Dois longos e dolorosos meses se passaram desde a tremenda mudança repentina e assustadora que Diana corajosamente abraçara, apelando a toda a sua força de vontade, determinação e capacidade de ultrapassar obstáculos que aos olhos de outrem parecem difíceis e traiçoeiros. Os seus treinos de combate eram passados na companhia do grande Capitão América, na opinião deste, ela fizera alguns progressos no melhoramento das suas capacidades físicas, como a resistência, flexibilidade, agilidade e movimentos de luta versáteis e diversificados, porém ainda não atingira os padrões de exigência previstos pelo seu treinador incrivelmente bem treinado e dotado de infindáveis habilidades técnicas e intelectuais.

— O treino de hoje foi bastante positivo, amanhã melhoraremos o combate corpo a corpo, tenho a certeza de que te saíras muito bem. – Afirmou Steve amavelmente, numa dessas tardes de treino árduo e afincadamente vencido pela jovem.

— Sim, eu acho que sim, irei deixar neste local todos os meus esforços. – Garantiu Diana ofegante, limpando disfarçadamente um brilhante fio de sangue que lhe escorria teimosamente da testa.

— Vai cuidar desse ferimento. – Preveniu o bravo Capitão.

— Isto não é nada. – Disse a morena em voz melancólica por demostrar alguma fraqueza perante aquele homem imponente.

— Adquirir ferimentos não é motivo para te envergonhares, pelo contrário, deves sentir orgulho de ti própria, porque encaraste uma luta nos olhos tal como se espera de uma Vingadora, esse corte é a prova da tua coragem e nada mais significa, fica tranquila. – Afirmou sabiamente Rogers, sorrindo timidamente perante o olhar perplexo da adolescente.

— Sim tem toda a razão. – Constatou Diana, sentindo um novo laivo de valentia percorrer a sua alma, embalada pelas encorajadoras palavras do empenhado treinador.

— Bem vamos comer alguma coisa? Este treino deixou-me esfomeado. – Perguntou o super-soldado feliz, colocando um dos seus fortes braços sobre os ombros da sua pupila e conduzindo-a para o calmo interior da mansão dos Vingadores.

— Aceito mas não posso demorar, tenho treino com o Tony e cá para nós ele é muito rigoroso. – Murmurou Diana sorrindo de contentamento.

— Mais rigoroso do que eu, isso é que não pode ser, amanhã treinaremos o dobro das horas! – Brincou Rogers, servindo-se de um iogurte de frutos tropicais e passando um a Diana.

                Todas as tardes, depois de enfrentar o treino com o Capitão América, Diana dirigia-se aos laboratórios de Tony Stark, onde arduamente aprendia a controlar a sua potente e letal voz. Os treinos eram muito exigentes e cansativos, colocando a morena à beira do profundo abismo da exaustão.

— Tony, tenho que parar, já sinto o sangue a brotar da minha garganta. – Disse Diana alarmada, depois de duas horas de treino.

— Certo, acho que hoje já fizemos progressos bastante significativos. – Elogiou Stark sorrindo orgulhoso do seu desempenho. – Bebe um pouco de água fresca vai ajudar certamente, e escuta as novidades fresquinhas que tenho para ti. – Informou num mesmo tom orgulhoso, retirando uma pequena caixinha de lata de uma prateleira bastante organizada.

— Que novidades? – Perguntou Diana, servindo-se de um fresco copo de água.

— Senta-te, e presta bem atenção. – Pediu Tony, colocando-se de pé junto da jovem.

— Tony, tu não estás a dar nenhuma palestra, por isso, senta-te aqui. – Disse a morena sorridente, puxando o empresário pela mão.

— Será que tu me deixas ter o meu momento de glória? – Perguntou Stark divertido, optando por ceder ao conselho de Diana. – Estes aparelhos topo de gama, altamente discretos e fortemente tecnológicos serão a maior arma para proteger todos os Vingadores das ondas sonoras altamente vibratórias produzidas pela tua voz. – Anunciou pomposamente, mostrando uns pequenos aparelhos do género de um pequeno auricular.

— Uau! Mas isso é fantástico Tony! Tu és o máximo! – Exclamou Diana extremamente impressionada, porém arrependeu-se no segundo a seguir vendo um sorriso de satisfação desenhar-se perfeitamente no rosto inteligente de Tony Stark.

— Então, depois de todos estes progressos, acho que mereço um jantar. – Perguntou esperançado, piscando um dos seus lindos olhos azuis.

— Claro que mereces, ouvi dizer que a nossa cozinheira teria muito gosto em cozinhar estritamente para ti, aproveita meu amigo! – Exclamou Diana para infelicidade do esforçado senhor Stark.

— Ok, Ok, eu não insisto. Mas as novidades não ficam por aqui. Toma, isto é para ti. – Resignou-se, oferecendo um lacrado envelope à morena. – Este será a partir de hoje, o cartão que te identifica como uma Vingadora, a tua identidade secreta será Sereia, devido ao encantamento paralisante que a tua voz liberta, o que achas? – Questionou apressadamente.

— Mais uma vez fantástico, simplesmente fenomenal, mas esquece o jantar. – Brincou Diana fascinada com aquela aquisição maravilhosa e urgente.

— O teu equipamento já está no teu quarto, depois diz-me se gostas, fui eu próprio que o desenhei. – Informou Tony feliz com as suas capacidades sempre produtivas.

— Certo, mas não sabia que eras estilista? – Brincou a morena, erguendo-se da poltrona onde estava confortavelmente instalada.

— Nem tu imaginas as coisas que eu consigo fazer! – Disse Stark preguiçosamente, passando uma das mãos pelos cabelos bem alinhados. – Onde vais agora? – Perguntou interessado.

— Aula de dança. – Respondeu Diana sem rodeios. – E para variar já estou atrasada, ainda bem que estou quase a terminar a carta de condução, bolas, até logo Tony. – Despediu-se saindo a grande velocidade.

— Até logo. – Murmurou Stark ensonado.

Nessa noite Diana estava sentada num confortável sofá na vasta sala de estar dos heróis mais poderosos da Terra, elaborando uma redação sobre os lendários povos nórdicos e as suas tradições, festividades e vestuário, quando alguém entrou sorrateiramente na divisão. Apesar de andar bastante fatigada e ocupada fruto dos árduos treinos e das aulas de dança, a jovem jamais deixaria os seus estudos cair em esquecimento, pretendia prosseguir na sua formação académica, até então sem manchas, licenciar-se na área da investigação policial, era o seu grande e longo objetivo, logo não podia dar tréguas aos livros.

— Gosto do tema, se precisares de alguma ajuda pede, sou perito nessa matéria. – Disse uma voz forte nas costas de Diana, esta olhou para trás sobressaltada.

— Oh meu deus, Thor! – Exclamou Diana, deixando cair os seus materiais escolares com bastante alarido.

— Já estás em vantagem, tu sabes o meu nome, todavia eu desconheço o teu. – Proferiu o Deus do Trovão sorrindo, colocando o seu martelo sagrado sobre a enorme mesa de centro.

— Diana, o meu nome é Diana, e sou uma Vingadora. – Apresentou-se a jovem maravilhada com tal presença.

— Parece que houve algumas transformações no grupo durante a minha ausência. – Proferiu o louro examinando com atenção a fragilidade e a escondida doçura que aparentemente emanava da morena.

— Apesar de tudo eu tenho-me esforçado nos meus treinos, tenho mesmo, se dúvidas podes perguntar ao meu treinador. – Disse a jovem timidamente, enfrentando o olhar crítico do Deus nórdico.

— Quem é o teu treinador? – Perguntou Thor alheio à tormenta que plantara no coração de Diana.

— Sou eu. Então Thor como correu a tua viagem? – Proferiu uma voz audível e jovial entrando a passada rápida na divisão.

— Cap! Correu tudo bem, obrigado. – Respondeu Thor alegremente, apertando a forte mão do seu companheiro de armas.

— Parece que já tiveste o prazer de conhecer a Diana, ela juntou-se a nós mal tu partiste para Hasgard. – Informou Steve, satisfazendo a curiosidade do Deus louro e observador. – Desde então tenho-a treinado com a ajuda do Tony para que ela consiga atingir os ideais satisfatórios, e diga-se de passagem ela tem feito progressos. – Explicou orgulhosamente.

— Certo, então parece que não te devo julgar pela aparência, aceita as minhas sinceras e arrependidas desculpas. – Pediu Thor educadamente.

— Estás desculpado, já esqueci o que aconteceu. – Disse Diana alegre, sorrindo no seu interior por alguém reconhecer as suas capacidades por mínimas que fossem.

— Acho que seremos bons amigos. – Murmurou Thor sentando-se junto da morena.

— Não duvido disso. – Respondeu a morena, apanhando os seus materiais escolares que assistiam do pavimento de madeira à conversa.

— Quais são as habilidades dela? – Perguntou o Deus interessado em descobrir mais informações sobre a sua nova amiga.

— Ela tem a capacidade de paralisar pessoas apenas com a voz, o Nick é que a descobriu. Se possui mais algum talento especial somente o tempo o pode dizer. – Respondeu Cap, recordando o momento em que Diana entrara na sua vida.

— Aquele Fury, não lhe escapa nada, é incrível! – Comentou Thor impressionado.

— Pois não. – Concordou Steve. – Bem agora vou deixar-vos durmam bem até amanhã. – Despediu-se cordialmente saindo pela mesma porta por onde entrara minutos antes, embora agora saísse com o coração e a mente muito mais leves, pois Diana encontrara alguém cuja amizade estava repleta de boas intenções e ele confiava plenamente em Thor, sabia que este não o desiludiria.

                Após alguns agradáveis momentos de conversa com Thor, o sono veio teimosamente ao encontro dos lindos olhos cansados de Diana, esta despediu-se do seu amigo e subiu rapidamente até ao seu confortável quarto. Em cima da sua requintada cama jazia imóvel uma bonita caixa embrulhada num colorido papel. A morena pegou-lhe, com os seus finos dedos ligeiramente trémulos, rasgou ansiosamente a embalagem e abriu a caixa sem pestanejar. No seu almofadado interior estava um elegante fato que Diana vestiu sem hesitar. Caminhou rapidamente até ao seu enorme espelho, deparando-se com uma jovem de lindos cabelos achocolatados, uns olhos azuis muito brilhantes, exibindo um apertado fato preto decorado com ondas cor de água, as mesmas ondas que decidiriam o seu desconhecido futuro, o seu pescoço exibia um laço que prendia fortemente o uniforme, revelando na totalidade os seus braços, os seus pés estavam protegidos por umas bonitas botas tom de água, nas suas mãos cresceram luvas até aos cotovelos iguais ao seu calçado. A jovem pegou um capuz oceânico e cobriu o seu bonito rosto. Finalmente a Sereia emergia das profundezas do mar misterioso para alcançar a luz infinita do céu.

                A amizade com Thor foi uma enorme lufada de ar fresco na complicada vida de Diana, ainda não criara grandes laços relacionais desde que integrara o grupo, ainda tinha muito que provar aos heróis mais badalados da Terra e a si própria. De todos com quem agora partilhava os deveres e o destino, havia um em especial que transformara a sua vida num autêntico inferno, Clint o Gavião Arqueiro. Diana também não morria de amores por ele, de cada vez que se cruzavam o cheiro a confusão pairava no ar, rivalizando com o intenso perfume de Tony Stark. Como acontecera certa tarde, enquanto Diana escrevia no seu diário, voando na frescura do seu fluido vestido lilás, acariciando as palavras com os frios dedos e saboreando os deliciosos beijos da água cristalina embatendo nos seus pés, sentada na borda relvada da maravilhosa e fresca piscina olímpica que fazia as delícias de todos os Vingadores.

— Olha, olha! O que temos nós aqui, deixa ver. – Murmurou uma voz divertida, surgindo sorrateiramente nas costas da morena.

— Deixa-me em paz e devolve-me o caderno seu estúpido. – Ripostou a jovem, tentando alcançar o seu precioso e confidente diário.

— Estás enganada em relação à minha identidade, é Gavião Arqueiro não estúpido. – Rematou Clint orgulhoso pelo efeito de irritação que normalmente causava em Diana.

— Podes ser o que tu quiseres mas dá-me o caderno agora, se não… - Ameaçou a jovem, ignorando o fantástico brilho proveniente dos lindos olhos azuis do herói.

— Se não o quê? – Perguntou Clint com uma expressão desafiadora a encantar-lhe o rosto rebelde, segurando o pulso de Diana. – Achas que eu tenho medo de uma carinha laroca como a tua? – Perguntou em voz sumida beijando lentamente a mão de Diana.

— É para teres. – Rosnou a morena em tom rendido.

— Claro que sim, agora que a fera já está domada, vamos ver o que me dizem estas páginas. – Provocou o Gavião sorrindo maliciosamente, perante o olhar furioso recortado nos lindos olhos de Diana.

— Isso é novidade para mim. – Atirou a jovem friamente.

— O quê? – Questionou o rapaz confuso.

— Que tu sabes ler. – Desvendou a adolescente sorrindo de sarcasmo puro como a água cristalina dos seus olhos sonhadores.

— Talvez quando eu tiver conhecimento dos teus segredos tu acredites que eu sei ler. – Desafiou Clint folheando apressadamente o caderno.

— Nunca ouviste dizer que não se deve bisbilhotar propriedade alheia. – Inquiriu uma voz bem familiar que fez Clint dar um salto.

— Este assunto não te diz respeito Cap, por isso, vai dar uma voltinha. – Respingou o Gavião, revelando toda a sua arrogância.

— Não sejas impertinente, devolve-lhe isso agora! – Ordenou Steve sem paciência para aquele comportamento infantil.

— Só depois de dar aqui uma olhadela. – Murmurou o louro, sem dar a mínima importância ao que dizia o super-soldado.

— Eu disse agora! – Proferiu claramente Rogers, retirando com eficácia o desejado caderno das mãos do Gavião.

— Uhm, deixa lá. Aposto que essa porcaria nem tinha nada de interessante escrito. – Desvalorizou o talentoso Arqueiro, fazendo uma careta.

— Temos opiniões muito diferentes do que é interessante e do que não é. – Murmurou Diana, segurando o diário que o Capitão amavelmente lhe estendia. – Obrigada, mas eu tratava dele sem a sua ajuda. – Agradeceu a morena, sentindo o seu precioso orgulho arder de raiva.

— Claro que conseguias tratar de mim sem o Cap, dava para reparar sabes. – Zombou Clint.

— Já chega! – Ralhou o Primeiro Vingador aborrecido. – Talvez precisem de ir numa missão juntos para compreenderem que fazem parte do mesmo grupo e precisam de adquirir uma amizade saudável. Parecem duas crianças! – Repreendeu elevando ligeiramente a voz.

— Não! – Gritaram os dois combatentes.

— Então não voltem a criar balbúrdia se não já sabem o que os espera, e acreditem nas minhas palavras a missão será bem complicada, onde o valor das vossas vidas estará em constante risco. – Ameaçou Rogers virando as costas e entrando no ginásio.

— Ele não vai estar sempre aqui para te proteger. – Murmurou Clint.

— Esperemos que esteja para teu bem. – Respondeu Diana, retirando o seu elegante vestido, revelando um perfeito biquíni azul-claro, realçando as curvas bem definidas do seu corpo esguio.

— Hey! Tem lá calma, eu sei que nenhuma miúda resiste aos meus atributos, mas não achas que aqui estamos demasiado expostos, talvez seja melhor irmos para outro lugar. – Afirmou o rapaz louro maravilhado com aquela visão feminina.

— Podes continuar a sonhar, querido! – Exclamou a morena, beijando a ponta do dedo e mergulhando feliz na profunda piscina.

— Ela é mesmo, não é nada, deixa de ser parvo Clint! – Pensou o Gavião, vendo o elegante corpo de Diana flutuar magicamente nas águas ondulantes. Este permaneceu ali durante vários minutos saboreando aquela bela e refletida paisagem, cismando sobre tudo o que acontecera, até que por fim desistiu dos seus confusos e insertos pensamentos e dirigiu-se ao interior acolhedor da mansão, deixando a morena em união perfeita e inquebrável com a água mística da piscina.

                Diana nadou até ao fundo azul e infinito das águas concretizadoras, mantendo o ar de uma forma impressionante, por fim os seus delicados pés amararam no azulejo frio e ela sentou-se tranquila naquelas profundezas de paixão, perda e saudade, agarrando entre o mar e o céu todas as suas vivências, pensamentos, inseguranças secretas e receios.

— Um dia vais dar-me o valor que eu realmente mereço. – Pensou ela, vendo a silhueta arrogante e rebelde encantada pelo valioso brilho daqueles detestáveis olhos azuis brincar à tona do seu frio e inseguro espírito.

                Qual a relação da jovem com o misterioso elemento água?