Ondas de uma vida roubada escrita por Maresia


Capítulo 50
A refém




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Diana e Luke corriam rapidamente pela calçada submissa aos caprichos humanos, sentindo os seus corações martelarem pesadamente nas suas costelas, à medida que um forte sentimento de justiça e solidariedade crescia nos seus espíritos. A brisa nocturna transportava nas suas asas a maldade dos dias e a conspiração das noites, trazia no seu profundo bolso a nostalgia da infância e a esperança de um futuro mais próspero e benevolente para todos, tricotava na sua pesada bagagem as ideias e os pensamentos que fizeram do globo um local civilizado. As pedras rangiam sobre os passos arrogantes do vampiro do vício, do monstro da miséria e do fantasma da carência afectuosa, deixando no seu negro e triste encalce os sorrisos que há muito se perderam na fonte da vida. Ao longe o tumulto vagueava sobre um rio de gritos agonizantes, transformando a atmosfera numa catástrofe inimaginável, a morte caminhava em redor, sorrindo e aplaudindo de satisfação aquele derradeiro confronto, lançando no terreno guerreiro os seus lacaios do pânico e da vingança.

— Sabes porque é que isto tudo está a acontecer? Qual é o motivo deste ataque? - Questionou Diana amedrontada, escorregando no alcatrão coberto de resíduos.

— Este caos resume-se apenas a uma palavra, droga. - Principiou Cage em tom ofegante, segurando Diana pelo ombro. - Acho que alguns corajosos aqui de Brooklyn foram para o Harlem vender droga e como é claro o Gang do Orlando sentiu o seu território de comércio posto em causa, então isto não passa de um aviso, de um ajuste de contas. - Concluiu, avistando a multidão que se aninhava, fugindo dos cortantes punhos do medo.

— O que achas que vai acontecer a seguir? - Interrogou a Vingadora em voz sumida, seguindo Luke para as traseiras desertas de uma casa.

— Bem, visto que a polícia deteve membros dos dois bairros acredito que eles chegarão ao ponto de fazerem reféns como moeda de troca. - Respondeu Luke sinceramente, escrevendo naquele deserto de caos e terror as insígnias de uma noite manipulada pela vontade decrépita e sórdida da ganância.

— Não podemos deixar que isso aconteça, temos que os impedir. - Afirmou a Sereia apavorada, escutando os bastões da polícia embaterem em algo metálico.

— Nisso tenho que concordar contigo, vamos lá entrar em acção! - Exclamou Luke entusiasmado, mergulhando na confusão tomada pelo desalento.

Diana encarava com pesar a multidão encarcerada pelas fortes algemas do assombro e da desolação, a silhueta franzina de uma rapariga era condenada à tremenda ameaça das pistolas enfurecidas pela mão da maldade, sujeita aos olhares arrogantes dos criminosos, uma rapariga que a tremendo custo segurava a sua preciosa vida entre as noites mal dormidas e os dias carrancudos onde o teimoso sol não chegava, um arrepio de horror percorreu as veias marinhas da morena, afogando-a na mais pura e deprimente tristeza, Marlene, a sua inimiga era agora vítima das garras sinuosas do mal.

— Não sejam loucos, soltem a miúda! Esta atitude só vai prejudicar ainda mais a vossa situação! - Gritava um oficial completamente desorientado, não estava preparado para aquela situação.

— Este tipo é novato, não tem qualquer experiência no terreno, não podemos contar com ele para nada. - Constatou Luke apreensivo, observando a forma como o polícia tremia de cada vez que encarava os raptores.

— Se o Gavião estivesse aqui já estava a reclamar, ele tem um carinho especial por polícias. - Murmurou a Vingadora em voz sumida, afogando nas profundezas cristalinas da sua alma os verdadeiros sentimentos que nesse momento cortavam o seu coração.

— Então senhor polícia quando é que chega a altura de perguntarem o que queremos em troca da vida desta prostituta? - Interrogou o rapaz de nome Orlando em tom cínico, batendo com o cano da arma no ombro de Marlene.

— Se pensam que irei ceder a essa pressão estão muito enganados! - Berrou o oficial de segurança em tom de desafio que pouco convenceu os presentes.

— Tenho que fazer alguma coisa. - Pensou a morena de forma assustada, cedendo à sua vontade indomável de vingar perante as adversidades, apesar da sua relação com Marlene ser muito duvidosa e atribulada ela, neste momento, necessitava da sua ajuda, então não podia hesitar.

Diana, numa correria desenfreada, deixando nas suas costas as pesadas divergências que marcavam o seu passado, dirigiu-se ao sítio onde a sua inimiga pestanejava sobre a luz negra da provável morte. O seu coração batia descompassadamente ao sabor das perfeitas e deliciosas ondas da coragem e da valentia, transportando o seu espírito sobre um mar de luta e solidariedade, segurando entre as pontas frias dos seus dedos os valores morais sobre os quais tecera a sua vida e que não pretendia abrir mão.

— Miúda estúpida e imprudente, não imaginas o erro que acabaste de cometer. - Pensou Cage apreensivo, vendo a jovem desaparecer dentro do véu da sua força de vontade.

— Quero trocar com ela. - Exigiu a Vingadora em tom determinado, encarando o rosto de Marlene coberto de lágrimas e terror.

— Olha! Olha! O que temos nós aqui? Um novo tesouro para o nosso baú! - Exclamou Orlando de forma cínica e presunçosa. - Tu queres trocar com ela, é isso?

— Percebeste muito bem, eu quero trocar com ela. - Reforçou a Sereia de forma decidida, absorvendo cada minúscula partícula da sua preciosa determinação.

— Já que tu te ofereces de tão bom grado, ficamos com as duas, pode ser que assim os nossos amigos polícias se decidam com mais rapidez. - Disse o gangster em voz arrogante, segurando Diana pelo braço, nunca desviando o cano da pistola da cabeça de Marlene.

— Parece que não estás a compreender muito bem o que eu te estou a dizer, eu troco com ela. - Afirmou a morena em tom frio, escapando à pega desajeitada do criminoso. - Acredita sou bem mais valiosa do que ela. - Garantiu, remexendo no interior do seu uniforme, retirando algo muito brilhante. - Sou uma Vingadora, aqui tens a prova. - Disse, mostrando o cartão de identificação que Tony Stark lhe dera meses antes.

— Parece que nos saiu a sorte grande! Bem miúda vai lá viver a tua vidinha miserável. - Afirmou Orlando de forma entusiasta, atirando Marlene para longe. - Sê bem-vinda à nossa humilde companhia.

— Espero que agora dês mais valor à tua vida. - Murmurou Diana em tom corajoso, sentindo a grotesca mão de Orlando circundar o seu braço, mantendo-a bem na sua frente como um escudo poderoso que o protege dos olhares curiosos dos oficiais.

Luke Cage vagueava, perdido entre as sombras daquela tremenda balbúrdia, sentia-se inútil, impotente e maltrapilho, como se de nada valesse a sua extraordinária capacidade, tinha consciência que era necessário ajudar Diana, contudo as opções eram muito reduzidas. Os polícias reagrupavam-se em duplas desorientadas, tentavam a muito custo solucionar aquela confusão, no entanto as soluções fugiam-lhes por entre os dedos.

— Tenho que fazer alguma coisa, eles não vão perder esta oportunidade, vão humilhá-la até nada restar. - Murmurou o herói amedrontado, esforçando-se por escutar o que os oficiais prenunciavam numa língua codificada.

Os criminosos levados pela falta de respostas dos oficiais, deitaram Diana por terra, espalhando pelo seu frágil corpo murros, pontapés e bofetadas, cravando no seu espírito ferimentos e nuvens de sangue escarlate, desenhando na sua mente as tristes sombras da humilhação e do desrespeito, amarando no seu doce rosto as predilectas lágrimas da dor.

— Tenho que ficar tranquila, não posso utilizar a minha voz, estou demasiado instável para tal, se o fizesse causaria danos permanentes nos presentes. - Pensava a morena corajosamente, sentindo cada osso do seu corpo gritar de dor e sofrimento, sentindo cada pequeno átomo da sua alma derramar lágrimas de sangue e sal.

Alguém caminhava nas imediações sinuosas da preocupação, da protecção e do compromisso, mantendo os seus olhos mascarados pela arrogância pousados em Diana, o seu coração estava aprisionado pelas tenebrosas amarras do fracasso e da nostalgia, pousou uma mão negra sobre o ombro de Luke.

— Dou-te cem dólares e tu trocas com a Vingadora. - Sugeriu em tom frio e distante, acenando com um pequeno maço de notas diante do nariz do herói.

— Quem és tu meu? - Perguntou Luke confuso, mirando com detalhe o homem que estava parado na sua frente.

— Simplesmente alguém. - Respondeu o estranho de forma misteriosa.

— E tu achas que cem dólares são o suficiente para eu colocar a minha vida em risco? Só podes ser completamente louco! - Zombou Cage de forma cínica e falsamente presunçosa.

— Diz-me o teu preço, eu pago seja o que for. - Garantiu o sujeito honestamente.

—Dois mil dólares, e o serviço fica feito. - Proferiu Cage em tom preguiçoso.

— Só podes ser completamente demente, onde guardaste o teu humanismo? - Questionou o viajante das sombras tomado pela frustração.

— Diz-me uma coisa, porque é que esta miúda é tão importante para ti? - Perguntou o herói em tom desconfiado.

— Porque ela faz parte do meu passado, do meu presente, e quem sabe, do meu futuro. - Respondeu o estranho banhando cada palavra que lentamente prenunciava nas profundezas do enigma.

— Fiquei a saber o mesmo – Comentou Luke completamente atarantado, absorvendo cada suave fibra do enigma do sujeito. - Olha, eu não tenho paciência para estas charadas, mas podes ficar tranquilo eu troco com a miúda, apesar de ela ser corajosa e determinada não vai durar muito mais tempo nas mãos daqueles rufias, podes guardar o teu dinheiro, ele não me faz falta.

— Obrigado, diz-me uma última coisa, a tua pele é mesmo intransponível? - Perguntou o mestre do mistério, vendo os alinhaves do seu plano formarem-se na sua mente.

— Sim a minha pele resiste a qualquer ataque, talvez apenas um ataque atómico faria algum dano. - Declarou Luke satisfeito, orgulhoso da sua extraordinária capacidade.

— Bem já que os bófias não resolvem o nosso problema acho que vamos passar a medidas mais drásticas. - Comentou Orlando de forma deliciada, olhando Diana com desprezo, retirando uma navalha do seu bolso. - O que acham de lhe cortarmos um braço? - Perguntou, dirigindo-se aos seus lacaios. - Meu docinho não te preocupes, eu prometo que isto vai doer muito, e vai demorar imenso tempo, prometo ser muito lento desfruta do momento. - Ameaçou, sentindo o pérfido sadismo possuir-lhe a mente criminosa.

Diana sentia a dura frieza da bainha envenenada da navalha percorrer lentamente o seu cotovelo, um fino fio de sangue quente anulava a gélida pressão da arma, uma dor aguda invadiu o seu espírito afundando nas entranhas sombrias da perdição e da impotência. Ao longe, recortado nas sombras pesadas do seu coração imergia Steve Rogers, marchando sobre um mar calmo de tranquilidade e paz, flutuando sobre um manto de nuvens de felicidade e esperança, caminhando numa muralha de luz, paz e harmonia, mergulhando nas profundas ondas do alento, da coragem e da valentia, acenando-lhe com mil pétalas de serenidade e amor. Num clarão de luz quente e brilhante vinha Clint Barton, correndo sobre o areal com perfume a maresia e sabor a cereja, transportando na sua mão a seta que mudaria o rumo daquele conflito atroz.

Conseguirá Luke salvar Diana? Quais os planos do caminhante do enigma e das trevas? 


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