Ondas de uma vida roubada escrita por Maresia


Capítulo 5
Quem manda mais




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                Uma figura com o rosto oculto por uma máscara vermelha, trajando um uniforme vermelho e azul, exibindo uma enorme aranha junto do seu peito arfante e preocupado, saltitava de prédio em prédio, baloiçando artisticamente nas suas teias de seda de aranha. Alguns transeuntes observavam-no com admiração, outros olhavam-no com pura e simples indiferença, e aqueles que se deixavam seduzir e enfeitiçar pelas vastas e odiosas linhas dos jornais manipuladores caminhavam com passada apressada, temendo pela segurança das suas nobres a inúteis vidas.

— Mamã! Mamã! Olha ali o Homem-aranha! – Gritou um menino muito pequeno quando o seu herói voou junto de uma janela partida.

— Patrick, não digas disparates, o que faria o Homem-aranha por estas bandas? – Perguntou evasivamente a mãe do jovem admirador, puxando-o pela mãozinha enfezada.

— Mas eu vi-o, é verdade! – Insistiu o desesperado menino batendo com os pezinhos no chão de asfalto.

                O herói continuou a sua travessia pelo cenário citadino e acinzentado, procurando evidências do local para onde a jovem cantora fora injustamente levada.

— Diana estás metida em sarilhos barbudos, esses tipos não brincam em serviço. – Pensava ele enquanto saltava através de um toldo sujo de um qualquer estabelecimento de fast-food. – Oh meu Deus onde é que ela estará, onde é que aqueles vermes a enfiaram, talvez nem Deus saiba dos esconderijos daqueles maníacos. Dava jeito ter aqui o nariz do Wolverine, espera lá talvez eles tenham barreiras contra mutantes com características de cão. – Murmurava de si para consigo, passando perto das imediações da Torre Stark. – E se eu pedir ajuda ao Tony Stark? Peter, não sejas estúpido, esse tipo também não é bom da cabeça! – As hipóteses eram cada vez mais escassas na mente do nosso herói e o desespero cada vez apertava mais o seu coração, enquanto os minutos passavam à velocidade da luz dizendo-lhe adeus quando passavam por si.

                Algures perdido na atmosfera fumegante, um carro voador de cor negra recortava-se indefinidamente contra o céu poluído, transportando a linda jovem até ao seu desconhecido destino. Sentada num dos confortáveis e aquecidos bancos forrados a pele, tremia compulsivamente, não conseguindo ter controlo do seu próprio corpo nem da sua indomável vontade, os seus olhos molhados vislumbravam a escuridão que transbordava das profundezas de um teimoso capuz cor de carvão. De súbito, uma descida vertiginosa anunciou a sua chegada com um enorme e desconfortável tropeção, até que por fim as rodas daquele fantástico e incomum carro tocaram o solo com suavidade.

— Chegámos, fica sossegada e não faças nada de estúpido miúda. – Avisou um dos misteriosos homens, segurando rudemente num dos braços da jovem. – Segura no outro braço. – Ordenou em voz autoritária ao seu companheiro, que prontamente assentiu sem hesitar, porém fê-lo de uma forma mais suave.

                Diana foi conduzida através de corredores e corredores, dobrou infindáveis esquinas, subiu inúmeros patamares de escadas, adentrou alguns elevadores, entrou e saiu por diversas portas, até que por fim estancou abrutadamente no fim de um longo e largo corredor.

— Fica aqui com ela. Vou informá-lo que chegámos. – Afirmou categoricamente aquele homem duro e impiedoso.

                Os paços do homem afastaram-se a grande velocidade, telintando agressivamente no chão de madeira, depois escutou-se o barulho incontestável de metal e uma porta a bater, e sem aviso prévio o silêncio tornou-se rei daquele misterioso local. A pressão no braço de Diana fora suavizada, o outro homem caminhava agora nervosamente de um lado para o outro nunca deixando de observar aquela jovem aterrorizada pelo medo e pelo terrível desconhecido.

— Onde estou? O que me vai acontecer? Quem são estas pessoas? – Pensava sistematicamente a jovem nas profundezas do seu ser lutador e determinado. – Oh não! – Exclamou Diana sentindo o seu telemóvel ressuar estridentemente na sua bolsa de linha.

— Isso agora é meu. – Disse o seu guarda em tom calmo, pegando cuidadosamente no telemóvel que a morena segurava tremulamente entre os dedos. – Dá-me! – Pediu o homem, tateando suavemente na mão fria de Diana, retirando-lhe o telemóvel.

— Podes trazê-la. – Resmungou a voz do anunciador. – Rápido e sem cerimónias.

                Diana foi tranquilamente conduzida para o interior de uma divisão e sentada numa cadeira em frente de uma secretária.

— Podem sair. – Ordenou uma voz rouca e baixa.

— Tem a certeza disso senhor? – Perguntaram os dois encapuzados.

— Ainda vocês andavam a mudar as fraldas já eu andava nisto, desapareçam! – Gritou o homem irritado. – Tu miúda, retira o capuz. – Disse martelando com os dedos na superfície lisa da sua secretária.

— O que vai fazer com ela? – Perguntou o agente que possuía agora o telemóvel da morena.

— Acho que isso não faz parte das suas competências, agente Barton, por isso faça-me um favor e vá ver se estão a cair rebuçados do céu. – Reclamou aquela possante voz.

                Diana obedientemente retirou o capuz que cruelmente encerrava a sua visão no mundo das trevas, olhou em volta tentando compreender onde estava, contudo nada descobriu, para além de uma sala completamente despida pintada de branco. Sentado na sua frente estava um homem de porte majestoso e inteligente de pele negra, trajando vestes igualmente escuras, Um dos seus olhos estava protegido por uma pala.

— O meu nome é Nick Fury, e sou o Director Geral da S.H.I.E.L.D. – Principiou o homem em tom baixo. – O teu nome é Diana, qualquer coisa, foste educada no orfanato Spring desde um ano de idade, a tua mãe chamava-se Hyliana, cuja profissão era diplomata, morreu num acidente de barco, o teu pai… - Fury franziu o sobreolho olhando atentamente para o computador que estava na sua frente. – Bem não interessa para este propósito. Foste trazida à minha presença porque paralisaste a tua escola inteira apenas com a tua voz, estou certo? – Perguntou olhando para Diana.

— Eu não sei, senhor. Eu apenas cantei, e… - Tentou explicar atabalhoadamente a nervosa adolescente.

— Não precisas de narrar os acontecimentos, eu sei com todos os detalhes o que ocorreu. – Interrompeu em voz audível do director da S.H.I.E.L.D. – Isto já aconteceu mais alguma vez ou esta foi uma vez isolada? – Perguntou.

— Eu nunca tinha feito isto, seja lá o que for, eu não compreendo. – Respondeu Diana, desejando obter respostas que tranquilizassem o seu espírito.

— Estavas emocionada, nervosa, receosa, com medo? – Voltou a questionar Nick Fury, ignorando os tremores da jovem.

— Sim eu estava bastante nervosa, nunca tinha cantado para uma multidão tão crítica e julgadora. Por outro lado, a presença da comunicação social também não ajudou em nada. – Explicou Diana, mantendo-se fiel aos factos ocorridos. – Mas por favor pode explicar-me o que se passa, eu não queria magoar ninguém, se eu fiz algo errado não foi pela minha vontade. – Pediu desesperada, mexendo nervosamente no cabelo.

— Bem, tu tens poderes que te distinguem dos miúdos irritantes da tua idade. Pelo que sei a tua voz é a tua maior arma, se tens mais características especiais não sei, teremos que descobrir com o passar dos anos. – Esclareceu Fury alegremente, erguendo-se da sua cadeira e começando a caminhar de um lado para o outro sem dar muita importância ao interrogatório.

— Então está a tentar dizer-me que eu sou uma mutante? – Perguntou Diana aterrorizada.

— Eu não disse nada disso. – Respondeu Nick enigmaticamente.

— O senhor vai enviar-me para o instituto dos X-Men? Se é essa a sua ideia eu recuso-me determinadamente. Eu sou uma rapariga normal, não existe nada de errado comigo, ouviu bem? – Defendeu-se Diana, irritada com a atitude daquele homem misterioso.

— Sei exatamente onde te colocar, mas com certeza não será nos X-Men. – Tranquilizou-a Fury, voltando a focar-se no seu trabalho.

— Então é onde? – Insistiu a morena chateada devido à ausência concreta de respostas.

— A curiosidade matou o gato, nunca ouviste dizer. A seu tempo saberás. – Respondeu sem se alongar mais do que era permitido pelas suas regras.

— Eu não tenho escolha pois não? – Resignou-se a adolescente coçando o seu queixo coberto de suor.

— Por acaso não tens, desculpa lá, mas a vida é mesmo assim. – Retorquiu Nick Fury arrogantemente.

— É preciso ter uma grande lata. – Murmurou Diana, mordendo o seu lábio inferior.

— Vê como te diriges a mim miúda, é que eu posso mudar de ideias. – Ameaçou o director da S.H.I.E.L.D.

— Tenho duas perguntas para lhe fazer. – Iniciou Diana, olhando aquele sujeito poderoso e intransponível cuja palavra era lei incontestável e única.

— Achas que eu tenho cara de Super Star de cinema, ou de música Rock? – Brincou Nick Fury.

— Desde muito nova que procuro o meu pai, o senhor deu-me a nítida sensação de saber quem ele é, por isso vai-me dizer. 

— E quem me obriga? Uma miúda cuja voz paralisa meio mundo? Podes tentar! – Provocou o director da S.H.I.E.L.D. com o desafio estampado no rosto.

— Eu tenho esse direito! – Gritou a jovem, batendo na mesa com força.

— Eu também tenho direito a chocolate quente, e só me servem chocolate vindo da Sibéria, realmente a vida não é justa. Se queres encontrar o teu pai procura-o, eu não te digo, isso posso eu garantir. – Afirmou o homem de pele negra sem o menor remorso ou culpa nas suas palavras. – Qual é a outra pergunta.

— Todos acham que sou uma aberração, como vou retomar a minha vida normal? – Questionou, esforçando-se por manter a calma que lhe fugia apressada por entre os dedos.

— Um telefonema ou outro e fica tudo resolvido. – Respondeu Fury vagamente. – Bem agora vais voltar para a tua deplorável vidinha, depois irei ter contigo para te apresentar aos, bem a uns amigos meus. Acho que não é preciso dizer que o que se passou aqui é estritamente confidencial, se não souberes o que significa procura no dicionário. Coulson, Barton venham cá. – Chamou em voz alta os seus dois lacaios.

— Sim senhor. – Responderam prontamente, entrando na divisão.

— Acompanhem a Miss Diana ao orfanato. – Ordenou sem mais explicações.

— Vai deixá-la ir assim? – Questionou admirado o agente chamado Barton.

— Talvez deva ponderar se o deixo ir a você agente Barton. – Respingou Fury irritado. – Mexam essas patas e saiam daqui! - Berrou. Os três saíram da sala com paços largos. – São mesmo iguais, quem diria que uma coisa destas iria acontecer, realmente o destino é lixado, certamente vai ser um percurso bastante interessante. – Pensou, analisando os dados de Diana com mais atenção.

                Irá Diana algum dia encontrar o seu pai? Qual o grupo que a jovem vai integrar? Estará ela disponível para aceitar a sua nova e perigosa vida?


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Notas finais do capítulo

A base da S.H.I.E.L.D. onde Diana foi interrogada fica em Portland Oregon, a mesma base onde várias personagens foram interrogadas na história "Guerra Secreta" de Brian Michael Bendis.



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