Ondas de uma vida roubada escrita por Maresia


Capítulo 92
O lamento das setas




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O coração é o tesouro mais bem escondido que o ser humano possui, dotado de improváveis e inimagináveis capacidades de camuflagem, roubando dos olhos a verdade e a cor da luz da qual são tingidos. O sorriso é a paisagem mais falsa e ilusória que os humanos conhecem, disfarçam a maldade, difundem a mentira e criam falaciosas e manipuladas amizades com base na desconfiança e na trapaça. Entre os vestígios de fumo e gargalhadas estridentes da poluição destacava-se, elegantemente encostado a uma montra de figuras de lego, um rapaz cujo sorriso era tão negro e tão claro como as contagiantes noites invernais, um sorriso tão falso e tão perfeito como a cor brilhante de um amargo limão. O seu jovem coração perdia-se nos caminhos sombrios da luz da maldade, deflagrando no seu sangue vermelho escarlate as estrelas reluzentes da traição.

— Senhor, ela voltou. - Disse o jovem em tom aliviado, pegando entusiasmado no seu telemóvel.

— O que sabes mais sobre o seu estranho e súbito desaparecimento? - Questionou uma voz agressiva e fria do outro lado da rede, esboçando o seu pérfido sorriso no espelho partido do seu amaldiçoado coração.

— Eu ainda não sei mais nada, apenas percebi que ela já está com os Vingadores. - Retorquiu o rapaz em voz apreensiva, apoiando uma das mãos no vidro poeirento da montra.

— Como foste permitir que ela voltasse a estar no meio deles, tens noção da oportunidade que estupidamente deitaste para o lixo? - Gritou o homem de forma furiosa, deitando um cinzeiro para a outra extremidade da sala, cobrindo o pavimento com milhares de fragmentos de maldade e ganância.

— Eu não tinha como evitar isso, ela foi em socorro dos Vingadores na noite passada, e foi aí que eu soube que ela estava de volta. - Defendeu-se o jovem em tom falsamente confiante, não era boa ideia enfrentar aquele sujeito daquela forma leviana e ingrata, porém decidiu arriscar.

— És um sortudo por ainda estares vivo, nunca trabalhei com ninguém tão incompetente como tu, és uma vergonha para a...

— Senhor, eu vou conseguir dê-me apenas mais uns dias, somente isso. - Interrompeu o rapaz em voz trémula e insegura, vendo a sua curta e injusta vida transformar-se em milhões de novelos esfumados que se afundavam lentamente nas correntes do oceano, até por fim desaparecerem na escuridão dos tempos.

— Já esperei tempo a mais, eu não consigo conter a minha enorme sede de o ver arrastar-se pelas ruas da amargura, chegou a altura do sofrimento afogar o seu coração com o veneno insuportável da perda. - Proferiu o estranho sujeito em tom baixo e rancoroso, soltando no ar um riso mais agudo do que um punhal de aço. - Podes voltar para a base, foram dezasseis anos de inutilidade.

— Por favor deixe-me tentar uma última vez. - Implorou o rapaz em tom suplicante, sabia o que o futuro lhe reservava, avistava-o reflectido nas nuvens cinzentas e escaldantes que cobriam o firmamento da história. - Seria desperdiçar tempo a colocar alguém no terreno, ninguém conhece tão bem como eu os detalhes e a importância extrema desta missão, peço-lhe, dê-me mais uma última oportunidade, apenas mais uma, juro que não falharei.

— Para quem tem os dias contados estás muito convencido das tuas capacidades, mas numa coisa tens razão, ninguém conhece esse terreno como tu. - Assentiu o estranho sujeito em tom baixo e relutante, esperara durante dezasseis anos, talvez esperar mais uns dias não seria certamente mal nenhum, apenas serviria para aguçar ainda mais o seu ódio e vontade de vingança, iria ser paciente, iria esperar. - O relógio está a contar, ele não para, apressa-te meu rapaz.

— Não o irei desiludir senhor. - Garantiu o jovem aloirado em voz profunda e arrepiada, voltando a colocar o telemóvel no bolso das suas calças pretas. - O futuro foi criado para pessoas como eu reinar.

Diana entrou insegura no quarto do Arqueiro, deixando Steve sozinho no corredor, preferia certamente que ele a ajudasse a cumprir aquela tarefa, porém o seu coração dizia-lhe para visitar Clint sozinha.

— Quase me esqueci desse sorriso traquina que te caracteriza na perfeição, como é lindo e doce. - Murmurou a Vingadora em tom sonhador, aproximando-se da cama do adormecido Gavião. - Perdoa-me Clint.

— Não me fales em perdão, as tuas palavras soam-me vazias e falsas como o mar que tanto amas. - Disse o mestre das setas em tom baixo e triste, acordando num repente gelado e imprevisível, afastando a mão de Diana do seu rosto.

— Eu mereço a tua raiva, o teu ódio, mas acredita que as minhas palavras não são falsas, o meu amor por ti não é falso, talvez seja a única verdade absoluta que se passeia na minha vida.

— Cala-te por favor, chega dessas mentiras iludidas pelo teu lindo sorriso. - Pediu o Arqueiro em tom abafado, cobrindo o rosto com as mãos, não conseguia olhar aquela luz pura e doce que emanava dos tristes olhos da jovem, era duro de mais encará-los daquela forma repentina passados tantos meses imerso na escuridão da solidão.

— Não houve um único dia em que eu não pensasse em ti. - Sussurrou a Sereia em tom sumido, esforçando-se por conter a vasta e reluzente torrente de lágrimas que desfilavam pelo seu doce sorriso.

— Deves ter herdado a hipocrisia do Stark. - Comentou Clint em tom cínico, o seu coração marchava sobre uma estrada coberta de pedras e espinhos que tornavam as suas palavras e pensamentos duros e cortantes, alimentados pela saudade e pela distância. - Tens noção de quantas noites eu adormecia agarrado à minha almofada imaginando o dia em que tu voltarias a ser o meu berço dos sonhos? Imaginas quantas vezes pensei em desistir de viver porque tinha consciência que jamais seria feliz sem o teu sorriso a iluminar as minhas noites? Tens noção de quantas horas passei a olhar para o meu telemóvel pensando quando é que uma simples mensagem tua poderia chegar, mas sabes que mais ela nunca veio, pois estavas certamente demasiado ocupada para te lembrares de mim. - Gritou desesperado, toda a frustração que o consumira durante meses transbordava agressivamente em cada inflamado esporo do seu corpo. - Consegues imaginar quantas lágrimas eu derramei de cada vez que o dia retornava e tu não chegavas voando nas asas da maresia? Imaginas quantos sonhos eu deitei para o lixo porque os pesadelos que a tua ausência provocou em mim roubaram-lhes toda a cor e perfume? Imaginas em quantas ocasiões eu reflecti acerca da minha permanência nos Vingadores? Eu só queria partir para bem longe, abraçar um local onde nada me fizesse recordar de ti, mas sabes que mais esse lugar não existe e eu continuei a arrastar-me pelos caminhos do sofrimento e da saudade, esbarrando com o teu sorriso em cada canto da minha existência, encontrando o teu cheiro em cada escura madrugada, defrontando-me com a tua voz em cada melodia que caprichosamente flutuava em direcção ao meu coração, observando a tua imagem em cada gota solitária de água.

— Clint eu também sofri...

— Não sofreste coisa nenhuma, se estavas viva porque é que não voltaste para mim, porque é que não voltaste para nós? - Questionou o mestre das setas de forma revolta, sentando-se de rompante na borda da cama. - Eu era louco por ti, como nunca fui por ninguém e tu simplesmente jogaste no lixo tudo aquilo que construímos juntos, por isso não me fales de amor, paixão, amizade ou qualquer outro sentimento, pois tudo o que vivemos foi somente uma miragem desse teu sorriso que durou menos do que eu desejara, atiraste tudo no fundo do oceano com um leve gesto da tua maldade.

— Se te calares um minuto eu posso explicar. - Pediu a jovem em tom suplicante, segurando o Arqueiro pelo rosto, apanhando na palma da sua mão as lágrimas de prata que nadavam nos lindos olhos do louro.

— Diana se tu imaginasses o quanto eu sofri. - Proferiu o Gavião em tom melancólico, olhando pela primeira vez aqueles olhos que o faziam viajar até aos confins do seu coração, aqueles olhos melosos e reluzentes que adoçavam a luz dos seus dias. - Apesar de estar bastante pálida, continua linda como se a morte não tivesse tocado o seu coração. - Comentou no seu inconsciente, reparando nos traços elegantes que sobressaiam no meio da triste da palidez que injustamente decorava o rosto infantil da adolescente, uma infantilidade que a tornava única no mundo.

— Achas que eu não sofri? - Inquiriu a jovem em tom baixo e compreensivo, acariciando o rosto do Arqueiro com as pontas macias dos seus finos dedos. - Podes achar que estou a mentir, que estou a ser falsa, tens motivos para pensares dessa forma, não o nego, porém não tens o direito de me acusar sem me escutares primeiro.

— Fala. - Disse Clint em tom baixo e mais calmo, indicando a borda da cama para que a morena se sentasse, estava no bom caminho.

— Obrigada. - Agradeceu a adolescente de forma carinhosa, deixando escapar um leve sorriso. - Eu estive às portas da morte, levei meses até o meu corpo recuperar, depois era a vez do espírito e acredita isso foi bem mais complicado e doloroso, ainda hoje ele sangra...

As palavras que decoravam a narrativa da linda Sereia inundavam o coração do corajoso e apaixonado Arqueiro como uma forte torrente de estrelas de aço, as lágrimas jorravam pesadamente dos seus olhos como milhares de borboletas mortas, sem brilho ou encanto, o seu sangue gelara de tristeza como se fosse revestido por um manto de linho negro e atroz, como ela sofrera, como fora corajosa ao enfrentar aquele cenário tenebroso só com a companhia de um estranho, como fora fiel em nunca desprezar ou esquecer os fortes laços que os uniam, os fortes e apertados laços que a uniam aos heróis mais poderosos da terra.

— Nunca digas que eu não senti a tua falta, nunca digas que eu não te amo, nunca digas que a minha vida seguiu o seu caminho sem ti, isso não é verdade, tens motivos que sobra para estares magoado, revoltado ou até mesmo aborrecido, mas...

— Não digas mais nada, desculpa. - Pediu o mestre das setas em voz arrependida, abraçando com a força do futuro a sua princesa do mar. - Deixei-me levar pelo peso da distância, deixei-me afundar na saudade, no desespero, na desilusão, desculpa fui demasiado injusto contigo, só pensei em mim, ignorando tudo aquilo pelo que tu passaste, achas que me podes dar outra oportunidade? Acredito que ainda podemos ser felizes, o mundo deu-nos uma nova luz, queres aproveitá-la comigo?

— Claro que quero, não precisas de pedir desculpa, como disse anteriormente tens motivos para reagir desta forma... - Porém as restantes palavras perderam-se na atmosfera açucarada e perfeita de um delicioso e prolongado beijo que demorara meses em florir, um beijo sumarento e saboroso que pintou no céu um arco-íris que jamais se extinguiria, ou assim sonhavam os dois heróis, um beijo dragado pela felicidade e pela paixão que nunca se perderia no berço das lágrimas de prata que jorravam tranquilas dos olhos dos dois amantes.

Os dois jovens afogavam-se na sintonia branca dos flocos de neve, afundavam-se perdidos na melodia doce e sedutora das estrelas distantes e solitárias, perdiam-se na imensidão celestial do universo ardente, cediam sonhadores ao sabor mágico da paixão e do amor, estavam novamente juntos, imersos naquela aura azul e prateada das águas da cumplicidade, prisioneiros de uma poderosa e fresca magia, uma magia que jamais teria fim, perduraria até os astros terminarem a sua implacável conspiração contra aqueles dois corações apaixonados.

— Amo-te. - Murmurou o Arqueiro em tom doce e sereno, sorrindo timidamente perante a luminosidade esfumada do dia.

— Eu sei disso. - Disse Diana em tom sonhador, olhando para a porta atras da qual Steve a aguardava. - Quanto tempo vais ficar aqui?

— Mais um dia acho eu. - Respondeu o mestre das setas em tom enfadado, seguindo o olhar da sua linda namorada. - Eu disse ao médico que estava bem, mas ele insiste em que eu permaneça aqui mais algumas horas, o Steve está à tua espera?

— Sim, está. - Confirmou a Vingadora em tom jovial, caminhando até à porta. - Entra. - Disse em tom doce. Fazendo sinal para que Rogers entrasse no quarto.

— Como te sentes Clint? - Perguntou o Capitão de forma amável, aproximando-se do mestre das setas, olhando de relance para a Sereia.

— Estou óptimo Cap. - Respondeu o Arqueiro de forma energética, apertando a mão do super-soldado. - Levas a Diana a casa?

— Não, ela vai para a mansão dos Vingadores, já esteve sozinha tempo que chegue. - Respondeu Rogers sorridente, como estava radiante de a ter de volta, queria aproveitar todos os segundos na sua companhia, aproveita-os da melhor forma Cap.

— Podes passar no meu apartamento para ir buscar o Gavião? Ele está a morrer de saudades da Diana. - Perguntou o Arqueiro em tom triste, acabara de a recuperar já a tinha que a deixar ir.

— Ele ficou contigo? Uau! - Exclamou a morena surpreendida, recordando a relação pouco amigável que o seu cão tinha com o seu namorado.

— Durante estes meses partilhamos a tristeza de te ter supostamente perdido, esse facto acabou por nos aproximar. - Explicou Clint em tom distante, relembrando todas as noites em quem ele junto com o enorme cão branco passearam a tristeza e a solidão pelas ruelas da cidade.

— Certo nós vamos buscá-lo, nem quero imaginar a felicidade que correrá por aqueles doces olhinhos, tenho tantas saudades dele. - Disse a Vingadora em tom sonhador, olhando para o relógio no pulso de Steve. - Bolas são quase horas de almoço, estou cheia de fome.

— O Tony certamente mandou fazer uma refeição deliciosa para ti, vamos andando? - Perguntou Rogers sorridente, desta vez a comida certamente saber-lhe-ia melhor.

— Isso vão lá comer a comida da mansão dos Vingadores enquanto eu como esta comida deliciosa daqui do hospital. - Resmungou o mestre das setas em tom amuado, vendo a auxiliar da acção médica transportando um tabuleiro com o seu almoço.

— Não te queixes, quando saíres daqui terás tempo que sobra para comeres a comida da mansão! - Exclamou Diana em tom divertido, dando uma carícia no rosto do seu namorado. - Talvez logo passe por cá para ver como estás.

— Vou estar muito mal, mesmo muito mal! - Queixou-se o Arqueiro em tom mimado, fingindo um falso choro.

— Nem quero imaginar o que as tuas fãs diriam se te vissem a fazer essas fitas Clint. - Comentou o Capitão América de forma provocadora, sorrindo de malícia na direcção do mestre das setas.

— Eu não tenho fãs, vá, vão-se lá embora, deixem-me almoçar descansado! - Barafustou o Gavião em tom rápido e envergonhado, reparando na expressão irritada que dançava nos doces olhos da Sereia.

— Depois falamos sobre isto mais tarde. - Prometeu a jovem em tom falsamente aborrecido, seguindo Steve até ao exterior do quarto.

— Vais pagar Cap, não perdes pela demora! - Murmurou o mestre das setas com azedume na voz, começando a comer com insatisfação a sua desejada refeição.

— Ele vai trazê-la para cá? - Perguntou Janet surpreendida, olhando Stark com cara de poucos amigos, quando este informou os presentes na sala de estar da mansão dos Vingadores que Steve traria Diana para juntos deles.

— Nós nem sabemos onde ela esteve e mesmo assim pretendem trazê-la! - Exclamou Carol indignada, fitando Tony com ar inquisidor.

— E se ela foi apanhada pelo inimigo e pretende fazer jogo duplo, acho que estás a ser imprudente Tony...

— Quem está descontente com a minha decisão pode sair, ela será muito bem-vinda, bolas ela é uma Vingadora como eu e todos vocês, quem não tem segredos que atire a primeira pedra. - Afirmou o milionário em tom irritado, colocando-se de pé, enfrentando corajosamente todos os olhares e comentários que caiam pesadamente sobre si.

— Gostava de saber se fosse qualquer um de nós a desaparecer durante meses se serias assim tão brando? - Atirou a Mulher-Hulk de forma desdenhosa, saindo rumo ao elevador, deixando a sua insatisfação gravada em cada segura passada que dava.

— Volto a dizer, a minha decisão está tomada, não vou voltar atrás, quem quiser pode sair. - Repetiu Stark em tom baixo e enraivecido, fingindo ignorar o comentário proferido por Jennifer.

— Eu estou muito contente por ela estar de volta. - Disse Thor em tom feliz, observando o restante grupo com mau-humor.

— Se ela estivesse do lado do mal certamente não nos teria salvo ontem. - Constatou Scott em voz honesta, confiava em Diana, nada o faria mudar de ideias.

— Lembra-te o que fizeste ao Banner só porque ele por vezes se descontrola. - Disse Carol em voz falsamente compreensiva, cruzando a distância que a separava do milionário.

— Uma coisa não tem nada a ver com a outra, a Diana não destrói cidades inteiras, pelo menos não me lembro disso acontecer alguma vez. - Gritou o Homem de Ferro com a frustração e a impaciência a brotar de todos os esporos do seu corpo

— Certo, já percebi que estás irredutível, então prefiro dar um tempo. - Decidiu a Miss Marvel em voz distante e triste, seguindo o mesmo caminho de Jennifer rumo à desgraça dos heróis mais poderosos da terra.

— Vou mandar preparar uma refeição com os pratos favoritos da Diana, ela deve estar desejosa por voltar a comer comida com qualidade. - Informou Stark em tom jovial, dirigindo-se às cozinhas da mansão em passada segura e feliz.

Minutos depois, a mota do Capitão América fazia a sua triunfante entrada na garagem da mansão, espalhando o seu conhecido som pelos ouvidos dos restantes heróis, Diana saltou do assento como se fosse uma leve e suave pluma de seda empurrada pelos ventos da mudança rumo à dureza impiedosa do destino.

— Estou nervosa, apreensiva, não sei o que posso esperar deste momento, não sei o que eles estão a pensar, não sei se me irão receber bem, mas de uma coisa eu tenho a certeza, consigo enfrentar o mundo inteiro desde que acredite em mim, eu acredito em mim. - Pensou a Vingadora de forma corajosa, seguindo Steve pelas escadas brilhantes que conduziam ao patamar iluminado que terminava na entrada do elevador. - Estou pronta. - Murmurou, enquanto as portas do elevador se abriam silenciosamente mostrando-lhe a sala que há muito não lhe alegrava os olhos, estava de volta.

— Estamos juntos nisto, digam o que disserem nunca deixarás de ser uma Vingadora. - Afirmou Steve em tom doce e compreensivo, detendo Diana à entrada da sala de estar da mansão dos heróis mais poderosos da terra, apesar dela não proferir uma única sílaba que fosse ele lia no seu coração toda a insegurança e receio que a inundavam.

— Obrigada Cap. - Sussurrou a Sereia num murmúrio leve e doce, seguindo em frente, apostando todos os seus trunfos naquela última cartada, não iria vacilar, ele acreditava nela e isso dava-lhe a força necessária para ultrapassar qualquer barreira.

— Diana! - Gritou Tony radiante, saltando como um louco na direcção da morena, a felicidade dançava nos seus inteligentes olhos como nunca antes dançara. - Estou tão contente por estares aqui, nem acredito que estás aqui, meu deus como estás linda! - Exclamou completamente eufórico, pegando Diana, sem se dar conta, ao colo. - Nunca mais desapareças desta forma repentina, ou se quiseres desaparecer por algum motivo eu vou contigo.

— Tony tem calma, ela precisa de ficar tranquila. - Disse Rogers em tom baixo, soltando a Sereia do apertado abraço do Homem de Ferro.

— Tony eu estou muito feliz por estar de volta, desculpa se te fiz sofrer, desculpem todos vós pelo que vos fiz passar, compreendo que já não confiem em mim, que já não me considerem uma vingadora...

— O que estás para aí a dizer, tu serás sempre uma vingadora. - Disse o Thor em tom alegre, segurando a Sereia pelos ombros, olhando bem no fundo daqueles olhos luminosos que mostravam o caminho ao mundo.

— Claro, tu serás sempre uma de nós. - Apoiou Scott de forma entusiasmada, beijando a morena no rosto. - Sê bem-vinda Sereia.

— Onde estão todos os outros? - Inquiriu Diana em voz insegura, temendo a resposta que vagueava imersa nas sombras.

— Bem, e se fossemos almoçar, pedi para prepararem o teu prato favorito, bacalhau com natas, estou certo? - Questionou o milionário em tom rápido e evasivo, nada poderia estragar o regresso da morena, e afinal de contas todos os outros acabariam por voltar, aquele momento era dela, só dela.

— Sim, esse é o meu prato favorito, obrigada Tony. - Agradeceu a adolescente em tom baixo e triste, vendo a resposta chegar impressa nas entre linhas dos olhos dos seus companheiros.

— Não penses muito nisso, eles vão voltar. - Afirmou Rogers em tom baixo, porém toldado pela tristeza, não estava à espera que muitos dos seus parceiros se tornassem pessoas tão intolerantes e desconfiadas.

— Sim. - Assentiu a jovem de forma sumida, seguindo Tony até à sala de refeições.

— Espero que tenhas fome. - Disse Thor em tom nobre, puxando a cadeira para que a morena se instalasse.

— O Tony tem andado louco durante toda a manhã, nem imaginas, parecia que estava a preparar tudo para receber a rainha de Inglaterra! - Exclamou o Homem Formiga divertido, saboreando o delicioso cheiro da comida bem confeccionada.

— Mas que exagero, se estivesse a preparar uma refeição para Vossa majestade nem me esforçaria metade do que me esforcei! - Exclamou Stark em voz divertida, arrancando um suave sorriso dos finos lábios da Sereia, uma luz do mais puro e quente sol abraçou o seu espírito com a azul doçura do oceano, finalmente voltar a caminhar sobre a estrada da felicidade, uma estrada que ele desejava mais do que tudo que não chegasse ao fim, uma estrada que deveria perdurar pelos mais longínquos anos da sua existência.

— Capitão visitaste o Clint? - Questionou Lang em tom urgente, saboreando uma batata frita com mostarda.

— Sim, ele amanhã já sai do hospital, pela sua vontade vinha connosco hoje, no entanto os médicos conseguiram superar aquela insuportável teimosia. - Respondeu Steve em tom abafado, pois ingerira uma abundante quantidade de alface.

— Diana, tu queres contar-nos o que aconteceu nestes últimos meses? - Questionou Janet em tom sumido, baixando o tom, reduzindo-o a um leve murmúrio receando os olhares dos restantes Vingadores.

— Janet ela não tem que nos dar explicações, se ela quiser ela conta, se não...

— Eu posso contar, não tem problema. - Interrompeu Diana em tom determinado, compreendia que Tony somente a tentara proteger, mas já bastara de se esconder por detrás de escudos, era a altura de encarar a realidade e aceitá-la como ela é.

— Certo, tu decides. - Resignou-se Stark em tom amuado, começando a comer rapidamente, escutando as explicações da jovem, limpando aqui e ali uma gotinha de prata que saltava das profundezas dos seus olhos. - És uma grande herança, sem dúvida, herdaste a determinação, a teimosia e a coragem daqueles dois. - Pensou emocionado, vendo os restantes companheiros dirigirem-se ao exterior da mansão para aproveitarem os deliciosos raios de sol.

— Não vens Tony? - Perguntou Diana confusa, parando junto do seu grande amigo, reparando nos seus olhos incrivelmente vermelhos, porém manteve-se calada, seguindo o seu caminho, conhecia demasiado bem o Homem de Ferro para saber que naquele momento precisava de estar sozinho.

Algures numa dessas ruelas poluídas e criminosas de Nova Iorque desfilava o imprevisível edifício do Clarim Diário, onde as notícias mascaradas e a realidade envenenada ribombavam em cada molécula de cimento como uma orquestra medonha e lucrativa.

— Certo, muito obrigado por estas informações, sem dúvidas que são preciosas, irei usá-las da melhor forma possível, isso posso garantir. - Gritava J. Jona Jameson entusiasmadíssimo ao telemóvel, escrevendo a tremenda velocidade num caderno. - Então fico à espera das imagens meu caro, mal posso esperar, e ainda por cima tem o Aranha metido ao barulho, isto vai ser uma bomba, já estou a ouvir o dinheiro a cair nos cofres, é claro que não me esqueço da sua recompensa, claro que não fique tranquilo.

— Espero que faça o seu trabalho como deve ser feito, sem falhas. - Disse o homem do outro lado da linha em tom triunfante, penteando o seu cabelo aloirado com as pontas do seus dedos. - Espere pelas imagens, adeus senhor Jameson.

— Alguém que me chame o Parker este trabalho tem a cara dele. - Gritou o chefe da redacção de forma alta e divertida, fazendo uma dança estúpida enquanto saia do seu gabinete rumo à luz negra do futuro.

O mal inunda o oceano, o sol treme perante a presença ardente da falsidade, as plantas murcham através do caminho do medo, o futuro chora lágrimas de sangue quando confrontado pela saudade e pela separação.


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