Ondas de uma vida roubada escrita por Maresia


Capítulo 63
Yelena Belova




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Clint e Natacha vagueavam sobre uma vereda que desembocava nas entranhas do silêncio e da escuridão, os seus passos apressados eram conduzidos e abafados pelo espesso manto de gelo que cobria de forma impiedosa aquela madrugada, unindo-se numa perfeita e mística sintonia com as belas auroras que lentamente surgiam no firmamento platinado.

— Nunca imaginei retornar ao meu país com este tipo de missão, sempre fui uma mulher fria, desprendida e independente, nunca me deixei manipular pelos sentimentos ou emoções, contudo apercebo-me que por vezes escutar os conselhos do coração é uma excelente saída. - Pensava a Viúva, percorrendo cautelosamente a enorme distância que a separava do seu coração. - Nunca me preocupei com os que me rodeiam, ou se por algum motivo lhes dava uma pequena parcela de atenção somente servia para satisfazer os meus propósitos. Não sou uma pessoa má, porém a minha postura arrogante e dominadora acaba por afastar os outros de mim, talvez me temam, talvez não me compreendam ou simplesmente me detestem, devo confessar que não me importo com a opinião alheia, eu sou o que sou e nada mais me interessa. - Desabafava, tendo como reflector dos seus mais íntimos pensamentos aquela triste e cálida paisagem.

— Tacha estou a gelar, onde está essa tal de Yelena? - Interrogou o Arqueiro impaciente, observando o seu uniforme negro pintalgado por milhares de flocos de neve.

— Estamos quase a chegar, costumavas ser mais tolerante, parece que aquela miúda te amoleceu realmente o coração. - Comentou a Viúva de mau-humor, contornando uma esquina que materializava diante dos seus olhos um vasto e antigo edifício, onde reinava a fúria, a solidão e a obediência incontestável. - Gavião abre bem os olhos, eu não sei se ela está sozinha ou possui guardas.

— Se ela for tão poderosa como tu é normal que esteja a ser vigiada! - Exclamou o louro em voz provocadora, mantendo uma distância de segurança dos punhos e dos pés da russa, ele gostava de quebrar o gelo das missões.

— Voltas a abrir a boca, calo-te de vez. - Ripostou a Viúva de forma ameaçadora. - Para quem diz que está muito apaixonado!

— Nunca duvides disso, eu estou completamente apaixonado pela Diana, porém eu não sou cego. - Respondeu Clint em tom sumido, vendo o edifício ficar cada vez maior no horizonte branco e cristalino.

— Nunca esperei ouvir-te falar em paixão, não te cures que não vale a pena. - Cuspiu a russa de forma cínica, avançando lentamente no terreno.

No interior sombrio do edifício, uma jovem loura de tez clara, debatia-se para se libertar de um enorme rolo de grossas cordas, que ela voluntariamente colocara em volta dos pulsos.

— A bravura das mulheres em nada se compara com a cobardia medonha dos homens, o mundo devia ser controlado pelo sexo feminino, no entanto caíra em desgraça, em decadência e em desolação, a reforma das mulheres avista-se no horizonte, um dia o mundo será um lugar bem melhor, abandonado pela tirania e pela crueldade masculina. - Reflectia a jovem Yelena, lutando com todas as suas forças para se libertar daquela armadilha do destino. - Não me deixarei derrubar, não me irei vergar perante este tipo de adversidades, a vida teimosamente me ensinou a vê-las como amigas preciosas que nos fazem ser mais fortes e implacáveis, pretendo atingir esse patamar, pretendo vingar-me do próprio destino e da própria morte, pretendo recuperar o que me foi roubado. - Pensava, enquanto a sua força de vontade subjugava aquelas tenebrosas cordas que cravavam na sua pele nódoas de sangue e sofrimento. - A vingança corre-me nas veias como um fatal veneno que forjou a minha personalidade, um veneno doce, sedutor e viciante que jamais largarei. - Cismava, à medida que transferia todas as suas frustrações, rancores e inseguranças para um enorme e pesado saco de boxe. - Pai, mãe o mundo mudará por vós. - Murmurou, reflectindo as pequenas bagas da esperança nas suas pétalas perdidas algures perto do paraíso da sua infância.

— Uau Yelena para recente Viúva Negra estamos muito sentimentais! - Exclamou Natacha em voz hipócrita, escondendo-se nas sombras da morte que cruzavam o seu passado.

— Quem és tu? - Perguntou a morena friamente, fitando a ruiva com a agressividade gelada das planícies do Norte.

— Estás sozinha? - Questionou Natacha de forma imperativa, olhando em redor, tentando captar se existia algum sinal de guardas, que pudessem colocar em causa a sua rendição com o seu passado.

— Não preciso de cães de guarda, acho que já sou suficientemente crescida para cuidar de mim, já o faço desde os meus três anos de idade, porém tu sabes bem do que falo, não é verdade Natacha Romanov? - Questionou Yelena em voz cínica, abrindo finalmente o jogo, criando entre ela e a Vingadora uma cortina tão cruel e fria como as poderosas e devastadoras avalanches siberianas.

— Então tu sempre soubeste quem eu era. - Constatou a ruiva de forma cortante, revendo aquela menina indefesa chorando no interior espelhado do seu passado. - Porque é que nunca me procuraste? - Interrogou surpreendida.

— Não gosto de correr atrás de cabras desprezíveis, eu sabia que mais tarde ou mais cedo tu virias ao meu encontro. - Explicou a loura em voz banhada pelo rancor e pelo ódio, atirando a corda que minutos antes prendera os seus pulsos sobre o pescoço de Natacha. - Tens noção das tormentas que me fizeste passar? Tens consciência da fome, da miséria e do frio que eu fui obrigada a suportar? - Gritou, dando diversas joelhadas na barriga de ruiva. - Essas adversidades foram as minhas leais companheiras durante anos, com elas aprendi a dureza e a hipocrisia da vida, com elas conheci o delicado sabor do ódio e do sofrimento, com elas cresci e tornei-me quem sou!

— Luta de gatas gosto disto! - Pensou Clint deliciado, mantendo-se à margem daquele conflito que já cravara marcas demais nos corações daquelas duas mulheres.

— Eu só quero falar contigo. - Proferiu a Vingadora em voz determinada, soltando-se com extrema facilidade do laço de Yelena.

— Foi isso que disseste aos meus pais antes de os matares? - Questionou a loura em voz gelada, sendo atirada ao chão com a brutalidade das recordações da sua trágica infância.

— Não, eu assassinei-os sem dó nem piedade, no entanto estou aqui para me redimir com os meus erros. - Justificou-se Natacha, colocando um dos joelhos sobre o peito de Yelena, imobilizando-a no chão frio e rugoso.

— Não quero escutar nada do que me tenhas para dizer, somente anseio ouvir o som das minhas balas perfurarem-te o coração. - Murmurou Yelena em tom demente, desferindo um valente soco no rosto oculto de Natacha, soltando um riso frio e demoníaco sobre aquele Inverno tenebroso e interminável, manchando de vermelho escarlate a brancura fresca do arrependimento da ruiva.

— Vais ouvir-me quer queiras, quer não queiras. - Garantiu a Vingadora de forma decidida.

— Se não fazes o quê? Matas-me também? - Perguntou a loura de forma arrogante e sarcástica. - Eu já não sou aquela menina inocente e frágil que era antigamente, daqui a uma semana torno-me a Viúva Negra...

— Porquê? - Interrogou Natacha em voz alta e reprovadora, retirando o seu capuz, olhando Yelena bem no fundo dos olhos.

— Porque anseio justiça, porque desejo ardentemente recuperar o que perdi, porque preciso de arranjar um caminho para a minha vida! - Gritou Yelena furiosa. - Tu destruíste o meu passado, comprometeste o meu presente, porém não permitirei que interfiras com o meu futuro!

— De facto estou aqui para mudar o teu futuro, contudo somente quero impedir-te de cometeres o maior erro da tua vida, no fundo só desejo fazer com que tu não cometas os mesmos crimes que eu. - Confessou a ruiva de forma honesta, abraçando com força a maior fraqueza dos homens, o alcance do perdão pessoal.

— Pensas que será assim tão fácil, não te iludas. - Cuspiu Yelena mal-humorada, retirando do interior das suas vestes negras uma pistola. - Dá-me uma boa razão para eu não acabar com a tua triste vida.

O Arqueiro, num repente glorioso, almejou com precisão a traqueia de Yelena, cravando naquela pele branca como a neve uma seta brilhante que lhe roubou com mestria o ar, salvaguardando a integridade e a segurança da sua parceira. Apesar de Natacha ser dotada de competências extraordinárias jamais sobreviveria a uma bala lançada à queima-roupa, não podia permitir que mais uma vida fosse ceifada na esfera atribulada que rolava sem parar nas imediações destruídas dos corações palpitantes das duas Viúvas.

— Clint! - Gritou a ruiva apavorada, dando um enorme empurrão no louro. - Porque é que a mataste?

— Ela não está morta sua maníaca! - Berrou o Gavião impressionado, livrando da mão que lhe sufocava a garganta. - Ela apenas está inconsciente.

— Certo, vamos levá-la daqui. - Sugeriu Natacha ofegante, começando a arrastar Yelena pelo terreno duro e grotesco, onde diversas cicatrizes de sangue, perda e vingança ardiam intensamente, denunciando os treinos rigorosos a que Yelena estava a ser sujeita, treinos esses que moldavam a sua vontade sobre a imperativa e incontestável ordem dos antigos tempos da cruel União Soviética.

— Deixa, eu trato de a carregar. - Prontificou-se o mestre das setas em voz urgente, segurando a jovem russa pela cintura, colocando-a cautelosamente sobre os seus fortes ombros.

— Barton mexe as pernas, não sei se este lugar está a ser vigiado por alguém, se por alguma eventualidade nos descobrirem estamos feitos. - Preveniu a russa em tom urgente, galgando a vereda com a suave velocidade de uma gazela.

A paisagem branca e clara desfilava perante as íris justiceiras dos dois Vingadores, à medida que estes caminhavam com a adormecida Yelena em direcção à aurora boreal que pintava de mil cores o céu platinado conduzido pela esplendorosa estrela do norte, onde as insígnias do passado da morena moldavam o seu improvável destino.

Conseguirá Natacha atingir os seus objetivos? Com que cores se pinta o futuro de Yelena?


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Notas finais do capítulo

Yelena Belova é uma personagem que foi intruduzida numa das histórias recentes da Viuva Negra, tal como Natacha, Yelena também se tornou numa Viuva Negra com os mesmo treinos de Natacha. Eventualmente as duas enfrentaram-se nas histórias do Universo original (616)



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