Ondas de uma vida roubada escrita por Maresia


Capítulo 34
O venenoso erro de Stark




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                Quando os venenos infernais caminham em liberdade sobre a crosta terrestre, o diabo vagueia em toda a sua soberba sobre a atmosfera fumegante, espalhando o doce perfume da ganância, egoísmo e ódio pelos quatro cantos do globo, guiados pela sua mão negra, as trevas e o caos despontam dos seus dedos como marionetas envenenadas, mergulhando a humanidade num mar de sofrimento e dor, então a porta do inferno abre-se com um ruido arrepiante, sugando a luz e a esperança do mundo, só os heróis nos podem salvar.

                               O riso estridente de Bizarov enchia os ares, cravando-se bem fundo no coração de Tony, à medida que uma nuvem tóxica de um qualquer veneno deambulava de forma insolente pelas redondezas apinhadas, pessoas tossiam de forma agonizante, cobrindo os rostos com o que estava mais à mão, outras sem poder evitar tombavam sobre o chão como pequenas e frágeis pétalas que o vento soprou, o delicado vento da morte. O Homem de Ferro numa tentativa desesperada de conter aquele mortífero odor ativava alguns dos mais poderosos comandos da sua armadura, tinha que salvar aquelas pessoas inocentes, apanhadas nas redes do seu grande erro.

— O que é que tu fizeste Tony? Todas estas vidas. Tenho que os salvar. Não posso ser responsável por esta catástrofe. – Pensava Stark desesperado, vendo que os seus mecanismos de contenção eram inúteis contra aquela maré aérea de veneno, observando com pesar uma jovem mãe que salvaguardava a sua pequena filha junto do seu peito, protegendo-a da mão do diabo. – Porque fizeste isto? – Perguntou em voz abafada.

— Essa é boa, tu é que rebentaste o balão, não atires as culpas em mim, sê um homem e assume os teus erros Stark! – Respondeu o demoníaco palhaço divertido, sentindo a descrença percorrer o espírito do milionário.

— Fala de uma vez por todas! Quais são os teus motivos, porque me atacaste? Porque permitiste que eu derramasse Anthrax na atmosfera? Fala de uma vez por todas! – Gritou Tony colérico, não se importava que a sua empresa fosse dizimada, contudo jamais poderia deixar que as vidas de inocentes fossem roubadas daquela forma louca e diabólica.

— Acho que não estás em posição de negociar seja o que for, essas perguntas já deviam ter sido feitas, talvez há um minuto atrás, julgava-te um homem inteligente, porém enganei-me. E já agora voltas a falar-me nesse tom superior, e um dos meus balõezinhos volta a fazer as delícias do público! Ouviste bem? – Ameaçou o palhaço não revelando qualquer tipo de remorso na sua voz escarninha. – Então Stark, não estás feliz a escutar os aplausos entusiasmados da multidão a gritar o meu nome? Uau que sensação maravilhosa, tantos sorrisos contagiantes, que delícia! – Festejou, mostrando toda a sua loucura e devaneio interior.

— Acaba com estes joguinhos! Diz-me o que pretendes com tudo isto! – Gritou o herói furibundo, compreendendo que todos os seus esforços estavam a ser em vão.

— Estás a pisar o risco Stark, eu sou um homem tolerante, contudo a tua falta de classe está a irritar-me! – Preveniu Bizarov, fingindo falsa indignação.

— Como quiseres, faz como quiseres. – Resignou-se Tony melancolicamente, vendo o passeio encher-se de corpos inanimados.

— Como eu adoro que o público se renda aos meus encantos, à minha arte e à minha diversão, tu de facto és um público de excelência meu caro! – Exclamou o palhaço entusiasmado, absorvendo o caos e o desespero que floria na atmosfera.

— Cala-te de uma vez por todas! – Berrou o Homem de Ferro, dando um valente soco numa parede, destruindo-a em milhares de partículas, não era estúpido ao ponto de atacar aquele desequilibrado.

— Tanta fúria Stark, o que se passa afinal? O show não está a ser do teu agrado? – Inquiriu Bizarov sarcasticamente, batendo palmas numa atitude trocista. – Então vamos passar à hora da história, toca a dormir Stark! Perguntaste-me quais eram os meus motivos, então vamos lá fazer a revelação do milénio. Há muitos anos atrás, quando o planeta ainda não estava poluído pelas falaciosas e manipuladoras tecnologias, o circo ganhava o seu grandioso papel de destaque, atraindo multidões, miúdos e graúdos às nossas tendas, os palhaços, os malabaristas, os trapezistas e os domadores de feras faziam as delícias de todos os povos, espalhando a diversão e a alegria por onde passava. De súbito, o mundo começa a sofrer transformações grotescas, imperdoáveis e desprezíveis que puseram em cheque o talento da grande arte do circo. – Explicou, adotando um tom rancoroso, frio e cortante.

— E diz-me o que tenho eu a ver com isso? – Questionou o herói confuso, observando a morte desfilar arrogantemente pela sua cidade.

— A paciência é uma grande virtude, tem calma, já lá chegamos. Com uma enorme tristeza vi a minha profissão cair no esquecimento, abafada pelos vídeo jogos, pelos desportos radicais, pelos canais televisivos, pelos livros aos quadrinhos e pelos telemóveis, bem como outras formas artísticas, as crianças, os jovens e os adultos já não se interessavam pelo circo, poluindo as suas mentes e espíritos com essa panóplia de instrumentos manipuladores, achas correto? – Perguntou Bizarov de forma ausente e raivosa.

— Certo, eu compreendo esse diálogo derrotista, no entanto continuo a não entender qual o meu papel nessa história trágica. – Afirmou Tony confuso.

— Burro, insensível, patético! A culpa desta desgraça é tua, da tua empresa e dos teus amigos multimilionários! – Explicou Bizarov completamente incrédulo.

— Ah então é isso! – Exclamou Stark, a compreensão desenhava-se friamente no seu rosto marcado pelo pânico. – E decidiste montar este circo todo na minha empresa porquê?

— Porque tu és um homem influente, uma pessoa em quem os outros confiam, eras uma boa aposta para colocar o meu plano em prática. Estudei ao pormenor a tua atividade profissional, a tua reação psicológica, descobri que fervias em pouca água e assim tracei o meu percurso até aqui. Rebentando um dos meus balões de veneno tu serias responsável por milhares de vítimas, perderias a tua grande postura de confiança, perdias a tua preciosa credibilidade no mundo dos negócios e a seguir muitos cairiam contigo, desta forma recuperaria a talentosa arte do circo, recuperaria o meu ganha-pão. – Finalizou Bizarov entusiasmado com o seu infalível e bizarro plano. – Agora chegarão os jornalistas e tu serás a primeira página de toda a espécie de imprensa, serás reconhecido como um cruel assassino, um fracasso e um criminoso sem coração, é o teu fim, é o fim das multinacionais e dos canais de televisão, uma nova era acordará o fantasma do circo!

— E tu acreditas que me vou render aos teus caprichos demoníacos sem retaliar, é isso? – Provocou o herói incomodado com o que acabara de escutar, que plano mais sórdido e cruel.

— Não tens opção, senta-te e assiste ao teu fim! – Zumbou o palhaço, soltando no ar um riso tão fino como a lâmina aguçada de um punhal.

— Nunca subestimes as minhas capacidades, eu possuo um bem mais precioso do que a maior fortuna do mundo, eu tenho amigos com quem posso contar! – Exclamou o Homem de Ferro corajosamente.

— Nem eles te salvarão, desiste, o fim está perto, e o meu recomeço cresce a passos largos, muito largos mesmo! – Respondeu o palhaço em tom triunfante.

                No quartel general do Quarteto Fantástico, a bela Susan tateava habilmente num dos seus muitos ecrãs, analisando com grande atenção uma enorme quantidade de estatísticas reveladoras e muito importantes para o desenvolvimento de grande parte dos seus projetos. De repente, quebrando aquele silêncio puramente concentrado, uma mensagem irrompeu sonoramente de um dos computadores, um alerta vindo das torres Stark.

— Preciso da colaboração da Mulher Invisível na Stark Enterprise, derrame de Anthrax na atmosfera, urgência em criar uma forte barreira de contenção. – Leu Sue apavorada, saindo a tremenda velocidade do seu laboratório. – Meu Deus que catástrofe, poderão morrer milhares de pessoas, aguenta-te Tony estou a caminho! – Pensava, enquanto colocava um fato indicado no combate a ameaças biológicas.

                Na mansão dos Heróis mais Poderosos da Terra, um ruidoso alerta suou enchendo os quatro cantos e os ouvidos dos presentes.

— Gavião! Gavião estás a ouvir-me? – Questionou a voz arrogante de Stark.

— Estou Tony o que se passa? – Perguntou Clint admirado, fitando com interesse um ecrã onde surgia o sinal do Homem de Ferro.

— Preciso que venhas até à Stark Enterprise, veste um dos fatos de contenção que estão no meu gabinete, trás a Diana contigo, vou enviar-te dados importantes. – Pediu o herói blindado com urgência na voz.

— Trata-se de uma catástrofe mundial? – Provocou o Arqueiro, sorrindo de forma traquina.

— Pode crescer até atingir essa escala, agora deixa-te de parvoíces e vem para cá! – Decifrou o Homem de Ferro sem paciência para as brincadeiras de mau gosto que Clint usualmente tecia.

— A Diana está na escola, por isso irei sozinho. – Explicou o Gavião.

— Vou entrar em contato com ela, trás um fato a mais, despacha-te! – Ordenou Tony irritado.

— Deve ser mesmo urgente para permitires que a Sereia falte às aulas! Sabes as faltas ainda não foram decretadas como direito universal dos alunos! – Brincou o mestre das setas, dirigindo-se ao gabinete do milionário.

                No pavilhão desportivo da escola secundária de Queens, Diana e Peter realizavam uma corrida de aquecimento para mais uma fantástica aula de Educação Física, nesse dia iriam jogar Basebol. Todos os outros membros da turma queixavam-se em comentários audíveis, estavam fartos daqueles aquecimentos incrivelmente desgastantes, contudo os dois heróis ultrapassavam-nos com muita leveza e diversão.

— Pareces ligeiramente cansado, o que se passa? – Perguntou a morena preocupada, olhando com atenção para o seu melhor amigo.

— Esta noite tive Tpcs extra, o duende verde decidiu fazer-me uma visitinha cordial, foi realmente fantástico voltar a vê-lo, já tinha saudades, aquele tipo morre de amores por mim, o que posso eu fazer? – Brincou Peter ensonado, tinha desfrutado do conforto da sua adorada cama apenas duas horas. – E já agora, não fiz os deveres de Matemática, depois deixa-me tirar fotocópia dos teus!

— Quem te garante que os fiz, talvez tenha andado a desfrutar uma bela noite na agradável companhia de um qualquer vilão, quem sabe! – Exclamou a Vingadora divertida, adorava ver aquela expressão de pânico e descrença desenhar-se no rosto do Aranha.

— Vilões? Que história é essa? – Perguntou a voz arrastada e vaidosa de Johny, ouvindo à socapa a conversa.

— Deves precisar de consultar um otorrino! – Comentou a Sereia ligeiramente apreensiva.

— Eu escutei bem, vocês estavam a falar de vilões. – Ripostou o irritante rapaz.

— Nós estávamos a comentar o elenco do novo filme da Marvel, Guerra Civil. – Mentiu o herói amedrontado, lançando um olhar de esguelha ao jovem.

— Pensei que fosse algo bem mais interessante. – Desvalorizou Johny desiludido, estava à espera de descobrir alguma história ultrajante para lixar os dois heróis, azar meu!

— Mas se queres saber, estou a contratar um vilão muito poderoso para dizimar as empresas do teu querido pai, o que achas disto? É bastante interessante na minha opinião! – Zombou Diana ironicamente, detestava aquele rico impertinente.

— Falamos no Basebol! – Provocou Johny furibundo, dirigindo-se ao local onde o professor formava as duas equipas.

— Tem cuidado, não tropeces no teu próprio ego! – Avisou a Sereia sorridente, Peter riu discretamente.

— Diana! Diana estás a ouvir-me? – Murmurou a voz urgente de Tony Stark vinda do pequeno intercomunicador que a jovem trazia sempre consigo.

— Estou em aula Tony. – Respondeu a jovem num sussurro abafado mal mexendo os lábios.

— Preciso de ti, é muito urgente! – Respondeu o milionário. – Inventa uma desculpa, preciso mesmo de ti, o Gavião explica-te tudo, vai ter com ele à entrada da estação de metropolitano localizada nas redondezas das Torres Stark, vem depressa!

— Faltar às aulas para aturar o Clint não me parece um bom programa, mas eu vou, até já! – Decidiu a Sereia pouco segura da sua decisão, sabia que Tony jamais lhe pediria para faltar às aulas se não fosse uma questão de vida ou morte. - Está a acontecer algo de muito grave na Stark Enterprise, tenho que ir ajudar. – Explicou, pois Peter olhava-a confuso.

— Como vais sair sem dar nas vistas? – Perguntou o herói preocupado, já passara tantas vezes por aquela delicada situação, sabia que não era nada fácil conciliar duas identidades.

— Professor Mark! Eu não me estou a sentir bem, acho que estou a ficar com uma gripe daquelas, talvez seja melhor ir para casa. – Inventou a Vingadora em tom convincente, sabia que o docente não tolerava pessoas doentes nas suas aulas, era a desculpa perfeita.

— Realmente não estás com muito boa cara, vai lá, cuida-te miúda! – Permitiu o professor, mantendo uma distância de segurança da infeciosa aluna.

— Obrigada professor. – Agradeceu Diana com rancor, pois o rosto de Johny iluminava-se num sorriso de escarnio e triunfo.

                O coração do Homem de Ferro estava mais leve sabendo que a necessária ajuda vinha a caminho, não tardaria a chegar, contudo o seu orgulho estava dilacerado, mutilado, destruído, mas tinha que o deixar de lado agora o mais importante era salvar o maior número de pessoas possível, não iria ser reconhecido como um assassino, mas sim como o homem que colocara o seu grande orgulho de parte.

                Chegará a necessária ajuda a tempo? Conseguiram Clint e Diana ultrapassar o que os separa em prol de uma causa maior? Como resultará a improvável união de Sue Storm e Tony Stark? O que restará após este cruel conflito de interesses e privações?


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Notas finais do capítulo

Escrevi este capitulo poucos dias antes da estreia de "Capitão América: Guerra Civil", um pouco de publicidade não faz mal a ninguem, e a MCU agradece!



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