Ondas de uma vida roubada escrita por Maresia


Capítulo 79
Trovão ondulante




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Um cordão de polícias arrastava-se pelas finas brechas da esperança e da luz, enquanto o céu derramava lágrimas de sangue e sacrifício, há muito que conheciam aquela maldita e assustadora organização, receavam os seus feitos macabros e abominavam os seus fins pérfidos e imorais, porém o sentimento que imperava naquela tempestade de ansiedade e terror era o medo, temiam pelas suas próprias vidas. No interior do infantário reluziam centenas de flores inocentes, abençoadas pela triste aurora do destino e da escuridão, uma escuridão clara e fria como a neve do desespero.

— Não gosto nada quando um cenário de crime é bafejado pelo vento do silêncio. - Comentou em tom sumido o comandante de operações, fitando o edifício do infantário com extrema preocupação.

— Só espero que os abutres da imprensa não cheirem esta catástrofe. - Desabafou um outro oficial de forma apreensiva, olhando para o relógio.

— Onde estão afinal os Vingadores? - Perguntaram diversas vozes dragadas pelo intolerante receio e pela insuportável impaciência. - Este é um assunto deles, resolvam-no antes que a situação fique mais grave.

Diana flutuava levemente sobre as costas musculadas do deus do trovão, enquanto o vento trovejante do sagrado Mjolnir os soprava para o centro do conflito. Já fazia algum tempo que o seu coração não era bafejado com a ansiedade que somente uma missão daquele cariz impõem, o seu sangue, habitualmente fervilhante e doce, perdia-se pelas fendas escuras do gelo e da apreensão, a sua mente, normalmente lógica e clara, afundava-se através das colinas da impaciência e da insegurança, porém a sua incontestável coragem e força de vontade espreitavam de forma perspicaz pelas estrelas escondidas nas bagas de chuva e da concretização.

— Aterra no telhado Thor, creio que será a nossa melhor chance. - Gritou a Vingadora em tom estridente, misturando a sua voz com a melodia uivada do vento.

— Sim, será uma excelente estratégia para os apanharmos de surpresa. - Assentiu o louro de forma determinada, começando a descer sobre um manto repleto de pingos e dedicação. - Vamos seguir o plano traçado pelo Homem de Ferro, eu distraio os criminosos e tu retiras as crianças do edifício. - Prenunciou, pousando como uma pluma no telhado molhado.

— Certo, mas eu acho que fomos descobertos. - Murmurou a Sereia em tom apreensivo, baixando-se no preciso momento em que uma bala cruzava os ares como um leve cometa de fogo e maldade.

— Pelas barbas de Ódin! As coisas estão a ficar feias, temos que intervir com cautela. - Afirmou o Asgardiano com fúria na voz, desferindo um poderoso golpe do seu lendário martelo numa bala que fazia o seu perigoso voo na sua direcção.

— Eles estavam à nossa espera, não conseguimos criar o efeito de surpresa que pretendíamos. - Comentou a Vingadora de forma desiludida, o cenário estava desfavorável, estavam perdidos, não conheciam os horrores que marchavam sobre aquele assombrado infantário, não tinham consciência dos pesadelos que desfilavam pelos inocentes corações daquelas crianças, só lhes restava seguir a brilhante linha da sua coragem e fazerem jus à designação Vingadores, os heróis mais poderosos da terra.

— A sorte e a coragem não nos irão abandonar, iremos vingar perante este declínio do sucesso! - Exclamou Thor em tom digno, bramindo na ponta da sua honra o brilho ofuscante do trovão. - Vai em frente Vingadora, eu retardo o avanço maligno das trevas, salva o amanhã.

— Sim! - Assentiu Diana de forma determinada, contudo a sua determinação mascarava imperfeitamente a sua insegurança, o que aconteceria se falhasse?

Thor desferia potentes golpes nos agentes da A.I.M, lançando pelos ares a estonteante liberdade do trovão, proporcionando à Sereia a oportunidade de mudar o destino daquelas flores, no entanto o próspero fado de uns, pode consagrar-se no infortúnio alheio. Diana esgueirava-se com leveza pelas telhas amaldiçoadas da maldade, trepando com alguma dificuldade pelas paredes imundas e envenenadas, esforçando-se por alcançar um patamar estável e refugiado, onde pudesse respirar fundo.

— Esta tarefa não será fácil, este edifício é muito alto e a minha preparação física está a quem das expectativas, preciso de alcançar uma janela pela qual possa entrar, tenho que salvar as crianças, aguenta-os Thor! - Pensava a adolescente de forma apreensiva, tacteando com os pés a rugosidade da parede de cimento despido, sentindo finalmente a berma de uma janela, ainda existia esperança.

Abençoada pelas lágrimas do céu a Vingadora desceu mais uns metros, segurando em cada e única baga de cimento frio e escarlate a claridade fantasmagórica da lua e a clareza fantasiosa do sol, só mais um pequeno esforço e sairia do alcance do fogo ribombante dos trovões e do caminho flamejante das armas, todavia um vento doloroso varreu o seu capuz azul água, roubando-lhe o seu precioso equilíbrio, precipitando bruscamente nos braços dos jardins de alcatrão.

— Então Sereia, esqueceste-te de abrir o pára-quedas? - Perguntou uma voz divertida e familiar, emoldurando-se contra os grossos pingos de chuva que regavam a redenção do mundo e a floresta dos pecados. - Hey amigos o governo deu-vos licença para uso e porte de arma? - Questionou em voz traquina, lançando uma enorme teia que imobilizou o agente da A.I.M que disparara sobre a Vingadora.

— Obrigada Homem Aranha. - Agradeceu a morena em tom sufocante, aterrando nos braços do seu melhor amigo, presa de mil teias de seda e companheirismo, fortalecidos por mil marés azuis e doces. - Ajuda o Thor, eu vou salvar as crianças!

— Se eu o ajudar será que ele me garante energia eléctrica gratuita? – Interrogou o herói de forma traquina, começando a içar-se para o telhado do prédio. - Diana tem calma, estes tipos não são para brincadeiras. - Pensou preocupado, chegando perto do Deus do Trovão.

A Sereia esgueirou-se sorrateiramente para o interior do edifício, aproveitando uma pequena brecha na janela do segundo andar. O seu coração martelava de hesitação contra as suas frágeis costelas, à medida que ela se embrenhava cada vez mais fundo nos corredores desconhecidos e patrulhados pelas sombras da maldade. Diana adentrou-se por uma porta entreaberta, colocada na madeira clara e polida brilhava uma placa lilás que diz em letra garrafais, “ Auditório de espectáculos”, algumas vozes masculinas vieram ao seu encontro, vozes apressadas e ansiosas que engendravam um plano maligno na palma da mão do diabo.

— Tenho que os tirar do meu caminho. - Murmurou a Vingadora em tom determinado, observando que os indivíduos se encontravam de costas, olhando fixamente para um monitor de computador.

Com extrema agilidade e perícia a adolescente deu uma valente pontapé na nuca calva do cientista que se encontrava mais perto, fazendo tombar inconsciente no pavimento de madeira com um estrondoso bac.

— Apanhem-na! Não a deixem escapar! Ela é uma Vingadora! - Gritou um dos agentes que deambulava pelas imediações em tom esbaforido, correndo até Diana.

— Nem penses. - Sibilou a Sereia de forma rancorosa, esticando uma das pernas, rasteirando o homem que estupidamente bateu com a cabeça num pilar de mármore.

— Agarrem essa miúda! - Gritou o homem que permanecia sentado junto do computador, fitando uma cadeira lançada por Diana que voava cruelmente até ao peito de um dos seus companheiros.

— Acho que não. - Murmurou a Sereia revoltada, vendo um bastão flutuar agressivamente na sua direcção, porém com plena mestria esta impulsionou-o, com o pé, até às costas do informático, fazendo-o berrar de dor. - Escolheram um péssimo dia para derramarem a vossa maldade pela infância colorida destas crianças. Não deixarei passar impune um ato tão bárbaro e atroz! - Exclamou, dando um valente soco num agente que a tentava apanhar pelas costas, pintalgando o soalho castanho carvalho com tons escarlates.

— Sereia estás a ouvir-me? - Perguntou a voz calma de Steve Rogers através do intercomunicador.

— Transmite Cap. - Respondeu a Vingadora em tom apressado, finalmente os favos da segurança e da confiança voltavam a bafejá-la, fazendo com que grossas vagas de adrenalina navegassem através das suas veias.

— Dá-me pormenores da missão. - Pediu o ícone americano, sufocando a tremendo custo a preocupação que devorava a alma.

— O Thor e o Homem Aranha estão lá fora a defrontar os agentes que estavam destacados para patrulhar as imediações. - Respondeu Diana de forma automática, caminhando rapidamente por um largo corredor, que desembocava numa porta fechada. - Ali.

— Onde estás tu? - Insistiu o super-soldado ansioso, esperando pela resposta que tardava em chegar.

— Eu estou… Oh meu Deus! - Exclamou a morena completamente aterrorizada. Os seus olhos habitualmente doces e expressivos esbugalhavam-se perante um cenário arrepiante e devastador, centenas de crianças amontoavam-se dentro daquela sala, terrivelmente decoradas com fios reluzentes que culminavam numa pequena pilha ligada ao cérebro. Todos eles se encontravam inconscientes, perdidos num sono traiçoeiro onde o destino lhes fugia vertiginosamente por entre os dedos, desfazendo-se em milhares de padrões indefinidos.

— Diana! Diana estás a ouvir-me? Responde por favor! - Pedia a voz desesperada do Capitão, alarmando os restantes heróis que se encontravam na sala de estar da mansão.

— Estou aqui Cap. Eu encontrei as crianças, mas, mas...

— O que se passa com as crianças? - Inquiriu o ícone americano em tom ansioso, sabia o quanto ela era sensível, lembrava-se como Diana reagira quando as crianças do orfanato pereceram às mãos do maligno Dentes de Sabre, talvez aquela missão não tenha sido a mais indicada, o que passaria pela cabeça de Stark para cometer tal erro?

— O que se passa com a Diana Cap? - Interrogou Clint de forma preocupada, entrando a passada larga e apressada na sala. - Vamos, fala de uma vez por todas!

— Diana o que se passa com as crianças? - Insistiu o bravo soldado em tom ligeiramente mais alto do que realmente pretendia, ignorando a intervenção evasiva do Arqueiro.

— Eu acho que elas estão a ser submetidas a qualquer tipo de experiência macabra. - Respondeu a Vingadora em voz fraca, caminhando lentamente pelo meio silencioso das crianças. - Steve o que é que eu faço?

— Tenta descobrir qual é o plano desses maníacos, mas salvaguarda a tua posição por favor, não corras riscos desnecessários. - Sugeriu o super-soldado de forma amistosa, unindo a sua coragem e determinação com as águas azuis da alma da Sereia.

— Fica tranquilo. - Afirmou a Vingadora em tom sufocante, o seu sangue queimava através das cinzas vermelhas da raiva.

— Não volto a perguntar o que se passa com ela? - Insistiu o Gavião de forma teimosa e irritada, segurando Steve pelo braço.

— Ela foi em missão, como uma excelente Vingadora que realmente é, ela sair-se-á de forma exemplar. - Respondeu Rogers de mau-humor tamborilando com as pontas dos dedos nas palavras que acabara de prenunciar.

— Que tipo de missão? Com quem é que ela foi? Quem são os intervenientes? Onde ela está? - Perguntou Clint de forma fria e exaltada, ignorando os olhares de reprovação que tombavam pesadamente sobre si.

— Enquanto não conseguires separar a tua vida pessoal da tua vida como Vingador não temos mais nada para conversar. - Retaliou Steve em tom ríspido, virando costas à apinhada sala, caminhando até ao exterior.

— Filho da mãe! - Barafustou o mestre das setas furioso, pegando nas chaves do carro, entrando a correr pelo elevador. - Se não me dizes eu descubro sozinho!

Thor e o Aranha travavam um enorme e avassalador combate contra os fatais agentes da A.I.M, apesar de os seus corpos se moverem de formas diferentes, agitando e impulsionando energias distintas, os seus corações batiam como um só através da ponte reluzente da justiça, o mal seria aniquilado pelo poder gelado do trovão, aprisionado pela força suave das teias de seda.


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