Ondas de uma vida roubada escrita por Maresia


Capítulo 78
Velhos conhecidos




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Algures na penumbra onde os olhos deixam de almejar a luz da felicidade, erguia-se um vasto edifício descorado e húmido, cujas profundezas alojavam a maldade e a perversidade de uma organização possuída pelo mal e pelo crime. Dois homens, virados de costas para uma grande porta, mexiam apressadamente em diversos computadores, analisando e aperfeiçoando gráficos distintos, outros tantos depositavam conteúdos indefinidos, encarcerados em tubos de ensaio moribundos, em gobelés criminosos agitando essas substâncias com as pontas aguçadas das varetas da loucura.

— Alberick! - Chamou uma voz grosseira e calculista, espreitando pela brecha da porta. - Como estão os preparativos para colocarmos o nosso plano em prática?

— Dentro de algumas horas os procedimentos finais estarão concluídos senhor. - Respondeu Alberick em tom seguro, olhando discretamente por cima do ombro.

— Perfeito, perfeito. O mundo tremerá perante a nossa presença. - Sibilou o líder de forma orgulhosa, caminhando pelo meio dos seus escravos. - Quero que saibam que eu não darei margens para falhanços, espero que percebam qual será o preço do fracasso.

— Sim senhor! - Proferiram em uníssono todos os cientistas presentes.

O relógio de pulso de Diana corriam ao sabor dos macios e perfumados grãos de areia salgada que deambulavam sobre a sola descalça dos seus pés, à medida que o sol avermelhado tentava romper a espessa cortina de nuvens que voavam pelo céu do amanhecer. A praia estava mergulhada no mais puro e doce silêncio, o oceano brincava com o algodão espumoso das ondas e a brisa marítima embalava os peixes nas suas asas de tule. A jovem flutuava pelos ponteiros cristalinos do seu amado oceano, deixando perdidos em cada passo de dança do tempo os seus receios, inseguranças e desgostos, aquela rotineira viagem pelas bermas cintilantes das águas era como o beijo do alento e o abraço da coragem que lhe permitia ultrapassar cada segundo da sua vida com sucesso e valentia, aquela corrida matinal era a quebra entre o mundo corpóreo e o jardim astral dos seus sonhos.

— Bom dia. - Saudou uma voz familiar vinda das sombras azuis do mar.

— Bom dia. - Respondeu a morena em tom inseguro, olhando para trás. - Tu. Como sabias que eu estava aqui?

— As tuas rotinas são tão claras como estas águas. - Retorquiu o viajante das sombras em voz baixa. - Podemos falar?

— É desta vez que me vais dizer quem és? Caso contrário não existe nada para falarmos. - Retorquiu a Vingadora de forma determinada, encarando aquele capuz repleto de mistério e dúvida.

— A seu tempo conhecerás a minha identidade, a capacidade de esperar é uma grande virtude do ser humano. - Afirmou o estranho em voz suave, deitando uma olhadela em redor.

— Então julgo que não estou aqui a fazer nada, adeus. - Disse a Sereia de forma rápida e radical, começando a andar em direcção ao seu carro.

— Acho que não vais a lado nenhum sem isto. - Ripostou o caminhante das sombras em tom provocador, segurando entre os dedos as chaves da viatura de Diana, retirara-as segundos antes do bolso do fato de treino cor-de-rosa da morena.

— Quem é que tu pensas que és para me perseguires? Não tens esse direito! - Gritou a morena em voz furiosa, dando um enorme pontapé na barriga do sujeito.

— Sou alguém cujo único propósito de vida é manter-te viva, acho que isso basta por agora. - Informou o viajante do enigma em voz dolorosa, agarrando Diana pelo braço. - És muito parecida comigo naquela altura, de facto é impressionante.

— Já te disse que não quero falar contigo, larga-me. - Retaliou a Vingadora de forma revoltada, dando diversas cotoveladas nos abdominais do estranho.

— Desculpa. - Pediu o caminhante das sombras em tom triste, dando uma pequena pancada na cabeça da morena, fazendo-a cair por um buraco negro, frio e silencioso.

Minutos mais tarde, o caminhante das sombras estacionava o potente carro de Diana junto do passeio que conduzia à pequena casa, abriu a porta da viatura e segurou Diana nos braços. Já no interior tranquilo da habitação, depositou a Vingadora no sofá, sentou-se numa cadeira e esperou que a Sereia despertasse do seu involuntário sono.

— O que aconteceu? - Balbuciou a morena em tom abafado, levando uma mão à cabeça onde um hematoma brotava com vigor.

— De facto a tua teimosia é algo louvável. - Comentou o estranho em tom pensativo, quebrando a distância que o separava da jovem. - Agora já queres falar comigo?

— Sabes que o que fizeste perante a lei dos Estados Unidos é considerado sequestro? Espero que estejas pronto para arcares com as consequências dos teus actos. - Proferiu a Sereia segura das suas palavras. - Se pensas que podes alastrar este disparate por mais tempo estás enganado, o meu namorado notará a minha ausência e virá à minha procura.

— Clint Barton, o Gavião Arqueiro, lamento desiludir-te mas lutar com ele seria como retirar um doce da mão de uma criança. - Analisou o viajante do mistério de forma cínica. - Porque é que estás a complicar a situação? Achas que sou uma má pessoa?

— Eu não sou capaz de traçar o retrato psicológico de alguém que não conheço. - Respondeu Diana sinceramente, porém as suas certezas desvaneciam-se perante aquela estranha e reveladora pergunta.

— Nisso tens razão, todavia acho que me podias dar o benefício da dúvida. - Concordou o estranho encapuzado, sentando-se no sofá castanho claro junto da Vingadora.

— Diz o que tens a dizer de uma vez por todas. - Afirmou a morena de forma impaciente, o seu escudo de desconfiança não lhe permitia ver mais do que os seus olhos lhe mostravam.

— Bem, como já te disse, eu apenas subsisto para te manter viva, nada mais me move ou importa neste mundo. Pensei muitas vezes antes de te abordar desta forma, porém depois de muito reflectir cheguei à conclusão que neste momento sou incapaz de te proteger sozinho. - Explicou o caminhante das sombras em voz urgente, olhando atentamente para a janela. - Desde que tu eras muito pequena que te tornaste a dona incondicional dos meus passos, por consequência obriguei-me a mim próprio a analisar todos aqueles que te rodeavam no intuito de te manter o mais segura que me era possível...

— Vai direito ao assunto, estou farta de rodeios. - Pediu a Vingadora em tom abafado, estalando os dedos.

— Quero prevenir-te para a maldade e para as más intenções encerradas no interior obscuro de uma pessoa que infelizmente barrou o teu caminho, não te direi quem é pois não pretendo interferir na ligação que vocês possuem, porém peço-te que te mantenhas alerta porque o perigo espreita em cada esquina e eu posso não chegar a tempo. - Desvendou o viajante do mistério em voz sumida, a sua vida não teria sentido se a vida de Diana flutuasse serena e leve para o fundo do mar. - Cuida de ti. - Pediu, levantando-se do sofá, dirigindo-se à porta de saída.

— Espera! Quem é essa pessoa? Por favor diz-me, eu não aguento mais desilusões. - Suplicou a Sereia em tom aflito, puxando o homem pelo braço. - Eu não posso desconfiar de todos em meu redor!

— Fica perto do Arqueiro e do Capitão, eu estarei por perto. - Respondeu o estranho homem de forma amável, passando uma mão pelo cabelo achocolatado da adolescente. - Adeus. - Despediu-se em tom rápido, desaparecendo envolto no tule negro do seu destino.

Por volta da hora do almoço, Clint e Diana encontraram-se no pequeno e solitário restaurante junto do cais marítimo para almoçarem.

— Pareces preocupada, o que se passa? - Perguntou o Arqueiro em tom doce, quando Diana chegou junto da mesa de refeições.

— Tive uma visita. - Respondeu a Vingadora em tom sumido, dando um leve beijo nos lábios do louro.

— Quem? - Perguntou o Gavião em tom curioso, segurando o cardápio da ementa.

— Aquele tipo estranho que me anda sempre a seguir e que frequentemente aparece quando estou em perigo. - Desvendou a Vingadora de forma apreensiva, lendo a ementa com atenção. - Eu quero bifinhos com cogumelos. - Disse, dirigindo-se à empregada de mesa.

— Para mim é igual, para bebermos pode ser um jarro de vinho verde. - Afirmou o louro sem dar grande importância à refeição. - O que é que ele queria desta vez?

— Queria prevenir-me, dizer-me que existe uma pessoa perto de mim que me irá ajudar sem eu me dar conta disso. - Explicou a Sereia em tom inseguro, saboreando um pedaço de queijo com ervas que a empregada depositava sobre o tampo da mesa.

— Ele mencionou o nome da pessoa? - Inquiriu o mestre das setas de forma baixa e pensativa, segurando carinhosamente na mão da sua namorada.

— Não, ele apenas disse para eu ficar perto de ti e do Capitão, acho que isso vos invalida do papel de suspeitos. - Respondeu a Vingadora num misto de alívio e apreensão, escutando atentamente a melodia que provinha do fundo do mar, uma melodia azul, fresca e amorosa.

— Não fiques assustada, eu prometo que nada de mal te acontecerá, darei a minha vida por ti caso seja necessário. - Jurou Clint em tom determinado, abraçando a morena com a força inquebrável de mil marés palpitantes.

— Aqui têm, boa refeição. - Disse a empregada de mesa em voz jovial, pousando sobre a mesa dois pratos bem confeccionados e o aromático jarro de vinho.

— Tu desconfias de alguém? - Questionou o Arqueiro de forma analítica, reflectindo na sua mente todas as pessoas com quem Diana habitualmente se relacionava.

— Não, no geral eu só me dou com os Vingadores, contigo, com o Peter e com alguns membros das aulas de dança, não vejo quem poderá ser. - Enumerou a jovem de forma calma e ponderada, terminando a sua refeição. - Queres alguma sobremesa?

— Sim, pode ser bolo de chocolate. - Respondeu o louro em tom rápido, dando uma leve olhadela à ementa.

— Eu quero uma baba de camelo! - Exclamou a morena em tom deliciado, fazendo sinal à empregada.

— Queres dar uma volta daqui a pouco? - Questionou o mestre das setas de forma doce, brincando com o pequeno garfo entre os dedos.

— Não posso, tenho trabalhos de química para fazer, não me posso desleixar com os estudos, desculpa. - Justificou-se Diana em tom mimado, queria muito estar com o seu namorado, porém o seu futuro dependia inteiramente dos seus bons resultados académicos.

— Eu entendo, mas se mudares de ideias liga-me. - Afirmou o gavião em tom compreensivo, sabia o quanto os estudos eram importantes para ela, o seu dever era apoiá-la sem restrições e cobranças.

— Já te disse que és o melhor namorado do mundo? - Questionou a Vingadora sorridente, enquanto lia o papelinho onde a conta do almoço brilhava alegremente.

— Já, mas podes dizer outra vez! - Exclamou o mestre das setas em voz sonhadora, depositando o dinheiro num potinho de vidro. - Queres que te leve a casa? - Perguntou em voz baixa, com um sorriso traquina a brincar-lhe no rosto bonito.

— Não tenhas ideias, eu trouxe o meu carro. - Respondeu a Vingadora de forma apaixonada, abrindo a porta do seu Audi. - Bem, até logo.

— Hey! Espera lá estou indignado! Nem tenho direito a um beijinho? - Inquiriu o Gavião em tom falsamente ofendido.

— Claro que tens! - Disse a Sereia de forma divertida, beijando o seu Vingador nos lábios.

— Amo-te. - Murmurou o Arqueiro de forma deliciada, absorvendo cada baga de azul e sal que flutuavam através do apaixonado abraço de Diana.

— Eu também te amo muito. - Sussurrou a Sereia em voz serena, como se aquele beijo fosse a muralha de diamante que a protegeria de qualquer mal. - Bem, tenho que ir, liga-me mais tarde.

— Claro que ligo, até logo princesa linda. - Despediu-se o Gavião numa voz dragada pelo açúcar da tristeza, vendo a sua sereia desaparecer embalada pela leve dança da maresia.

A Segunda-feira seguinte despertou, embalada por grossas gotas de chuva, o vento voltara a levar para longe a nostalgia e a saudade dos dias quentes de verão, as infindáveis possas de água afogavam no cimento e no alcatrão os sonhos de mil noites de luar, as nuvens escuras como o veludo da velhice enegreciam o fogo trepidante da juventude, à medida que Diana estacionava o seu carro perto da casa de Peter, espalhando inúmeras molhadelas em seu redor.

— Bom dia! - Saudou o Aranha mal-humorado, colocando dois pacotes de lenços na bolsa da mochila.

— Bom dia! Pelos vistos não estás melhor, bolas que constipação chata! - Constatou a Vingadora em tom apressada, a campainha tocara fazia dez minutos.

— E ontem à noite apanhei uma grande molha, o Lagarto decidiu mostrar as suas escamas. - Comentou o herói impaciente, assoando o nariz pela centésima vez naquela pequena parcela de manhã.

— Só espero que a Stora de História também esteja doente, não me apetece ouvir um raspanete. - Proferiu a morena de forma entediada, passando a um vermelho, uma multa de trânsito era bem mais leve do que uma falta escolar.

— Não acredites muito nisso, ela já publicou uma fotografia no Facebook. - Anunciou o Homem Aranha em voz descontente, saindo do carro, pisando com alarido uma possa de água.

O pátio escolar estava deserto, apenas era patrulhado pela devastação azul e leve das grossas pingas de chuva, Diana e Peter corriam desenfreadamente até ao interior aquecido e seco, espalhando água à sua passagem.

— Olhem para esta porcaria meninos, não vos custa a limpar, não é? - Berrou uma funcionária furiosa, atirando a esfregona para um canto.

— Se eu me tivesse candidatado à associação de estudantes esta já estava com um inquérito em cima, poças que mal-educada. - Barafustou a Vingadora maldisposta, alcançando a sala de aula.

— Agradeçam à chuva eu não vos dar um raspanete, sentem-se e comecem a realizar a ficha que coloquei na vossa secretária. - Proferiu a professora em tom autoritário, observando a porta da sala abrir-se lentamente.

— Diana, estou a ouvir um barulho esquisito vindo da tua mochila. - Avisou Peter em voz sumida, anotando a resposta da pergunta sete.

— Bolas é o intercomunicador. - Disse a Vingadora de forma alarmada, remexendo cautelosamente na sua mochila. - Fala Tony. - Murmurou, mal mexendo os lábios.

— Diana preciso de ti é urgente. - Afirmou a voz apressada de Stark, tamborilando com os dedos na mesa.

— Estou em aula Tony. - Informou a Sereia em tom silencioso, deitando uma olhadela à professora que deambulava sorrateiramente por entre as secretárias, fazendo patrulha aos trabalhos dos alunos.

— Eu justifico a falta, vem para cá. - Prontificou-se o Homem de Ferro de forma impaciente, aguentando o olhar recriminador do Capitão América.

— Até já Tony. - Despediu-se a Vingadora em tom inseguro, pousando a caneta sobre a folha de respostas. - Professora, acho que preciso de ir até á enfermaria, estou a sentir-me doente.

— Chegas atrasada e agora estás doente, não te admires das tuas classificações no final do trimestre. - Censurou a docente em tom ríspido, lançando um olhar de poucos amigos a Diana. - Vai lá.

— Obrigada. - Agradeceu a Sereia num estranho tom gelado, não suportava que colocassem em causa as suas competências.

— Ainda bem que vieste, tenho uma missão para ti e para o Thor. - Anunciou Tony em voz rápido com um ligeiro trago a impaciência, mal a adolescente entrou na sala.

— Qual é o azar Tony? - Inquiriu a Sereia em tom calmo, olhando para o rosto zangado do Capitão.

— Tu e o Thor têm que descobrir quais os planos da A.I.M, recebi há poucos minutos um relatório perturbante que denuncia que aquela escumalha sequestrou um infantário, vão até lá e acabem com esta parvoíce. - Ordenou o milionário de forma radical.

— Certo, até já. - Assentiu a morena em voz entusiasmada, colocando o seu capuz. - Vamos a isto Thor?

— Vamos a isto Princesa do Mar. - Concordou o Deus do trovão de forma orgulhosa, partindo atrás de Diana.

— Tony espera, temos que falar. - Disse Steve em tom determinado, segurando Stark pelo ombro. - A A.I.M são antigos inimigos teus, porque não os defrontaste? Porque é que viraste as costas a uma missão?

— Porque estou demasiado ocupado a salvar o mundo, não te devo mais justificações. - Respondeu o Homem de Ferro em tom arrogante, fechando-se novamente no seu laboratório.

— Não tens o direito de usares a Diana para concretizares os teus caprichos, seja a última vez que o fazes! - Gritou Rogers mal-humorado, encarando a porta fechada do mundo do seu amigo.

A desolação, a calamidade e o desrespeito pintam-se no firmamento, desenhados pelo triste lápis da escuridão e do desespero.

Quais são os planos maquiavélicos da organização criminosa conhecida por A.I.M? Quais são as insígnias escritas no céu?


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Notas finais do capítulo

A.I.M ou I.M.A significa Advanced Intelligence Mechanics (Ideias Mecanicas Avançadas) e é um grupo de cientistas loucos e terroristas habituais vilões do Homem de Ferro.



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