Ondas de uma vida roubada escrita por Maresia


Capítulo 77
A amarga brisa da despedida




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Os túmulos brancos e silenciosos vagueavam pelos grãos de areia molhada, transportados pela tempestade Hipólita que partira faz uma semana para qualquer parte do globo, deixando à sua passagem aquela fatídica e arrepiante beleza da destruição. Diana caminhava sozinha, segurando na mão um grande molhe de camélias brancas como a neve que cobria as pedras moribundas, abandonadas e desprezadas pela débil luz da vida. Ao longe, onde apenas os olhos do coração alcançam, as sepulturas das crianças do orfanato sorriam-lhe com a ternura infantil da fantasia, havia algum tempo que não deambulava por aqueles vales tranquilos e sonhadores, onde a tristeza e a saudade brincavam em cada reluzente e pequena alma, traída e maltratada pelo destino. Na pequena e florida linha que separa a vida da morte, estendiam-se os humildes e missionários braços da doce madame Lisa, deslizando harmoniosamente por mil pegadas de amor, felicidade e bondade, conduzindo o doce cantar dos anjos até aos lábios da morena.

— Os meus passos lentos e tristes são abafados pela melancolia platinada das distantes e observadoras nuvens, as minhas lágrimas imperam como princesas da desilusão neste mundo repleto de injustiças e rasteiras, os meus lábios frios repelem o infortúnio e a má sorte, porém eles insistem em caminhar na minha sombra, manchando a minha vida com as duras pedras da solidão. - Pensava a morena de forma nostálgica, colocando sobre cada acolhedora campa uma bela camélia branca. - Preciso de todos vós junto a mim, pois apesar de flutuarem pela cristalina maresia do paraíso jamais me abandonaram, permanecem ao meu lado puros, leves e claros como as borboletas que inocentemente cruzam os céus. Levem nas vossas suaves asas de algodão estas lembranças ilusórias que me derretem as noites, transportem na vossa bondade este maldito sonho que me assombra os dias, trancafiem no pesado e fundo baú dos segredos esta tristeza que me consome a felicidade, ajudem-me a suportar esta amarga brisa da despedida.

— Diana, o que fazes aqui? Não devias estar em casa? Está bastante frio podes ficar doente. - Murmurou a voz familiar de Steve, colocando uma mão sobre o ombro da Vingadora.

— Steve eu já tive ordem médica para prosseguir com a minha rotina, já estou óptima, não te preocupes. - Respondeu a Sereia surpreendida, fitando o rosto cansado do louro. - Tens aqui uma folha. - Disse em tom sumido, retirando uma folha seca do cabelo do super-soldado.

— O que estás aqui a fazer? - Insistiu o Capitão confuso, o olhar dela ia para além da tristeza, moldava-se com os aguçados farrapos da desilusão.

— Vim entregar o meu sonho nas mãos das crianças e da Madame Lisa. - Desvendou a adolescente em voz triste, dragada pelas lágrimas e pela saudade.

— Desculpa, mas não estou a entender. - Afirmou Rogers confuso, tomando a jovem nos seus braços, tanto que ele esperara por aquele momento.

— Não consigo suportar durante mais tempo esta inconstante espera, está a ser algo tão doloroso como o dia em que perdi a minha família, não consigo aguentar o enorme peso que a ausência exerce sobre o meu espírito, eu desisto. - Desabafou a morena de forma desesperada e suplicante como se implorasse aos céus que ocorresse um milagre que desfizesse a sua angústia. - Chegou a altura de o trancar nas entranhas da muralha do oceano.

— O que se passa princesa? Quem é que te deixou neste estado? - Perguntou o louro em tom alarmado.

— Eu vim enterrar a memória do meu pai junto das pessoas que mais amo, para que elas impeçam que ele se volte a perder nas imediações do meu caminho. - Justificou a morena de forma distante e deprimida, aquela fora a mais pesada e injusta decisão que tomara em toda a sua vida, porém as saídas eram escassas e o sofrimento era demasiado, não podia permanecer naquele turbilhão de ansiedade durante mais tempo.

Um gelo feroz abateu-se sobre o cemitério silencioso, os corações dos dois heróis afogavam-se mortalmente na escuridão cortante de uma gruta escura e sem fim, eram arrastados para os confins sujos do berço do desalento, eram aprisionados na penumbra decrépita e maliciosa das montanhas do desespero e da dor, unidos pelas lágrimas de prata e valentia que corriam na direcção do reino da desolação, perdendo-se por fim na bainha cintilante da espada do recomeço.

— A Primavera perdeu o seu perfume e a sua cor diante das suas cruéis e salvadoras palavras, o sol deixou de arder sobre as cinquenta estrelas da liberdade, o mar abandonou a sua tranquilidade azul e macia, mergulhando numa terra negra e fumada, a vida deixou de cantar as doces baladas do vento e da maresia, permitindo que a morte a sugasse para o seu coração, e ela quebrou a tiara dourada da esperança e da felicidade, derramando o liquido esvoaçante do futuro no caldeirão sem fundo do passado. - Pensou Steve de forma dramática e ausente, perdendo-se tristemente no calor açucarado do abraço de Diana. - Não desistas. - Murmurou de forma compreensiva, afagando com as deliciosas bagas do orvalho primaveril os cabelos achocolatados da Vingadora.

— Eu não posso continuar a lutar por uma miragem. - Disse a Sereia em voz débil, limpando o rosto com a ponta do lenço lilás que trazia ao pescoço. - Preciso de seguir com a minha vida em frente.

— Não sejas precipitada, pensa melhor no que pretendes fazer, talvez esta atitude seja apenas um refúgio para o teu sofrimento, é perfeitamente compreensível que queiras fugir dessa dor que te assola a alma, mas não sejas assim tão radical. - Pediu Rogers de forma suplicante, reflectindo no céu azul o perturbante vermelho dos seus olhos.

— Eu só quero libertar-me deste sonho, mais nada. - Disse a adolescente em voz determinada, começando a caminhar até à saída. - Por mais amarga que seja a brisa da despedida, ele fica aqui.

— Vieste a pé? - Perguntou o louro surpreendido, olhando em volta numa tentativa de descobrir o carro de Diana no parque de estacionamento.

— Vim de bicicleta, mas parece que me a roubaram. - Respondeu a Vingadora confusa, porém não deu grande importância ao assunto.

— Queres vir comigo até à mansão? - Perguntou o super-soldado em tom doce, abrindo a porta do seu carro. - Vens ao almoço, certo?

— Obrigada, eu vou contigo. - Agradeceu Diana de forma pesada e distante, entrando no carro. - Como é que sabias que eu estava aqui?

— O Clint disse-me. - Respondeu Rogers em tom tranquilo, ligando o motor da viatura. - Ele viu-te sair de manhã cedo muito triste, ficou preocupado e ligou-me a pedir se eu podia vir ter contigo.

— Ele preocupa-se de mais. - Comentou a morena de si para consigo, lendo uma mensagem no seu telemóvel. - Não posso demorar muito no almoço, tenho que substituir outra vez a minha professora na aula de dança, ela continua doente.

— Tu gostas muito dessas aulas, não é verdade? - Questionou Steve em tom pensativo, esforçando-se por abafar as palavras que Diana proferira minutos antes que ribombavam como uma feroz tempestade na sua mente.

— Sim gosto. - Respondeu a Vingadora de forma sonhadora, recordando a sua primeira aula de dança, tinha apenas três anos.

O pequeno sino da triste capela do bairro de Brooklyn anunciava a chegada das cinco da tarde, o sol tentava rasgar a espessa manta de nuvens que o encarcerava na escuridão do algodão. Elisabeth, alguns anos mais nova, segurava pela mão uma menina de três anos que saltitava em cada passo que dava, sorrindo e acenando a todos que passavam por ela.

— Não saltes tanto, daqui a pouco estás toda suja. Olha a possa de água! - Exclamou a madame lisa em voz doce, limpando com delicadeza uma mancha de areia molhada que se infiltrava no fato de treino azul-claro da menina.

— Desculpe Madame Lisa, mas eu estou tão entusiasmada. - Justificou-se a pequena Diana alegremente, dando um inocente abraço à sua educadora. - Eu quero ser bailarina, cantora, veterinária e ainda quero cuidar de um orfanato! - Festejava a pequena Diana feliz, dando carícias num cãozinho que cruzara o seu caminho.

— Tu podes ser tudo aquilo que quiseres, o teu futuro está nas tuas mãos. Agora anda, já estamos atrasadas.

— Será que as outras crianças vão gostar de mim? - Perguntou a menina em tom inseguro, quando o portão do pavilhão surgiu diante dos seus olhos.

— Claro minha querida. - Disse Elisabeth em voz amável, dando um beijinho no rosto da sua borboleta.

Por volta do meio-dia e trinta, a mansão dos heróis mais poderosos da terra enchia-se rapidamente, todos heróis estavam ansiosos para desfrutarem do tão secreto almoço proporcionado por Stark. Os murmúrios percorriam todos os cantos da sala de refeições, à medida que a mesa se cobria de tabuleiros e jarros.

— Diana, querida, estou tão feliz por te ver, como estás linda, bem para falar a verdade tu és lindíssima! - Exclamou Tony feliz, correndo até Diana abraçando-a com força. - Como estás?

— Estou óptima, obrigada Tony. - Retorquiu a morena divertida, finalmente estava em casa. - Uau tu estás fantástico! Vamos receber o presidente dos Estados Unidos? - Exclamou impressionada, reparando no elegante fato cinza claro que o milionário trajava.

— Não minha querida, o presidente é que tem que se vestir assim para me receber! - Respondeu o Homem de Ferro com um incrível ar pomposo a bailar-lhe no rosto bonito.

— Claro que sim, por quem sois Senhor Stark! - Brincou Diana sorridente, caminhando até á mesa já praticamente ocupada.

— Mandei fazer o teu prato favorito. - Anunciou o milionário orgulhoso, apontando para um enorme tabuleiro com bacalhau com natas e gambas. - Senta aqui. - Disse, sentando-se junto da Vespa, deixando uma cadeira vazia a seu lado. - Já estamos todos?

— Não, o Clint está atrasado. - Respondeu Steve em voz audível do outro lado da mesa.

— E o Nick Fury também ainda não chegou. - Reforçou a Viúva Negra em voz cortante, tomando um cálice de vinho.

— Deve ser bastante grave para o Fury também estar presente. - Comentou Scott em tom alarmado, comendo um pedaço de queijo com ervas.

— Lá isso é verdade. - Concordou a Miss Marvel em tom inseguro, cheirando deliciada um grande tabuleiro com carne de vitela assada com molho de cogumelos.

— Estes rolinhos de presunto realmente são divinais! - Exclamou Thor impressionado, chegando o pratinho das entradas para junto de si.

— Bom dia meus senhores e minhas senhoras! - Saudou a voz grossa e maldisposta de Nick Fury, entrando na sala com passada pesada. - Podemos começar Stark.

— Ainda não Nick, falta o Clint para variar. - Resmungou o milionário aborrecido, servindo-se de um copo de vinho.

Minutos depois, Clint entrava apressado pela sala de estar, dirigiu-se até Diana, dando-lhe um forte beijo na boca, provocando comentários generalizados pela atmosfera da sala.

— Eles andam? - Perguntou Janet em voz baixa, olhando Diana com cara de poucos amigos.

— Pelos vistos sim, como é que é possível? - Sussurrou Wanda num tom escandalizado, era do conhecimento geral que ela sempre tivera uma forte atracção pelo Arqueiro. - Não sei o que ele viu nela.

— Ela não passa de uma criança. - Comentou a Miss Marvel em tom crítico.

— Escutem o que tenho para dizer! - Exclamou Clint revoltado, fitando a mesa com ar aborrecido. - Se querem saber eu estou com a Diana e estou muito apaixonado por ela. Se alguém tiver algum tipo de problema com a minha namorada também os vai ter comigo, espero que tenhamos ficado esclarecidos.

— Assim é que é meu! - Aplaudiu Scott impressionado, o seu amigo realmente estava diferente.

— Senta-te, pára de dar show. Falamos depois do almoço. - Ordenou Tony em voz arrogante, batendo com o garfo no prato

— Se tens alguma coisa para dizer, diz agora, eu não tenho nada a esconder! - Provocou o Gavião em tom cortante, pousando uma mão nos cabelos de Diana.

— Barton senta-te, a bagunça termina aqui! - Ordenou o imperador Nick Fury, batendo com a mão na mesa. - Têm a minha bênção, espero que sejam muito felizes, mas agora vamos almoçar, tenho mais que fazer! - Exclamou em tom irónico.

— Desculpe director Fury. - Pediu o louro em voz baixa, sentando-se junto de Diana, servindo-se de empadão de carne.

— Então Tony porque é que nos quiseste juntar? - Inquiriu Steve em voz tranquila, comendo uma enorme garfada de bacalhau com natas.

— Como devem ter notado eu estive ausente durante uma semana. - Iniciou Stark em tom audível, olhando em redor. - Mas vamos começar pelo início, à cerca de dois meses atrás recebi uns relatórios da S.W.O.R.D. bastante preocupantes. Relatórios que denunciavam a existência de uma energia tremenda, nunca antes registada, analisei-a com todos e os mais variados programas tecnológicos, vasculhei nos estudos levados a cabo pelo meu pai e nada, não encontro nada. Depois de diversas análises e estudos decidi falar com o Nick, unimos os nossos esforços com o Quarteto Fantástico e partimos numa missão espacial em busca deste misterioso ser.

— Podemos considerá-lo uma ameaça para a Midgard? - Questionou Thor curioso, sempre fora um guerreiro destemido, não se impressionava com energias misteriosas, estava sempre pronto para enfrentar o mais fatal dos inimigos, talvez desta a vez a sua coragem e valentia de nada lhe servissem.

— Durante a nossa missão espacial, encontrámos de facto a tal energia, contudo a nossa nave foi repelida antes de detectarmos a fonte do problema, fazendo-nos retornar à terra. Respondendo mais explicitamente à tua pergunta Thor, eu não sei se eles são uma ameaça para o nosso planeta, todavia convoquei esta reunião para vos informar da situação e por com sequência para solicitar a vossa atenção no que diz respeito a mudanças radicais que possam vir a ocorrer, fiquem alerta, por favor. - Terminou em tom urgente, dirigindo as suas atenções para a sua refeição, e para a conversa que Diana tinha com Clint.

— Queres alguma coisa Tony? - Perguntou o mestre das setas em tom arrogante, reparando que o milionário os olhava com curiosidade.

— Quero que tenhas mais educação e sensatez, achas que é possível? - Ripostou o Homem de Ferro de forma gelada, laçando um olhar cruel ao louro.

— Tony podes dar-me os relatórios para eu os submeter à tecnologia de Wakanda, por favor? - Pediu a voz serena do Pantera Negra, aproximando-se lentamente do milionário.

— Claro, vem comigo até ao meu laboratório. - Assentiu Stark prontamente, porém a Sereia notou uma leve expressão de contradição percorrer os olhos azuis do milionário. - Mas Pantera devo prevenir-te, acho que Wakanda não tem tecnologias que supere os meus programas.

— Estou admirada de o Quarteto Fantástico não ter estado presente. - Comentou a Vespa curiosa, terminando a sua sobremesa.

— Eles estão numa viagem à Latvéria, acho que têm tido problemas com o Doom. - Esclareceu o Capitão, erguendo-se da sua cadeira, saindo até ao exterior da mansão.

— Queres mousse de manga? - Questionou o Arqueiro admirado.

— Não tenho grande apetite. - Respondeu Diana em voz sumida, as suas inseguranças voltaram a atacá-la com a perigosidade de um lobo.

— Estás bem princesa? - Inquiriu o louro preocupado. - Não ligues ao que elas disseram, eu amo-te e isso é que importa. Anda cá. - Disse, puxando a sua namorada para junto do seu peito, beijando-a calorosamente nos lábios.

— Eu também te amo Clint, só não quero sofrer mais. - Confessou a morena em voz baixa, acariciando o rosto do seu namorado enquanto lhe dava um leve beijo no canto da boca. - Agora tenho que ir para a aula de dança, desculpa.

— Queres que te vá levar? - Inquiriu o Gavião de forma apaixonada e sonhadora, seguindo Diana até ao elevador.

— Claro que quero. - Respondeu a Vingadora feliz, segurando na mão do Arqueiro, beijando-o delicadamente no pescoço.

— Minha querida princesa não faças isso muitas vezes, por favor. - Pediu Clint em tom deliciado, respirando fundo. - Logo falamos sobre isto em privado.

— Logo se vê! - Exclamou Diana em voz baixa, esboçando um sorriso traquina. - Vais-me buscar também?

— Todos os segundos que estou contigo são preciosos. - Afirmou o mestre das setas de forma carinhosa, retirando a chave do carro do seu bolso.

— Posso interpretar essa resposta como um sim? - Questionou a Sereia sorridente, olhando em redor.

— Claro que podes. - Retorquiu Clint em tom ofegante, segurando Diana pela cintura, encostando-a à viatura beijando-a loucamente nos lábios.

— Meninos comportem-se! - Resmungou a voz tranquila de Steve, aproximando-se dos dois jovens a passada segura, trazendo na sua mão uma pequena mochila roxa. - Deixaste isto lá na sala.

— O meu equipamento, obrigada Steve. - Proferiu a Vingadora envergonhada, sentindo o seu rosto arder como o fogo.

— De nada, até logo. - Despediu-se o Capitão em tom ausente, partindo a grande velocidade na sua mota.

Vinte minutos depois, a adolescente entrava pela porta do vestiário, colocou o seu fato de treino preto e cor-de-rosa, calçou as suas sabrinas brancas e atou o cabelo num bonito rabo-de-cavalo, estava pronta.

— Boa tarde a todos, como já compreenderam a professora continua doente. - Informou a morena em tom audível, parando na frente do resto da turma. - Vou seguir o plano que ela me deixou para hoje, vamos fazer um pequeno aquecimento e depois vou apresentar-vos uma nova música, já que a do outro dia ficou terminada.

Depois de quinze minutos de aquecimento, Diana revelou a música que iriam trabalhar naquele dia, formou os pares e mãos à obra, não podia desiludir as expectativas colocadas sobre as suas capacidades de dança e liderança.

— Jeremy ficas comigo? - Perguntou em voz baixa, enquanto os restantes alunos aperfeiçoavam os primeiros passos.

— Nem precisas de perguntar. - Respondeu o louro em tom doce, quebrando a pequena distância que o separava de Diana. - Esta música foi uma excelente escolha, possuí uma energia positiva impressionante.

— A Shakira é uma grande cantora. - Reforçou a Vingadora em tom delicado.

Depois de várias tentativas, os primeiros passos estavam perfeitamente assimilados, Diana estava radiante com os seus ensinamentos, todos os seus colegas estavam entusiasmados com aquela tremenda explosão de energia e positivismo, porém uma voz fria e desagradável cortou o ar como pólvora.

— Estas aulas são uma fachada! - Exclamou a voz cínica de Marlene.

— O que fazes aqui? - Perguntou Diana confusa, fora completamente apanhada de surpresa.

— Vim para a aula de dança, porém já percebi que aqui só se dança músicas de pretos, que farsa que tu és Diana, sempre foste, não irias mudar. - Cuspiu Marlene de forma escarninha, olhando para os alunos, na sua grande maioria negros.

— Não te atrevas a prenunciar mais uma única palavra que seja. - Vociferou a Vingadora em tom furioso, avançando bruscamente até a Marlene.

— Eu não disse mentira nenhuma, devias ter vergonha de te dares com esta escória. - Afirmou Marlene em voz suave, sorrindo de malícia. - Mas de uma pessoa tão reles como tu, já espero tudo.

— Talvez queiras que eu te lembre algumas coisas minha querida, quantas noites passaste na companhia desta escória, desta escumalha, destes pretos como tu lhes chamas? Quanto dinheiro é que eles já te pagaram por uma noite de sexo? Vá lá fala. Responde. Ficaste sem argumentos, não foi? - Atirou a Sereia em tom cortante, perdendo as estribeiras, segurando Marlene pela gola da camisola. - Uma prostituta não tem moral para julgar ninguém.

— Achas que não? - Provocou Marlene de forma hipócrita, dando um valente estalo na cara da Vingadora.

— Diana não! - Gritou Jeremy em voz esganiçada, correndo até à morena, enquanto esta lançava com extrema perícia Marlene ao chão. - Não ligues ao que ela diz.

— Não voltes a colocar aqui os teus pés imundos neste pavilhão, da próxima vez eu não serei tão permissiva. - Ordenou a Sereia em tom autoritário, voltando costas.

— Não cumpro ordens de uma cabra. - Atirou Marlene em voz gelada, puxando Diana pelos cabelos, aprisionando naquele gesto toda a inveja e rancor que sentia por Diana desde que eram apenas crianças.

— És tão estúpida. -Disse a Vingadora em tom de desprezo, dando uma valente joelhada no queixo da outra, atirando-a de novo no pavimento empedrado. - Cometeste um grave erro.

— Sua selvagem! Diz-me tu com quantos já dormiste! - Berrou Marlene de forma estridente, enquanto Diana lhe enchia a cara de murros.

— Cala-me essa boca nojenta.

— Diana! - Gritou a voz alarmada de Clint, entrando a correr pelos portões abertos do pavilhão. - Pára! O que é que te deu? - Perguntou surpreendido, segurando a sua namorada, afastando-a de Marlene.

— Ela... Ela... - Balbuciou a morena com dificuldade, tentando-se libertar dos braços do Arqueiro.

— Não fales, por favor. - Pediu o mestre das setas receoso, percebendo que as emoções da adolescente estavam completamente descontroladas o que podia desencadear um tremendo sarilho. - Vai mudar de roupa, vamos para casa. - Disse em tom doce, acompanhando a sua namorada até á entrada dos vestuários. - A aula terminou peço desculpa, a Diana mais tarde fala convosco. - Proferiu em voz audível, dirigindo-se aos restantes alunos.

— Quem é que tu pensas que és? - Inquiriu Jeremy em voz arrogante, aproxima

ndo-se de Clint.

— Meu menino quando ganhares barba falas comigo nesse tom! - Exclamou o Arqueiro de forma cínica, espetando um dedo na testa do bailarino.

— Quem és tu para levares a Diana daqui, responde-me? - Insistiu Jeremy colérico, não estava a gostar nada daquela situação.

— Sou o namorado dela, agora põem-te a andar, ela é areia a mais para o teu triciclo. - Afirmou o Gavião em tom enfadado, indicando o portão aberto do pavilhão. - Já estás despachada princesa, vamos embora.

— Pelos vistos não sou apenas eu que me vendo. - Comentou Marlene em voz provocadora, olhando Diana e Clint com repulsa. - Adeus Diana.

— Desaparece miúda. - Ordenou o mestre das setas em tom aborrecido, segurando a morena junto do seu peito. - Não ligues ao que ela te diz, tu és melhor do que estes comentários.

— Marlene escuta, eu tenho pena de ti. Lembra-te do lugar de onde vieste. Recorda-te das pessoas com quem cresceste. Lembra-te da mulher que te garantiu uma vida honrada e digna. - Proferiu a Vingadora mal mexendo os lábios, segurando a mão do Arqueiro, saindo em direcção às entradas cintilantes do seu futuro.


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Notas finais do capítulo

A música que Diana colocou para a aula de dança chama-se "La bicicleta" de Shakira e Carlos Vives



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