Ondas de uma vida roubada escrita por Maresia


Capítulo 53
Coroa de flores




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/670836/chapter/53

Diana vagueava perdida entre a estrada da desconfiança e o passeio da insegurança, sabia perfeitamente o que se avizinhava, sabia que os heróis mais poderosos da terra não iriam deixar passar impune a demolidora aparição do caminhante das sombras, mas o que poderia ela fazer para os ajudar, estava tão absorvida naquele mistério como eles, não tinha respostas nem saídas.

— Pode ser outro assunto, não sejas negativa. - Cismava a morena tristemente, fazendo as melancólicas curvas da descrença e da impaciência.

— Diana ainda bem que chegaste! - Exclamou Tony Stark visivelmente ansioso, esperando perto da porta do elevador.

— O que se passa afinal? Para que foi tanto alarido? - Perguntou a Vingadora confusa, observando a apreensão desenhar-se no elegante rosto do milionário.

— Tens muito para explicar miúda! - Exclamou Janet em voz audível, surgindo nas costas do Homem de Ferro.

— Eu não tenho nada para explicar. - Ripostou Diana incrédula, não estava à espera daquela atitude infundada por parte dos seus companheiros.

— Janet cala-te! Diana vamos até ao meu gabinete, eu só quero esclarecer certos pontos que eventualmente serão fulcrais na resolução deste problema. - Ordenou Stark determinado, nunca gostara de deixar assuntos pendentes, desta vez não iria ser diferente.

— Tony pensa com a cabeça, deixa o coração fora desta confusão toda. - Aconselhou a Vespa em tom sarcástico.

— Podes ficar tranquila. - Retorquiu o milionário friamente, seguindo a morena até ao seu gabinete, fechando a porta com força nas suas costas. - Diana quero que saibas que eu não te culpo de nada...

— Era o que mais me faltava, eu apenas fiz aquilo que o meu coração mandou, não me arrependo de nada. - Interrompeu a Vingadora irritada, estava farta que os outros a julgassem.

— Tem calma, eu sei disso, sei perfeitamente que agiste como uma verdadeira Vingadora, quero que saibas que estou muito orgulhoso de ti, mesmo muito. - Elogiou-a Stark em voz doce, sorrindo suavemente. - Eu só quero perceber qual é a tua ligação com aquele estranho?

— Não tenho qualquer tipo de ligação com ele, já disse isto ao Cap. - Defendeu-se Diana, não percebendo onde Tony queria chegar com aquela conversa.

— Então quer dizer, que tu e o Steve já sabiam da existência deste criminoso? - Perguntou Tony em tom cínico, não compreendendo porque é que lhe tinham escondido tais factos.

— Achámos que não era nada de importante. Ele só teve contacto comigo, isto não tem nada a ver com os Vingadores! - Exclamou Diana ligeiramente frustrada, encarando Stark com rispidez a encantar-lhe os lindos olhos cor de água.

— Ele vitimou várias pessoas, achas que isto não é um assunto para os Vingadores? - Interrogou o Homem de Ferro incrédulo com a afirmação proferida pela sereia.

— Tony, eu não estou a entender onde queres chegar com esta conversa, eu já disse o que sabia, não sei mais nada. - Retaliou Diana irritada, levantando-se sem aviso prévio da cadeira.

— Eu não acredito, não acredito! - Exclamou o milionário sem paciência, dando um murro no tampo polido da secretária.

— Para mim chega, às vezes pergunto-me o que estou aqui a fazer, sinceramente pergunto. - Desabafou a Vingadora em tom triste, sentindo as terríveis nuvens do desespero invadirem o seu maravilhoso céu azul.

— Como é que o conheceste? - Perguntou o empresário esforçando-se por manter o tom casual.

— Ele aparece quando eu estou em perigo, ou numa situação mais delicada, mas não sei mais nada, por favor não insistas. Se queres saber a minha honesta opinião, ele não é uma má pessoa. - Garantiu a morena sinceramente.

— Certo, posso pedir-te uma coisa? - Questionou Stark esperançado.

— Claro. - Concordou Diana ligeiramente amedrontada.

— Se ele voltar a aparecer promete-me que me chamas. - Pediu o milionário de forma arrogante.

— Só podes estar louco! Eu sei muito bem a tua intenção, tu queres usar a captura deste estranho para reaveres a tua antiga glória, para reaveres o teu bom nome e para reaveres os lucros da tua empresa, eu recuso-me a pactuar com isso! - Respondeu a Sereia completamente dominada pela cólera. - Se queres voltar a ser quem eras arranja outra forma! - Gritou, saindo da sala, batendo com a porta, espalhando à sua enraivecida passagem o aroma adocicado da fúria.

— O que é que eu fui fazer? Talvez seja melhor investigar por conta própria. - Pensou Tony aborrecido, retirando uma garrafa de vinho francês do seu armário.

— O que se passa Diana? - Perguntou Steve Rogers alarmado, vendo a jovem cair desamparada no mosaico frio, tropeçara nos próprios pés.

— Nada Cap, falamos mais tarde. - Respondeu a vingadora maldisposta, nem reparando que Thor se aproximava dela com passada larga e segura, estendendo uma mão para a ajudar a erguer-se.

Nessa noite, a morena deitou-se muito cedo, o pó dourado das estrelas trouxera delicadamente até si as recordações e a nostalgia de outrora, as pétalas floridas e perfumadas de uma primavera amaldiçoada, entregue cruelmente nas mãos de um qualquer demónio que dolorosamente pratica a gentil e lenta arte da morte. Observava com profundo e melancólico pesar aquele doce e traiçoeiro oceano que terrivelmente se inundara com o sangue da cor vermelha, levando na sua arrastada aguarela a vida e a esperança de centenas de pequenos grãos de sal. Relembrava aquelas ondas gritantes, esmagando com a fúria do universo os pequenos e frágeis arbustos que brevemente floresceriam numa floresta de luz, harmonia e amor. Vislumbrava de relance aquelas nuvens negras carregadas de fumo e maldade abafarem com um falso trago a cereja os lamentos daqueles que fariam involuntariamente uma viagem que jamais terminaria. Então levado por um leve golpe de espuma e água, o pó estelar dissipou-se num magnífico campo celestial de luz, perfume e tranquilidade, uns fortes braços cresciam em volta da morena, como as grandes árvores protegem o ceio fértil da floresta.

— Mãe, espera por mim. - Murmurou a Vingadora em voz doce, enquanto as belas águas dos sonhos a arrastavam para as profundezas límpidas da fantasia.

No dia seguinte, Diana acordou muito atarantada, pois o seu telemóvel tocava de forma estridente na sua mesinha de cabeceira

—Peter. - Disse a jovem em voz ensonada, pegando no aparelho.

— Diana, onde estás? - Perguntou o Aranha mal-humorado.

— Estou atrasada, eu já sei. - Murmurou a Vingadora, soltando um longo bocejo.

— E dizes isso com essa calma toda? - Barafustou o herói indignado.

— Se me parares de aborrecer eu consigo chegar a horas. - Retorquiu a Sereia de forma preguiçosa, saltando da cama.

— Até já. - Despediu-se Peter, vendo as esperanças da sua melhor amiga não chegar atrasada tornarem-se num milagre inalcançável.

A muito e deprimente custo, a jovem abriu as suas gavetas, retirou um vestido creme com bolinhas rosa, um pequeno casaco igualmente rosa e umas sandálias cremes, penteou os seus cabelos cor de chocolate e pegou na sua mochila, estava pronta para enfrentar aquele fatídico dia.

— Já aqui estou! Onde é que é o incêndio? - Exclamou Diana, chegando perto do seu amigo.

— O incêndio é na aula de história. Já sei que nem tiveste tempo para tomar o pequeno-almoço. - Comentou o herói preocupado, estendendo um donut e uma garrafa de leite com chocolate à morena.

— Peter hoje não é um bom dia para gracinhas, desculpa. - Disse a Vingadora em voz sumida, aceitando a comida da mão do aranha.

— Eu sei disso, contudo sabes que estou aqui para o que precisares. - Afirmou Peter de forma compreensiva, passando um dos fortes braços pelos ombros da morena, iria ser a muralha que detém a tristeza que arrogantemente fere aquele coração de ouro.

— Eu sei disso, vamos lá para as aulas. - Disse a Sereia, engolindo algumas lágrimas de prata, sangue e saudade.

Esse doloroso dia correu lentamente sobre os carris do desespero, sobre a ponte da perda e sobre o areal da angústia, desembarcando num cais de lágrimas, nuvens negras e arbustos tombados.

 - Boa tarde, quero uma coroa de rosas brancas. - Pediu a Sereia, entrando vagarosamente numa florista, felizmente vazia.

— É para já minha linda. - Disponibilizou-se a dona da loja sorrindo, preparando os instrumentos para elaborar a coroa de rosas.

Quinze minutos depois, a morena entrava no seu carro, carregando nos braços as flores que guardavam a memória da sua querida mãe, transportando no peito as brilhantes pétalas de vento que a guiaram até ao paraíso e utilizando o laço que as prendia numa tentativa inútil para sufocar aquelas folhas de lágrimas e sal que teimosamente amaravam no seu doce rosto, gravando na sua alma as insígnias do seu desconhecido futuro.

Chegada à vasta mansão dos Vingadores, Diana caminhou lentamente até à imensa piscina, queria testar a sua capacidade de respirar em grandes profundidades. Pousou a coroa de rosas sobre o manto relvado, beijado pela frescura do crepúsculo, retirou o seu vestido e mergulhou naquele infinito azul e aquoso.

— Incrível, desde de que mergulhaste passaram cinquenta minutos! - Aplaudiu Steve Rogers rendido ao talento da jovem.

— Era capaz de permanecer mais alguns minutos, todavia tenho coisas importantes e inadiáveis para fazer. - Explicou a morena, corando violentamente, colocando o seu vestido.

— Esta coroa de flores é tua? - Questionou o Capitão em tom estranho, apontando para a mancha branca que sobressaía no verde da relva.

— Essa cora pertence às minhas mais remotas memórias. - Respondeu a Vingadora em tom nostálgico, revendo na vidraça espelhada da sua mente aquele tumultuoso azul-marinho que lhe envenenara o futuro.

— O que se passa? Porque é que vejo tanta tristeza nesses olhos lindos? - Insistiu Steve visivelmente preocupado, puxando a jovem para junto do seu peito.

— É muito complicado. - Desabafou a jovem, mergulhando num areal de lágrimas.

— Estou aqui, estou habituado a coisas complicadas. - Disse o louro em voz baixa, compreendendo que a questão era realmente delicada.

— Esta coroa de flores é para levar para o oceano. - Respondeu Diana completamente infeliz, deixando os seus temores e inseguranças virem á tona do seu espírito.

— Para o oceano? - Perguntou Rogers aparentemente confuso, acariciando o rosto molhado da Vingadora.

— Sim, a minha mãe morreu num naufrágio, nunca conseguiram resgatar o corpo, então todos os anos, por esta altura, eu vou até ao local onde ocorreu o acidente e deposito uma coroa de flores na parte mais funda que eu consigo alcançar. - Explicou a Sereia em voz toldada pela emoção, abraçando Steve com força como se ele fosse o porto de abrigo que há tantos anos procurava.

— Queres que vá contigo? - Inquiriu Rogers em voz abafada, vendo reflectidas no firmamento que gradualmente era coberto pelo manto de veludo as suas brilhantes lágrimas.

— Eu tenho que fazer isto sozinha, é como se de uma forma ou de outra eu estivesse perto dela, entendes? - Respondeu a Sereia, encarcerada no túmulo das suas memórias.

— Claro que entendo. - Assentiu o soldado, mergulhando no perfeito cheiro da maresia que emanava daquelas doces lágrimas salgadas.

Os dois ficaram ali, parados, fitando o céu distante e comprometedor, unidos pelas puras pétalas das magníficas rosas, enfeitiçados por aquele branco angelical, hipnotizados pelas harpas estelares que anunciavam a melodia tranquila do oceano. O tempo parou, os dois aninhavam-se numa gruta de cristal fresco e delicioso, apurando os seus verdadeiros sentimentos, depositando-os nas entranhas sonhadoras da longínqua lua prateada, encaixando os seus tristes corações nas finas brechas do universo infinito e misterioso, amarando os seus espíritos nos braços protectores da esperança.

— O que raios se passa aqui? - Perguntou a voz arrogante de Clint Barton, transformando a escuridão alheia em mil setas incandescentes.

Como reagirá o Gavião Arqueiro a este encontro?


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Ondas de uma vida roubada" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.