseguira ficar de castigo, o que definitivamente anulava minhas chances de conseguir com que o xerife mudasse de ideia. Se os dias continuassem a seguir esse padrão eu temia o que esperava por mim no futuro!

Concluí que a melhor coisa que me acontecera havia sido a carta que recebera de Rafaela, eu ainda mantinha o mesmo amor por minha amiga e ter notícias dela fora realmente algo muito bom. Eu estava há tanto tempo longe de casa que só agora havia me dado conta de que mais do que saudades, eu tinha necessidade de estar perto deles, mesmo que através de coisas simples como mensagens e palavras. Eu tinha medo de que se permanecesse distante começasse a me confundir demais e a pensar que a realidade era esta e aquela outra vida não passava de ilusão...

— Aneliese. Liese!

Pisquei e focalizei Jessica me observando impaciente.

— Você está bem? Chamei seu nome umas dez vezes!

Ela não estava sendo gentil, mas talvez a culpa fosse minha por ter deixado as distrações me tomarem bem no meio do refeitório.

— É a sua vez de escolher – apontou para a moça da cantina que também não me olhava com uma cara muito boa.

Escolhi a primeira coisa que me veio à mente, paguei e estava prestes a retornar quando Joshua surgiu ao nosso lado.

— Ei Liese, tudo bem? E então já decidiu quem vai levar para o show amanhã?

Como ele era sutil.

Tentei imitar sua indiferença.

— Na realidade, não.

Jessica já sorria sem nem mesmo ter sido citada e indagou animada a que show nos referíamos, eu não pude evitar rir e lhe expliquei o que queria saber, logicamente que ela imediatamente mostrou interesse e Joshua ao final viu sua investida valer a pena. O ânimo de minha amiga era volúvel, ao retornamos a nossos lugares ela sorria de orelha a orelha e como mal conseguia se conter não demorou nada para que todos à mesa ficassem cientes do evento.

— Tem mais entradas sobrando Liese?

— Acredito que sim, mas não será suficiente para todos.

— E não podemos comprar?

Como o número de interessados era grande, achei melhor ir ter com os garotos da banda, em todo caso era bom que o público fosse convincente, isso faria toda a diferença.

Caminhava pelo refeitório e distraída olhei pelas janelas, mas não foi por acaso que meu olhar foi atraído, entre as árvores havia um menino. Seria algo perfeitamente normal, não fosse o frio que fazia do lado de fora, ele devia estar congelando. E o que fazia ali parado no meio do nada? Um grupo de garotas passou despreocupadamente, elas conversavam animadamente entre si e acabaram por encobrir minha visão, esperei até que se afastassem, porém, ao procurar não avistei ninguém.

Pisquei atônita, não podia ser, para onde ele havia ido? Perscrutei o terreno, mas não encontrei nada, como seria possível? E porque eu tinha a estranha sensação de que não era a primeira vez que aquilo me acontecia?

Como se despertasse de um devaneio, fitei as pessoas ao redor, repentinamente nervosa, contudo ninguém pareceu sequer notar minha reação, assim como pareceu que eu havia sido a única a notar o garoto.

Havia algo de errado comigo, não podia ser coincidência que ultimamente andasse vendo coisas, seriam alucinações? Mas tudo me parecia tão real!

Será mesmo que ninguém mais o havia visto? Talvez...

Sem conseguir me conter, voltei minha cabeça em direção à mesa dos Cullen e me deparei surpresa com o olhar vigilante de Alice sobre mim, isto me inquietou e como uma covarde desviei o rosto. Vampiros eram profundamente inteligentes e ela se destacava dos demais de sua espécie por seu dom sem igual, não precisaria de muito para que captasse minha reação e eu não queria ser um assunto a ser discutido por sua família. Percebi que mesmo eles não teriam tido como avistar o garoto, pois estavam demasiado longe.

Não foi sem dificuldade que retomei meu caminho, eu agora me sentia ansiosa e detestava isso, parecia que nos últimos dias era impossível retornar à normalidade, justamente quando eu acabara de refletir sobre a semana complicada que tivera.

Joshua não tinha ingressos sobrando, além dos que havia me garantido, mas quando expressei o interesse de meus amigos em irem ele informou que tinha como conseguir mais entradas depois da aula; para ficar mais fácil, combinamos que ele as levaria ao meu trabalho no sábado e eu poderia distribuí-las para quem as quisesse, sua animação ajudou a elevar um pouquinho meu humor, porém quando retornei para minha mesa, estava sem fome e resolvi aproveitar para ir ao banheiro.

O caminho foi curto, mas novamente fiz uso da tática de abraçar a mim mesma, procurando me livrar do frio, não podia acreditar que o clima tivesse piorado, se continuasse assim, eu não desconfiava que a premissa de neve logo se tornaria real.

Adentrei o local me sentindo aliviada por estar fora do alcance da brisa gélida, não me demorei, logo estava lavando minhas mãos, pronta para retornar, mas a porta foi aberta e me deparei subitamente com Alice quando ela veio ao meu encontro.

— Precisamos conversar.

Eu sempre arranjara um jeito de lidar com vampiros, mas tinha que admitir que andava encontrando problemas em me relacionar com eles como antes, infelizmente Alice agora fazia parte de minha lista negra.

— Eu preciso voltar ou não vou ter tempo de comer meu lanche – esquivei.

— Sim, você vai. Eu serei breve e temos quase vinte minutos de intervalo pela frente.

Suas palavras e sua postura me indicavam que não daria o braço a torcer, e bem, aquela era Alice Cullen, eu nunca achara sensato desafiá-la.

Cruzei meus braços e esperei. Ela revirou os olhos.

— Até quando você... – Começou, mas prendeu os lábios, parecendo irritada e suspirou. – Liese, me diga, está tudo bem com você? – Desta vez soou mais amena.

Minhas sobrancelhas se ergueram.

— Porque todos andam me perguntando isto, eu pareço doente? – Encarei o espelho e ele me indicava que estava bem.

Ela fez um gesto de impaciência com sua mão pequenina.

— Sabe que não me refiro a isso, não me venha com brincadeirinhas.

— Não estou brincando, eu estou bem.

— Mesmo? – Semicerrou os olhos.

Lembrei de nossa troca de olhares há pouco no refeitório e pensei se minha tentativa de soar indiferente havia sido falha, claramente a resposta era sim, ou Alice sequer estaria aqui.

Desviei o rosto e encarei meus pés.

— Eu estou bastante cansada ultimamente, são muitas coisas com que lidar...

Foi a vez de ela cruzar os braços.

— Está me dizendo que o motivo de você andar esquisita é o excesso de tarefas? – Indagou com descrença.

Eu apenas aquiesci brevemente.

— Entendo. – Outro suspiro. – Não confia mais em mim, não é?

Não consegui olhar em seu rosto, ela estava certa e eu não queria admitir, havia se tornado impossível para mim me abrir com qualquer um daquela família, sem esperar ser rechaçada logo em seguida, era apenas defesa pessoal.

— Liese, eu sinto muito.

Eu ri baixinho e passei a encarar a parede além dela.

— Você se lembra daquela primeira vez em que nos falamos, na biblioteca?

Enfim a encarei e ela sorria.

— Claro que sim, eu não quis seguir a ordem absurda de meu irmão, que insistia que eu devia me manter longe, mas eu soube desde o início que seríamos amigas – afirmou.

Sim, era verdade, eu sabia o quão confiante Alice era em seu dom e havia sentido sua franqueza ao falar comigo na ocasião, eu estivera tão contente por ter sido aceita por ela, por ter alguém que acreditava em meu relacionamento com Edward, o qual sempre se mostrara improvável.

— Você me pediu para confiar em você, me lembro exatamente das palavras, pois foram as mesmas que seu irmão usou ao ir me visitar mais tarde naquele mesmo dia – lembrei. – Além disso, você me garantiu que sua família jamais me faria nenhum mal e que nenhum de vocês representava perigo para mim. Eu acreditei imediatamente no que disse, mesmo os conhecendo melhor do que ninguém, mesmo sabendo do que eram capazes. Fico impressionada com o quão ingênua pude ter sido!

— A culpa não foi sua.

— Eu não acho que tenha sido, bem, talvez em parte... Eu queria tanto estar próxima a vocês, queria tanto significar algo para Edward que sequer medi as consequências, simplesmente mergulhei de cabeça naquele relacionamento sem antes verificar o terreno em que me metia. Mas nem mesmo em um milhão de anos eu teria previsto o que me esperava.

Alice me olhava e sua feição estava abatida.

Pelo menos ela não se alegra com sua tristeza.

Me senti péssima por alimentar esta linha de raciocínio, eu não achava realmente que aquela garota fosse capaz de me odiar, mas eu ainda estava magoada.

— Sabe, eu sempre bati de frente com meu irmão... Edward desde o começo foi a pessoa do clã com quem mais me identifiquei e isto alimentou entre nós uma relação de amor e ódio, uma coisa doida que eu nem sei se já senti antes. – Seus olhos claros eram inexpressivos enquanto ela tentava se recordar do passado – sempre foi muito difícil para mim admitir estar errada, você já me conhece – ela sorriu como quem se desculpava.

Ela se aproximou e pôs uma das mãos sobre meu ombro.

— Mas até mesmo eu sei que há coisas mais importantes na vida do que nosso orgulho e sua amizade é uma delas – prosseguiu. - Peço perdão por tê-la feito acreditar que ficaria tudo bem, por ter sido quem a incitou a ficar lado a lado com a ameaça e principalmente por não ter sido capaz de protege-la como uma verdadeira amiga deveria fazer. A razão de me sentir tão confiante era porque me baseava na verdade, nos fatos que tinha à minha frente, fui completamente sincera com você, nem mesmo Rosalie que sempre se mostrou difícil, seria capaz de machucá-la... Contudo, agora vejo que minha falha foi dispensar atenção à pessoa errada. Eu não consegui ver que o perigo estava mais próximo de você do que qualquer um de nós, não imaginei que o responsável por sua dor no final fosse ser ele.

Ela se calou e o silêncio pairou, nos encaramos e naquele breve instante senti que Alice espelhava minha angústia.

— Você acreditava que ele me amava.

Eu não devia ter dito, mas as palavras encontraram sozinhas o caminho para fora de minha boca.

— Edward ama você.

Ela me fitou e o dourado de seus olhos não revelava nada além de honestidade. Mas porque será que eu não acreditava?

Soltei uma risada amarga.

— Jeito estranho de demonstrar – ironizei.

— Também acho – disse monotonamente, mas logo seu semblante se atenuou, quando deliberadamente mudou o assunto – e então? Podemos voltar a ser amigas?

Expirei pausadamente.

— Sim, podemos tentar.

Ela sorriu abertamente e sua mão que havia estado em meu ombro todo o tempo serviu para me trazer mais para perto quando me puxou em um abraço que realmente moeu meus ossos.

— Ai Alice. Sou humana, lembra-se? – Falei em meio ao aperto de urso.

Ela me soltou e gargalhou, sua risada ecoando pelo local como sinos de vento.

— Como poderia esquecer?

Não me dei conta de que também estava sorrindo.

— Vou deixar você ir agora, mas antes quero que me prometa que não vai omitir nada de mim, está bem?

Franzi a testa, o humor dos vampiros era sempre difícil de acompanhar.

— Do que está falando?

Sua feição se tornou tão séria que sequer pareceu que há um segundo estivera rindo. Ela olhou sobre o ombro, para a direção da porta.

— Vem vindo alguém – seu tom se tornou urgente e tive que me concentrar para acompanhar. – Preste atenção Liese, não quero que você fique vagando por aí, está me ouvindo? Fique perto de Charlie, evite sair à noite. As coisas estão estranhas na cidade, tenho certeza de que você já percebeu, então apenas trate de se manter segura.

— Como assim, há algo que eu deva saber?

— Apenas fique próxima dos amigos, até mesmo daquele seu namorado lobo. Mesmo uma criatura desagradável como um lobisomem pode ser útil para alguma coisa – afirmou, de má vontade. Ela se aprumou e pareceu bastante casual quando o barulho da porta sendo aberta me pegou de surpresa. – Eu estarei vigiando você, fique tranquila – foi a última coisa que disse, desta vez num sussurro tão baixo que pensei poder ter entendido errado.

A menina que havia adentrado nos olhou com certo receio e logo desapareceu por trás de uma das cabines, ela não tinha culpa, era natural que se sentisse afugentada pelos vampiros, eu era a única humana que parecia me sentir perfeitamente à vontade na presença deles. Bem, talvez com exceção de Lauren, mas ela não podia ser listada como uma pessoa normal...

Com um derradeiro abraço, Alice me deixou e permaneci alguns segundos encarando meu próprio reflexo no espelho, procurando não pensar que aquilo que via refletido em meus olhos era medo.


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