Ondas de uma vida roubada escrita por Maresia


Capítulo 40
Correntes de vontade


Notas iniciais do capítulo

Neste capitulo, a Diana demonstra uma outra habilidade que fortalece o seu nome de Sereia.



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Diana vislumbrava o oceano escuro e mortífero com pesar e nostalgia, muitas e dolorosas recordações invadiram cruelmente a sua mente ofuscada pelas ondas gritantes, gritos, passos apressados, um abraço materno, intransponível, protetor, um mortal cor-de-laranja que cegava as almas aflitas dos presentes, uma explosão doentia arrastando consigo o cheiro moribundo da decrépita morte e por fim só restou o azul do oceano, o frio das águas, um choro persistente, o seu próprio choro. Então, num laivo de desespero e justiça a morena retirou o seu vestido e os seus sapatos, estava pronta para travar a ambição cristalina do mar, desta vez ele não saciaria a sua indomável fome com mais uma vida inocente.

— Não, Diana por favor! – Exclamou Clint aterrorizado, vendo a jovem correr, guiada pelas finas correntes da vontade, rumo ao bravo oceano. – Não faças isso, não conseguirás sobreviver!

— Clint confia em mim, desenvolvi muitas capacidades que tu desconheces ao longo dos meus treinos! – Gritou a Sereia corajosamente, não sabia se estaria pronta para enfrentar tal prova, porém não iria deixar aquela menina à mercê da fúria aquífera. – Avisa os Vingadores! – Exclamou, vendo que o Arqueiro corria no seu encalce, este paralisou na areia castanha, imobilizado pelos afiados vibratos emitidos pela voz da adolescente.

— Bolas, as emoções dela estão completamente descontroladas, ela é incapaz de domar o seu poder. – Constatou o Gavião apreensivo, recuando vários metros, observando a sua princesa mergulhar nas hostes marinhas.

                Diana mergulhava agressivamente naquela névoa de escuridão, frio e desespero, esmagando os seus olhos contra o pó ofuscante do sal marinho, tentando encontrar a pequena Luna. Dava corajosas braçadas, lutando contra o monstro que apura as perigosas correntes aquáticas, lutando contra o seu passado, lutando contra aquele frio sobrenatural que lhe feria os ossos, lutando contra o desconhecido temido pelos Deuses.

— Tenho que conseguir, por ti mãe, tenho que conseguir. – Pensava a Vingadora apelando a toda a sua determinação coragem e valentia, sentindo a dureza das rochas embaterem pesadamente no seu dormente corpo, embaladas pelos manipulados braços do oceano.

                No areal devastado, Clint olhava o mar negro, Diana desaparecera do seu campo de visão, queria acreditar que ela ainda estava viva, no entanto o peso ribombante da atmosfera estrangulava-lhe a esperança e a confiança, plantando no seu coração a tenebrosa dor da perda, fomentada pelos ferozes ventos nórdicos. Sem hesitar, pegou no seu intercomunicador:

— Vingadores! Vingadores daqui é o Gavião preciso da vossa ajuda junto do cais marítimo, repito, preciso de ajuda junto do cais marítimo. – Anunciou o Arqueiro em voz audível, caminhando até junto da desesperada mãe que jazia ofegante na areia molhada. – Tem calma, vamos salvar a tua filha, acredita em mim. – Murmurou, rezando para que ocorresse um milagre.

— Gavião daqui é o Cap, relata o acontecimento. – Ordenou a voz determinada de Steve Rogers.

— Cap o oceano está muito estranho, as ondas atingem os quinze metros de altura, uma menina foi arrastada pela força das águas, e, e, a Sereia está a tentar salvá-la, mas eu não acredito que consiga, não consegui fazer nada para a impedir, fiquei paralisado, manda reforços por favor! – Explicou Clint aterrorizado, tremendo ligeiramente.

— Não a tentes seguir, não duravas um minuto nessas condições, ela adquiriu a capacidade de resistir a baixas profundidades, acredita nela, no entanto irei enviar alguém. – Declarou Steve em tom casual, remexendo as mãos nervosamente.

— Obrigado Capitão. – Agradeceu o Gavião, dando uma nova olhadela à vasta escuridão azul, procurando uma evidência daquele luminoso sorriso.

                A Sereia penetrava cada vez mais fundo naquele oceano de maldade e egoísmo, os seus pensamentos voavam num turbilhão de laranja e azul, tinha que manter a mente lúcida, analítica e lógica, tinha que encontrar aquela menina, apesar de duvidar que ainda estivesse viva, mas mesmo assim tinha que à devolver a sua mãe. Nadou em círculos perfeitos, tentando escapar às garras afiadas das rochas cortantes, tentando persuadir os grossos blocos de gelo aguçado que nascia das grossas vagas manipuladoras, tentando proteger-se do vento sanguinário que feria os seus lábios, derramando gotas quentes de sangue naquelas águas salgadas.

— De onde vieram estes blocos de gelo? Este fenómeno não é natural, passa-se algo de muito errado. – Constatou a morena assustada, vagueando pelas difusas imediações do sobrenatural, subindo e descendo a escadaria do oculto. – Tenho que te encontrar! – Exclamou em voz vibrante.

— Diana! – Gritou o Arqueiro apavorado, sentindo as magníficas vibrações da voz da morena filtradas pelas águas, ela ainda estava viva, mas por quanto tempo?

                Num repente verde esperança, um choro quebrou a vasta barreira do uivante vento agreste, o abismo profundo do ruido das ondas, o infinito daquela escuridão cega, o cataclismo de frio, dor e sangue, a menina estava viva, também ela lutava presa pelas finas correntes da vontade.

— Aguenta, eu já vou! – Murmurou a Vingadora esperançada, sendo apanhada num turbilhão rodopiante de água gelo e escuridão, embatendo duramente numa rocha revestida de ganância, ódio e crueldade. – Oh meu deus! Ainda estás viva! – Exclamou, sentindo um grosso fio de sangue escarlate escorrer dolorosamente da sua testa.

                Luna, protegida pela lua, ou salva pela vontade duvidosa de alguém, permanecia deitada numa rocha, a água furiosa circundava o local, contudo não o manchava com o seu pérfido espírito.

— Como é que isto é possível? – Sussurrou a Sereia desorientada com o brutal choque, segurando a pequena menina junto do peito. – Tem calma, agora vai ficar tudo bem.

— Quem és tu? – Perguntou Luna em tom amedrontado.

— Sou uma Sereia. – Respondeu Diana de forma amável, acariciando o rosto da menina. – Vou levar-te à tua mãe.

— A minha mamã disse-me que ia apanhar uma concha do mundo das sereias, tu vieste ajudar a minha mãe? – Questionou Luna feliz, abraçando-se ao pescoço da Vingadora.

— Claro que sim, olha isto é para ti, é uma conchinha mágica, realiza desejos! – Exclamou a morena impressionada, apanhando uma pequena concha da rocha.

— Obrigada! – Exclamou a menina em voz sonhadora, agarrando com força a pequena concha.

                Diana mergulhou de novo naquelas águas amaldiçoadas, segurando fortemente Luna nas suas costas, mantendo-se corajosamente à tona azul para que a menina pudesse respirar. Com extrema e penosa dificuldade, aquela menina era como uma estrela cadente, um verdadeiro milagre.

— Clint estou aqui! – Gritou a Vingadora exausta, sentindo a profundidade diminuir gradualmente.

— Não grites, eu não consigo mexer-me! – Pediu o mestre das setas zangado, porém muito, muito aliviado.

— Segura a menina, estou sem forças. – Solicitou a Sereia ofegante, atirando a flor negra nos braços do Arqueiro. Num último esforço, içou-se para a areia espancada pelas ondas conspiradoras, no entanto um magnetismo manipulador prendeu-a com a força de um vulcão explosivo.

— A menina pode ir, mas ninguém disse que tu também podias. – Declarou uma voz altiva, arrepiante, tenebrosa, vinda da própria atmosfera, personificando o vento agreste, a escuridão e a força brutal das águas, os dois heróis cruzaram os seus olhares num misto de dúvida, receio e curiosidade.

— Segura a minha mão, vamos lá princesa não desistas! – Exclamou Clint assustado, tentando alcançar a mão escorregadia da Sereia.

— Clint! Foge, está a acontecer algo que nem eu, nem tu conseguimos controlar, foge! – Gritou a Vingadora sufocante, sentindo o seu precioso ar ser sugado pelo abismo azul e demoníaco.

— Diana! - Gritou o mestre das setas, vendo a morena ser arrastada pela devastação ondulante. – Não!

— Se ela morrer tu também não ficarás vivo. – Comentou uma voz misteriosa nas costas do louro.

— Quem és tu? – Questionou Clint furioso, encarando as trevas cravadas naquela máscara de mistério e patriotismo humano.

— Apenas alguém. Já convocaste os Vingadores? – Interrogou o estranho em tom aflitivo, tentando enfrentar as ondas perturbadoras.

— Não estou autorizado a falar sobre esse tipo de assunto, quem és tu? Não volto a perguntar, se te recusares a responder serei obrigado a deter-te. – Informou o Vingador em tom autoritário, segurando o sujeito pelo braço.

— Gostava de ver isso. – Desafiou o estranho de forma cínica, deitando o louro por terra com um simples movimento rotativo do seu braço. – Já convocaste os Vingadores?

— Já! – Gritou o Gavião enraivecido, erguendo-se num rompante, preparando o seu potente arco.

— E do que estão eles à espera para resgatarem a miúda? – Revoltou-se o sujeito em tom colérico, observando com atenção a seta que o louro segurava entre os dedos.

                Diana debatia-se corajosamente contra a corrente agressiva, sentindo a morte vaguear perigosamente na sua beira, sentindo o frio almejar-lhe brutalmente o espírito, mergulhando-o na dormência decadente do submundo, agarrada pelos véus negros da cobiça e do julgamento superior. Os seus olhos cegavam, mirados pelo pesado chumbo do ódio, cravejados pela tenebrosa luz das trevas, afogados nas pontas aguçadas da enorme estrela do ódio.

— Cap! – Murmurou a morena em voz sumida, sentindo a dureza das rochas nas suas costas.

                Um clarão de relâmpagos rasgou o céu amaldiçoado, um vento elétrico palpitou suavemente sobre as marés agonizantes, Thor, o príncipe do trovão voava segurando com bravura o seu sagrado martelo divino, Mjolnir.

— Diana, não morras, aguenta, eu estou aqui. – Berrou o Deus furioso, amarando na rocha junto da adormecida adolescente.

— Bem-vindo meu caríssimo Deus do trovão! – Exclamou a mesma voz imponente, misturando-se com a fúria da natureza. – Pensei que tardarias, não era minha ambição matar esta menina tão encantadora e corajosa!

— Quem és tu? O que queres dela? – Inquiriu Thor irritado, bramindo de forma ameaçadora o seu martelo, lançando o encantado brilho dos trovões em todas as direções.

— Dela não pretendo nada, o meu alvo eras tu. – Explicou a voz sonante, soltando um riso gelado no ar trovejante.

— Explica-te monstro! – Ordenou o príncipe de Asgard colérico, sentindo a pulsação da Sereia.

— Cada questão a seu tempo, meu caro jovem Thor. Responderei a todas as tuas perguntas em Asgard! – Exclamou o fantasma do gelo, a sua voz dissipava-se guiada por um fino riso de escarnio e triunfo.

— Volta aqui! – Gritou Thor irado.

— Não aceito ordens de um miúdo, adeus Thor! Espero por ti no reino do Norte! – Declarou o estranho ser, desaparecendo, devolvendo a habitual calmaria marinha.

— Aqueles trovões só podem significar que o Thor salvou a Diana! – Exclamou Clint pouco seguro do que via, apontando para o céu negro.

— Sim, parece que sim. – Murmurou o estranho pouco impressionado. – Já não estou aqui a fazer nada, adeus Gavião Arqueiro. – Despediu-se em tom frio, cobrindo-se com as obedientes trevas, evaporando-se no nevoeiro azul.

— Seu desgraçado! – Resmungou Clint atónito, olhando a tranquilidade do oceano beijando o areal sereno. – Como estás? – Perguntou, dirigindo-se à jovem mãe que horrorizada assistia a toda aquela macabra cena.

— Bem, eu vou ficar bem, obrigada. Mas a tua namorada, ela…

— Vai ficar ótima, não te preocupes. – Interrompeu o mestre das setas confiante, olhando o sinal triunfante dos trovões desenhado no firmamento de veludo.

— Quando ela recuperar gostaria de lhe agradecer, achas que é possível? – Questionou a jovem emocionada, segurando com força Luna que dormia serenamente no seu peito, apertando com firmeza a pequena conchinha na sua frágil mão.

— Claro, como te chamas? Onde moras? – Inquiriu Clint distraidamente, não tirando os olhos do oceano espumoso.

— O meu nome é Esmeralda e vivo no Harlem. – Respondeu a jovem negra sorrindo.- Bem agora vou indo, mais uma vez obrigada por tudo. – Despediu-se.

— Adeus. – Disse o Arqueiro sorridente. – Diana! – Exclamou em tom louco, vendo o voo de Thor precipitar-se para o areal. – Diana! Como é que ela está? – Perguntou, sentindo uma onda de alívio percorrer a corda do seu arco.

— Ela só precisa de descansar, vamos levá-la para a mansão. – Afirmou o Deus de Asgard em voz sumida e culpada, depositando a Sereia nos braços do Gavião.

                A noite percorria de forma deslizante os pensamentos do bravo guerreiro nórdico, trovejando no seu peito com a brutal força de mil gigantes de gelo, a culpa e o ressentimento ardiam de forma feroz na sua alma queimando e devastando os seus valores, as suas crenças e a sua fé.

                De onde provem esta nova e derradeira ameaça? Quais são os seus maquiavélicos planos? Que ligações tem com Asgard? Quais os seus reais poderes? Conseguirá Thor fazer-lhe frente?


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