Perdida em Crepúsculo: além do sonho. escrita por Andy Sousa


Capítulo 23
Permanente.


Notas iniciais do capítulo

Oi lindos! Que saudades!
Gente, sério, vou largar tudo e viver na praia - mentira, vou nada, tenho que estudar. Bem, de todo jeito, aqui estou eu. Vou postar só um capítulo e deixa eu explicar o porquê: estou no meio de um projeto de TCC, e preciso entregar ele até semana que vem, eu nem deveria estar aqui, mas foi por acaso que finalizei esse capítulo e apesar de ser um só eu vim postar pra vocês verem que continuo escrevendo e assim que puder posto mais :)
E vocês, o que fazem da vida? Querem me contar um pouquinho? Vou gostar de saber, se quiserem alguém pra conversar, juro que leio tudinho!

Vamos então ao capítulo, boa leitura!



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Aneliese PDV

"Mergulho quente em ondas congeladas
Onde o passado retorna à vida.
Porque me preocupar com a dor egoísta, valeu a pena toda vez!
Fique parado bem antes de colidirmos,
Pois nós dois sabemos como isso termina.
Um relógio bate até quebrar seu vidro e me afogo novamente em você.
Porque você é a parte de mim que gostaria de não precisar;
Perseguindo implacavelmente, ainda luto e não sei por quê.
Isso penetra fundo em nosso chão
E nos faz esquecer de todo o senso comum.
Não fale enquanto eu tento ir embora
Porque nós dois sabemos o que escolheremos.
Se você me puxar, então irei até o fundo,
Caindo de volta para você.
Se o nosso amor é tragédia, por que você é meu remédio?
Se o nosso amor é insanidade, por que você é minha lucidez?"

Zedd – Clarity feat. Foxes

~*~

Perplexidade era meu nome do meio.

O nível de compreensão necessário para assimilar o que havia vivenciado há dois dias estava me faltando. A segunda-feira comum na escola parecia não se encaixar nos padrões, mas isto era porque eu visualizara algo que pensava que aconteceria no domingo e estendi minhas esperanças até esta manhã, mas agora via que haviam sido em vão.

Jacob não viera me ver sequer uma vez depois do que fizera, ou seja, sua consideração por minha vida era tão mínima que não servira para que ensaiasse um pedido de desculpas ou sequer verificasse se eu estava bem. Nada. Este era o tamanho da importância que aparentemente eu tinha para ele.

Obviamente que a espera me incitara cada vez mais a cultivar o aborrecimento e neste momento ele havia chegado a tal ponto que eu me sentia uma velha resmungona, prestes a dar uma guarda-chuvada com prazer na cabeça do primeiro que ousasse me amolar.

Com o decorrer das aulas, percebi que eu mesma dificultava a situação: além da feição mal-humorada, ficava murmurando incoerências, incapaz de conter meus sentimentos só para mim e de vez em quando meus pensamentos se tornavam tão vívidos que uma risada dissimulada escapava de meus lábios. Ao menos eu ria baixo.

— Liese, aconteceu alguma coisa?

Jessica indagou enquanto caminhávamos em direção à mesa no horário de almoço.

Suspirei e a observei. Será que eu deveria contar? Criar uma versão editada e compartilhar minha raiva? Não, pensei por fim. Não valia a pena continuar me apegando a isto, estava me fazendo mal guardar o segredo, mas Jessica não era a pessoa com quem eu gostaria de dividir, de todo modo.

— Eu estou bem, só com a cabeça um pouco agitada, mas deve passar depois que comer algo.

Seus olhos não esconderam o pouco crédito que dera às minhas palavras, felizmente ela já me conhecia o suficiente para saber que eu era capaz de ser imune a seu dom de irritação.

Durante cerca de vinte minutos pude me alimentar tranquilamente, todavia depois disto acabei deixando meu olhar vagar e avistei Edward e Lauren sentados à mesa habitual dos Cullen enquanto conversavam. Ela estava bem próxima a seu corpo, se recostara de um jeito que fazia sua cabeça se encaixar perfeitamente na junção do pescoço com o ombro dele, próxima a seu peito, próxima a seu coração. Talvez fosse uma cena romântica, era o que deveria parecer para os outros. Um grupo de garotas com não mais que treze anos de idade os observava e cochichava entre si, os olhos brilhando.

Me recordei de uma noite em que uma situação semelhante ocorrera. Só que a garota em questão era eu.

 Está soando ridícula, Aneliese, você não é mais aquela pessoa.

Trinquei os dentes e mantive o maxilar apertado, meus olhos passando de um grupo para outro, todos pareciam perfeitamente alheios à minha presença. Será que eu era descartável? Uma pessoa de quem se tirava tudo o que queria e depois simplesmente se livrava como um papel de embrulho velho? Era justo que me sentisse assim?

Minha cabeça rodou e em um minuto revi um milhar de cenas que em geral procurava esquecer...

Edward discutindo comigo e me deixando sozinha na floresta, Sam me encontrando jogada em uma rodovia, Charlie sangrando no tapete de sua própria sala. Dor, tristeza, abandono.

E então Jacob. Jacob me salvando da depressão.

E uma oficina abarrotada de peças velhas, uma casinha vermelha de madeira em meio à imensidão da floresta, um abraço, um beijo quente. Meu coração tornando a bater com vida depois do que pareceram décadas.

O recomeço.

E inesperadamente, novamente a escuridão, a desolação, o frio. O passado retornando para me assombrar e terminar de vez o serviço que havia ficado pendente.

Indecisão, humilhação, um rapaz de olhos dourados e cabelo cor de bronze, um garoto de pele febril e sorriso sincero.

E por fim o que restou foi o abandono. De tudo, de todos. Todos conseguiam me deixar para trás, eu não fazia parte da história de ninguém, eu era substituível, um mero adorno.

A amizade havia regredido e o amor acabado. Apenas eu me ocupava em ainda sentir alguma coisa, era idiota demais por me preocupar.

— Aneliese.

Virei minha cabeça e encontrei os olhos de Angela me perscrutando, contudo não soube o que lhe dizer.

— Eu perguntei se você conseguiu terminar os exercícios que o professor passou na aula passada – insistiu ao notar minha expressão vaga.

A pergunta soou fora de contexto, demorei a entender sobre o que ela falava.

— Oh sim. Quero dizer... Não. Eu não terminei. Ah, mas que ótimo! – O sarcasmo pesava em minhas palavras.

— Está tudo bem, ainda temos tempo, você pode tentar resolvê-los agora, não são muito complexos.

A intervenção de Angela veio em boa hora, eu precisava exatamente disto: uma distração. Pude me esconder nas páginas de meu caderno sem parecer covarde e foi bom manter o olhar baixo, assim toda vez que lágrimas ousavam se formar eu era capaz de contê-las discretamente.

As segundas-feiras traziam consigo uma rotina extenuante.

Era o início da semana, as tarefas vinham em pilhas e, além disso, eu agora caminhava sem ânimo para a educação física, ao menos hoje eu abriria mão desta obrigação sem pestanejar. Ironicamente em um dia em que tudo o que se quer é sumir do mundo, acabamos incrivelmente expostos. A aula prática seria de handebol do começo ao fim, onde nos revezaríamos em times em uma mini competição. Fui capaz de conter um grunhido, mas meus ombros imediatamente se encolheram. Eu detestava handebol, me perguntava se havia algum esporte em que tivesse pior desempenho que neste, simplesmente não conseguia encontrar a coordenação necessária para fazer minha mão se mover ao mesmo tempo em que minha perna e isto fazia com que meus possíveis gols sempre acabassem em fiascos.

Não foi difícil convencer meu grupo a me deixar ser a goleira, aquela era a posição em que a incidência de desastres era menor. Não fui desatenta, pelo contrário, apesar da pouca vontade em participar me comprometi com o jogo, contudo na metade do segundo tempo estávamos em grande desvantagem, por sorte a culpa não recaiu sobre mim, o esforço como um todo estava falhando, pois nenhuma das meninas demonstrava interesse em jogar – claramente eu não era a única que abominava esta atividade.

Jessica e Angela estavam em minha equipe e o ponto importante a citar era que Lauren fazia parte dos adversários e a cada ponto marcado seu sorriso se alargava e sua cara de deboche se tornava outra vez visível. A rivalidade era palpável, uma vez que a relação entre as meninas estava bastante abalada o que só facilitava que ela se rejubilasse com nosso fracasso.

Ao que parecia nossa performance se mostrou mesmo deplorável, já que a certa altura, depois de tanto berrar o professor pediu uma pausa e chamou algumas jogadoras para uma conversa a fim de bolar estratégias de ataque. Fiz uso do tempo para beber água, depois pude voltar à minha posição em frente ao gol, me abaixei para ajustar um dos cadarços do tênis e em seguida distraidamente me ergui, colocando uma mecha de cabelo detrás da orelha.

Mal tive tempo de focalizar a quadra quando um objeto pesado me acertou em cheio em um dos lados do rosto, o impacto me fez imediatamente me curvar e cobrir a face com as mãos na tentativa de conter a dor. Meu cérebro mesmo atordoado me ajudou a entender que o que me atingira fora a bola, apesar de pequena, era rígida e fora arremessada com força, o choque havia feito meus olhos lacrimejarem e meu nariz arder.

Ouvi passos apressados e logo soube que estava rodeada por curiosos, tive vontade de conseguir alguma forma de desaparecer, ou sendo menos dramática, de ao menos fazê-los se afastar, contudo não ousei dizer nada, pois a pior parte eu sentia agora: o gosto metálico de sangue era forte e me deu náuseas, havia um corte em minha bochecha, mas não parecia muito profundo.

A voz do professor ao se aproximar sobrepujou as demais.

— Senhorita Rodrigues, me deixe ver.

Como seria inútil me esquivar acabei por deixá-lo me ajudar a levantar e em seguida examinar meu rosto.

— Sente algo? Dor forte?

Vagarosamente fiz uma negativa com a cabeça.

— Ótimo. Acho melhor ir lavar o rosto e depois se quiser pode ir para a arquibancada.

Mal tive chance de ficar contente por ter conseguido passe livre para fora da partida, a sugestão do professor me fez levar novamente uma das mãos à face, desta vez foi que percebi que o canto de minha boca também sangrava.

A sensação não era boa, me vi ansiosa por alcançar o banheiro e me lavar. Quando comecei a convergir para a porta, Angela surgiu a meu lado se oferecendo para me acompanhar e suspeitei que senhor Douglas de certa forma a havia sugerido que o fizesse. Os lavatórios ficavam próximos à saída da quadra e logo pude me livrar de todos os resquícios incômodos de sangue.

Ao terminar, cuidadosamente sequei a bochecha e enfim pude me olhar no espelho. Com exceção de um pequeno inchaço e vermelhidão, minha aparência não estava tão ruim como eu esperava.

Fitei Angela enquanto soltava um longo suspiro.

— Está doendo muito?

— Não e acho que logo vai melhorar.

Seus olhos grandes me demonstravam que sua preocupação era genuína.

Ela me acompanhou para fora do banheiro e eu lhe disse que iria beber um pouco de água, Angela resolveu voltar e dizer ao professor que eu estava bem. Poucos minutos depois de sua partida, enquanto eu estava curvada sobre o bebedouro, ouvi passos apressados ecoando pelo corredor. Parecia que alguém murmurava incoerências de uma forma irritada.

Me aprumei e ao virar dei de frente com Lauren, estava disposta a ignorá-la, mas ela veio até mim com o dedo indicador levantado e o rosto vermelho.

— Vou levar uma advertência por sua causa!

— Como é?

— O professor disse que o que fiz foi contra as regras, mas nós sequer estávamos jogando, isto é ridículo!

— Mas do que você... – Um segundo se passou enquanto eu assimilava o que ouvira. – Foi você quem jogou aquela bola em mim, Lauren?

Não era como se estivesse impressionada pela descoberta, dela eu podia esperar qualquer coisa.

— Eu estava treinando.

— É claro que estava – revirei os olhos.

— Você não acredita? – Sua voz soou aguda.

Eu a encarei com seriedade.

— Lauren, por favor! Já deve saber que a mim não consegue enganar, você não precisa de treino, é ótima no handebol. Aquele arremesso foi certeiro e veloz, lógico que sua intenção foi me machucar, mas eu não entendo o por que.

Verdadeiramente não entendia. Estava claro que nós duas jamais nos daríamos bem, mas em que eu a incomodava agora? Ela era namorada de Edward, eu é quem devia estar aborrecida.

— Eu não fiz de propósito.

Seu tom mal me convencia e, além disso, ela evitava me encarar, com certeza com receio que eu tivesse ainda mais certeza da mentira. Não compreendia o que afinal estava tramando e simplesmente não estava disposta a sustentar uma discussão quando meu dia já estava tão ruim e minha boca doía a cada palavra que dizia.

Me virei para partir e a ouvi dizer:

— Eu não vou assinar a advertência.

Tive vontade de rir, as atitudes dela sempre eram ridículas e me davam pena, eu jamais entenderia o que Edward havia visto nesta menina.

Fiquei de cara fechada ao notar que pensar nele não ajudara muito meu ânimo.

— Eu não estou nem aí Lauren!

Comecei a andar, mas ela me acompanhava.

— É você quem não gosta de mim Aneliese, deveria admitir que morre de ciúmes por Edward estar comigo.

Parei e me voltei para olhá-la e isto só fez seu queixo se pronunciar.

— Ele gosta de mim e você sabe disso – insistiu.

Inacreditavelmente eu ri. Não porque tivesse achado graça, foi mais um riso de desgosto, como eu havia dito, aquela garota me dava muita pena.

— É o que você acha? Que vocês dois foram feitos um para o outro e viverão um sonho dourado pelo resto dos dias? É nisto que ele lhe fez acreditar? Olhe, eu não deveria dizer nada, mas vou te dar um conselho: tenha cuidado. Nem tudo é o que parece.

Vi que ela se esforçava para se mostrar indiferente, mas foi em vão.

— O que você quer dizer?

— Eu já estive em seu lugar, não se esqueça disso, se tem algo em que Edward Cullen é excepcionalmente bom é em fazer uma garota cair em sua armadilha.

Eu não dizia para aborrecê-la, por mais que Lauren muitas vezes conseguisse ser desprezível, eu era incapaz de desejar a ela o que eu havia vivenciado. Um coração partido podia facilmente ser considerado uma doença, algo difícil de superar, a minha vantagem era que eu sabia da natureza sobrenatural de Edward, de certo modo esperava que agisse como um monstro, mas para Lauren ele era apenas um rosto bonito, um garoto popular. Não podia afirmar com exatidão, mas era quase certo de que uma desilusão acompanhada deste tipo de qualidades seria bem difícil de superar.

— Isso tudo é dor de cotovelo, Aneliese.

Ergui minhas sobrancelhas. Não era possível que mesmo quando eu procurava ser sincera e amigável ela conseguia converter minhas palavras em afronta. Achei melhor acreditar que o problema estava nela e não em mim.

— Quer saber? Eu não tenho qualquer obrigação com você, pense o que quiser, não é problema meu.

— É claro que penso o que quero e também faço o que quero, não se iluda achando que vou largá-lo, pois não tenho nenhum plano de fazer isto.

— Lauren, pelo amor de Deus! Quem está falando em largar quem? Porque você não entende o que digo? Não me importo se vai ficar com Edward ou não, eu estou preocupada com a sua... – Segurança. Esta era a palavra, era o que eu deveria dizer, mas como fazer isto sem levantar suspeitas? Talvez eu já tivesse dado pistas demais, independente do que sentisse eu tinha que me lembrar de que o segredo dos Cullen não era meu para revelar. – Escute: você já foi a casa deles, imagino. O que achou? Normal? A polidez exacerbada não te confundiu? Este deveria ser o primeiro sinal.

Ela bufou.

— Gente rica tem costumes diferentes.

Tornei a rir e esfreguei o rosto com uma das mãos procurando lidar com sua superficialidade.

— É claro que tem. Os Cullen definitivamente são mais diferentes do que você imagina – minha voz morreu, tanto porque eu não podia mais falar sobre aquilo, quanto porque eu havia me cansado de tentar alertá-la, não adiantava o que fizesse, ela sempre interpretaria de sua maneira. Bem, ao menos eu tentei avisar, mas concluí que quaisquer que tivessem sido os motivos que haviam feito Edward se aproximar de Lauren, eles deviam ser suficientes para fazê-lo lembrar de tratá-la bem.

Não me ocupei em falar mais nada, desta vez saí de perto o mais rápido que pude, sem querer lhe dar brecha para retomar a conversa, eu ficara impressionada por não ter perdido a cabeça, levando em consideração o quanto estava chateada, todavia Lauren Mallory era de longe o menor de meus problemas.

Era tão incrivelmente patético que eu viesse esperando que Jacob aparecesse. Depois de mais um dia inteiro sem qualquer sinal dele, enfim me deitei na cama, mas minha cabeça estava agitada demais para permitir que eu descansasse e me manteve desperta pelas próximas horas, refletindo e procurando entender o que havia acontecido, pois tinha sido tudo tão rápido que eu sequer assimilara.

Nós havíamos terminado? Era isso?

Depois de fazer esta mesma pergunta cem vezes ela começava a ganhar outros sentidos. Eu queria terminar com Jacob? Nós realmente havíamos ficado juntos tempo suficiente para que se considerasse como namoro? Tudo me pareceu ensaiado demais, estranho demais.

Havia ficado magoada com a forma como ele me tratara na praia e realmente não tinha interesse em perdoá-lo, não deveria perdoar ninguém que ousasse pôr as mãos em mim.

Nem mesmo Edward.

O que eu viera esperando era um pedido de desculpas, acreditava que merecesse um. Contudo era de Jacob que estava falando e ele em geral agia por impulso, demonstrava instabilidade, era imaturo quando se tratava de seu humor, ainda tinha muito que aprender.

Ele não viria. Estava claro. Não se importava comigo, não mais.

Talvez fosse o sono, ou o silêncio da madrugada, mas eu me pus a chorar baixinho, abraçada a meu travesseiro. Sentia-me muito sozinha, agora me dava conta de que toda a apreensão era fruto do pavor da solidão, sem Jacob eu tornava novamente a me sentir desamparada, como se nunca fosse capaz de fazer um rapaz realmente querer ficar comigo. Estava exagerando, soando incoerente, mas outra vez não havia apenas eu? Lutando contra um mundo de faz de conta que causava ferimentos muito reais e que começava a me deixar realmente assustada.

Porque Jacob também tinha me deixado? Ele deveria ter ficado comigo, deveria ter sido mais forte, deveria ter confiado em mim.

Se você tivesse dado a ele razão para confiar.

Mas eu havia dado! Não havia? Inúmeras vezes tinha demonstrado meu carinho, tinha ido vê-lo, tinha mudado por ele.

Ultimamente, porém, não é nele que você pensa.

Apertei meus olhos com toda a força, como se pudesse fugir da realidade, mas era inútil, já que minha própria consciência me recriminava. E estava certa em fazê-lo. Desde que Edward retornara, as coisas haviam saído de meu controle, pensara ser imune à sua presença, mas o fato era que toda a minha superioridade estava na questão dele correr atrás de mim, de implorar que eu voltasse. Agora via o quanto tinha saboreado aqueles momentos, mas nunca admiti.

Quando ele me deixara, além da dor em meu peito havia o orgulho ferido. Em algum momento em meio ao sofrimento, havia desejado que ele sofresse tanto quanto eu, que sentisse tudo o que eu sentira e ao ter a chance nas mãos foi impossível desperdiçá-la. Pensara que havia agido com nobreza, mas não. Eu me vingara desde o primeiro minuto em que havíamos nos reencontrado e para que minha vingança tivesse efeito usei Jacob. O usei como forma de mostrar a Edward que eu não sentira falta dele, que não havia morrido por conta da indiferença, que tinha seguido em frente, partido para outra.

Será que eu chegara realmente a amar Jacob? Amar com todas as minhas forças. Será que algum de meus beijos havia sido sincero? Ele ainda era meu melhor amigo em Forks.

Só que você não agiu como uma amiga. Você fez algo muito pior.

Sim, eu fizera. Minhas atitudes haviam sido o oposto da lealdade que se espera em uma amizade. O que devia ter feito desde o princípio era ter me afastado, ou pelo menos ter colocado uma barreira bem definida entre o relacionamento amoroso e a amizade. Eu me confundi, misturei os dois, mal sabia o que queria da vida.

Agora, em meio à noite era como se todos os meus pensamentos fizessem sentido, o que era irônico, porque eu estava exausta. Mas a clareza era fácil de interpretar...

Aquele momento em que Edward havia partido fora o começo de minha loucura. Eu subestimara o sofrimento, ele fora realmente capaz de acabar comigo, mas não da maneira esperada, por isso foi tão difícil compreender. A minha morte não tinha sido física, nem visível. Eu havia morrido por dentro. A capacidade de pensar com lucidez havia acabado. Tudo o que fiz desde aquele instante podia ser interpretado como sobrevivência, estivera me apegando a qualquer resquício de vida que pudesse de alguma forma me retornar a alegria. E Jacob fora, sem dúvidas, como o sol, eu havia voado como uma mariposa muito perto da luz, atraída pelo calor e consequentemente me queimara.

Jamais gostara dele da forma como pensava. Era meu amigo, mas nada mais que isto. Tudo o que vivi a seu lado havia sido por conveniência, como um método para substituir o amor, pensara que minha vida nunca voltaria a ser como era e tive medo. Medo da solidão. Me apegara covardemente às demonstrações de carinho, às promessas de um futuro feliz. Pensara que seriam suficientes e que eu conseguiria seguir em frente e recomeçar.

Como fora tola!

Mesmo que os Cullen jamais retornassem a Forks, mesmo que eu não visse a face de Edward outra vez, ainda assim, o amaria para sempre. A imortalidade que ele trazia havia sido capaz de penetrar meu coração e se instalar dentro dele me tornando imortal também, mas não como um vampiro. A minha imortalidade consistia na incapacidade de esquecê-lo, mesmo que vivesse cem anos, eu sempre me lembraria como se tivesse sido ontem.

E verdadeiramente me lembrava, aqui estava a prova: haviam se passado meses desde a última vez em que o sentira perto de mim e ainda assim tudo estava nítido em meu cérebro. Eu conseguia sentir seu cheiro doce penetrando minhas narinas, conseguia sentir suas mãos acariciando minha face e até mesmo o gosto de seus lábios quando tocavam os meus. Era capaz de me recordar de cada centímetro que conhecera de sua pele e da sensação que era repousar minha cabeça em seu peito e sentir sua respiração.

Eu não havia me esquecido da sensação indescritível de ficar próxima a seu coração e mesmo a quietude e estranheza da falta de batimentos era o que eu mais desejava sentir agora.

Odiara Edward, o odiara de verdade por ter me deixado para trás, mas meu erro fora justamente pensar que o ódio havia extinguido o amor. Só o havia tornado mais forte, urgente e inacabável.

Eu ainda o amava como da primeira vez, o amava como uma adolescente, porque era adolescente e a intensidade dos sentimentos parecia a melhor coisa que eu poderia sentir. Queria que meu coração guardasse para sempre o entusiasmo infantil e o desespero de viver. Queria ter Edward novamente comigo, mas parecia sempre que havia obstáculos demais, barreiras demais para superar. E eu detestava admitir, mas estava perdida. Nunca havia me sentido assim antes, sem rumo, sem ideia de como agir. Parecia que não pedia muito ao universo: tudo o que sempre quis foi encontrar o amor, o verdadeiro amor, aquele pelo qual se é capaz de morrer.

Mas não era isto o que todos queriam? Talvez meu desinteresse não soasse tão convincente como eu imaginava.

Aneliese Rodrigues se resumia a uma garota apaixonada, uma garota apaixonada por um vampiro. Quando a vida havia ficado tão complicada?


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Notas finais do capítulo

Queridos leitores, obrigada por vocês terem lido até aqui, digam o que acharam!
Leitores novos, sejam muito bem-vindos, leitores fantasmas, sei que estão aí e já fui uma de vocês, obrigada pelo apoio, posso não ver, mas sinto rs
Ah gente, eu gostei tanto dessa cena da Liese com a Lauren, no próximo capítulo vai haver outro embate entre elas, esperem pra ver, tenho a música perfeita pra essa cena - estou guardando ela há tempos e me ajudou muito na inspiração!
Pois é, pra quem pediu Edwise, deu pra sentir que o 'reencontro' está próximo né? Pra quem é team Jacob, também tenho surpresas, eu sempre tenho surpresas hehehe, me aguardem pra ver :)
E bem, pra finalizar este testamento: logo teremos PDV de outros personagens, sei que já faz um tempinho que a Liese tem narrado, mas foi necessário, porque ela é a personagem principal que nos fornece o melhor panorama para entender a história. Apesar disso, logo o Edward e o Jacob vão dizer o que pensam também.
É isso queridos, eu volto em breve, obrigada por estarem aqui! MUITO OBRIGADA, um beijão em cada um!