Ondas de uma vida roubada escrita por Maresia


Capítulo 23
Foice e martelo


Notas iniciais do capítulo

A foice e o martelo representam dois objectos ligados à forte politica do arduo trabalho, que prosperou na União Soviética, são dois simbolos do comunismo.



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Na manhã seguinte, a Vingadora acordou muito cedo, o despertador marcava seis e meia, nem mais nem menos, levantou-se sem fazer barulho, pois não queria despertar os seus amigos, vestiu-se, calçou-se, arranjou o cabelo e fitou o brilhante espelho que estava pendurado no seu guarda-roupa, trajava uns calções curtos de cor preta, um top lilas folhado com um cordão a prendê-lo ao seu fino pescoço, calçava umas sandálias igualmente lilases, um rosto pálido sorria-lhe timidamente, revelando todas aquelas infindáveis horas em que o deus do sono se esquecera dela. Saiu do espaçoso quarto, fechando com delicadeza a porta, vagueou em silêncio através do largo corredor ladeado por portas fechadas. Ao passar pelo quarto do Capitão América escutou-o prenunciar algumas palavras atabalhoadas e indistintas enquanto dormia.

— Parece que o Cap também não está a ter uma noite nada fácil! – Comentou de si para consigo, entrando sorrateiramente na vasta sala de estar.

                Diana observou a divisão com atenção, fitou admirada o grande sofá onde alguém dormitava tranquilamente, ou assim aparentava.

— Tony. – Pensou a morena, vislumbrando o Homem de Ferro imóvel no sofá trajando as roupas que utilizara no dia anterior. Caminhou apressada até um pequeno armário, retirando do seu interior um felpudo cobertor branco, caminhou de novo até ao adormecido Stark, cobrindo-o gentilmente com o cobertor. – Tu não mereces sabes, contudo eu não consigo deixar-te assim… - A Sereia passou suavemente um dedo pelo rosto do herói. – Assim gelado como estás.

— Diana, és tu? – Perguntou um Tony muito ensonado, aninhando-se confortavelmente no cobertor. – Precisamos de falar.

— Porque é que dormiste aqui? – Perguntou a morena em tom distante. – Não penses que me sensibilizas para a tua horrenda causa desta forma infantil, o que vem a seguir? Uma greve de fome?

— Não é nada disso. – Respondeu Stark num tom sumido. – Eu fiquei a refletir sobre a nossa conversa e acabei por adormecer aqui. – Explicou.

— Qual foi a conclusão que chegaste? – Questionou a Vingadora esperançada. Sabia que o Homem de Ferro era uma pessoa cujas ideias tinham o grosseiro peso do aço, as suas convicções eram mais fixas do que as estrelas que estão presas ao céu, tinha plena consciência de que Tony raramente voltava com a sua palavra atrás, porém talvez tivesse ocorrido algum milagre.

— A nossa discussão fez-me abrir os olhos e mostrou-me o quanto eu estava a ser egoísta e presunçoso. Talvez eu tenha cometido tantos erros durante toda a minha vida porque nunca tive ninguém que me enfrentasse, que discordasse das minhas decisões, que colocasse em causa as minhas ideias, pensamentos ou atitudes. No entanto tu conseguiste trazer à tona o que existe de melhor no meu coração, conseguiste evitar que eu cometesse a maior barbaridade da minha existência, obrigado. – Afirmou o milionário sinceramente, Diana escutava cada palavra com a mais pura das atenções. – Eu não quero ser apenas mais um, eu somente desejo ser aquele que coloca o bem- estar da humanidade acima de tudo o resto. Por isso, decidi que em vez de privatizar a tua escola, irei disponibilizar fundos monetários para garantir que as famílias mais carenciadas possam ver os seus filhos tornarem-se os engenheiros, os polícias, os médicos, os professores, os cientistas de amanhã. 

— Não sei o que dizer. – Murmurou a Sereia surpreendida, sentando-se na borda do sofá.

— Diz somente que me perdoas e que aprovas esta nova decisão. – Pediu Tony humildemente, segurando a mão fria da morena. – Só preciso de ouvir isso, mais nada.

— Claro que te perdoo e é claro que acho essa ideia fenomenal. – Respondeu Diana sorrindo de alegria. – Obrigada Tony, eu não queria nada travar um conflito contigo, és demasiado importante para mim.

— Tu também és muito importante para mim, minha querida, nunca duvides disso, nunca. – Proferiu o empresário. – Vais já para a escola? Não é demasiado cedo?

— Sim ainda é muito cedo, mas aproveito e vou dar um passeio na praia. – Respondeu Diana, olhando pela janela.

— Alguma vez andaste de barco? – Perguntou Tony interessado.

— Não preciso. Prefiro sentir as correntes oceânicas percorrerem-me delicadamente o corpo. – Explicou a Sereia com ar sonhador, erguendo-se. – Até logo Tony! – Despediu-se divertida.

— Certo. – Cismou Stark absorvido pela última frase da morena. – Até logo querida.

                Diana caminhava distraidamente pelo areal deserto e silencioso, sentindo os profundos beijos da areia castanha nos seus pés descalços, absorvia com todos os seus esporos cada maravilhoso beijo honestamente oferecido pelo agradável cheiro da maresia madrugadora, um incrível cheiro de esperança, carinho, saudade e tranquilidade, viajava através das ondas que de forma sonhadora arrastavam os seus desejos para as profundezas mais azuis e distantes do vasto oceano dos reencontros, saltitava perdida entre as infinitas dunas douradas da fantasia e do fantástico. Caminhava e caminhava, embalada pela doce brisa do passado que se cruza tristemente com o presente desaguando num futuro ainda escondido pelas fofas nuvens de algodão que pairam no seu jovem coração. Ao longe, um piar agudo de uma gaivota fê-la flutuar através de diversas dimensões onde os braços da sua mãe se estendiam carinhosamente em direção a si, onde aqueles personagens Disney dançavam divertidas melodias surreais entre flores de ouro e prata. De súbito, um som agressivo de uma sirene arrancou-a ferozmente das entranhas ternurentas daquele mar azul, gracioso e observador.

— Bom dia! Parece que hoje ocorreu algum milagre, não chegaste atrasada! – Saudou o Aranha divertido, enquanto a morena se sentava a seu lado na apinhada sala de convívio.

— Bom dia Peter! Alguém já te disse que tens muita graça? – Questionou Diana sorrindo.

— Claro que já, se eu não fosse super herói certamente seria comediante. – Respondeu Peter. – Já agora, não temos a primeira aula da manhã, a stora de Matemática está doente. – Anunciou sorrindo de satisfação.

— Altamente! – Exclamou a Vingadora, acenando a uma amiga. – O que queres fazer então? – Perguntou.

— Algo que não envolva pensar, mexer, perseguir vilões, escrever, ler… estou a brincar! – Apressou-se a completar, pois a Sereia olhava-o com reprovação. – Queres jogar matraquilhos ou algo do género? – Sugeriu.

— Vamos a isso! – Assentiu Diana satisfeita.

                Depois de longos e divertidos minutos a jogar matraquilhos, Diana e Peter cederam à forte e manipuladora tentação da fome, arrumaram as pequenas bolinhas e dirigiram-se de novo ao bar, contudo algo estava estranhamente silencioso, apesar de estar na altura do intervalo a instituição estava incrivelmente parada, imóvel, assustadora. Um arrepio percorreu o espírito dos dois amigos quando chegaram à porta de vidro que acesa à sala de convívio e se depararam com todos os seus colegas, professores e auxiliares de educação deitados imóveis no chão controlados por um pequeno grupo de homens armados que Diana reconheceu.

— Ali estarem mais dois filhos do capitalismo. – Apontou um dos sequestradores. – Chão! Já! – Ordenou, bramindo de forma ameaçadora a sua potente arma.

— O que fazemos? – Perguntou o Aranha, mal mexendo os lábios enquanto assentia à ordem que lhe fora solicitada.

— Deixa-me pensar. – Pediu Diana no mesmo tom imperceptível.

                Todos os presentes tremiam como varas verdes perante tal perigo, nunca antes algo semelhante ocorrera naquele estabelecimento. A Vingadora remexeu discretamente no seu bolso, procurando o minúsculo intercomunicador que Stark lhe oferecera para alguma emergência, estava na altura de o usar. Aproveitando o momento em que alguns professores tentavam negociar em vão com o gang ela aproximou o aparelho dos lábios.

— Tony! Tony estás a ouvir-me? – Perguntou o mais perceptível possível.

— Estou! Diana o que se passa? – Respondeu a voz alarmada do Homem de Ferro.

— Sequestro na minha escola, precisamos de ajuda. – Informou rapidamente, não podia deixar escapar aquela oportunidade de ouro.

— Existe mais algum herói por aí? – Perguntou Tony preocupado.

— Sim, apenas mais um. – Disse Diana.

— Trabalhem em conjunto, atrai os raptores para a porta dos fundos, depois tratamos do assunto, certifica-te que não colocas civis em perigo. – Pediu Stark em tom urgente.

— Fica tranquilo. – Disse a morena, voltando a esconder o intercomunicador. – Cria alguma balbúrdia. – Pediu em voz sumida, dirigindo-se a Peter que a olhou confuso.

— Ela acabou de me informar. – Afirmou o Homem de Ferro ao pequeno grupo de heróis constituído pelo Gavião Arqueiro, Capitão América, Vespa, Thor e Homem Formiga.

— Quantos são? – Perguntou Rogers alarmado.

— Não sei. – Respondeu Stark pensativo. – Vamos ver ao meu computador, tenho as câmaras de vigilância lá conectadas.

— Mas ela está bem? – Perguntou Clint, seguindo Tony até á sala de reuniões.

— Acho que sim. Aqui está, são sete. – Anunciou vendo detalhadamente a escola no seu computador.

— Espera lá, eu conheço esses tipos, fazem parte do gang do Ivan um filho da puta que habita no meu bairro. – Esclareceu o Arqueiro revoltado.

— Vou seguir a partir daqui todos os movimentos da Diana, dei-lhe informações precisas sobre o que pretendia que ela fizesse. Cap! Gavião Arqueiro, preparem-se para sair, esta missão é vossa! – Informou Tony em tom autoritário.

                De novo na escola Peter cismava sobre o que a morena lhe pedira, não sabia como criar uma diversão perante sete homens armados, se estivesse com o seu fato e o seu equipamento seria bastante fácil, porém à frente de centenas de pessoas não se arriscaria a colocá-lo, não podia deitar por Terra a identidade que a tanto custo escondia.

— Hey seus maníacos adoradores das foices e dos martelos, não acham que estão a ir longe de mais? – Perguntou o herói em voz alta, erguendo ligeiramente a cabeça do mosaico frio.

— Vê lá se calas a boca seu verme imundo e desprezível, a hora da nossa glória chegou finalmente! – Gritou a Sereia em tom orgulhoso, dando um valente murro no estômago do Aranha. – Espero que tu sirvas de exemplo para aqueles que ousarem levantar um único dedo que seja em direção á sagrada bandeira Russa! – Exclamou.

— O que termos nós aqui? – Perguntou o homem que certamente seria o líder, pois o seu rosto estava oculto por um capuz negro. – Seres russa miúda? – Perguntou interessado, aproximando-se cautelosamente de Diana.

— De nascimento, sangue, alma e coração, senhor! – Respondeu a Vingadora prontamente, como se aquele falso facto não pudesse ser refutado por nenhuma evidência ou prova.

— Ser muito interessante – Murmurou o russo. – Dar-me uma pista sobre a tua origem. – Pediu.

— Sou bisneta do grande líder da União Soviética Nikita Khrushchev. – Respondeu a morena, fazendo jus ao seu talento nas aulas de História mundial.

— Nikita Khrushchev ser grande homem, grande homem mesmo, ser um marco importante na luta contra estes capitalistas imundos e manipuladores. – Assentiu o homem, o plano de Diana estava a dar frutos, todos os outros russos acenaram com as cabeças num próspero sinal de respeito. – Querer juntar a nossa causa? – Questionou. – Qurer honrar o nome de nosso governante?

— Nada me daria mais prazer e satisfação. – Assentiu a Sereia, erguendo-se do chão, fingindo um falso olhar de desprezo para todos os que a rodeavam. – Chegou a altura de vingarmos perante este capitalismo que devora de forma incessante os valores fundamentais da liberdade e do trabalho, chegou a altura de silenciarmos as vozes que anunciam todos os dias este decrépito país como sendo o mais desenvolvido do globo, chegou a altura de amordaçarmos a bandeira que humilhou a sagrada pátria, vamos mostrar ao mundo o poder da foice e do martelo, vamos imortalizar o nome de Estaline e Crucheve, vamos renegar qualquer assombração americana! – Gritou, batendo as palmas de forma teatral.

— Tu saber falar miúda, saber mesmo! – Aplaudiram os membros do gang russo. – Seres uma de nós!

— Obrigada. Finalmente posso despir esta arrepiante farsa que fui obrigada a mostrar, finalmente posso deixar o meu sangue russo ferver! – Agradeceu a Vingadora triunfante, quando é que se tornara tão boa actriz? - Vamos expurgar a terra destes vermes capitalistas. – Incentivou.

                Durante vários dias, Diana vivera apavorada sem saber o verdadeiro sentido da sua vida, colocando em causa o seu lugar junto dos heróis mais poderosos da Terra, porém agora o seu coração dizia-lhe que por mais que fugisse dos seus medos, receios, inseguranças e temores jamais deixaria de ser uma Vingadora.

                Conseguirá Diana pôr fim à ameaça russa?


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Notas finais do capítulo

Estaline governou a União Soviética desde 1922 até 1953, tendo um papel fulcral no desenvolvimento da Segunda Guerra Mundial.

Nikita Khrushchev sucedeu Estaline no poder entre 1953 a 1964, fumentando e alimentando a apelidada Guerra Fria.



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