Ondas de uma vida roubada escrita por Maresia


Capítulo 56
Maldição


Notas iniciais do capítulo

Nestes próximos capitulos vamos entrar numa nova narrativa dentro da grande história, preparem-se para uma viagem emocionante através de um dos maiores clássicos do Homem Aranha.



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O nosso destino está gravado na palma das nossas mãos, as nossas atitudes definem-se pelas passadas que orgulhosamente damos em direcção ao futuro, o verdadeiro e único amor somente surge uma vez na nossa vida, as lágrimas que derramamos não reflectem a nossa fraqueza mas sim a nossa real coragem para encarar as diversas situações que atravessam o nosso quotidiano, a atracção é uma reacção recíproca que surge entre os seres humanos, por vezes coloca em causa os verdadeiros sentimentos do coração, o ciúme distingue-nos como seres humanos que sofrem, desejam e amam. Clint ergueu a cabeça sentindo a presença de alguém, o seu rosto, mal iluminado pela lua, desfigurou-se num misto de receio e arrependimento, observou as insígnias da lealdade e da esperança dissiparem-se numa neblina escura e fria.

— Como foste capaz? - Perguntou Diana completamente controlada pela cólera, sentindo um furioso monstro emergir das profundezas escuras do ódio.

— Isto não é o que aparenta. - Desculpou-se o Arqueiro em voz fraca, encarando a raiva que deambulava pelos lindos olhos da morena.

— Depois de tudo, como é que foste capaz? - Inquiriu a Vingadora, esforçando-se por manter o tom baixo. - Eu acreditava em ti, eu amava-te, eu dava a minha vida por ti, não passas de um egoísta, isto tudo foi para quê? Para provares que tens as mulheres todas aos teus pés? Ao menos escolhe melhor, quem é que se contenta com uma ordinária oferecida?

— Cuidado com as maneiras, miúda. - Ameaçou a Viúva Negra em tom maldisposto, erguendo-se do sofá. - Com essas atitudes é normal que o Clint fuja de ti. - Cuspiu em tom de desdém.

— Não é nada disso! Diana por favor, vamos falar, isto não passa de um mal-entendido. - Implorou o Gavião em voz triste, quebrando a enorme distância que o separava da jovem, distância forjada pelas finas e iludidas missangas da injusta vida.

— Vocês realmente estão bem um para o outro, sejam muito felizes. - Proferiu a Sereia de forma fria, contrastando perfeitamente com o tempo escaldante do Verão. - Ah, já agora, para o caso de não teres percebido a nossa relação acabou! Foste a maior desilusão que alguma vez cruzou a minha vida!

— Não, por favor não faças isto. - Pediu o mestre das setas de forma desiludida, segurando a Vingadora pelo braço.

— Que deprimente, vou dormir. - Atirou Natacha impaciente, lançando um olhar repleto de recriminação ao louro.

— Nem te atrevas a dizer mais uma única palavra. - Sibilou Diana furiosa, o peso da traição almejava-lhe a mente com a brutalidade que apenas uma guerra difunde.

— Então significa que isto é mesmo o fim? - Perguntou o Arqueiro melancolicamente, vendo a sua Sereia afogar-se nas profundezas viajantes do elevador, levando na sua sombra a esperança de um futuro reluzente.

— A força, a coragem, a vontade, a luta e a expectativa abandonam-me, seguindo uma estrada escura e sinuosa, a traição e a humilhação sorriem-me em cada grão cinzento do alcatrão, a raiva derrama no meu rosto lágrimas de tristeza e angústia, o ódio crava no meu coração punhais de sangue, arrependimento e vergonha, o bater das asas dos anjos trazem até mim os chumbos da culpa, do fracasso e da solidão, os demónios das estrelas festejam o meu sofrimento, abrindo no céu a mística porta do oculto que antevê a perdição das almas e a florescência dos pecados. - Cismava a Sereia, enquanto as rodas do seu Audi desfilavam sobre um manto de dúvidas e inseguranças. - Procuro de forma incessante na vidraça do meu peito o calor da amizade, busco no espelho partido do meu coração o conforto da palavra carinho, vasculho na esfera da minha existência a protecção dos braços de um pai, porém tudo isto se destrói, se dilacera, se aniquila com um simples e cruel sopro da vida. - Pensava, à medida que as suas palpitações viajavam ao sabor da triste melodia “We belong together”, vendo o deslizar silencioso e monótono das ruas e avenidas espelharem-se na sua suja e profanada vontade. - Abafo um grito de raiva e frustração com as fortes amarras do Oceano, salvaguardando a dura e viciante presença citadina. Preciso de alguém, alguém que me escute, alguém que não me julgue, alguém que conheça as verdadeiras cores do sofrimento. Não posso pedir ao Steve, recuso-me a plantar raízes de discórdia no ceio dos heróis mais poderosos da terra. Somente me restas tu Peter. - Constatou, pegando no telemóvel, enquanto encostava o seu carro numa berma marcada pela poderosa passagem do desespero.

— Diana o que se passa? - Questionou o Aranha de forma preocupada, fitando a calmaria aparente da noite através da sua janela aberta.

— Peter achas que posso ir ter contigo? Preciso mesmo de alguém para conversar. - Pediu a adolescente em voz sufocante, reparando numa enorme e imponente cegonha sobrevoando a torre mais alta de uma igreja, pousando no ombro de um sujeito vestido com os trajes do demónio, segurando na sua mão o bastão que abre as portas do céu.

— Claro, vem ter à minha casa. - Prontificou-se o herói apreensivo, reparando nas perfeitas lâmpadas do sofrimento que iluminavam a voz normalmente doce da sua melhor amiga.

— Obrigada, Peter. - Agradeceu a morena aliviada, escutando a uma e trinta anunciadas pelo alto sino da igreja.

— Conduzo sem pestanejar até casa do meu amigo, não posso perder de vista a única luz que se acendeu para mim esta noite. - Pensava a jovem, enquanto o motor da sua viatura captava as atenções do Demolidor, o homem cujo coração pertence às legiões do paraíso e o corpo às hostes do Inferno. - As borboletas dos sonhos tricotam as nossas fantasias com coloridos véus do arco-íris, contudo as espadas malignas dos pesadelos corrompem essa esplêndida e doce harmonia com os rugidos agonizantes do mal, sim esta estranha e repentina separação não passa de um pesadelo forjado pelas mãos da maldade, amaldiçoado pelos anjos da escuridão, bordado pela má sorte, todavia já ultrapassei tantos dissabores em toda a minha curta vida, este é apenas mais um que eu habilmente transformarei em coragem. - Reflectiu, observando a casa do seu amigo retratar-se cada vez mais na dimensão acordada de Nova Iorque.

— A melodia do dia tranquiliza-me a alma, o mistério da noite enfurece-me o espírito, as setas do amor aquecem-me o coração e o teu doce sorriso semeia luz na minha vida. - Pensava o Arqueiro tristemente, caminhando junto da piscina reflectida na escuridão nocturna, recordando as inscrições que Diana fortemente gravara no seu testamento amoroso, inscrições essas que ele jamais quereria apagar. - O perdão rebenta em cada esporo do meu corpo, a culpa brota da minha garganta como uma torrente de setas, a traição floresce nas pontas dos meus dedos, o arrependimento flutua em cada gota do meu sangue, a minha língua solta um grito silenciado de sofrimento, no entanto não compreendo porquê. Talvez amanhã quando eu acordar perceba que tudo isto não passa de um sonho carrancudo e maldisposto, um sonho? Vá lá Clint, nem tu acreditas nessa desculpa, os sonhos são apenas falácias ilusórias que desfiguram e desmantelam uma realidade imperfeita e subjugada pela vontade soberana da maldade. Porém pensar que tudo isto não passa de uma partida do sono não é motivo para sentir vergonha, mas sim um pequeno refúgio para fugir ao que a alvorada realmente esconde, a verdade nua e crua, repleta de espinhos e punhais aguçados. - Reflectia pensativo, à medida que o relvado verde era regado pelas gotas do orvalho e pelas suas lágrimas. - Diana a nossa relação foi a melhor coisa que me aconteceu nos últimos anos, tu foste o anjo da redenção que mudou a minha maneira de encarar a vida, volta para mim, não te deixes iludir por aparências grotescas e maldosas, pois elas não passam de paredes translúcidas que anulam os sentimentos e os devaneios do coração.

— Então miúda o que se passou? - Interrogou o Aranha apreensivo, entrando no carro. - Estiveste a chorar?

— Nota-se assim tanto? - Questionou Diana ligeiramente envergonhada, enveredando por uma ruela apinhada de movimento e ruído.

— Foi o teu namorado. O que é que ele te fez? - Insistiu Peter, passando de apreensivo a furioso.

— Como sabes que eu tinha um namorado? - Inquiriu a morena confusa, será que ele a andara a vigiar, ou talvez tivesse dado demasiado nas vistas?

— Tu és a minha melhor amiga há muito tempo, para mim és quase transparente. Quase que adivinho quem é o desgraçado, é aquele tipo louro que nos encontrou no café, estou certo? - Explicou o herói em tom ternurento, acariciando a perna da jovem.

— Sim, é ele. - Assentiu a Vingadora tristemente, parando junto de um vermelho.

— Eu vou mostrar-lhe que não se deve magoar as mulheres, mas quem é que esse tipo pensa que é? - Ameaçou o herói irritado, dando algumas pancadas na porta da viatura.

— Não faças nada, eu vou ficar bem, só preciso de um amigo, apenas isso. - Pediu a adolescente de forma nervosa, entrando na enorme e mítica ponte de Brooklyn.

A misteriosa ponte desfilava em toda a sua imponência pela margem sombria da noite, trazendo no seu alcance o agoiro e a maldição dos tempos, das crenças e dos perigos eminentes. Diana e Peter absorviam aquele maravilhoso e sufocante silêncio escuro onde reinava a nostalgia e ingenuidade de vivências remotas. No centro da ponte, no preciso local onde a coragem e o medo se unem numa perfeita e alucinante fenda, a lua iluminava uma cena quase dantesca, arrepiante e macabra, acompanhada pelos grunhidos malignos da noite.

— O que se passa ali? - Perguntou a Vingadora impressionada, olhando o cenário com profunda indignação.

— Não sei, mas quase que adivinho. - Respondeu Peter mal-humorado, fazendo sinal para que Diana parasse o carro.

Os perigos, a morte, a desgraça e o terror escondem-se habilmente em cada arco daquela amaldiçoada ponte, prontos para lançar as suas garras sobre os inocentes passageiros da vida.

Quem se esconde nas margens ocultas da ponte? Qual o perigo que se camufla com o misticismo da noite? Estarão Peter e Diana prontos para enfrentar um conhecido desconhecido? Será realmente o fim da relação da Sereia e do Gavião?


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