Ondas de uma vida roubada escrita por Maresia


Capítulo 75
Serenata




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O sol iniciava a sua brilhante viagem através do céu fumado pela poluição Americana, os carros recomeçavam a sua incessante patrulha pelas mil artérias de Nova Iorque, os transeuntes vagueavam perdidos entre as montras e as suas apressadas e viciantes rotinas, ignorando as vontades e necessidades das vidas alheias, trancando-se no seu particular social. Jeremy, deambulava pesadamente por uma esquina sombria do hospital, mantendo-se imerso no ressentimento e na revolta, percorria assustado a sua trágica missão. Na sua opinião Diana era uma miúda muito especial, dotada de qualidades infinitas, porém a sua pátria e o seu dever subjugavam a sua retorcida aprovação.

— Senhor, tenho más notícias, a rapariga está à beira da morte, pelo que pude apurar será bastante difícil salvá-la, o pai dela mais uma vez revelou-se ser o cobarde que nós já conhecemos. - Informou o louro em tom inseguro, pegando no seu telemóvel com alguma dificuldade pois a sua mão era percorrida por um enorme furacão, tentando abafar o seu tremendo erro com a cobardia do pai da morena.

— Isso não é possível! O nosso plano não pode fracassar, e logo agora que estávamos tão perto do nosso objetivo! - Gritou o homem em voz carregada, através do auscultador do telefone. - O que aconteceu afinal?

— Os Vingadores estão a abafar a situação dizendo que se tratou de um ataque de tubarão, porém eu escutei rumores muito interessantes. - Desvendou Jeremy de forma rápida e orgulhosa.

— Fala de uma vez por todas! - Rosnou o homem furioso, atirando um cinzeiro para a outra extrema da divisão onde estava.

— Ela foi ferida por Namor, o príncipe de atlântida. - Explicou o jovem amedrontado, sentindo um arrepio de terror percorrer o seu espírito, não era boa ideia desafiar a intolerante paciência do seu líder.

— Estou a ver, um velho conhecido. - Sibilou o homem em voz rancorosa, rangendo os dentes. - Escuta bem, ela não pode morrer custe o que custar.

— Mas meu senhor, será que vale a pena arriscar assim tanto por esta miúda? Nós podemos apanhá-lo de outra forma, podemos elaborar outro plano, talvez até melhor do que este, sem falhas nem imprevistos, provavelmente é o caminho mais viável, pense nisso. - Sugeriu Jeremy em voz sumida, sentindo o pavor inundar a sua mente com mil adagas de crueldade.

— Tu atreves-te a contestar as minhas ordens? - Berrou o desconhecido líder de forma baixa e sibilada, as suas ordens eram como leis universais, sem margens para abolição ou desaprovação, eram como um código moral para os seus subordinados, uma religião para os seus seguidores e uma praga para os seus inimigos. - Se não fosse eu, tu hoje não passavas de um verme imundo sem rumo, eu dei-te um futuro fantástico e tu atreveste-te a contestar uma ordem minha? Sabes quantos dos meus subordinados gostariam de estar no teu lugar? Eu dei-te a vida, contudo também tenho o poder de te a retirar, pensa nisto.

— Sim senhor, darei a vida se for preciso para a concretização desta missão. - Garantiu o adolescente em voz determinada, porém o cheiro a insegurança e terror pairava discretamente na atmosfera.

— Tens a seguido como uma sombra como te ordenei? - Interrogou o homem em tom duvidoso.

— Sim senhor, no entanto a ligação entre ela e os Vingadores está cada vez mais apertada, ainda não encontrei uma única brecha que sirva para a usar em nosso proveito. - Respondeu Jeremy em tom receoso, porém a verdade era aquela e não havia forma de a refutar. - Desculpe a minha tremenda ousadia, porém acho que neste momento nos devemos focar no facto de ela estar a morrer, porque caso contrário não existirá nada que possamos utilizar no nosso plano.

— Sim, por mais que me custe concordar contigo, o que dizes é verdade. - Afirmou o arrogante líder em tom pensativo, olhando para um ecrã de computador onde os dados de Diana desfilavam incessantemente. - Eu não previ um imprevisto desta dimensão, de facto fui imprudente.

— Espere senhor, acabei de avistar o Tony Stark a entrar no parque de estacionamento, ele vem com um enorme sorriso no rosto, isto só pode querer dizer que existem boas notícias, provavelmente encontraram um dador compatível. - Informou o louro de forma entusiasta, aproximando-se lentamente da esquina que conduzia ao parque de estacionamento, fitando o milionário com profundo interesse, esforçando-se por ler a expressão aliviada que deambulava alegremente pelo atraente rosto do empresário. - Parece que os deuses anseiam que o nosso plano se concretize, eles realmente estão do nosso lado.

— Sim, parece que sim, espero informações em breve. - Despediu-se o homem de forma cruelmente feliz, pousando o telemóvel com estrondo no tampo da sua secretária. - As coisas estão a regressar aos seus devidos lugares.

Tony entrava apressado pela sala de espera, àquela hora já bastante requisitada, as paredes eram decoradas por macas ensanguentadas, enquanto os enfermeiros com extrema dificuldade tentavam desesperadamente socorrer as vítimas da dor, da morte e do sofrimento, no entanto a mente do milionário não tinha tempo para divagar entre as margens problemáticas dos doentes, somente ansiava ver Diana o mais brevemente possível.

— Clint eu recebi a tua mensagem, quem é que foi o dador, pretendo pagar-lhe uma pequena fortuna. - Perguntou Stark em tom ansioso, vendo o Arqueiro deslizar para fora de um quarto. - O que se passa contigo? - Questionou surpreendido, reparando na cor pálida que desfigurava o rosto traquina do mestre das setas.

— Eu sou o dador Tony, ela deve estar prestes a acordar, o Steve está com ela, até logo tenho coisas importantes para tratar. - Desvendou o Gavião em voz urgente, cambaleando rapidamente até ao fim do corredor.

— Espera Clint, eu quero agradecer-te dignamente por isto. - Gritou o Homem de Ferro de forma enérgica, saltando de alegria.

— Nenhum dinheiro do mundo paga o amor que eu sinto por aquela miúda, guarda-o para ti! - Exclamou o louro de forma rápida, desaparecendo entre a multidão desorientada. - Agora preciso de ti Scott, onde é que tu andas?

— Senhor Stark! Senhor Stark! Posso dar-lhe uma palavrinha? - Gritou uma auxiliar da acção médica, barrando o milionário no meio do corredor. - O director do hospital gostaria de falar consigo pessoalmente.

— Tem que ser agora? - Inquiriu Tony de forma enfadada, olhando para o seu relógio de ouro.

— Ele referiu que era bastante urgente, se quiser pode acompanhar-me. - Sugeriu a auxiliar sorridente, nunca antes vira um sujeito tão bem parecido, era o seu dia de sorte.

— Não, obrigado, eu conheço o caminho. - Respondeu o Homem de Ferro de mau-humor, não gostava de perder tempo, talvez o director tivesse um bom motivo para aumentar o tempo de espera entre ele e Diana.

O Arqueiro caminhava inseguro pelo parque de estacionamento, estava completamente desorientado, fragilizado e confuso, a transfusão derrotara a sua habitual energia contagiante, todavia existiam coisas bem mais importantes do que o seu estado de saúde, a tarefa de conquistar a Sereia subjugava todos os outros assuntos, questões ou deveres. A muito custo encontrou o seu carro, perdido no meio daquele aglomerado de viaturas, abriu a porta e sentou-se no lugar do condutor, pegou no seu telemóvel.

— Scott, onde estás meu? - Inquiriu o louro em tom pintado pelo cansaço e pelo orgulho, pousando a cabeça no volante.

— Estou a caminho do hospital, não devias estar em repouso? - Perguntou o Homem Formiga confuso, guinando o carro a fim de evitar um grande grupo de crianças. – Pensando bem sou melhor condutor de formigas. – reflectiu sorridente, analisando a sua descuidada e péssima condução.

— Até devia, mas isso agora não interessa, preciso do meu amigo Homem Formiga. - Respondeu Clint de forma pensativa, tamborilando com os dedos no tablier. - Se puderes trás os intercomunicadores, a minha guitarra e o fato de Homem Formiga, o nosso plano está prestes a ser levado a cabo, é agora ou nunca, estou pronto.

— Não é melhor contratarmos cantores profissionais? - Interrogou Lang em tom inseguro, o amor realmente faz-nos cometer loucuras.

— Se não for eu o sentido não será igual, vamos a isto. - Decidiu o mestre das setas de forma determinada.

— Como é que fazemos? - Questionou Scott em voz analítica, cedendo a passagem a uma ambulância de emergência médica.

— Dás-me a guitarra e depois vais para o quarto dela como Homem Formiga, quando ela acordar dás-me o sinal através do intercomunicador, é simples e infalível! - Exclamou o louro entusiasmado, ligando o seu mp3.

— Ok dá-me cinco minutos. - Assentiu Lang em tom inseguro, colocando o pé no acelerador.

Steve Rogers permanecia sentado na beira solitária da cama de Diana, os seus olhos estavam toldados pelas lágrimas e pelo doce perfume do oceano, o seu coração vagueava através de um jardim colorido habitado por tulipas reluzentes e macias conduzidas pela justiceira mão da morena, o seu valoroso espírito deslizava por uma gloriosa ponte pintalgada com as estrelas da coragem, da dignidade e da honra, enquanto a vida da Vingadora regressava a pouco e pouco ao seu cais marítimo, devolvendo a luz cristalina da lua aos seus carinhosos olhos cor de água.

— Steve! - Murmurou a Sereia sorrindo ligeiramente, pegando suavemente na mão do super-soldado.

— Fica tranquila já está tudo bem, foste sujeita a uma transfusão sanguínea, fica tranquila, precisas de descansar. - Preveniu o louro em voz sumida, sentindo um enorme balão de felicidade rebentar no meu peito.

— Foi o meu pai que me deu sangue? - Perguntou a Vingadora esperançada, será que a chegada da rainha das trevas trouxera no seu regaço a concretização do seu sonho?

— Não, ele não teve coragem para isso. - Respondeu Rogers tristemente, acariciando o rosto da jovem.

— Mas já sabes quem ele é? - Insistiu a morena em voz suplicante, nada a deixaria mais feliz do que o reencontro com o seu querido pai.

— Eu não sei quem ele é, desculpa. - Murmurou o louro em tom abafada, cobrindo o vidro da janela com mil bagas de melancolia e tristeza.

— Mas tu disseste que ele não tivera coragem de vir até ao hospital. - Insistiu Diana desconfiada, aquela história estava muito mal contada, ou seria a sua ânsia que lhe estava a confundir a mente?

— Foi somente uma dedução minha, mais nada princesa. - Proferiu Steve em tom doce, olhando para o suporte onde a medicação da adolescente corria para as suas veias. - Não estás a ouvir uma guitarra?

— Estou, vem lá de fora. - Respondeu Diana confusa, deixando-se absorver por cada doce nota daquela guitarra. - É a voz do Clint!

— Pois é, aquele tipo é completamente louco. - Resmungou o Capitão em tom aborrecido, caminhando até à janela.

— Abre a janela, por favor, Steve. - Pediu a morena surpreendida, não estava à espera de uma coisa daquelas.

— Mas o que se passa aqui? - Perguntou a voz arrogante de Tony Stark, entrando no quarto a passada larga.

— Não faças barulho, por favor. - Sussurrou a Vingadora em voz débil, esforçando-se por se manter acordada.

— “É difícil eu sei largar alguém que nos fez tão bem

Olhar para trás e pensar mas não convém

Porque a saudade aperta e eu fico sem saber

Como é que tudo mudou tanto

Sei que não sou nenhum santo

Não quero que respondas com respostas tontas

Nem que digas que acabou

Quando tu dizias que a luz dos teus olhos era eu

Hoje sorrimos e perguntas porque que não deu

Estou cansado de viver num mundo só teu

Dá-me um segundo ainda não te disse adeus

Eu não te disse adeus, não sei se um dia vou dizer

Quando só basta um clique para acontecer

Mas a verdade é esta e custa a crer

Nós não nos soubemos ter

Hoje é diferente eu já não penso mais

Se ainda somos o que fomos deixa lá

Agora olhamos um para o outro

Sabendo que foi por pouco

Mas são memórias e nada mais

Como é que tudo mudou tanto

E passa tudo num instante

Não quero que te escondas

E no final de contas digas que tudo acabou

Quando tu dizias que a luz dos teus olhos era eu

Hoje sorrimos e perguntas porque que não deu

Estou cansado de viver num mundo só teu

Dá-me um segundo ainda não te disse adeus

Quando tu dizias que a luz dos teus olhos era eu

Hoje sorrimos e perguntas porque que não deu

Estou cansado de viver num mundo só teu

Dá-me um segundo ainda não te disse adeus

Diz me o que sentes quando estamos frente a frente se...

Passou o tempo, estás diferente e já não sentes que…

Foram ao monte os tombos que hoje só nos fazem rir

Sinceramente eu não me entendo mas percebo-te

Sei os teus medos e segredos eu conheço-te

Fomos felizes um com o outro um dia lembras-te?

Deitado no teu mundo enquanto tocava para ti

Ainda estão os nossos nomes no banco do jardim

Se te vir eu vou sorrir sem saber porque que não deu

E nas covinhas vais sentir o que já foi teu

Os anos passam mas deixamos pedras no caminho

Das rugas aos cabelos brancos até sermos velhinhos

Quando tu dizias que a luz dos teus olhos era eu

Hoje sorrimos e perguntas porque que não deu

Estou cansado de viver num mundo só teu

Dá-me um segundo ainda não te disse adeus”. - Cantou o Arqueiro em tom doce e completamente apaixonado, depositando em cada nota todo o seu amor e devoção que sentia por aquela miúda, não aguentava nem mais um minuto sem lhe poder chamar Amor, não suportava aquelas infindáveis noites sozinho na sua cama fria. - Diana! Eu amo-te! Volta para mim! Estaremos ligados para todo o sempre! Estou à tua espera princesa!

— Clint. - Murmurou a jovem emocionada, nunca imaginara que o Arqueiro fosse capaz de realizar tal cenário.

Serão as correntes sanguíneas mais fortes do que as adversidades da realidade? Terá a fatalidade da morte deixado a morena mais perto do seu pai? Quais os segredos que Jeremy esconde nos seus passos de dança? Quem é o seu impiedoso líder?


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Notas finais do capítulo

A música que Clint canta para Diana neste capitulo chama-se "Era eu" da autoria da banda portuguesa D.A.M.A



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