Ondas de uma vida roubada escrita por Maresia


Capítulo 6
Revelações




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/670836/chapter/6

                Um manto negro e criminoso caía pesadamente sobre a ruidosa Nova Iorque, mascarando as atrocidades diurnas com as maravilhosas e apetecíveis vicissitudes da noite. Os candeeiros ganhavam a sua habitual vida fantasmagórica e difusa para iluminar dramaticamente aquela bela e medonha cidade plena de industrialização, crime e ganância capitalista. Os restaurantes de luxo de fast food apinhavam-se a uma velocidade estonteante de jovens gordos desejosos por ingerir um número considerável de calorias que lhes preenchesse o corpo e o espírito, prontos para catapultar o seu nobre país um pouco mais para o cimo dos países com maior taxa de doenças cardiovasculares.

                O mesmo homem de pele negra e porte majestoso e inteligente que interrogara Diana deambulava apressado seguindo o caminho uniforme dos prédios aglomerados, onde se exprimiam milhares de famílias, num qualquer bairro perdido nos subúrbios decadentes de Manhattan. Nick Fury observava do alto da sua imponência todo aquele cenário triste e manipulado aos olhos dos países internacionais, pisou com raiva a calçada suja e pútrida quando se cruzou com dois jovens fumando desesperadamente aqueles fantásticos cigarros dos sorrisos. Caminhou mais uns metros dobrando uma esquina impiedosa para os seus olhos se debaterem na figura de uma jovem rebolando-se no chão com o seu corpo exposto à luz das estrelas a troco de um salário baseado em prazer e em vergonha. Finalmente o diretor da S.H.I.E.L.D. estagnou junto de um grande amontoado de cimento. Uma linda enfermeira saía rapidamente abotoando a sua bata pelo caminho, certamente viajava até uma emergência qualquer ocorrida nesses vastos tapetes de alcatrão.

                Nick Fury entrou silenciosamente no edifício, subiu vários patamares, deixando nas suas costas diversas famílias barulhentas. Até que por fim, estancou perante o seu objetivo. Esticou a sua mão, encerrada por uma luva negra, e bateu com força na porta castanha que lhe barrava o caminho decidido.

— Quem é? – Perguntou uma voz calma, vinda do interior do apartamento.

— Tu sabes quem eu sou, por isso abre a porcaria da porta, que raio de pergunta! – Vociferou Fury em voz grosseira, pressionando impaciente a maçaneta da maldita porta.

                Finalmente, a porta fora aberta, para revelar um homem de porte magnífico, perfeito, único, cujos olhos azuis brilhavam como duas estrelas cativantes e o cabelo louro lembrava uma bela ceara de trigo puro e fascinante. O poderoso diretor adentrou sem mais palavras, sentando-se num sofá comido pelo tempo sem permissão alguma.

— Boa noite meu caro! – Saudou Nick.

— Boa noite! O que te traz aqui a minha casa a estas horas, alguma calamidade, assalto, massacre ou invasão alienisna? – Perguntou o proprietário da casa com ar preocupado.

— Não admira que estejas velho, tu só pensas em trabalho! Fica tranquilo, o mundo hoje não precisa de ti. – Brincou Fury, esfregando as mãos. – Queres adivinhar com quem me cruzei hoje? – Questionou, com um sorriso sínico a brincar-lhe no rosto.

— Com um qualquer embaixador? Com o presidente dos Estados Unidos? Com o Bill Gates, talvez? – Arriscou o individuo louro.

— Olha, tenho um concelho para ti, nunca jogues no Quem Quer Ser Milionário, ficarias pelo caminho na primeira ronda! – Zumbou o homem de pele negra. – Dou-te uma pista, é uma mulher.

— Existem milhares de mulheres à face da Terra, como é que queres que eu sai…

— Ok, Ok, já percebi que não vamos sair daqui hoje. Ela chama-se Diana e tem dezasseis anos, foi educada no orfanato Spring, e ouve só esta bomba, hoje os seus poderes desconhecidos vieram à tona. É uma miúda com uma personalidade muito vincada, não te faz lembrar ninguém? – À medida que Nick Fury elaborava a descrição da jovem a face do homem louro endurecia drasticamente, mergulhando a pique nas gélidas águas do sofrimento e da angústia.

— Como é que ela está? – Perguntou o triste homem, sentando-se no sofá junto do visitante.

— Está fantástica. Até hoje era uma adolescente normalíssima, era uma das melhores alunas da sua escola, tinha certamente um futuro promissor à sua frente. – Respondeu sinceramente, colocando uma das suas mãos no ombro do seu amigo numa tentativa inútil de o reconfortar. – E queres saber uma outra coisa? Ela vive, desde muito nova, agarrada à esperança de encontrar o pai. E nós sabemos perfeitamente onde ele está, não é verdade? 

— Tu juraste-me que jamais contarias a alguém. Ou será que a palavra de um homem de nada vale nos dias de hoje? – Perguntou o homem de brilhantes olhos azuis em voz baixa e insegura. – O que fizeste com ela?

— Mandei-a para casa. – Respondeu o diretor. – Mais tarde irei buscá-la para vos apresentar. – Explicou.

— Como assim? Tu não podes fazer isto com ela, é apenas uma miúda. Ela merece uma vida normal, foi por esse motivo que eu, que eu, bem tu sabes o que é que eu fiz. Peço-te não como um herói, não como um homem, mas sim como um amigo, não faças isto. – Implorou o louro desesperado.

— Desculpa, mas a minha decisão já foi tomada. Eu até compreendo a tua atitude quando ela era apenas um bebé, acredita que compreendo, mas olha quando a vires vais compreender que ela já não necessita mais de ser protegida. – Censurou Nick ligeiramente irritado. - Posso contar contigo para instruíres mais um jovem herói, se conseguiste com o Gavião também conseguirás com ela. – Perguntou meio a brincar, meio a sério Fury.

— Quais são as habilidades especiais dela? – Quis saber o louro.

— Bem, eu ainda só sei de uma, se ela possui mais alguma temos que descobrir ao longo do tempo. Hoje houve um evento qualquer lá na escola onde ela anda e enquanto ela cantava paralisou a escola toda só com a voz. – Esclareceu Nick, olhando nas profundezas marinhas daquele homem.

— Então ela tem o gene mutante? – Perguntou ansiosamente.

— Não, acho que não. – Tranquilizou Fury, levantando e espreguiçando-se ensonado. – Bem vou andando, obrigado pela tua disponibilidade, até breve, e já agora compra um bom soro de paciência, vais precisar. – Despediu-se, sem esperar resposta saiu a paços largos e apressados.

                O homem ficou ali, pregado ao sofá, aprisionado em memórias de um passado com dezasseis anos que agora vinha ao seu encontro sem aviso prévio, ficou ali, olhando a superfície castanha da porta fechada, pronto para aceitar este caprichoso e desventurado desafio.

                Nessa noite, Diana não jantou devido ao turbilhão de emoções descontroladas e apertadas que embatiam contra o seu peito e à sua mente deprimida e confusa. Peter ligara-lhe para se encontrarem na sua casa. Ela caminhava através das ruas, pensando, absorvendo, analisando, tentando compreender, cada palavra, cada atitude, cada gesto, do homem que voluntariamente e sem permissão traçara o seu destino, ou será que o seu destino fora traçado quando ela tinha apenas um ano de idade e uma vida inteira pela frente. Diana estava ansiosa por estar com o seu melhor amigo, porque sabia que ele ao contrário de todos os outros não a julgaria, não a criticaria, não lhe apontaria o dedo, apenas a tentaria compreender e certamente ajudar mediante as suas fracas possibilidades, seriam assim tão fracas?

                Quando a linda jovem chegou perto da casa do seu melhor amigo já ele a aguardava junto da porta, exibindo um sorriso reconfortante no seu amável rosto. Esticou prontamente os seus braços e abraçou-a com força, transmitindo-lhe segurança, calma e carinho.

— Peter, eu…

— Falamos lá dentro é mais seguro. – Preveniu o jovem, conduzindo-a para o interior da moradia.

— Ah! Diana querida, boa noite. – Saudou uma mulher jovial e ternurenta, beijando a adolescente na face.

— Boa noite Senhora May! – Respondeu a morena inexpressivamente.

— Tia, eu e a Diana vamos estudar para um teste. – Informou Peter, como quem pede para não serem incomodados.

— Certo querido, certo. – Assentiu a doce senhora orgulhosa do seu menino. – Esta miúda era uma ótima namorada para o Peter, sem dúvida. Apesar de ter sido educada num orfanato transborda de educação e delicadeza. – Pensou a dedicada tia May, enquanto os dois amigos se dirigiam ao quarto.

— Fico feliz por ver que estás bem. – Disse Peter sentando-se na sua cama e puxando a sua preciosa amiga para perto de si. – Eu fiquei muito preocupado quando aqueles anormais te levaram, eu sei como eles funcionam e como tratam pessoas como nós.

— Pessoas como nós? – Questionou Diana confusa, olhando o seu amigo admirada com aquela afirmação.

— Sim pessoas como nós. Existe uma coisa que ando a tentar ganhar coragem para te contar, e acho que a altura certa chegou. – Afirmou o fotógrafo.

— Mas Peter o que se passa? Acho que não estou pronta para mais surpresas, já tive a minha dose por hoje. – Desabafou Diana cansada. – Peter o que estás a fazer, acho que estás a compreender tudo de forma errada. – Exaltou-se a morena, vendo o seu amigo começar a tirar as suas roupas.

                Diana libertou um grito de admiração e choque, o espanto e a surpresa brincaram-lhe destemidamente nos sonhadores olhos azuis, quando o seu amigo retirou as suas roupas casuais para revelar um fato vermelho e azul, com uma aranha exuberante cobrindo-lhe o peito. O jovem caminhou até à sua mesa-de-cabeceira e retirou uma máscara, colocando-a no seu atraente rosto.

— Tu és, és, o Homem-Aranha? – Balbuciou Diana incrédula com aquela revelação. – Como é que eu nunca desconfiei de nada? – Perguntou pensativa.

— Porque eu nunca demostrei nada que me pudesse denunciar. – Respondeu Peter, voltando a guardar a máscara e a colocar as suas roupas civis. – O que é que o Fury disse que iria fazer contigo? Ele vai enviar-te para o instituto dos X-Men? – Questionou preocupado, acariciando os lisos cabelos de Diana.

— Não ele disse que não. – Tranquilizou-o Diana. – Mas também não me disse para onde.

— O Nick Fury é conhecido pelas suas paranoias, mas no fundo ele é um bom homem. Ele fará certamente o melhor para ti. – Constatou o herói honestamente. – Olha talvez nós até possamos ser parceiros na luta contra o crime! – Exclamou Peter divertido.

— Eu tenho muito que aprender e muitas barreiras para ultrapassar. – Murmurou Diana, observando o seu desconhecido futuro.

— Tenho a certeza de que vais conseguir. – Incentivou Peter, olhando aquele rosto bonito e cansado. – Quando é que sabes qual o grupo que vais integrar?

— Ele não me disse. - Respondeu Diana. – Mas queres saber uma coisa? Eu não estou muito segura em relação a isto tudo. – Confessou a linda morena, pousando a sua cabeça no ombro do seu querido amigo. – Estou insegura e receosa.

— Mas pensa assim, quando fores uma heroína poderás ter mais meios de encontrar o teu pai, talvez nada disto tenha acontecido por acaso. – Sugeriu o Homem-Aranha esperançado.

— Quando o Nick Fury me estava a interrogar fiquei com a nítida sensação de que ele sabe quem é o meu pai. Eu insisti para que ele me dissesse mas ele garantiu que não me diria nada. – Relatou a jovem, esfregando os olhos devido ao cansaço persistente.

— Se ele disse que não te contava, ele já não vai contar, é um tipo bastante casmurro, bolas! – Constatou Peter pleno das suas ideias e análises.

                Diana já não escutara a última frase proferida pelo seu melhor amigo, cedendo por fim ao encantador sono merecido. O jovem aninhou-a nos seus cobertores felpudos e ficou ali observando aquela miúda traída pelo destino, contudo abençoada pela sorte fugidia.

                Saberá de facto Nick Fury quem é o pai de Diana? Quais os poderes que ainda se encerram no interior da jovem?


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Ondas de uma vida roubada" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.