Ondas de uma vida roubada escrita por Maresia


Capítulo 97
O apagar da chama




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O luar distante e sonhador entrava fracamente pela janela do quarto de Diana, banhando com tristeza e nostalgia aquela cama despida de calor e de cumplicidade, deixando a colcha azul e macia outrora sorridente imersa em angústia e saudade, a jovem abriu a porta com a sua mão delicada e trémula, uma mão que segurava o futuro entre os dedos, entrou e sentou-se num pequeno puff lilás num dos cantos da divisão, olhou o espelho, os seus olhos devolviam-lhe as sombras sorridentes e claras da tristeza, sombras tão claras e serpenteantes como aquelas que ardem arrogantemente no panorama da vida. A morena ergueu-se do puff lilás, pisou com força o tapete que a conduzia até à margem de um mundo escuro e perdido na sua vasta e observadora imaginação, um mundo sem cor, sem palavras, sem vida, um mundo pronto para ser colorido, reescrito, virou as costas aquele rosto taciturno e assombrado que a olhava do fundo misterioso do espelho e começou a remexer no seu armário da roupa.

                Diana retirou, de entre os seus imensos vestidos, um de cor cinza claro, bastante rodado, exibindo um laço azul que lhe emoldurava elegantemente a cintura fina, calçou uns sapatos de salto alto igualmente cinzento claro, penteou os cabelos numa trança elegante e perfeita, enrolando o seu destino em cada fio de cabelo de chocolate, pousou uma bolsa azul sobre os ombros e estava pronta para a festa, uma festa que traria na passadeira vermelha da glória o desfile da rainha inglória.

— Afinal onde está a Diana? - Perguntou Steve em tom baixo e preocupado, aproximando-se de Stark.

— Ela deve estar a descer, tu sabes como são as mulheres! - Exclamou Tony em tom divertido, oferecendo um pratinho com azeitonas ao Capitão. - Come, são deliciosas, aproveita enquanto ainda há algumas.

— Certo, olha Tony obrigado pelo que estás a fazer por ela, tens feito um esforço gigantesco para que se sinta totalmente em casa, nunca me vou esquecer deste gesto. - Agradeceu Steve em tom baixo e profundo, petiscando algumas azeitonas.

— Sabes porque o faço, não precisas de agradecer, nem admito tal ousadia. - Retorquiu o Homem de Ferro de forma orgulhosa, revirando os olhos para Clint que acabava de fazer a sua entrada discreta na sala de estar. - É preciso ter um grande descaramento. - Murmurou em tom sarcástico, bebendo um grande trago do seu copo de vinho frutado.

— Qual é o problema Tony. - Perguntou Rogers em tom curioso e preocupado, reparando no olhar faiscante que o milionário lançava ao Gavião.

— Detesto cobardias sem medida, é isso que se passa Steve. - Respondeu Stark em tom enfadado e rancoroso, comendo um grande pedaço de queijo para afogar as palavras que teimosamente lhe queriam escapar da boca.

— Não te metas entre eles, a Diana é suficientemente crescida para resolver os seus próprios problemas. - Avisou Rogers em voz cauteloso, acenando a Thor que gentilmente ajudava uma empregada a colocar um enorme tabuleiro de lombo assado numa das muitas mesas que decoravam a sala naquela noite.

— Eu não acho que ela seja capaz de se defender de homens como o Gavião, ela é somente uma miúda. - Ripostou Stark em tom rápido e irredutível, olhando com atenção para o cimo das escadas que conduziam aos andares superiores da mansão. - Diana, estás linda!

— Boa noite a todos. - Saudou a Sereia em tom jovial, caminhando calmamente por entre as mesas apinhadas de comida.

— Devia ter convidado a Comunicação Social provavelmente irias ser consagrada Miss universo, sem dúvida nenhuma! - Exclamou Tony completamente atónito com a beleza pura e simples da jovem, revendo naqueles olhos a beleza do passado reflectida no espelho confuso e enevoado do futuro.

— Tony não exageres. - Pediu Diana em voz baixa e tímida, cruzando levemente o seu olhar cristalino com o olhar distante do mestre das setas, olhares que outrora se cruzaram na fina e brilhante teia do amor.

— Bem vamos comer? - Perguntou Steve em tom carinhoso, observando a cortina de tristeza que caía pesadamente pelos olhos azuis e sonhadores da Vingadora.

— Claro vamos a isso Cap! - Retorquiu o príncipe do trovão em tom deliciado, puxando uma cadeira para que Diana se sentasse a seu lado. - Olha o teu amigo Peter também veio, vem para aqui rapaz!

— Obrigado senhor. - Agradeceu o jovem herói em tom embasbacado, completamente rendido a presença imperial do deus nórdico. - É uma honra para mim...

— Peter o Thor não liga a etiquetas, ele considera-se uma pessoa comum, igual a mim e a ti, igual a qualquer um de nós. - Explicou a morena de forma rápida e concisa, percebendo o ar atrapalhado que brincava no rosto do louro.

— Certo desculpe Thor, Diana, tu esta noite estás linda, se não tivesses esse mau feitio não me escapavas. - Brincou o Aranha em tom divertido, aceitando um rissol de camarão que Steve lhe estendia do outro lado da mesa. - Não obrigado, eu não bebo senhor. - Agradeceu em tom envergonhado, fitando um copo de vinho que Stark lhe estendia. - Más experiências com álcool!

— Vá lá Peter, não fales disso! - Exclamou a morena em voz estridente, recordando aquela noite em que o álcool foi dono e senhor da sua mente.

— Tony esta comida está fantástica, mesmo fantástica! - Elogiou o domador de formigas em voz entusiasmada, enfiando uma grande colherada de arroz de marisco pela boca. - Caramba que bom, não achas Clint?

— Sim, está tudo muito bom. - Respondeu o Arqueiro em voz baixa e ensonada, comendo uma abundante porção de bacalhau com natas, pregando os seus olhos azuis e parados num ponto invisível que apenas ele vislumbrava, um ponto longe dos olhos doces de Diana.

O resto do jantar decorreu calmamente, os copos brilhantes e decorados com bebidas dançavam nas mãos dos convidados, alegrando as mentes mais tristes, trazendo à tona de muitos corações lembranças apagadas pelo tempo, transportando alguns para lugares maravilhosos longe das trevas, do sofrimento e da dor, lugares repletos de alegria, calor e ilusão, um cenário perfeito e frágil que se dissolveria horas depois como a neve se dissolve perante os belos e quentes raios de sol. A refeição principal cedera tranquilamente o seu lugar nos campos de visão dos heróis mais poderosos da terra a bolos deliciosos e coloridos, gelatinas, mousses, e alguns pudins que Diana comia desenfreadamente tentando desta forma afogar toda a tristeza mascarada que o seu coração nutria, uma tristeza que nem o álcool tinha a capacidade de matar.

— Queres dançar Diana? - Perguntou o milionário em voz calma e serena, pousando os seus talheres sobre o pequeno pratinho de ouro, exibindo um sorriso contagiante, adocicado e moldado pelos copos de vinho que batiam elegantemente no sangue do herói.

— Vamos a isso, porque não! - Aceitou a Vingadora radiante, vendo pelo canto do olho Scott que bailava entusiasmado com uma vassoura e Thor que por sua vez dançava com uma garrafa de licor nórdico.

Os dois heróis dançaram divertidos a música “esta miúda é linda”, enchendo a sala com o fogo da sua amizade, preenchendo cada canto adormecido dos seus espíritos com as opalas cintilantes da cumplicidade, encantando o universo com os passos leves e misteriosos do destino, uma sintonia perfeita quase aniquilada pelo comandante do tempo, uma pirueta tão bela e triunfante que fazia a beleza da lua recuar, um momento tão imperdoável que fazia o futuro berrar.

— Tira as tuas mãos de cima dela. - Balbuciou Clint em tom atabalhoado, espalhando gotículas de whisky à sua passagem. - Devias ter vergonha na cara, ela ainda é minha namorada, não te admito que a tentes levar para a cama mesmo à minha frente...

— Cala a boca Clint, estás completamente bêbedo, não sabes o que dizes, nós apenas estamos a dançar, e para falar a verdade eu já nem sou tua namorada, lembras-te? - Retaliou a Sereia em tom colérico e recriminador, afastando a mão do Arqueiro do seu braço, fazendo com que ele embatesse de joelhos no soalho envernizado, derrotado pelo baloiço trepidante do álcool. - A festa para mim acabou, obrigada por tudo Tony, há muito que não me sentia tão feliz, obrigada a todos. - Disse a jovem em tom ligeiramente aborrecido, observando o Homem Formiga, igualmente bêbedo, arrastando o mestre das setas para um sofá.

— Diana vou andando para casa, até amanhã. - Despediu-se Peter em voz baixa, piscando várias vezes os olhos a quando da entrada da provocadora Viúva Negra na sala, exibindo um cabelo tão flamejante como o fogo que arde nos cometas espaciais, um fogo que queimaria o futuro para o reescrever nas finas entranhas da sorte, uma sorte amaldiçoada e condenada pelo passado distante e vingativo, as bandeiras estavam içadas só restava saber quem se manteria de pé á passagem da tempestade.

— Boa noite meus senhores, acho que o meu convite para esta festa se deve ter extraviado, não há problema eu compreendo, mas devo brindar-vos com a minha adorável e desejada presença! - Exclamou Natacha em voz sarcástica, espalhando pela sala um sorriso falso e comprometedor que irritou profundamente a Sereia.

— Natacha não é a altura ideal para os teus sarcasmos. - Ripostou Steve mal-humorado, lançando um olhar de soslaio à recém-chegada. - E por falar em festa, já terminou.

— Capitão eu não estou habituada a que me falem de modo tão rude, eu tenho sentimentos sabes? – Revoltou-se a ruiva em tom falsamente ofendido, tapando o rosto atraente com ambas as mãos. - Vou tomar uma bebida, alguém me acompanha? - Perguntou em tom baixo, caminhando em passos lentos e delicados até uma das mesas, retirando um copo e enchendo-o de licor de café. - Delicioso, sempre tiveste um dom especial para escolheres as bebidas Tony, sempre optaste pelas melhores e mais requintadas, ninguém te pode tirar esse mérito.

— Obrigado Taxa, mas já estava de saída, desculpa. - Murmurou Stark em tom sumido, seguindo pelo corredor que conduzia ao seu escritório, deixando nas suas costas um silêncio abafado pelos queixumes do futuro.

Diana, embalada pelo comandante da noite, esboçou um leve e triste sorriso, olhou com tristeza o espelho desesperado da escuridão, ignorou o formigueiro de uma chama a sucumbir no seu peito e retirou-se da sala.

— Ela não parece estar com muito boa cara. - Comentou a Viúva negra em tom apaixonante, vendo a ondulação doce e serpenteante do cabelo de Diana seguir o rasto de cumplicidade e amizade que Tony arrastara pelo corredor deserto.

— Não é da tua conta. - Resmungou Steve em tom aborrecido, conhecia demasiado bem Natacha para adivinhar que as suas preocupações estavam repletas de maldade e falsidade, ela não era má pessoa, no entanto o seu coração baloiçava demasiadas vezes entre o bem e o mal. - Boa noite a todos. - Despediu-se de forma repentina, correndo lentamente até ao refúgio do seu quarto, um refúgio capaz de repelir tudo excepto os pensamentos do seu passado, pois esses tinham caminho aberto até ao seu coração, mantendo-o prisioneiro de uma realidade triste e sofrida, somente iluminada pelos sorrisos alheios e pela enorme felicidade que é estar vivo.

Tony pousou as duas mãos sobre o tampo polido da sua secretária, fitou um caderno de páginas amareladas, onde notas escritas com uma caligrafia fina e clara reflectiam o espelho fantasmagórico da lua que entrava sorrateira pela janela ainda aberta, a letra de Howard Stark encaminhava o milionário numa grande viagem no tempo, nunca tivera uma grande e próxima relação com o seu pai, mas a falta que ele lhe fazia em certas e determinadas circunstâncias da vida era algo arrebatador, algo insuportável, algo que nem a própria e concreta ciência consegue explicar, por isso sabia e compreendia o que Diana sentia a cada dia que passava por ela, deixando cada vez mais longe a memória do seu pai.

— Tony posso entrar? - Perguntou a voz calma e doce da Sereia, vinda do mundo longínquo, um mundo para além da porta blindada do seu gabinete. - Tony estás aí?

— Sim Diana, entra. - Respondeu Stark em voz rápida, fechando com brusquidão o caderno do seu falecido pai. - O que se passa, precisas de alguma coisa?

— Não tenho sono, preciso de companhia. - Explicou a jovem em tom baixo, caminhando até uma cadeira vazia junto da janela. - Procurei o Steve mas...

— Quando necessitares de companhia podes vir ter comigo a qualquer altura, não precisas de procurar mais ninguém, eu estou aqui para ti. - Retorquiu o milionário de forma amável e ternurenta, erguendo-se da sua cadeira, caminhando até junto da adolescente, acariciando fraternamente o seu rosto cansado e bonito. - Desculpa se a festa não foi o que tu pretendias, mas quero que saibas que fiz de tudo para que corresse na perfeição, neste momento o teu bem-estar é o que mais me importa, acredita no que eu te digo.

— Tu não tens culpa que o Clint tenha bebido que nem um louco, estava tudo perfeito, obrigada Tony, digo-te isto do fundo do meu coração. - Disse a sereia de forma clara e determinada, segurando na mão fria e suave do Homem de Ferro. - Nunca tive ninguém que se preocupasse desta forma comigo, obrigada.

— Faço-o porque gosto muito de ti, gosto de ti como nunca gostei de ninguém, é como se completasses o lado bom e quente do meu coração egoísta e arrogante. - Proferiu o milionário em tom honesto e nostálgico, sacudindo algumas melgas que se enlaçavam teimosamente no cabelo da Sereia. - No que depender de mim tu jamais ficarás sozinha, jamais!

— Tu também és muito importante para mim, podes contar sempre comigo. - Afirmou a Vingadora de forma grata, absorvendo cada simples e colorida palavra tecida pelos sábios lábios de Stark como se fossem milhares de flocos de açúcar com sabor a mar. - Como tens estado depois de tudo o que te aconteceu?

— Tive algumas ideias que gostaria de colocar em prática com a maior brevidade possível, ideias que provavelmente relançarão os meus negócios. - Explicou Stark em tom descontraído, voltando a sentar-se na sua cadeira. - Gostarias de me ajudar?

— Claro Tony, sabes que sim. - Prontificou-se a morena em tom entusiasmado, era altura das sombras frias e maldosas abandonarem os olhos do seu amigo, devolvendo-lhe o seu habitual e arrogante sorriso. - Mas devo prevenir-te, eu não tenho grande experiência no mundo empresarial, bem para ser honesta não tenho nenhuma, mas aprendo rápido se me quiseres ensinar.

— Quero que fique bem claro que não pretendo que abandones os estudos, vê esta proposta como uma ocupação dos teus tempos livres. - Explicitou o Homem de Ferro de forma clara e inequívoca, olhando para o relógio de ouro que cintilava no seu pulso. - Já é tarde, todavia acho que ainda temos tempo para eu te mostrar as linhas mestres do meu projecto.

— Vamos a isso! - Exclamou a Sereia de forma rápida e interessada, correndo até à secretária do milionário.

— Então passa-me uma pasta cinzenta que está dentro daquela gaveta, por favor. - Pediu o milionário de forma educada, apontando com uma das mãos a gaveta. - Isso mesmo, obrigado. - Agradeceu, compreendendo que a jovem conseguira resgatar a pasta pretendida das profundezas da gaveta.

— Tony, o que é isto? - Inquiriu a linda Sereia em tom trémulo e confuso, observando incrédula e desiludida uma fotografia suspeita que viera agarrada à pasta. - Espero honestamente que consigas explicar!

A bela e elegante Hyliana sorria alegremente, pousando tranquila a sua mão clara e materna sobre o seu ventre, onde Diana dormitava fazia sete meses, trajava um bonito vestido de cor verde água, um vestido repleto de simplicidade e doçura, os seus olhos carinhosos derramavam lágrimas coloridas pelas aguarelas da alegria, ao seu lado, exibindo um sorriso triste estava Tony Stark, colocando uma mão sobre o ombro da jovem mãe, o oceano bem ao fundo da paisagem reescrevia nas suas ondas um futuro misterioso e sofrido, um futuro que colocaria à prova toda a coragem, bondade e força de vontade da única e desejada filha do mar.

— Diana eu...

— Explica-me Tony, o que se passa aqui? - Gritou a morena de forma desesperada, derramando milhares de gotas salgadas sobre a fotografia da sua mãe, inundando a sua memória como o mar inunda o mundo dos sonhos. - Porquê Tony, porque é que tornaste a minha vida numa autêntica mentira, numa falsidade sem limites, quem te deu esse direito?

— Diana eu posso explicar, eu vou contar-te tudo, prometo, apenas não é o momento indicado, quando chegar saberás tudo aquilo que desejas saber. - Disse Stark em voz melancólica, o mundo desmoronava-se sobre os seus ombros, lançando estilhaços de fogo e fúria em todas as direcções. - Vem cá, acalma-te!

— Não te atrevas a tocar-me, repudias-me, não tinhas o direito de me esconderes quem eu sou, não tinhas o direito de me abandonares num orfanato, não tinhas o direito de fingires que não eras meu pai! - Berrou a jovem completamente descontrolada, dando um valente empurrão no Homem de Ferro, fazendo-o embater pesadamente no soalho de madeira envernizada. - Porque é que não me quiseste como filha, porquê? Não passas de um egoísta, tinhas medo que o teu dinheiro não fosse suficiente para me criares, ou será que tinhas vergonha da minha mãe? Sabes que mais podes morrer afogado na tua fortuna, eu tenho vergonha de ti Anthony Stark!

— Diana espera por favor, eu não sou teu pai, nada me daria mais gosto, acredita em mim, mas infelizmente eu não sou teu pai, se queres ter vergonha de alguém acho melhor virares a tua arma para o...

— Cala-te eu não quero ouvir nem mais uma palavra! - Exclamou a jovem em tom desiludido, rasgando a foto que ainda dançava entre os seus dedos, atirando os bocadinhos do seu passado sobre o tampo polido da secretária do milionário, saindo rapidamente do gabinete, encarando o véu negro e frio da noite. - Adeus Tony.

— Diana não. - Murmurou Stark em voz baixa e desesperada, soltando o oceano azul e gelado que dormira profundamente no interior dos seus inteligentes olhos durante anos, vendo dissolvida no espaço e no tempo a lembrança de um amor que nunca chegara a ser seu. - Perdoa-me se errei, mas só o fiz para te proteger. - Sussurrou, enfiando o rosto cansado e molhado nas mãos. - Nada me faria mais feliz do que ser teu pai, acredita em mim. - Disse num tom abafado e furioso, pegando no seu telemóvel de última geração. - Olha só para te dizer que ela me odeia, pensa que eu sou pai dela, pensa que eu a abandonei num orfanato, culpa-me por a vida dela ser uma mentira, uma falsidade, não posso suportar este desprezo, não vou subjugar a minha felicidade, a felicidade da tua filha às mãos da tua nojenta cobardia.

— Tony eu não estou a perceber nada do que se está a passar, explica-te. - Resmungou uma voz alarmada do outro lado da linha, encarando o berço escuro do seu sono com preocupação.

— Resolve este problema, ou melhor já o devias ter resolvido no dia em que a Diana nasceu, não vou permitir que manches a relação que construi com ela, roubaste-me a Hyliana, contudo desta vez será diferente, muito diferente. - Avisou o Homem de Ferro em tom ameaçador, atirando o telemóvel para a outra extremidade da divisão, lançando nos ares um grito repleto de dor e perda.

Diana palpava confusa o corredor que tão bem conhecia, porém naquele momento parecia-lhe tão diferente, tão distante, tão frio, um lugar desconhecido onde reina a tristeza e a dor, um lugar imperfeito onde caminha a desilusão e saudade, um lugar duro e amaldiçoado onde flutua a mentira e a falsidade, um lugar onde a sua vida se transformara em milhares de fragmentos transparentes que se dissipavam através da luz feiticeira do luar.

— Clint, o que se passa aqui? - Perguntou Diana completamente perplexa e colérica. Quando as imagens que jamais quereria ver forçaram a sua aparição nas suas pupilas vermelhas e furiosas.

O mundo escurecera obedecendo a um nevoeiro constante e paralisante, a chama do coração de Diana apagava-se lentamente mergulhando o seu jovem e doce coração num inverno gelado e permanente, o mal alinhava os astros num bailado venenoso e serpenteante e o futuro fugia a grande velocidade da realidade.


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