Ondas de uma vida roubada escrita por Maresia


Capítulo 28
Ajuda-me a mudar




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A morena olhou em seu redor, reconhecia a milhares de quilómetros aquela voz traquina, vislumbrou confusa aqueles olhos azuis e sonhadores misturarem-se com o reflexo prateado da lua distante, como eram lindos e observadores, pensava enquanto os dois se olhavam saboreando o perfume fresco da maresia noturna.

— O que queres? – Perguntou a Vingadora, fingindo falsa indiferença.

— Quero falar contigo, achas que tenho direito a um minuto da tua atenção? – Respondeu Clint em voz baixa, debruçando-se sobre o vidro aberto.

— Tens um minuto, nem mais nem menos. – Disse a Sereia friamente, gostava imenso dele, contudo não admitia a filho da mãe nenhum, que a usasse como uma pastilha elástica.

— Posso sentar-me? – Inquiriu o Arqueiro, sacudindo alguns grãos de areia clara dos seus calções azuis-claros, a jovem assentiu afirmativamente com a cabeça, este circundou a viatura e instalou-se confortavelmente, o seu rosto estava tenso e inseguro. – Tens a certeza que o Cap não vai aparecer aqui? – Perguntou em tom provocador, cuidado Clint o tempo está a passar!

— E porque raios havia o Capitão América aparecer aqui? Se já disseste tudo podes ir embora. – Retaliou Diana irritada, não compreendia aquele estranho comportamento.

— Desculpa, o que eu quero na realidade saber, é se tu e o Cap estão, estão, estão juntos? – Desvendou o Gavião corajosamente, aquele pensamento assombrava as suas noites, tinha que perguntar, tinha que saber se já desperdiçara todas as oportunidades.

— Acho que não tens nada a ver com isso, mas se ficas mais feliz eu respondo, eu não tenho nada com o Steve, e mesmo se tivesse não era da tua conta, satisfeito? – Respondeu a Vingadora friamente, nunca gostara de dar justificações, muito menos a alguém que já a fizera sofrer tanto, Clint respirou fundo. – É só isso? – Insistiu no mesmo tom.

— Não! – Retorquiu o mestre das setas rapidamente, tinha que pensar na melhor forma de abordar aquele delicado e desconhecido assunto, nunca antes tivera aquele tipo de conversa com nenhuma outra miúda. – Sei que não vais acreditar em mim, tens razão para isso, porém preciso de te confessar algo. – Afirmou num tom pouco próprio que fugia totalmente à sua habitual personalidade descontraída.

— Confissões fazem-se na igreja! – Ripostou a Vingadora sinicamente, sabia que não o devia tratar assim, no entanto com o Clint nunca se sabe, era melhor prevenir do que remediar.

— Vá lá, deixa-me falar até ao fim. – Pediu o louro, pouco seguro de cada palavra que prenunciava. - - Tenho sentido a tua falta, quando no outro dia te disse que eras muito especial eu não estava a mentir, não estava mesmo, hoje só te abordei daquela forma porque tive ciúmes da forma como tu e o Cap estão bem, estão perfeitos um para o outro, estão mais unidos do que nunca, eu não consegui lidar com essa aproximação toda, então percebi que te estava a perder, se isto acontecesse á uns meses atrás eu nem sequer daria por ti, porém algo mudou. Tenho consciência de que te fiz sofrer, de que fui um grandessíssimo filho da mãe, um cretino inqualificável, compreendo que tu não acredites numa única palavra que te digo…

— Desculpa Clint, não gastes o teu fantástico latim, eu não acredito em ti, conheço-te demasiado bem para saber que tu não és homem de ficar com uma mulher apenas, até pode existir alguma verdade no que dizes, mas tu nunca mudarás. – Interrompeu Diana em voz triste, ela não queria ouvir o que se seguiria, sabia que o Arqueiro lhe alcançaria o coração, não o podia permitir.

— Deixa-me terminar, eu desde que dormimos juntos em minha casa, bem nunca mais estive com outra miúda. – Confessou o Arqueiro, cada palava causava-lhe uma pesada dor no peito. – Não te conseguia tirar do meu pensamento, por várias vezes tentei, contudo achava sempre que te estava a trair…

— E desde quando é que te preocupas comigo ou com o que eu sinto? O que é que mudou Clint Barton? Não me digas que estás apaixonado por mim, eu não acredito! – Ripostou a Vingadora, ainda possuía demasiadas feridas para sarar não pretendia adquirir mais nenhuma.

— Diana, olha para mim, achas que te estou a mentir? – Perguntou o Gavião em tom de ultimato.

— Acho. – Respondeu a Sereia, sentindo aquele ardente olhar perfurar-lhe o peito e penetrar o seu coração, malditos olhos azuis!

— Ok, estás a obrigar-me a disparar o meu derradeiro recurso. Eu amo-te, eu amo-te, percebeste bem? Não negues, sei que sentes o mesmo! – Revelou Clint prenunciando cada sílaba de forma clara e inequívoca, respirando fundo, não acreditara que tivera coragem para proferir a expressão proibida. – Ajuda-me a mudar, eu sei que posso mudar, fica comigo. – Pediu, abraçando a morena com força, não a iria deixa-la mergulhar nas águas frias da perda e da saudade, precisava dela a seu lado e sabia que por mais que ele a tivesse magoado, tinha um lugar especial no seu coração.

— Eu não posso Clint, não posso, isto é uma loucura, e logo acabará. Tu só precisas de atenção, estás a confundir amor com sexo, desculpa Clint mas eu não quero sofrer mais, agora vai. – Afirmou a adolescente em voz tranquila, sentindo os lábios do Arqueiro no canto da sua boca.

— Estás enganada, eu sei bem o que sinto, nunca senti isto antes, nunca, ajuda-me a mudar, não te quero perder, recuso-me a perder-te. – Disse Clint teimosamente, beijando profundamente Diana nos lábios, sentindo o sabor da cereja invadir-lhe a alma.

— Clint não! Não me faças isto. – Murmurou a morena em voz sumida, tentando afastar o Gavião, lutando contra os destemidos impulsos do seu coração.

— Espero que este beijo tenha esclarecido as tuas dúvidas. – Afirmou o Gavião, abrindo a porta e precipitando-se para o exterior fresco.

— Espera! – Exclamou a Vingadora segurando-o pelo braço.

— Pensei que querias que fosse embora, o que mudou? – Questionou o louro, sorrindo internamente.

— Preciso de te perguntar uma coisa: Queres mesmo ficar comigo? Achas que nós podemos resultar? Achas mesmo que consegues mudar? – Inquiriu a Vingadora com uma expressão séria a brincar-lhe nos lindos olhos cor de água.

— Sim! – Exclamou o Arqueiro, não cabendo em si de tanta felicidade. – Isso quer dizer eu…

— Sim, vamos tentar. – Completou a morena sorrindo, sentindo o seu coração bater ao sabor das ondas que levemente beijavam o areal.

— Anda cá miúda! Nunca mais te vou deixar fugir. – Prometeu Clint orgulhoso, abraçando Diana com a força das marés azuis do seu espírito.

— Eu irei certificar-me disso! – Brincou a Sereia sorrindo, beijando o Arqueiro nos lábios, nunca mais o queria largar

Os dois permaneceram ali, envoltos por aquele colorido paraíso nocturno, sentindo as suas vidas unirem-se pelas grossas algas do destino, observados de perto pela lua prateada, guiados pelo brilho incontestável dos astros celestiais, abençoados pelas azuis e cristalinas profundezas marinhas, enquanto duas figuras misteriosas se aproximavam discretamente do carro, deixando as suas passadas cravadas na areia castanha e fria, desfilando as suas indistintas sombras pela luz do luar.

— Imaginas a cara do Cap se agora aparecesse aqui? – Comentou Clint com ar traquina.

— Não sejas parvo, ele ia passar-se, sem dúvida! – Retorquiu Diana sorrindo, dando um leve estalo nas costas do arqueiro, tinha a certeza que por mais justo que Steve fosse jamais aceitaria aquela relação.

— Que devaneio é este Clint Barton? – Gritou uma voz cortante vinda do lado direito da viatura, Clint olhou assustado. – Achei que tinhas ganho juízo, contudo já percebi que me enganei. – Vociferou a mesma voz.

— Natacha! – Exclamou o domador de arcos apreensivo, a Viúva Negra não estava para brincadeiras, o seu olhar ardia como o fogo do seu cabelo.

— O que se passa Clint? – Questionou a morena confusa, olhando Natacha pelo canto do olho.

— Vai brincar com as tuas bonecas, não te metas nas conversas dos adultos miúda! – Retaliou a ruiva impaciente. – Então Clint, já acordaste ou precisas de uma ajudinha extra? – Perguntou, levantando um dos punhos.

— Mas quem é que tu pensas que és? – Interrogou Diana em tom de desafio.

— Eu trato disto. – Murmurou o Arqueiro confuso. – Natacha apesar de sermos amigos não posso permitir que fales assim com a, com a, com a Diana. – Afirmou pouco à vontade, ainda não estava pronto para assumir aquela relação, a morena sentiu aquela insegurança, algumas dúvidas voltaram cruelmente a persegui-la.

— Então o nome da bonequinha é Diana, hã! – Zumbou Natacha divertida. – Quanto tempo vai durar esta brincadeira? – Perguntou.

— Isto não é uma brincadeira, e não estou a gostar do tom. – Avisou Clint friamente.

— Achas que podemos falar longe dos olhares curiosos das crianças? – Questionou a Viúva de forma provocadora.

— Sim, dá. – Assentiu o louro, conhecia demasiado bem a russa para saber que nunca mais iria deixar Diana em paz, não podia permitir que ela sofresse com aquelas insinuações, não podia estragar tudo o que demorara tanto tempo para aceitar. – Depois falamos. – Despediu-se melancolicamente, não fora assim que imaginara o fim daquela noite.

                Diana ficou estática, sentindo as lágrimas amararem pesadamente no seu rosto, substituindo o seu habitual sorriso de seda por uma máscara de ferro, absorvia cada gota daquele frio silencioso, rasgava com o olhar o brilho reluzente do luar, afogava na sua tristeza cada onda que batia nas dunas, destruía o oceano com os seus trémulos dedos, ela sabia que Clint jamais mudaria, porque se deixara enganar daquela maneira ridícula? Olhou em volta, vendo as sombras distantes do Gavião e da mulher ruiva desaparecerem ao longe presos pelas trevas, estavam bem um para o outro, pensou enquanto dava diversas pancadas de frustração no volante.

— As lágrimas tornam-nos mais fracos e vulneráveis. Não as devias derramar dessa forma estúpida, reage, a vida continua a correr em teu redor, não vale a pena chorares ela não vai esperar por ti. O truque é estares sempre um passo à frente das suas ideias. – Disse sabiamente uma voz enigmática, vinda das profundezas da noite. Diana olhou assombrada, reconheceu aquele misterioso timbre de imediato, era o homem encapuzado com quem se cruzara nas imediações do orfanato.

— Talvez tenha razão. – Concordou a Vingadora, limpando o sal amargo do seu rosto. – Obrigada, vai finalmente dizer-me quem é? – Perguntou.

— Simplesmente alguém que também já derramou muitas lágrimas, mas que aprendeu com isso, Adeus. – Despediu-se o homem, mantendo-se imerso naquela grandiosa capa de mistério.

— Adeus. – Despediu-se a morena, não era uma boa altura para tentar descobrir quem se esconde por detrás das trevas do passado, estava na altura de retornar a casa.

                No apartamento do Arqueiro os ânimos estavam bastante exaltados, Clint dava inúmeros murros na mesa da cozinha, enquanto Natacha berrava a plenos pulmões tentando demovê-lo daquela absurda relação, na sua experiente opinião.

— Ela é apenas uma miúda, tu já olhaste bem para ela, acaba com isto, conheço-te bem para saber que hoje estás com ela, amanhã estarás com outra, ela não merece que a faças sofrer, deixa-a viver a sua vida! – Exclamava aborrecida, enquanto Clint lhe assertava diversos olhares de fúria, não estava para ouvir tais barbaridades. – Ela só está encantada por ti porque tu és lindo e és um herói famoso, ela precisa de alguém da sua idade, entende isso!

— Não quero saber do que tens para me dizer, não me interessa, vou ficar com ela, quer tu queiras quer não queiras, não me interessa o que os outros pensam, talvez já tenhas estragado tudo, agora sai da minha casa. – Disse o Arqueiro furibundo.

— Então ela não confia em ti, e achas tu que essa brincadeira pode resultar, não me faças de parva nem insultes a minha inteligência. Estás por tua conta! – Proferiu Natacha arrogantemente saindo do apartamento e batendo com a porta nas suas costas.


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