Ondas de uma vida roubada escrita por Maresia


Capítulo 33
O mestre dos balões




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                Numa dessas noites, Tony permanecia sentado no seu vasto gabinete, olhando absorto todas as passagens do seu passado, apontando com tristeza as peripécias fracassadas do seu presente que culminariam num futuro certamente ilusório repleto de solidão e amargura. Remexeu de forma despreocupada num fardo livro de cheques, tinha que preencher diversos deles para elaborar alguns pagamentos, o dinheiro é uma mais-valia para termos sucesso profissional, no empreendedorismo, na educação e numa melhor qualidade de saúde, contudo jamais terá aquele doce sabor de conseguir comprar diversas coisas essenciais à realização pessoal, amizade e a pura morte.

— Duas da manhã, isto está bonito, deixa de pensar Tony isso não te vai levar a lugar nenhum. – Censurou-se o milionário num sussurro sufocado, vislumbrando o precioso relógio de ouro que reluzia no seu pulso. – Vai dormir, amanhã é outro dia. – Disse, afastando com a mão a chávena vazia que estava pousada na sua frente.

— Posso senhor? – Questionou uma voz rouca, batendo ao de leve na porta entre aberta.

— Claro Jarvis. – Assentiu Stark ensonado, bocejando suavemente, fazendo sinal ao seu mais fiel colaborador para que entrasse.

— Vi a luz acesa, e decidi vir ver se precisava de alguma coisa. – Explicou o velho empregado, caminhando até Tony.

— Tens algum tipo de cura para o peso na consciência? Se tiveres diz qual. – Pediu o Homem de Ferro nostálgico, fitando tristemente a janela por onde adentrava um fino raio de luar.

— Peço desculpa, mas não posso fazer nada para o ajudar. Talvez uma boa noite de sono o ajude de alguma forma, não sei. – Sugeriu Jarvis melancolicamente, fitando Stark com estranheza, há muitos anos que não via aquela expressão dura e ausente no rosto do milionário, tantos anos como…

— Sim, vou seguir o teu conselho, amanhã é outro dia, obrigado meu amigo. – Agradeceu Tony em voz sumida, dando uma palmadinha no ombro de Jarvis.

— Se precisar de alguma coisa, já sabe senhor. – Prontificou-se o empregado educadamente, cedendo a passagem a Tony, que acenou num gesto de despedida.

                Depois de muitas horas a viajar num turbilhão de voltas, explosões, gritos e desilusões, que floriam abundantemente das profundezas dos seus caros cobertores Tony conseguiu adormecer, embalado pela triste melodia do mar e do vento.

                A manhã despontou acinzentada, tocada por uma brisa gelada que fazia arrepiar os cabelos do pescoço, com ela veio a habitual confusão que crescia nas torres Stark, pessoas e mais pessoas enchiam os corredores, tornando-os verdadeiros ecopontos de poluição sonora, um verdadeiro congresso de fofoquice.

— Bom dia Hillary, tu viste bem como a Angelina foi vestida à festa do governador! – Comentava uma jovem loura muito atraente, segurando numa bandeja apinhada de cafés fervilhantes.

— Bom dia Julian, claro que vi, um autêntico ultraje, uma ofensa ao bom gosto, um crime contra a moda, meu Deus que abominação! - Exclamou Hillary, possuía uma farda cabeleira de longos cabelos coloridos com ar enjoado, como se a roupa de Angelina lhe causasse uma grave doença no sistema digestivo, algo designado por Modite Aguda.

— Tu reparaste bem naquele…

— Claro que reparei, que mulher! – Exclamou um homem de bigode, dialogando com o seu melhor amigo, escondendo a aliança com a pasta preta que segurava entre as mãos.

— Os valores da bolsa estão a decrescer de dia para dia, quero ver onde isto vai parar! – Desabafava um homem de porte administrativo.

— Tens razão Rick, as coisas estão complicadas. – Assentiu uma senhora de meia-idade.

— Não dramatizes Anne, as coisas não estão tão más como os jornais as pintam, as ações só ficaram desvalorizadas pela insignificante quantia de zero ponto cinco!

                O quotidiano da Stark Enterprise seguia o seu habitual curso capitalista, produtivo, tecnológico e futurista, nada de novo acontecia naqueles apinhados corredores, nada quebrava aquela rotina imaculada, no entanto as sombras crescem à medida que alcançamos a vasta travessia da vida, fertilizadas pelo ódio, pela raiva e pela justiça mal fomentada, artisticamente desenhadas pelos olhos aguçados da maldade e da sarcástica loucura.

— Estás com péssimo aspeto, pareces cansado ou preocupado. – Constatou Pepper delicadamente, acariciando o rosto de Stark, onde brotavam horríveis olheiras, destruindo a sua habitual elegância sedutora.

— Não tenho dormido muito. – Explicou o empresário, dando-lhe um tímido beijo na mão cheirosa. – Bem, deixa-me trabalhar, tenho que enviar alguns e-mails importantes, não te esqueças de me trazer a pasta da Microsoft. – Pediu em voz trémula, pousando as mãos no tampo polido da sua secretária.

— Dá-me apenas um segundo, já trago. – Disse a secretária profissionalmente, ligeiramente aborrecida com a atitude pouco atenciosa de Stark, logo hoje que ela colocara aquele provocador vestido preto muito justo e curto.

                Quando o enorme relógio magnético badalou as onze horas, um estranho reboliço invadiu os pisos inferiores da Stark Enterprise, pessoas gritavam correndo amedrontadas em todas as direções, tentando escapar de algo colorido e fumegante que disparava pequenas explosões em todos os quatro pontos cardiais.

— Meu Deus, o que se passa?

— Talvez algo tenha corrido mal nos laboratórios!

— Chamem os bombeiros!

— Tragam os extintores!

— Alguém avise o Senhor Stark!

— Salvem os computadores!

— Ai as minhas roupas, comprei-as no último evento de moda em Paris!

— Tony vem rápido, parece que alguém lançou serpentinas explosivas nos pisos inferiores, é o caos, vem depressa! – Gritava Pepper apavorada, puxando o herói pelo braço.

— Sai da frente, eu trato disto, só me faltava mais esta, o carnaval ainda vem longe, que pessoa desatualizada, lembra-me de lhe oferecer um calendário! – Exclamou Stark, infiltrando-se no epicentro sísmico da confusão.

— Ainda bem que decidiste sair do teu buraco Stark, ou melhor dizendo Homem de Ferro! – Exclamou uma voz escarninha, vinda das imediações da atrapalhada entrada, avistando Tony no meio da atarantada multidão gritante.

                O herói perscrutou com alguma dificuldade o cenário fumegante, decifrando uma figura berrante que sobressaia no meio das coloridas e inflamadas serpentinas de Carnaval, um palhaço roliço, com uma grande cabeleira cor-de-laranja, trajando espampanantes vestes amarelas e prateadas, calçando umas enormes botas azuis turquesa, permanecia imóvel, sorrindo perante tal imediata e surpresa balbúrdia, segurando nas suas mãos arroxeadas três balões igualmente garridos.

— O que pensas que estás a fazer seu desgraçado! – Vociferou Stark furioso, avançando até ao intruso, enquanto as equipas de socorro e extinção de chamas principiavam os seus trabalhos.

— Estou a divertir as pessoas, acho que é isso que os palhaços fazem – Provocou o vilão deliciado com a expressão de fúria patente no rosto do milionário. – Vamos até lá fora Stark gostava de fazer um show privado contigo, o que achas? – Interrogou, esgueirando-se a tremenda velocidade do fumegante edifício, lançando pelos ares um riso frio, sarcástico e falsamente doce, que irritou profundamente o Homem de Ferro que correu no seu encalce, Jarvis adivinhando perigo, antes que Tony pudesse desaparecer no exterior repleto de sirenes, colocou a armadura blindada nos ombros do seu proprietário.

— Mas que brincadeira de mau gosto vem a ser esta? – Berrou o Homem de Ferro enraivecido, tentando esmagar o palhaço contra uma parede, contudo não foi bem-sucedido. – Quem és tu?

— Bem vamos começar o Show, o meu nome é Palhaço Bizarov, o talentoso mestre dos balões, o patrocinador do caos e da vingança, o maestro das trevas e do desespero e o comandante das tendas! – Exclamou Bizarov em voz audível, elaborando uma dança muito remexida e ridícula.

— Lamento desiludir-te, mas a minha empresa não é uma tenda de circo, o teu GPS está avariado! – Desvalorizou Stark, sem paciência para aquela cena teatral de péssima categoria.

— Achas mesmo que sim, o meu GPS funciona ao sabor das eternas correntes da justiça, nunca se engana, nunca! – Zombou o membro do circo adotando uma pose dramática que Tony ignorou.

— Devias melhorar a eloquência do teu discurso, tens a certeza que não fugiste de um hospício qualquer? – Provocou o herói, cruzando os braços.

— Agora chamo ao palco o meu odioso ajudante, Tony Stark! – Exclamou Bizarov divertido.

— Desculpa não me apetece brincar. – Disse o herói aborrecido, que vilão mais estúpido, seria um ótimo oponente para o Homem Aranha!

— O que se passa? Não gostas de circo? Além da prostituição é uma das mais antigas profissões que ainda resistem aos agricultores de fortunas, sabes? – Grunhiu o palhaço naquele irritante tom sínico.

— Ao longo de toda a minha vida já me cruzei com um número incalculável de palhaços que lhes deixei de achar graça, desculpa se te fiz perder tempo. – Declarou o milionário, começando a andar de um lado para o outro.

— Realmente a tua presunção é algo que desfaz o meu coração. – Comentou Bizarov num murmúrio venenoso, baloiçando os balões que segurava. – Apesar de tudo o que eu fiz na tua preciosa e desprezível empresa continuas com esse ar arrogante, indiferente, altivo e detestável.

— Vou contratar-te para escreveres o meu retrato psicológico, tens talento meu! Em que universidade é que andaste? O teu leque de adjetivos é muitíssimo variado, uau! – Exclamou Stark em tom irónico. – Vamos acabar com isto, o que queres tu afinal?

— Quero que feches a tua empresa. – Disse Bizarov espontaneamente, como se a sua afirmação fosse tão natural como a sucessão do dia e da noite.

— Sim tu fugiste mesmo do manicómio. – Constatou Tony sorrindo sinicamente.

— Chega Stark! Estou farto da tua arrogância mascarada com presunção, voltas a abrir a boca para desaprovar o que eu digo, e nem sabes o que te acontece, o que acontece a tua empresa, o que acontece à tua adorada cidade! Sê sensato e inteligente, obedece às minhas ordens e tudo correrá bem, pelo menos para mim e para os meus, o resto não importa, tu não importas! – Gritou o palhaço colérico, empunhando um balão de cor verde.

— Uau pensas assustar-me com um balão de água, acho que já fiz xixi nas cuecas, que medo! – Desvalorizou Tony sorrindo de malícia, colocando a sua armadura, e lançando um pequeno raio da ponta do seu dedo que almejou com precisão a mortífera arma.

— Cavaste a tua própria sepultura Stark! – Exclamou Bizarov fascinado, enchendo a atmosfera com o seu riso agonizante e escarninho.

                Quais os motivos para Bizarov atacar a Stark Enterprise? O que se esconde nas profundezas coloridas daqueles balões? O que significa a última frase do palhaço?


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