Ondas de uma vida roubada escrita por Maresia


Capítulo 44
Rasteira impiedosa




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/670836/chapter/44

Um homem valoroso combate as guerras, destrói as armas, polvoriza a fome, aniquila a pobreza, congela a miséria, ilumina as trevas, assassina o desespero, enterra o sofrimento, derrota a própria morte, mas jamais ergue o punho contra um companheiro, um irmão, um discípulo ou a mulher que ama.

— Fandral, Volstagg, Hogun, Sif, Heimdall, meus companheiros. – Lamentou-se o jovem Thor emocionado, derramando lágrimas de sangue e perda dos seus olhos azuis.

— Espero que tenhas gostado da surpresa! – Cuspiu Grimir não cabendo em si de tanta felicidade, olhando o espanto e a dor retratadas no atraente rosto do príncipe.

— Como foste capaz! Como foste capaz! – Gritou o Deus colérico, enxugando o rosto com as costas da mão. – Quanta cobardia corre nas tuas veias? – Comentou em voz gélida.

— Os fins justificam os meios. Não sei do que te queixas, convidei os teus amigos para assistirem à tua derradeira queda. – Declarou o feiticeiro, sorrindo com maldade e delícia, caminhando nas sombras dos cinco fantasmas de gelo, mantendo-os como escudos protetores, imunes às faíscas trovejantes do martelo.

— O que pretendes com isto? – Interrogou Thor em tom sumido, fitando o vazio gelado que percorria as almas dos nobres guerreiros Asgardianos. – O meu coração baterá por vos, a minha força será a vossa força, a minha luz manter-vos-á no mundo terreno, fiquem comigo meus amigos.

— Uma pequena gota de sangue, é só isso que eu peço, achas que é muito, achas que não vale o esforço? – Esclareceu o Titã de forma sínica, bramindo o seu ceptro, colocando Lady Sif diante dos olhos de Thor.

— Jamais! – Garantiu o louro faminto de vingança, empunhando o seu Mjolnir sagrado, recusando olhar os seus fiéis companheiros transformados em gelo imundo e fantasmagórico.

— Se eles te pudessem escutar morreriam de desgosto ao saberem que desvalorizas as suas vidas dessa forma cretina e egoísta. – Comentou Grimir satisfeito, apontando para os cinco Asgardianos.

— Para que lhes servirá a vida se Asgard cair, nunca me perdoariam, preferiam que eu os matasse do que cedesse o nosso reino a alguém pútrido como tu. – Afirmou o príncipe do norte, ciente das suas convicções e dos valores morais que batiam nos corações dos seus companheiros.

— Que belo discurso, só lamento que não sirva de nada. – Rosnou o negro feiticeiro entusiasmado, lançando no ar o seu riso agudo e congelante.

                Thor estava perdido, indeciso, confuso, lutando contra os fortes laços que o uniam aos seus companheiros, lutando contra a forte corrente que o prendia a Asgard, lutando contra a grossa amarra que o ligava a Midgard e aos seus habitantes, Grimir atingira o seu ponto mais frágil, realmente não sabia o que fazer.

— Não os posso ferir, não possuo esse direito. – Pensou o Deus confuso, caminhando nas imediações turbulentas da indecisão.

— Tens uma segunda opção, dás-me uma gota de sangue e fica tudo resolvido. – Afirmou Grimir em tom manipulador, aninhando-se nas páginas sinuosas da mente do louro.

— Deixa-os partir e o meu sangue será teu. – Negociou Thor, imerso no mais profundo e decadente desespero, fitando os seus companheiros mortos, gelados e inexpressivos.

— Não sei se devo confiar em ti. – Desconfiou o feiticeiro, olhando o nórdico com atenção.

— Dou-te a minha palavra de honra. – Prometeu Thor num murmúrio, esforçando-se para manter a cabeça livre de pensamentos que pudessem comprometer o seu plano.

— Posso conferir que estás a ser honesto, aprovo o negócio jovem Thor, contudo gostaria de te apresentar uma contra proposta, eles os quatro partirão, no entanto a bela Sif ficará na nossa agradável companhia. – Sugeriu Grimir em tom sagaz, baloiçando o seu ceptro demoníaco, fazendo com que os quatro homens sumissem numa luz escura e fria, deixando a linda guerreira na sua frente.

— Ele não hesitará em colocá-la na frente do meu ataque. – Cismou o louro apreensivo, não estava à espera daquele desenlace trágico, não teria a coragem de eliminar a linda Asgardiana.

— Agora que já resolvemos as nossas divergências, achas que estamos em condições de tratar dos nossos negócios? – Questionou o feiticeiro de forma arrogante, deslizando uma das negras manápulas pelos cabelos da jovem.

— Não lhe toques! – Gritou o Deus irritado, avançando na direcção de Grimir.

— Desculpa não queria ferir os teus sentimentos, por momentos esqueci-me de que ela é tua amada. – Desculpou-se Grimir em tom falso e presunçoso, lambendo os lábios por de baixo do capacete.

                O sangue do Asgardiano ardia de fúria, de raiva e de desalento, odiava sentir-se encurralado, aprisionado, amordaçado, inútil, talvez devesse desistir, talvez devesse voltar as costas, sentar-se e esperar pelo inevitável, todavia o seu espírito de luta continuava intacto, inquebrável, indomável, banhando-se no vasto rio do orgulho, da honra e da dignidade, tinha que fazer algo, tinha que se decidir, tinha que proteger Midgard e Asgard, nem que lhe custasse a própria vida.

— Sif perdoa-me. – Murmurou Thor num murmúrio doloroso e sumido, a sua garganta era sequestrada pelas mãos da dor e da perda á medida que avançava na direção do feiticeiro protegido pela brava jovem. – Por Asgard! – Gritou, lançando o seu Mjolnir que mataria Sif, contudo colocaria fim àquele pesadelo infernal.

                Misturado com o cheiro amarelo dos trovões, surgiu um vento prateado, amável, doce e extremamente poderoso, jogando a linda Lady Sif para longe das garras da morte, da ganância e da falsidade, colocando uma pluma no coração do príncipe Thor.

— Maldita sejas! – Gritou o feiticeiro, lançando na atmosfera um urro de raiva e desaprovação.

— Não vencerás Grimir! Thor meu querido, Asgard está contigo! – Prenunciou uma voz feminina, calma e ternurenta vinda dos confins escondidos do mundo.

— Esta voz. – Sussurrou o louro emocionado, olhando em redor, o vento prateado ainda desfilava pelas entranhas da escuridão espalhando o seu aroma delicado no universo. – Agora somos só nós os dois, o teu fim está próximo!

— Eu não teria tanta a certeza disso, Thor, a luta só termina quando um de nós tombar. – Disse Grimir em tom de desafio, bramindo o seu ceptro na direção do Deus, criando uma implacável prisão de gelo.

                Num repente de terror, o louro sentia os seus olhos quererem saltar das órbitas, impulsionados pelo envenenado frio, sentiu o sangue gelar nas veias, o coração bater com dificuldade, a mente ficar entorpecida pelo sopro gélido, então fora assim que todos os outros sucumbiram, pensava enquanto os seus joelhos embatiam duramente no chão.

— Não irei desistir. – Declarou o príncipe em tom abafado, sentindo cada músculo do seu corpo tremer violentamente, magnetizado pelas finas dentadas da morte.

                Com alguma dificuldade, remexeu uma das dormentes mãos, vasculhando no silêncio, tateando naquele inferno de gelo e escuridão, procurando o seu fiel martelo lendário, ele seria a luz que alcançaria a esperança e força necessárias para derrotar aquele fatal oponente.

— A mim, Mjolnir! – Exclamou Thor em voz sumida e trémula, esticando a mão, onde o pesado martelo pousou com real suavidade.

— Agora é só esperar que desmaies e depois basta retirar uma gota desse sangue imundo e tudo correrá como planeado. – Festejou Grimir sorridente, brincando com o seu ceptro entre os dedos negros. – Serei recompensado, idolatrado, venerado e adorado por todos, serei o herói que salvou o povo titã, receberei honras, gratidões, vénias e tesouros inimagináveis, serei mitificado e imortalizado em todas as dimensões.

— Não te esqueças que sem mim tu serias insignificante, só estás aqui porque eu te dei o poder. – Vociferou uma voz arrogante e mal-humorada, proveniente de parte inserta.

— Claro que sim, jamais me esquecerei. – Respondeu Grimir em tom frio, fazendo uma profunda vénia ao vazio.

                O valoroso Asgardiano ergueu-se apoiando-se na força mística do seu povo, segurando com bravura o lendário martelo forjado pelas lutas e pelas conquistas, estava pronto para marchar sobre os tambores da vitória.

— Por Asgard! – Exclamou Thor em voz audível e determinada, ignorando o frio que lentamente lhe roubava a vida, desferindo diversos golpes naquela prisão branca e enevoada onde os demónios da morte caminhavam como senhores soberanos.

— Mas o que se passa aqui. – Interrogou retoricamente Grimir alarmado, observando um gigantesco buraco crescer na muralha de gelo.

— A luta ainda não findou. – Murmurou o Deus em voz rancorosa, impulsionando-se para perto de Grimir. – Pede perdão e volta para o buraco de onde vieste, se assim for poupo-te a vida.

— Ainda não percebeste que não vim até aqui para perder? Os meus objetivos serão cumpridos quer tu queiras quer não queiras. – Respondeu o feiticeiro de forma misteriosa, vislumbrando a raiva plantada nos olhos do louro.

— Se assim o preferes, tombarás perante mim, Thor o filho de Ódin! – Exclamou o príncipe seguro da sua vitória, quebrando a curta distância que o separava do Titã, empunhando corajosamente o Mjolnir, pregando a sua justiça no peito do feiticeiro, no entanto algo embateu pesadamente contra a ponta da arma, algo sólido, divino e intocável, algo que derramou o peso do infinito universo nos ombros de Thor. – Cobarde! – Gritou, sentindo uma chuva aguçada de estrelas perfurar-lhe dolorosamente o espírito, transformando-o num farrapo.

                Quem salvou a Lady Sif? Quem comanda a operação escondido nas sombras? Quem é o novo escudo de Grimir?


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Ondas de uma vida roubada" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.