Ondas de uma vida roubada escrita por Maresia


Capítulo 55
Apenas uma miragem




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O verão caminhava alegremente sobre as estradas de Nova York, espalhando as suas contagiantes cores na atmosfera, lançando os seus intensos perfumes na alma dos transeuntes ofegantes, atirando os seus fantásticos raios de sol pelas janelas abertas das moradias, arrumando nas profundas gavetas as roupas invernais.

— O Verão chegou, trazendo pela sua escaldante mão as férias grandes, as colónias balneares e os grandes lucros às empresas de transportes, restaurantes, às gelatarias e às indústrias têxteis. - Lia Diana ofegante, sentindo o suor escorrer-lhe pelo rosto, enquanto a frescura da água da enorme piscina da mansão dos Vingadores lhe sorria de forma tentadora. - Estes tipos só pensam em lucros, é impressionante! - Exclamou, pousando a revista no relvado verde a seu lado. - Tenho que dizer ao Tony que a relva está a secar.

— Quem dera a muita gente ter este relvado e esta piscina para se refrescar. - Comentou Thor em tom preguiçoso, soltando um bocejo.

— Não sei como é que os outros conseguem estar dentro de casa com este calor todo. - Analisou a morena sorridente, olhando através das muitas árvores e arbustos para a janela aberta.

— Provavelmente eles pensam o mesmo de nós. - Retorquiu o louro distraidamente, retirando uma folha do cabelo da morena. - Vamos a um mergulhinho?

— Achas que tens potencial para competir comigo? - Questionou a jovem divertida, colocando-se de pé, sacudindo alguma areia do seu elegante biquíni preto.

— Essa pergunta faço eu, achas que tens capacidade para competir comigo? - Perguntou Thor feliz, segurando a morena sobre os ombros.

— Thor! Não te atrevas! - Exclamou a Sereia em voz estridente, vendo o Deus aproximar-se da borda da piscina.

Segundos depois, o louro e a adolescente mergulhavam nas profundezas azuis da piscina, respirando com prazer aquela maravilhosa e quase extinta frescura, que lhes alegrava os corações e derrotava as grandes bagas de suor que lhes cobria o corpo.

— Tu só podes ser maluco! - Exclamou Diana divertida, emergindo à tona calorosa da água, recebendo os potentes raios de sol na sua pele.

— Um pouco de diversão nunca fez mal a ninguém! - Respondeu Thor eufórico, com um belo sorriso a desfilar pelo seu bonito rosto.

— Bolas são quase quatro, tenho que me despachar. - Afirmou a jovem alarmada, saltando para o manto verde relva, segurando a sua toalha azul clara.

— Onde vais com tanta pressa? - Interrogou o louro confuso.

— Combinei com o meu amigo Peter ir comer um gelado, e para variar estou atrasada. - Explicou Diana em tom rápido, começando a correr até ao interior apinhado da casa.

— Esta rapariga anda sempre numa luta constante com o tempo. - Comentou Thor de si para consigo, pegando igualmente na sua toalha, seguindo para dentro da habitação.

Daí a cinco minutos, a morena passava a grande velocidade pela sala de estar, trajando um vestido curto e muito justo de cor azul água, calçando umas sabrinas brancas e com o seu cabelo apanhado num elegante rabo-de-cavalo.

— Hey Diana! Onde vais com tanta pressa? Preciso de falar contigo! - Exclamou Stark surpreendido, quase sendo derrubado pela estonteante velocidade da adolescente.

— Falamos mais logo, tenho um compromisso! - Gritou a Sereia, saltando para o interior do elevador.

— Olha que eu não pago mais nenhuma multa! - Avisou Tony divertido, sorrindo à socapa.

Diana arrastava-se lentamente através da escaldante cortina de calor, a secura caminhava insolentemente pelos seus lábios transportada pelos ferozes raios de sal, o seu vestido colava-se ao seu corpo absorvendo com mestria a cola do sol, enquanto esta caminhava descompassadamente até à apinhada esplanada onde Peter já a aguardava olhando para o relógio de pulso.

— Olá Peter desculpa. - Cumprimentou a jovem em voz abafada, atirando-se pesadamente numa cadeira vazia.

— Olá, pensei que te tinhas afogado no calor! - Exclamou o herói divertido, fazendo sinal à empregada que deambulava entre as mesas e o balcão.

— O que vão querer, talvez um gelado, um sumo bem fresco, uma água gaseificada... - Sugeriu a empregada em tom simpático.

— Eu quero um gelado de chocolate de avelã e frutos vermelhos. - Pediu a Vingadora em voz sumida, vasculhando na sua bolsa, à medida que a empregada anotava o pedido num Tablet. - Num copo por favor.

— Eu quero um gelado de biscoito e caramelo. - Pediu Peter sorridente, passando algumas moedas à empregada.

— Certo, vou já trazer os vossos pedidos. - Prontificou-se a rapariga de forma prestável, saindo dali a tremenda velocidade, voltando quase no mesmo instante com os dois gelados.

— Hoje saíram as notas. - Anunciou o Aranha entusiasmado, começando a devorar o seu gelado.

— Reparaste nas minhas? - Perguntou Diana ligeiramente apreensiva, saboreando uma deliciosa colher do seu gelado.

— O que era de ti se não fosse eu? Aqui tens. - Comentou Peter divertido, passando um pequeno papel à sua melhor amiga.

— Nunca pensei que estivessem tão boas! - Exclamou a Sereia feliz, analisando as suas classificações anotadas pela caligrafia desordenada do seu amigo, pequenas e desordenadas letras onde se reflectiam todo o seu esforço e empenho. - Como foram as tuas? - Perguntou curiosa.

— Praticamente semelhantes às tuas. - Respondeu o herói aliviado. Observando as suas férias ao ar livre deslizarem pelos seus bons resultados. - Pode ser que a minha tia me retire o castigo. - Murmurou esperançado, relembrando todos aqueles meses que passara na companhia dos seus manuais escolares.

— Certamente, as tuas notas são fantásticas! - Tranquilizou-o Diana alegremente, desfrutando da sua última colher de gelado. - Mas já agora, se ainda estás de castigo, como é que estás aqui?

— Porque fui ver as notas, e fiz um pequeno desvio pelo caminho! - Respondeu Peter de forma perspicaz, olhando a sua amiga com um sorriso traquina.

— Tu realmente não existes. - Comentou a morena sorridente, olhando em redor, acenando a alguém que passava do outro lado da estrada.

— Quem é aquele? - Questionou o Aranha curioso.

— É um amigo meu. - Respondeu Diana pouco à vontade, observando a silhueta bem definida de Clint Barton deslizar através da multidão apressada, segurando o seu pequeno cão nos braços.

— Eu já o tinha visto perto da escola. - Comentou Peter desconfiado, vendo o Arqueiro aproximar-se com passada segura.

— Pois. - Disse a Vingadora em voz baixa, cobrindo o rosto com as mãos.

— Estás a ficar vermelha. - Constatou o herói deliciado com aquela situação embaraçadora. - Diz-me, ele é apenas teu amigo? Como é que ele se chama? Onde o conheceste? Ele também é um Vingador?

— Bolas Peter, eu não consigo responder a tantas perguntas ao mesmo tempo! - Exclamou a Sereia irritada, batendo com o copo vazio do gelado na superfície metálica da mesa.

— Boa tarde Diana, não estava à espera de te encontrar por aqui! - Saudou Clint sorridente, sentando-se numa cadeira vazia junto dos adolescentes. - E tu deves ser o Peter?

— Sim sou. - Respondeu o Aranha com uma estranha expressão a surgir-lhe no rosto, apertando a mão suada do mestre das setas.

— O que se passa com ele? - Perguntou a morena em voz tímida, apontando para o pequeno animal aninhado junto ao peito do louro.

— Tive que o levar ao veterinário, acho que ele não se dá muito bem com o calor. - Explicou o Gavião preocupado, pousando o cãozinho em cima da mesa.

— Acho que ele está com sede. - Comentou a jovem em voz doce, acariciando a cabeça do cão. - O que é que lhe fizeram lá no veterinário?

— Deram-lhe várias vacinas anti parasitas e coisas desse género. - Respondeu o Arqueiro, remexendo na sua carteira. - Vou pedir algo fresco.

— Pede para lavarem este copo, e trás uma garrafa de água. - Pediu Diana, abanando o rosto suado com uma das mãos.

Dois minutos depois, o louro retornava segurando um sumo de frutas com raspas de gelo e uma garrafa de água bem como o copo lavado.

— Aqui tens. - Disse entregando o recipiente a Diana.

A jovem deitou uma quantidade considerável do líquido que venceria o intenso calor do pobre cão no copo, enquanto Peter a olhava curioso, analisando cada gesto, cada palavra e cada olhar que amarava naquela mesa.

— Bebe lindo! - Exclamou a morena feliz, enquanto o pequeno canídeo bebia com satisfação a água fresca.

— Bem Diana, tenho que ir andando, quero mostrar as minhas notas à minha tia, depois ligo-te. - Despediu-se Peter apressado.

— Até logo. - Disse a jovem sorrindo abertamente

— Acho que o teu amigo ficou um pouco atrapalhado! - Exclamou Clint divertido, bebendo um enorme trago da sua bebida gelada.

— Ele ficou desconfiado de alguma coisa. - Esclareceu a morena apreensiva.

— Também já sabes as tuas notas? - Perguntou o Arqueiro interessado, tentando espreitar para o pequeno papel que Peter trouxera minutos antes.

— Sim, já as recebi, são boas. - Afirmou a Sereia cansada. - Bem, tenho que ir, o Tony disse que queria falar comigo, só espero que não seja mais uma das suas ideias alucinantes.

— Já te disse que estás linda? - Questionou o mestre das setas em tom sedutor, observando o corpo curvilíneo da sua namorada retratado naquele elegante vestido.

— Hoje ainda não. - Respondeu a Vingadora em tom mimado, pousando o cãozinho nos fortes braços do Arqueiro.

— Hoje estás linda. - Murmurou Clint em voz baixa e apaixonada, beijando suavemente a Sereia nos lábios. - Ninguém viu. - Disse rapidamente, vendo o pânico desenhar-se nos olhos cor de água.

Nessa noite, a mansão dos heróis mais poderosos da terra derretia-se com um agradável perfume de comida bem confeccionada, todos os presentes se sentavam confortavelmente na mesa de refeições.

— Diana ainda bem que chegaste! - Exclamou Stark entusiasmado, batendo com força na cadeira vazia a seu lado. - Senta-te aqui!

— A que se deve tanto entusiasmo? - Perguntou a jovem curiosa, acenando a Steve que se sentava junto de Thor do outro lado da comprida mesa.

— Tenho uma coisa fantástica para te contar! - Anunciou Tony eufórico, esfregando as mãos com satisfação.

— Mas o que se passa afinal? - Insistiu a Sereia confusa, completamente perdida naquela torrente contagiante de entusiasmo, servindo-se abundantemente de bacalhau com natas e gambas.

— Tem calma, eu já te conto tudo. - Proferiu o Homem de Ferro, servindo-se de uma generosa quantidade de lasanha. - Eu tive uma grandiosa ideia para solucionar o meu problema empresarial e social. - Anunciou radiante, personificando os escaldantes raios solares.

— Sim, eu já sei disso, tu pretendes capturar o tipo das vestes negras, mas eu já te disse, e sinceramente não me apetece repetir o que eu acho sobre esse assunto! - Retaliou a adolescente de mau-humor, batendo com o garfo na borda do prato.

— Deixa-me explicar, Não tem nada a ver com essa questão. - Defendeu-se o milionário, bebendo um grande trago do seu vinho. - Eu pretendo instalar pequenas células da Stark Enterprise em zonas desfavorecidas dos Estados Unidos, numa tentativa de promover e desenvolver essas regiões, bem como principiar um combate activo ao desemprego, com vista a melhorar e fortalecer as condições económicas e académicas dos residentes.

— Uau Tony isso é fantástico! - Aplaudiu Diana orgulhosa, captando as atenções dos presentes para o seu diálogo. - Essa, realmente, é uma ideia que deves colocar em prática.

— Sim Tony é uma grande ideia! - Exclamou Steve impressionado, circundando a mesa para alcançar a pilha de guardanapos.

— Sim, nunca pensei que conseguisses ser tão altruísta. - Elogiou Thor espantado com aquelas novidades inesperadas.

— Será um projecto realizado a médio prazo que terá o seu maior e mais notório foco na fase final da expansão. - Explicou o milionário de forma pomposa.

— Qual é o motivo de tanto festejo? - Perguntou a voz fria de Natacha, vinda da ombreira da porta, caminhando em passada larga até ao centro da sala.

— Eu estava a contar o meu novo e brilhante projecto de apoio às comunidades desfavorecidas. - Anunciou Stark de forma orgulhosa, encarando o rosto arrogante da Viúva Negra.

— Uau Tony tu realmente és uma caixinha de surpresas. - Proferiu a russa em tom cínico.

— Claro que sou querida! - Exclamou o Homem de Ferro deliciado, pousando uma das mãos na perna de Natacha que se sentava confortavelmente a seu lado.

— Vou buscar uma sobremesa. - Murmurou a Sereia pouco à vontade, olhando Natacha com cara de poucos amigos.

— Podes trazer-me uma mousse de morango com natas batidas? - Questionou o milionário em voz doce, reparando no estranho olhar da morena.

Depois do jantar, a jovem subiu até ao seu quarto, detestava estar na presença da Viúva, o seu sorriso cínico incomodava-a profundamente, preferia retirar-se em vez de arranjar sarilhos como naquela noite na praia.

— Onde está o Clint? - Interrogou a Viúva curiosa, fitando com pormenor a vasta divisão.

— Ele hoje ainda não apareceu por cá. - Respondeu o Homem Formiga em voz ensonada, espreguiçando-se no sofá onde estava deitado.

— Até achei estranho. - Comentou Janet absorvida na leitura de uma revista cor-de-rosa.

Alguns dias depois, Diana estava deitada na relva perto da berma da piscina, escutando atentamente a melodia campestre entoada pelos palpitantes arbustos.

— O Verão desliza sobre o globo, arrastando na sua passada escaldante os dias e as noites, a vida segue o seu normal curso, alinhando-se entre as horas de sono e as horas do despertar, corre sobre o tempo como as carruagens correm ordenadas sobre os carris. Os amores e desamores flutuam no ar como pequenas borboletas encantadas pelas asas do sol, cruzando rios de lágrimas e areais de sorrisos, partindo e reconstruindo corações. O mal cessou a sua constante inconstância na luta desmedida contra o bem, garantindo umas merecidas férias aos heróis mais poderosos da terra, contudo a monotonia diária e a estranha serenidade nocturna alertam o meu espírito como se os perigos espreitassem melancólicos em cada esquina fervilhante da estrela maior. Ao longe, na outra fresca margem da piscina, avisto Clint Barton, o dono do meu coração, o reactor do meu amor e o meu ninho de carinho, no entanto a nossa relação anda pelas ruas da amargura, por vezes estamos tão perto como a água e o sal, outras estamos tão distantes como o céu e o mar, em diversos momentos a nossa paixão parece estar alimentada pelas correntes quentes dos mares tropicais, noutros parece estar aprisionada pelos gelados glaciares do Árctico. Talvez o problema seja meu, talvez eu peça demais, exija demais, esteja demais, ame demais. O sonho de encontrar o meu pai não passa de uma miragem que cai vertiginosamente num oásis de tristeza, solidão e sofrimento, uma grossa parede de ferro ergue-se perante nós, impedindo-me de o abraçar, de me aproximar, de o ver, de o amar, permanece perdido na vidraça desconhecida do meu passado, se ao menos existisse um génio da lamparina mágica! Qual é afinal o sentido da alegria do Verão se as escuras cores do sol toldam as coloridas pétalas da minha existência? - Pensava a morena, à medida que uma tentadora onda de calor e sono invadia a sua alma.

— Diana! Diana acorda! - Exclamava Thor apreensivo, dando leves palmadinhas no rosto queimado da Vingadora.

— Ai bolas! Não acredito, adormeci! - Exclamou a Sereia ligeiramente aflita, sentindo uma dor percorrer grande parte do seu corpo.

— Precisas de tratar urgentemente desses escaldões! - Aconselhou o louro preocupado, analisando os vermelhões que surgiam nas costas, Nas pernas e no peito da jovem, alguém, se esqueceu do protector solar!

— Eu vou já. - Assentiu Diana visivelmente aborrecida, erguendo-se da relva com muita dificuldade. - Vou até à farmácia, tenho que comprar algo para tratar disto.

— Pareces uma lagosta! - Comentou o Deus divertido, enquanto acompanhava a Sereia até ao elevador. - Até logo.

Nessa noite, Diana jantou em sua casa, passeou o seu querido Gavião e depois conduziu até à mansão dos Vingadores numa tentativa de se distrair daquele calor que transbordava monotonia e lentidão.

— Já passa da meia-noite, provavelmente já não está ninguém acordado. - Comentou a jovem num sussurro abafado pela alcatifa do elevador.

Num primeiro olhar de relance a sala de estar parecia vazia, porém com uma espreitadela mais atenta Diana compreendeu que Natacha dormitava num dos muitos sofás que compunham a divisão, exibindo um mini pijama de cor vermelha, a jovem desviou o olhar daquele cenário repleto de provocação, caminhou até à cozinha para se refrescar com um copo de água. - Que exibicionista! - Sussurrou a Sereia irritada, voltando a fazer o caminho de regresso à sala em passada curta e lenta.

Quando entrou na deserta divisão os seus olhos, normalmente doces e amáveis, lançaram faíscas de raiva, cólera e frustração pelos quatro cantos da mansão, Natacha já não estava sozinha, Clint, tapava-a carinhosamente com um cobertor, acariciando o seu rosto com as pontas dos dedos, esquecendo por completo as juras de amor que fizera no paraíso azul.

Como reagirá Diana a este panorama? Que aventuras esconde a cortina escaldante do Verão?


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