Perdida em Crepúsculo: além do sonho. escrita por Andy Sousa


Capítulo 18
Depois do baile.


Notas iniciais do capítulo

Leitores novos, bem-vindos!
E obrigada a quem comentou a fic, logo eu responderei todo mundo.

Boa leitura :)



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Aneliese PDV

"Você vai dizer: ‘eu não fiz por mal, eu não quis te magoar’.
E eu vou dizer que seria ideal fugir, te abandonar
Pra sempre, pra sempre.
Começa a chover e a lágrima vai se misturar
Com a água que cai do céu.
E ao anoitecer em vão eu tento encontrar
O que de mim você levou.
Pra sempre, pra sempre.
Perdoa por eu não poder te perdoar,
Dói muito mais em mim não ter a quem amar!
Ecoa em mim o silêncio dessa solidão,
Pudera eu viver sem coração. Viver sem você...
Em cada poça dessa rua você vai me ver,
Em cada gota dessa chuva você vai sentir minhas lágrimas.
E em cada dia da sua vida você vai chorar
Lágrimas sofridas que não vão somar
Um décimo do que eu sofri, o quanto eu sofri."

Cada Poça Dessa Rua Tem Um Pouco De Minhas Lágrimas - Fresno

~*~

Certa parte de meu corpo formigava e eu me sentia desconfortável. Me remexi mais de uma vez, mas parecia não estar surtindo efeito e depois de alguns minutos me dei conta de que estivera dormindo. Abri os olhos e focalizei o quarto, um barulho alto fora o que me acordara e ao olhar pela janela notei que era a chuva, uma tempestade, na realidade. Em plena manhã? Não era comum...

Me contorci e consegui ficar de barriga para cima, a parte de meu corpo que estivera me incomodando era meu braço, trouxe-o até perto de meu rosto e percebi que o esparadrapo do curativo estava descolando e devia ter enganchado no lençol. Ao avaliar o corte percebi contente que ele já estava muito melhor, já havia fechado por completo e uma fina cicatriz se formava, logo estaria completamente curado.

Estava cansada, e sentia os músculos flácidos o que era estranho, pois tinha a impressão de que havia tido uma boa noite de sono. Por ser domingo não me levantei de imediato, ao permanecer na cama, entretanto, os pensamentos logo começaram a povoar minha mente, todos eles sobre a noite anterior. O baile fora muito bom, um sucesso, eu diria, já que nada havia saído do controle - o que era uma surpresa levando em conta que meu par era Jacob e Edward havia estado lá.

Edward havia estado lá. Com Lauren...

Não havia jeito de recordar o fato sem que parecesse falso. Talvez eu só tivesse encontrado muita dificuldade em admitir que os dois pudessem sequer ter ligação, não havia premissas, não houvera sinal. Foi tão repentino.

E pensar que ele já me beijou aqui mesmo neste quarto. Agora tudo parece ter acontecido há tanto tempo!

O passado era como um borrão que sumia enquanto o futuro abria caminho à força, não havia escolha senão me adaptar.

Respirei fundo e passei uma das mãos pelos cabelos, não podia continuar aqui ou teria dificuldade em encontrar ânimo para me levantar.

Ao me pôr de pé procurei por algo para amarrar os cabelos, e logo os arrumei em um rabo de cavalo enquanto marchava para o banheiro. Havia tomado banho quando chegara então o que fiz foi escovar os dentes e lavar o rosto. Percebi que não havia quaisquer barulhos pela casa além dos que eu mesma produzia e ao descer procurei por Charlie em vão. Quando me aproximei da geladeira disposta a preparar algo para comer encontrei um bilhete onde ele dizia ter ido à pescaria com os amigos.

Ergui as sobrancelhas, surpresa. Não esperava que fosse retomar o hábito tão cedo, uma vez que havia pouco tempo que Harry Clearwater havia morrido, mas ao final fiquei satisfeita de ver que o pai de Bella procurava recomeçar. Ela iria gostar de saber disso.

E você bem que devia seguir o exemplo dele.

Revirei os olhos para a acidez de meu subconsciente.

Enquanto me servia de suco de laranja tornei a olhar para fora, chovia fortemente, mas mal trovejava. Torci para que a pancada d’água logo cessasse, pensando no xerife e se ele teria abrigo.

Eu aprendera a gostar de minha própria companhia, mas havia dias em que era desanimador ficar sozinha, caminhei até a sala e liguei a televisão, encontrei um canal de séries e aumentei o volume. Por reflexo olhei o relógio e arfei. Me aproximei para verificar se não havia parado, mas ao ouvir o tiquetaque fiquei surpresa de constatar que já passava do meio-dia.

— E você pensando que ainda era manhã, sua boba.

Seria possível que tivesse dormido tanto tempo assim? Quase doze horas! Ao que parecia havia aproveitado mais da véspera do que me lembrava.

Deixei de lado o café da manhã e fui preparar o almoço, como estava sozinha fiz apenas um bocado de macarrão, pois meu apetite não era grande. Durante o tempo em que fiquei envolvida no preparo da refeição consegui me distrair com banalidades, mas ao me sentar à mesa visões da noite anterior minguaram minha concentração. Eu estivera tentando evitar pensar sobre o que presenciara.

Talvez fosse somente a solidão. Sim, podia ser. Eu ainda não aceitava bem ter de comer sozinha e sem querer comecei a ouvir as vozes de meus pais conversando: minha mãe discursando sem parar sobre direitos e deveres, meu pai interpondo-a quando achava necessário – e aconselhável. Cheguei a sorrir em meio às garfadas. Por tanto tempo eles haviam sido todo o meu mundo e agora estavam tão dolorosamente distantes...

Odiava estes momentos em que me sentia abandonada, não deviam existir, eu tinha Charlie, tinha meus amigos, tinha Jacob. Sabia que podia contar com eles, mas mesmo assim parecia haver um buraco em meu coração.

O que estava acontecendo?

Você sabe bem o que é.

Mordi o lábio e deixei os talheres caírem sobre o prato com um tilintar agudo, me recostei à cadeira e cruzei os braços enquanto fitava a chuva ainda persistente.

Um, dois, três, quatro, cinco segundos. Foi o tempo que passei tendo sucesso em bloquear meus próprios pensamentos e então eles novamente tomaram conta. De mim. De tudo.

Admita. Você deseja a presença da única pessoa que não pode ter e que agora também não a quer mais.

Trinquei o maxilar. Eu não me importava com o que minha estúpida consciência tentava pregar.

Sim, você se importa, pois é a verdade. Edward não a quer mais, ele finalmente superou você.

Prendi os lábios e me foquei em respirar pelas narinas. O ar entrou e saiu, entrou e saiu, entrou e saiu, mais e mais rápido, meu peito subia reflexivamente, meus olhos ardiam enquanto eu observava fixamente as gotas atingindo o vidro, elas se chocavam contra a superfície e escorriam, silenciosas.

E com um suspiro senti o choro irrompendo, as lágrimas semelhantes aos pingos de chuva desciam por minhas bochechas enquanto eu procurava eliminá-las com as mãos. Porque estava agindo dessa maneira? Não devia me importar, até agora não ligara, mas... Será que não ligara ou apenas viera mentindo para mim mesma?

A marcante imagem do casal adentrando o salão de baile, suas mãos dadas, sua proximidade, o sorriso de júbilo no rosto de Lauren e a falta de aversão no de Edward haviam tornado a cena impossível de ser esquecida. Nada fazia sentido, ele não podia simplesmente ter começado a gostar dela.

E porque não? Porque ele deveria gostar de você?

Fechei os olhos e sacudi a cabeça, baixando-a em seguida e me escondendo por entre meus braços feito uma criança assustada. Eu estava muito confusa e percebi que neste momento não sabia como agir.

Quando a vida havia se tornado tão árdua? Eu não via mais tanta graça em permanecer neste mundo, parecia cruel e inseguro demais.

Quis estar junto de meus pais, eu sempre sentia falta deles, quis estar junto de Rafaela e poder ouvir seus sermões. Sim, eu devia pensar nestas pessoas, em quem desejava meu bem, pois cada minuto gasto com Edward era em vão e me machucava. Ele me enganara, ele me fizera acreditar que sentia algo por mim e no final cada vez mais eu tinha provas de que mal passara de uma mentira. Será que em algum momento havia sido real?

Como podia ser possível que se pensasse conhecer tão bem uma pessoa e de repente se descobrisse não passar de uma farsa?

Alguns minutos passaram até que me sentisse confortável para sair do esconderijo, porém permaneci parada na mesma posição observando o tampo da mesa, mas realmente sem nada ver. Refleti sobre a experiência mais semelhante à que vivia agora: meu término com Alex. Eu ficara triste, chorara por alguns dias, fora difícil assimilar e recomeçar, mas conseguira. E só então me dei conta de qual estava sendo meu erro: evitava chorar, pois considerava muito humilhante, evitava demonstrar que estivera abalada e evitava sequer sentir, para não parecer covarde. Porém o fato era que eu precisava desabafar. Eu precisava disto para pôr em perspectiva meus sentimentos, este era o motivo de me sentir tão perdida.

Me lembrei que costumava sempre ouvir música, meu aparelho de som em casa mal passava mais que algumas horas desligado, contudo havia deixado o costume de lado e notei que me fazia falta.

Tinha de espairecer.

Minhas pernas já haviam começado a formigar e o efeito serviu de impulso para que me levantasse, após aguardar alguns segundos até que o sangue pudesse voltar a circular como deveria pude começar a me movimentar, fui em direção à escada, subindo direto para o quarto.

Eu sentia falta de ser eu.

Sentia falta da Aneliese que era antes de chegar a este universo então procurei agir como antigamente. Gostava de estar em movimento, de me sentir útil e tinha o domingo inteiro livre. Havia duas opções à minha frente: lutar ou desistir.

Não era preciso dizer que a guerreira dentro de mim mais uma vez me manteve de pé e me forçou a ir em frente.

Fui até o velho computador, o qual procurava utilizar o menos possível, porém dessa vez fiz uma exceção. Pesquisei por um site de música em que pudesse encontrar as faixas de minhas bandas favoritas, o aparelho funcionou com dificuldade, mas ao menos a chuva havia diminuído consideravelmente e com paciência ao fim consegui o que queria. Conectei as pequenas caixas de som e feliz constatei que funcionavam corretamente.

Em segundos a melodia encheu o ar e fechei os olhos me concentrando nas tão conhecidas notas. Permaneci no mesmo lugar até chegar o refrão da canção e cantei junto com a vocalista, tentando acompanhar sua perfeita entonação. Era libertador, eu sempre gostara tanto disto e era simplesmente estranho que tivesse praticamente me esquecido.

Depois do início envolvente percebi que a mudança em meu humor era tocável, estava mais alegre e disposta, uma música podia fazer milagres! Aproveitei a exaltação de forma benéfica, pois executei uma grande faxina em toda a casa; varri os cômodos, retirei o pó dos móveis, dobrei as roupas limpas que estavam na lavanderia, lavei a louça e aspirei o tapete. Notei que meu braço doía em raras ocasiões quando acabava fazendo demasiado esforço, mas a melhora era visível.

Encerrei a tarde cantando no chuveiro, fazendo minhas próprias versões de faixas clássicas, que conhecia muito bem e depois tive de me enterrar nos livros e tratar de terminar os deveres escolares, por sorte a atividade acabou se estendendo até o final do dia.

— Ainda não Aneliese. É arriscado. Não se preocupe, eu a levarei.

— Mas e seu trabalho? Você pode se atrasar.

— Deixe disso garota, sou o xerife, já se esqueceu? Posso chegar alguns minutos mais tarde se a justificativa for dar uma carona para alguém que não pode dirigir.

— Eu não estou tão mal assim.

— Não vou mudar de opinião, é uma discussão perdida.

Ele me lançou um olhar severo e nada pude fazer senão concordar. Nesta segunda-feira estivera certa de que poderia voltar a dirigir a picape, claramente ele discordava. No fim achei que devia ser o melhor, por mais que o machucado não estivesse mais exposto eu ainda o sentia repuxar e algumas vezes as pontadas eram dolorosas, não podia esperar que uma delas me assaltasse enquanto estivesse detrás do volante.

Charlie parecia bem. Ele voltara ensopado da pescaria, mas em nenhum momento o vira reclamar e esta manhã seu semblante revelava tranquilidade. Foi mais fácil iniciar meu dia com a certeza de que ao menos um coração nesta casa começava a se recuperar da tristeza. Em meu caso ela ainda era uma sombra, às vezes fraca, às vezes proeminente, dependia sempre da intensidade do sol, e como Bella mesma dizia ‘meu sol particular era Jacob’.

Pensei nele enquanto seguíamos o caminho pela chuva. Durante o baile ele soubera ser atencioso e divertido, mas eu visualizara seu semblante apreensivo em certas ocasiões. Agora refletindo sobre o fato quase pude afirmar ter envolvimento com a alcateia. Será que Sam dificultava demais sua vida? Sabia que por mais que tentasse, ele achava difícil aprovar minha proximidade da aldeia por causa do vínculo que forjara com os Cullen, mas isto era passado.

— Liese.

Voltei meu rosto para Charlie e vi que me observava, ao olhar ao redor notei que estávamos parados no estacionamento da escola.

— Nossa, foi rápido.

— Nem tanto, mas você parecia bastante absorta em seus próprios pensamentos. Há algo a incomodando? É algum dos alunos? É Edward?

O encarei com surpresa, ele era perspicaz, eu jamais poderia dizer o contrário. Contudo o assunto de que queria tratar não merecia nosso tempo.

— Não, está tudo bem. Não tenho nada de que reclamar – forjei um sorriso.

Depois de alguns momentos ele assentiu vagarosamente.

— Entendo. Bem, tenha uma boa aula, nos vemos mais tarde.

— Obrigada. Até mais e bom trabalho.

Me precipitei para debaixo da marquise e Angela veio ao meu encontro, antes que pudesse perceber havíamos engatado uma conversa animada sobre o baile e ela se estendeu até o início da aula.

Eu ria descontroladamente do relato de Jessica sobre sua luta para retirar uma mancha de ponche do vestido, sabia que era reprovável de minha parte achar seu infortúnio engraçado, mas por sorte não era a única.

— HAHAHA Jess, você é louca, de verdade.

— Parem de rir! Parem de rir as duas, foi trágico, eu pensei que fosse morrer.

Meu estômago doía com o ataque de risos e aos poucos consegui me acalmar.

— Nos desculpe, realmente não é algo para se rir, mas a forma como você contou é que...

— Foi hilária – completou Angela e nós duas explodimos em mais algumas gargalhadas.

Apesar de aborrecida Jess acabou esboçando um sorriso e se deu por vencida.

— Nunca vi minha mãe tão brava, aquela roupa custou uma nota e ela planejava que eu a usasse em todas as ocasiões festivas, para o resto de minha vida. Pensando por esse lado talvez o desastre não foi ao todo ruim.

— Sim.

Ela e Angela trocaram o tópico da conversa, e de repente começaram a falar sobre o preço da gasolina, Jessica estava satisfeita por não precisar buscar Lauren em casa esta manhã.

— Sua mãe a trouxe, mas estava de cara feia, as duas vivem discutindo.

Definitivamente eu sabia como era ruim depender dos outros, ainda mais quando o favor era feito de má vontade e senti pena de Lauren.

Mas me pergunto por que seu novo namorado não a busca, afinal carro é algo que ele tem aos montes.

Ótimo, eu estava me saindo muito bem em evitar pensamentos maldosos.

— Acho que vou comprar o lanche, vocês querem alguma coisa?

Como era possível trazer todas as porções em uma só bandeja não fiz questão que nenhuma delas me acompanhasse, propositadamente quis me ocupar com a atividade na esperança de espantar o negativismo para longe. Cheguei à fila e esperei de braços cruzados, logo senti algumas pessoas ocupando o lugar atrás de mim.

— Nossa, tomara que hoje tenha chocolate quente, eu estou com tanto frio.

Tive vontade de me retirar imediatamente ao reconhecer a voz desagradável de Lauren, felizmente meu subconsciente soube exatamente como agir para minimizar possíveis inconvenientes e permaneci exatamente onde estava tomando o cuidado de manter minha cabeça erguida e meu olhar cravado à frente.

Lauren continuava a falar, se possível de um jeito ainda mais arrastado, porém eu sequer uma vez ouvira resposta e comecei a me perguntar se ela estaria sozinha.

— Ed, você vai comer comigo?

— Já lhe disse que estou sem fome.

Não, ele não estava.

— Mas nunca sequer o vejo mordiscando uma maçã, eu estou faminta, é impossível que você não esteja.

Garanto a você que ele está sedento por algo que você mesma pode oferecer.

Apurei minha audição, pois curiosamente queria ouvir qual seria a explicação para isto.

— Eu já lhe esclareci que meus irmãos e eu seguimos uma dieta diferente, fazemos uma refeição reforçada antes de vir ao colégio e é suficiente.

Trinquei o maxilar contendo a vontade de fazer parte da conversa, era óbvio que a garota não tinha ideia de com quem estava se metendo, mas não seria eu a alertá-la, preferi acreditar que qualquer coisa relacionada àquela família não mais me dizia respeito.

— Bem, ainda acho estranho, mas quem sou eu para reclamar, afinal está claro que seus hábitos fazem muito bem ao seu físico.

Foi impossível não revirar os olhos à tamanha superficialidade. Pobrezinha se deixava levar pelas aparências, assim como eu fizera, assim como muitas faziam. No começo tudo era encantador, até que chegava o doloroso término.

Finalmente chegou minha vez de fazer os pedidos e procurei ser o mais breve possível, depois de pagar, deliberadamente fiz o retorno pelo lado mais afastado e consegui alcançar a mesa sem problemas. Dividi os lanches entre as meninas e me sentei enquanto tomava um longo gole de suco de abacaxi. Acabei engasgando e tossindo algumas vezes.

— Liese, você está bem?

Assenti.

— Estou Ang, o-obrigada – assegurei apesar da voz falhada.

— É tão estranho, você e o Cullen eram tão próximos e agora, de repente... Bem, ele está bem próximo da Lauren neste momento.

Vi que Jessica olhava para além de mim e foi inevitável não imitá-la, assim que focalizei o casal senti minhas sobrancelhas se erguerem em surpresa, eles se beijavam, sentados um ao lado do outro entre os irmãos de Edward que claramente procuravam ignorar a cena.

Voltei a atenção para minha refeição e me forcei a comer, mesmo que sentisse meu estômago revirando. Não se tratava de traição, para haver traição o amor tinha de existir, ou ao menos alguma ligação e entre Edward e eu não havia mais nada.

— Isto não te preocupa, não é? Quero dizer, você não está namorando Jacob?

Pude notar a tentativa de Angela de mudar o tópico da conversa, todavia sua pergunta apenas me deixou ainda mais enrolada no emaranhado de dúvidas que ultimamente anuviavam minha concepção.

— Bem...

— É mesmo. O rapaz do baile. Ele é bem bonito Liese, gostaria de saber de onde você arranja tanta sorte pra encontrar caras assim.

Senti minhas bochechas ficando quentes, a desinibição de Jessica era capaz de me constranger rapidamente.

— Jacob é apenas meu amigo.

Foi minha vez de virar a piada, minhas amigas mal conseguiram conter os risinhos ao ouvir minha réplica.

— Não parecia ser somente isso.

— É verdade.

— Talvez seja ‘amizade colorida’, eu já tive algumas.

— Não. Não é isso – procurei desconversar.

— Então diga o que é, porque posso te assegurar que nenhum amigo meu me trata da maneira como Jacob tratou você no baile. Desde quando abraços e beijos passaram a fazer parte da etiqueta entre conhecidos?

— Jess! – Tentei repreendê-la, mas foi em vão, pois sua feição demonstrava divertimento, mesmo Angela deixava transparecer traços de humor. – Argh, eu vou matar vocês duas.

Elas riram abertamente e tentei cobrir meu rosto com as mãos escondendo a falta de jeito.

— Vai continuar tentando nos fazer de bobas? É óbvio que há algo entre vocês, qualquer um pode ver.

— Ele parece um cara legal.

— Obrigada – murmurei por entre os dedos. – Acabaram o questionário?

Livrei meu rosto e as observei. Jessica fingiu estar considerando, mas riu ao final e aquiesceu.

— Por enquanto.

Semicerrei os olhos e sacudi a cabeça frente sua determinação. Eu não ficara brava, pois tinha de admitir que a intromissão fora de certa forma benéfica: não era mais segredo que Jake e eu estávamos juntos, apesar de nossa situação não ter podido receber uma qualificação.

Amigos com benefícios? Era isto? Parecia tão impróprio... Mas se não éramos namorados, muito menos apenas colegas de que outra forma podia ser listado nosso envolvimento? De repente a proposta de Jacob não parecia mais tão absurda, na realidade fazia completo sentido e passei a ver a verdadeira intenção de seus atos. Será que ele já havia sido interrogado assim como eu? Será que seus amigos haviam tirado sarro de nossa situação? Será que Billy tinha ciência do grau de nosso relacionamento?

Novamente pude sentir meu rosto esquentar e procurei esconder a reação enquanto mastigava um pedaço de meu sanduiche de ricota. Era muito esquisito expor meus sentimentos daquela forma quando eu mesma mal sabia o que sentia, agora tinha a sensação de invasão e era até mesmo como se devesse explicações às pessoas. Porém sabia que alguém em especial merecia mais comprometimento de minha parte.

Era como se viesse falhando com meu amigo desde o começo, sempre impondo condições, arrumando desculpas. Minha consciência me acusou sem pudores, afinal que direitos eu tinha sobre ele? Quem era eu para trazer preocupações à sua vida ao invés de alegria? Se fazia tanta questão em reivindicar sua amizade, porque ao menos não agia de acordo?

Passei o restante do intervalo tentando ignorar a culpa, mas não podia, de todo modo me censurava. Quando o sinal soou caminhei para a sala absorta demais, apenas me apercebi de que aula era quando o professor assumiu seu lugar à frente. Após se acomodar ele iniciou a chamada como de costume e se espantou ao chegar à letra C, pois o lugar ao meu lado estava vazio.

— Senhorita Rodrigues, onde o senhor Cullen está?

Fechei a cara. Sabia que a intenção não fora ruim, porém mesmo assim me aborreci; vários alunos se viraram curiosos com o que eu poderia responder.

— Me desculpe senhor Banner, eu não sei – logicamente que lhe dei a versão educada da resposta.

Uma risada alta soou do corredor atraindo a atenção de todos.

— Oi professor!

Eram Edward e Lauren, ela mantinha o braço ao redor dele possessivamente e sorria largamente sem sequer parecer se importar com a falta de decoro.

— Senhorita Mallory, soube que havia recebido alta do hospital. Vejo que já parece estar bem melhor.

Será que eu havia imaginado a ironia ao final da frase?

— Sim, eu estou muito bem, obrigada. Desculpe ter feito Edward se atrasar, nós estávamos um pouco ocupados – gabou-se.

Risadinhas abafadas tomaram conta do ar e eu podia sentir o claro choque em meu rosto. Ela falava abertamente, gostava de ser notícia. Gostava disso! Era ridículo. Que pessoa em juízo perfeito poderia se sentir bem sendo alvo de fofocas, ainda mais por motivos tão pessoais?

Passei meu olhar para Edward, mas ao fitá-lo não encontrei irritação e sim apatia. Estava tão inexpressivo que sequer parecia haver um espírito dentro de seu corpo, era uma estátua viva, o retrato da frieza que eu já o vira exibir várias vezes.

Lauren cochichava algo com uma garota ruiva que se sentava ao fundo da sala e parecia perfeitamente à vontade. Eles eram tão opostos que chegava a ser anormal, como era possível que estivessem juntos? Novamente eu me perguntava a mesma coisa, será que um dia conseguiria superar a dúvida? Seria eu a única a não encontrar qualquer semelhança entre eles?

O burburinho era alto, havia rapidamente se difundido entre os estudantes.

— Silêncio por favor! – Pediu o professor. – Senhor Cullen, faça a gentileza de ocupar seu lugar e senhorita Mallory, creio que também tenha de ir assistir à aula, se importaria de me dar licença de prosseguir com as atividades ou gostaria de fazer mais algum comentário sobre sua vida particular?

O ambiente foi tomado por risadas e vaias, eu já havia voltado a atenção para meus livros e me mantive quieta fitando a capa verde e roxa de biologia. Tive perfeita ciência da cadeira sendo ocupada, mas com o decorrer da aula consegui me tornar indiferente a qualquer coisa que não fosse pertinente à explicação que o senhor Banner dava. 


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Notas finais do capítulo

Gente eu shippo demais esse casal. Leward forever! Ou Edwise, não decidi ainda rs
Bem, eu ia postar mais hoje, mas vou deixar pra amanhã, ver se alguém aparece, tenho a leve impressão de que estou sozinha nessa fanfic
Snif snif :(
Beijos!