Ondas de uma vida roubada escrita por Maresia


Capítulo 21
O arrependimento do Arqueiro




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Clint colocou a chave na fechadura fazendo rodar a maçaneta dando entrada no seu desarrumado apartamento. O louro parou a escassos centímetros da umbreira segurando a pesada porta com a mão, cedendo passagem à morena que estranhamente o encarava com atenção e suspense a sorrir-lhe nos lindos olhos cor de água. Sem hesitar, Diana lançou-se ao pescoço do Gavião beijando-o loucamente nos lábios, este sentia todos aqueles destemidos avanços com surpresa porém não os recusou. Clint segurou-a fortemente nos braços, fechando a porta que continuava escancarada com um potente pontapé que a fez tremer violentamente nas dobradiças, este levou a linda Sereia até ao seu sofá, retirando rapidamente alguns CDs que lá se apinhavam, cuidadosamente deitou-a e instalou-se a seu lado, nunca separando os lábios unidos pela forte magia da química incompreendida e inexplicável pela ciência.

Os dois heróis permaneceram naquele clima inequívoco de loucura e cumplicidade durante tempo incalculável, o silêncio da habitação seguia-os de perto com os seus olhos atentos, apenas quebrado pelos doces gemidos de prazer e imprudência, enquanto o Arqueiro fazia uma promissora viagem pelas perfeitas e inocentes curvas do corpo da morena. Por fim, a adrenalina deu tréguas, os dois separaram os lábios, nas suas línguas surgiram palavras atabalhoadas e confusas de quem não tem a certeza de nada naquele grandioso universo de emoções, apenas uma coisa era concreta, queriam estar um com o outro sem quaisquer tipo de restrições ou temores, seria de facto assim?

— Clint, desculpa. – Pediu Diana em voz sumida, não conseguindo classificar a sua atitude como certa ou errada.

— Se soubesse o que me esperava teria terminado o jantar mais cedo. – Murmurou o Arqueiro em tom traquina, beijando talentosamente o pescoço da Vingadora, que suspirou de alívio, estavam os dois no mesmo barco, mas talvez não chegassem juntos a bom porto. - Acho que ficamos mais confortáveis no meu quarto, anda cá! – Constatou o Gavião pegando Diana nos seus braços, começando a andar até ao seu quarto. Pelo caminho somente ficou um belo e provocador rasto de atração, beijos e carícias atrevidas.

                 A escuridão da divisão acolheu-os nos seus fofos braços, atiçando aquele fogo indomável que navegava tranquilo ao sabor das cristalinas correntes marinhas. Clint pousou delicadamente a Sereia no seu ninho, deitando-se exemplarmente a seu lado, não desfazendo por nada aquele forte e selvagem laço que os ligava, aquela fina linha que brincava divertida entre o ódio e o amor, arrastando na sua brincadeira dois corações.

                Uma onda intrometida de calor invadiu o quarto sem permissão nem tolerância, cultivando a fertilidade do prazer entre os dois Vingadores. Clint de forma rebelde desatou o cordão do top da morena, fazendo com que este descaísse e revelasse parte da sua sensualidade. O Arqueiro estava louco, perdido naquelas formas maravilhosas e bem definidas, Diana por seu turno, fascinava-se com aqueles divinos e angelicais abdominais que fariam a mais santa das mulheres ceder ao pecado capital da carne. Contudo a boca da morena desviou-se daquela multiplicidade de emoções, revelando os seus verdadeiros e inoportunos sentimentos que teimosamente insistiam em aparecer.

— Eu amo-te Clint. – Murmurou a Vingadora em tom deliciado, onde estava com a cabeça para dizer tal barbaridade, tal aberração, tal atrocidade, devia estar maluca, a culpa é da sangria.

— Não percebi. – Afirmou Clint atónito, separando-se da Sereia que o olhou aterrorizada.

— Nada, eu não disse nada. – Mentiu a morena, puxando o Arqueiro para junto de si, todavia este ignorou-a, fitando-a com reprovação.

— Eu não posso. – Disse o Gavião em voz baixa, sentindo a sua consciência pesar como um tanque de guerra, jamais pedira para que uma miúda se apaixonasse por si, jamais, no entanto algo correra mal e o cupido resolveu brincar com as suas desprezíveis setas amaldiçoadas. – Queres explicar o que se passa? – Propôs confuso.

                Diana sentou-se na borda da desarrumada cama, olhando Clint no fundo dos seus olhos, porém já não vira aquele lindo brilho de loucura e inconsequência, este fora cruelmente substituído pela negritude da confusão. A jovem involuntariamente pegou-lhe na mão, apertando-a com força, sentindo o seu coração bater descompassadamente ao sabor da fria brisa do desalento e da perda, mas não havia saída possível, tinha que ser sincera.

— Desde aquela noite que dormimos juntos que não consigo deixar de pensar em ti, eu tentei disfarçar todos estes puros sentimentos com ódio, porém falhei, desculpa. – Iniciou a Vingadora em tom melancólico, recordando aqueles minutos em que se entregara em toda a sua plenitude. – Eu julguei que o tempo abafasse tudo isto que sinto por ti, porém mais uma vez as minhas expectativas foram lançadas por terra. – Clint escutava-a atentamente, como se tratasse de um interrogatório da S.H.I.E.L.D. não desviando por um único segundo que fosse o seu olhar. – Passei todo o dia de hoje a lutar para não vir até aqui, eu não podia, não podia mesmo, contudo a minha luta foi inglória como já percebeste. Eu sei que tu não sentes absolutamente nada por mim, eu sei disso perfeitamente, todavia esta noite tu serias meu. Eu tenho plena consciência de que hoje estou eu aqui, amanhã estará outra no meu lugar, mas não me importo porque esta noite tu serias meu, exclusivamente meu. – Continuou, não se apercebendo que tremia ligeiramente. – Desculpa se fui egoísta, infantil ou algo do género, não te peço para compreenderes, sei que nunca o farás…

— Se tinhas consciência de tudo isso que dizes, porque vieste? – Interrompeu o Arqueiro de forma inesperada. – Porque vieste mesmo sabendo que eu não sentia nada por ti? – Insistiu num tom mais alto do que realmente pretendia.

— Eu não me importava de ter apenas uma noite de sexo contigo. – Confessou Diana honestamente. – Agora faço-te eu uma pergunta, o que é que elas têm que eu não tenho? – Atirou com frieza.

— Mais uma vez estás enganada, a pergunta deveria ser: o que é que elas não têm que tu tens? Eu respondo, sentimentos, elas não têm sentimentos. – Explicou Clint, toda aquela situação lhe era muito estranha, nunca imaginou encontrar-se em tal cenário. – Desculpa se te dei alguma falsa esperança, não era a minha intenção, tu és muito linda mesmo, porém não passas de uma miúda, o Capitão América matava-me se desconfiasse do nosso envolvimento. Desculpa. – Pediu sinceramente, dando uma doce carícia no rosto molhado da Sereia.

— Certo, eu vou-me embora, já não faço nada aqui, obrigada pela tua sinceridade e compreensão. – Disse Diana, erguendo-se da cama, atando de novo o seu top. – Só te quero dizer uma última coisa, depois prometo que desapareço da tua vida, deixarei de ser uma Vingadora se for necessário, aquela noite foi especial para mim porque, porque eu perdi a virgindade contigo. Não te culpes, a única culpada sou eu. Adeus. – Explicou, começando a andar.

                A mente de Clint viajava a uma velocidade alucinante, nunca cometera um erro tão grosseiro, tão desumano, tão desprezível, a culpa ardia no seu coração como mil setas incandescentes, o arrependimento rasgava-lhe a alma como milhares de espadas aguçadas, mas seriam somente a culpa e o arrependimento que lhe feriam o espírito? Ou existiria algo mascarado com aqueles sentimentos negativos, proporcionados por aquele momento inimaginável?

— Espera. – Disse o Gavião em tom inexpressivo, segurando Diana pela mão, fazendo-a sentar de novo a seu lado. – Quero que saibas que se eu soubesse jamais dormiria contigo, tu mereces bem melhor do que eu. – Confessou.

— Eu não quero mais ninguém, tu és perfeito para mim. – Defendeu-se a morena convicta dos seus sentimentos. – Mas compreendo a tua decisão. – Afirmou.

                Os dois heróis permaneceram vários segundos em silêncio, olhando-se mutuamente, presos aquelas estranhas e inesperadas revelações, amarrados pelos fortes sentimentos que evadiam arrogantemente os seus corações, amordaçados pelos pensamentos que desfocavam as suas mentes, tornando-as não lógicas. Algo agitava-se perigosamente no peito do Arqueiro, ansioso por ver a luz do luar, ansioso por ver aquela luminosidade encantadora que provinha dos lindos olhos da Sereia, ansioso por escutar aquela doce voz que enfeitiçaria o mais poderoso dos homens, algo que ele nunca antes sentira.

— Mas o que se passa contigo Clint? Estás a passar-te de vez só pode. Gostas dela ou não? Vê lá se te decides meu. Nunca foste homem de te deixar intimidar pela opinião pública, o que se passa agora? Deste em cobarde foi? Ganha juízo. – Pensou Clint, censurando-se com todas as suas forças.

— O que estás aqui ainda a fazer? Estás parva ou quê? Já não chega de humilhação por hoje? Ele não gosta de ti, vai-te embora. – Cismou Diana, condenando a sua atitude derrotista, ela nunca se deixara vencer pelas barreiras da vida, não iria ser agora que iria tornar-se fraca a esse ponto. – Bem, eu vou…

— Fica, dorme comigo, por favor. – Estas palavras saíram dos tentadores lábios do Arqueiro sem ele as poder controlar, mas o que está dito, está dito. – Não faças perguntas eu não te saberei responder agora, mas fica. – Insistiu.

— Desculpa Clint, eu não quero sofrer mais. – Respondeu a morena. – Desculpa.

— Por favor, juro que não te toco como te toquei naquela maldita noite, ajuda-me a compreender o que se passa. – Prometeu Clint, abraçando Diana, depositando naquele gesto todas as suas inseguranças, temores e dúvidas.

— Eu fico. Adoro-te Clint. – Deixou escapar a Vingadora, beijando o louro de forma demorada.

— Eu também te adoro. – Confessou o Arqueiro em voz baixa, retribuindo o carinho.

                Passados diversos minutos os dois amantes já estavam confortavelmente instalados na cama que atentamente testemunhara aquela confissão ardente. O Gavião emprestara uma T-Shirt sua a Diana para que ela dormisse mais tranquilamente nos seus braços.

— Ficas linda com a minha T-Shirt. – Comentou Clint, sorrindo perante o ar envergonhado da Sereia.

— Não brinques, estou horrível! – Reclamou a morena.

— Eu cá acho que estás bastante sexy! – Elogiou o ilusionista das setas, acariciando a linda cabeleira de chocolate.

— Beija-me! – Ordenou Diana em voz doce.

— Os teus desejos para mim são ordens minha princesa Ariel. – Brincou Clint, embora satisfazendo o pedido da Vingadora.

                Juntos mergulharam tranquilos num profundo mar de beijos, embalados pelas loucas marés das carícias, envolvidos por uma leve brisa de desejo, presos por uma linda praia de alegria, enfeitiçados por brilhantes dunas de cumplicidade, enlaçados por um vasto firmamento de abraços, juntos tomaram um reluzente balão de ar quente, partindo até ao universo quente dos seus corações.


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