Ondas de uma vida roubada escrita por Maresia


Capítulo 43
Espada folha e sangue




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O jovem Asgardiano paralisou, aterrorizado, receoso, atónito, preso num vasto rio de gelo, escuridão e silêncio, refugiando-se num suspiro de hesitação e assombro, vendo uma das preciosas folhas da Árvore da Vida, uma das joias que sustentavam a pacífica leveza da graciosa Asgard, uma das estrelas que florira contra todas as adversidades naquele jardim inóspito e frio, uma safira que nascera nas asas da gelada brisa do Norte, cintilando inocentemente na negra manápula de Grimir.

— Não! – Gritou Thor assombrado, fitando aquela catástrofe nunca antes presenciada, o seu desabafo fora aniquilado pelos uivos dos tenebrosos ventos dos sinos que flutuavam sobre o cruel espírito do feiticeiro.

— Tarde de mais para lamentos. – Vociferou o demente homem orgulhoso do seu feito, palpando a solitária folha entre os dedos. – O relógio já está a contar, somente falta um elemento.

— Não o atingirás! – Garantiu o deus furioso, preparando o seu nobre martelo Mjolnir, colocando na sua ponta cravejada de coragem a sua indomável vontade de vencer, colocando na sua ponta a força que o tornara um Vingador, colocando na sua ponta a nobreza que o fizera príncipe de Asgard.

— Não prometas o que não tens a capacidade de cumprir, jovem Thor, Ódin nunca te incutiu este princípio? – Zumbou Grimir em tom escarninho, vagueando nas sombras da sua incontrolável maldade. – Diz-me Thor, soube que tu e o teu querido pai nunca se deram muito bem, sempre tiveram discordâncias, discussões e problemas, não me vais dizer que não te gostavas de vingar de todas essas humilhações?

— Os dilemas que surgem entre mim e o meu pai não te dizem respeito, não servirão como armas que te levarão à conquista! – Exclamou o príncipe irritado com aquelas insinuações puramente verdadeiras, contudo desrespeitosas. – Onde está o segundo elemento, mostra-mo seu cobarde!

— Está aqui. – Declarou Grimir lentamente, erguendo algo reluzente que matava aquela escuridão demoníaca.

— Não pode ser, não pode ser! – Murmurou Thor incrédulo, vislumbrando com profundo terror a espada que o feiticeiro segurava firmemente na sua mão. – Essa é a espada do Heimdall!

— Sempre perspicaz. – Elogiou falsamente o negro Titã, baloiçando perigosamente a arma lendária. – Esta espada forjará o futuro.

— Enganas-te! – Berrou o louro alarmado, era pleno conhecedor do fatal poder da espada do sábio e observador guardião, não devia ter caído em mãos erradas.

                A pérfida brisa deslizava numa periferia indefinida e difusa de muralhas ardentes de gelo atroz e cortante, transportando no seu ventre o pútrido cheiro da perda, do desespero e da morte silenciosa, marchando sobre as chamas infernais dos glaciares inflamados, trazendo nas suas vestes de linho a esperança, a força e a coragem que brilhariam num amanhecer promissor, abençoado por um arco-íris branco repleto de gotas de orvalho madrugador e fresco, o esbelto príncipe, apoiando-se na fortaleza trovejante do seu ser, ergueu o seu magnífico Mjolnir, guiando-o na direcção inequívoca da luz do fogo da fénix, estava pronto para o combate, nada o iria deter, porém as ondas negras do desconhecido derramavam ódio à sua dramática passagem, teria a luz dos trovões vontade sobre as trevas?

— Prepara-te! Conhecerás a morte! Tombarás perante mim, Thor, o filho de Ódin! – Proferiu o Deus em tom de desafio, atirando o seu sagrado martelo sobre as hostes Titânicas.

— Não será assim tão fácil, acredita nas minhas palavras. – Avisou Grimir, esboçando um sorriso fortalecido pelo cinismo e pela arrogância, levantando o seu maquiavélico ceptro, transformando sem remorsos o mortífero Mjolnir em gelo.

— Não é possível. – Sussurrou Thor amedrontado, vendo o seu leal martelo voar para si preso por uma alma de gelo e maldade. – Isto não me deterá, este gelo não simboliza adversário para mim.

                Evocando as suas mais puras e fiéis forças, escondidas nas profundezas divinas do seu espírito intemporal, o jovem Deus pousou as suas mãos justiceiras sobre o seu pesado legado, Mjolnir, filtrando para as suas entranhas nórdicas a sua vontade inquebrável, flamejante, raiosa, purificando o seu ferro lendário daquele demoníaco gelo agreste e criminoso, devolvendo-lhe a vida soberana sobre as planícies do gracioso reino.

— Nada mau, nada mau! – Aplaudiu Grimir ligeiramente impressionado com o sucedido.

— Devolve-me a folha e a espada, tu nunca serás digno delas, nunca! – Exigiu o louro, louco de raiva e ressentimento, avançando a grande velocidade contra o feiticeiro, tinha que pôr fim aquele repentino massacre, tinha que descobrir onde estava encarcerado o seu povo, tinha que salvar o seu conturbado pai, não tinha outra opção. – Pagarás pela tua ousadia!

— Não te fica bem o papel de cobrador Thor. – Comentou o Titã divertido, bramindo a poderosa espada de Heimdall, bloqueando o corajoso avanço do príncipe, um estridente tinir inundou a atmosfera negra, quando o martelo e a arma afiada se cruzaram num misto de luz, relâmpagos e omnisciência.

— Como te atreves a atacar-me com a espada de Heimdall? – Perguntou Thor indignado, tentando esmurraçar Grimir, contudo este impulsionou novamente a espada, raspando-a dramaticamente no punho do louro, porém a sua fatal lâmina somente encontrou a luva do deus. – Não sairás impune deste confronto, juro!

— Assim veremos. – Afirmou o feiticeiro na defensiva, olhando Thor com desprezo e desdém, segurando-o pela lapela da cota de malha. – O teu sangue será meu, meu! – Gritou, soltando no ar as finas cordas do seu riso gélido, encostando a lâmina fria ao pescoço do príncipe.

— Mjolnir a mim! – Ordenou o Asgardiano em voz sufocante, esticando uma das mãos, pois com o embate o martelo caíra sobre o manto de trevas e silêncio.

— Não vale a pena adiar o que é inadiável, resume-te á tua insignificância e realiza o teu propósito, a queda de Asgard e de Midgard.- Cuspiu Grimir deliciado, exercendo pressão contra o pescoço do louro.

— Jamais! – Gritou Thor enraivecido, batendo com o lendário martelo contra o peito protegido do feiticeiro, no entanto apenas o som metálico invadiu o infinito negro.

— Não me subestimes, a minha armadura nasceu nas margens do rio de Uru que floresce nos confins misteriosos de Asgard, é tão forte como teu martelo. – Explicou o Titã orgulhoso da sua criação forçada, dando um pontapé que jogou o Deus pelos ares. – Eu sou paciente, se desejas lutar, então lutaremos!

— Desiste, eu não cederei! – Impôs Thor em voz audível, levantando-se do terreno fertilizado pelas aguçadas raízes do desespero, agarrando-se ao seu poderoso orgulho de combatente do tempo. – O meu sangue não servirá para chacinar Asgard e Midgard. – Garantiu, transpondo a enorme distância que o separava de Grimir, empunhando com bravura e honra o seu Mjolnir, contudo algo arrepiante lhe barrou o caminho, cinco fantasmas tecidos pelo gelo. – Meus, meus…

— Aí os tens. – Anunciou o feiticeiro de forma impiedosa e cortante, vislumbrando a cena caótica e inimaginável que crescia vinda da ponta afiada da sua negra vontade.

                Os relâmpagos antevêem a tempestade, a escuridão silenciosa trás o desalento e a desolação, o vento transporta o mal e a intolerância, o silêncio guia o caos e a maldade, o gelo aguçado esconde o mistério e o desconhecido, os sinos guardam os maus presságios, os companheiros difundem a esperança, a coragem, a força e a paz.

                Quem barrou a entrada da ponte que conduzirá á vitória?


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Notas finais do capítulo

Apesar de ter consciência de que Thor não possui qualquer tipo de poder que lhe permita descongelar objetos ou pessoas, tive grande atrevimento de criar esta extraordinária capacidade com o intuito de fortalecer o poderoso vinculo que o une ao seu lendário Mjolnir.



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