Ondas de uma vida roubada escrita por Maresia


Capítulo 20
Obrigada Tony




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/670836/chapter/20

                Peter aguardava a chegada da sua amiga sentado na barulhenta sala de convívio, comendo um delicioso bolo de chocolate, pedindo a todos os Deuses para que a tia May não tivesse meios de descobrir o seu pequeno grande deslize, ela detestava que ele ingerisse alimentos altamente calóricos logo ao raiar do sol.

— Está outra vez atrasada, não acredito nisto! – Vociferou o herói mal-humorado, escutando o estridente aviso sonoro da campainha. – Talvez tenha adormecido! – Palpitou, arrastando-se até ao laboratório de química onde decorreria a primeira aula da manhã.

— Peter espera por mim! – Chamou uma voz preguiçosa, antes que Peter dobra-se a umbreira da porta. – Desculpa, o despertador tocou, mas deixei-me ficar. – Lamentou-se Diana, entrando na sala, bocejando ligeiramente.

— Realmente não estás com boa cara, tens dormido bem? – Perguntou o Aranha em tom baixo, retirando os seus manuais da mochila.

— Nem por isso. – Confessou a morena esfregando os olhos, incrivelmente vermelhos.

— Quero silêncio, por favor! – Vociferou a professora Christina, escrevendo apressadamente inúmeras frases no quadro preto bastante desgastado pelo passar do tempo e pela excessiva utilização. A docente fitou os dois alunos com arrogância demostrando o seu desagrado pelo inconveniente comportamento.

— Parece que alguém acordou com os pés fora da cama! – Exclamou Peter mal mexendo os lábios, começando a copiar para o seu caderno a matéria.

— Falamos no intervalo. – Sugeriu Diana, escrevendo em letra muito apertadinha todas aquelas equações químicas.

                Finalmente a aula deu tréguas, vencida pelo abençoado toque da angelical sineta. Os dois amigos arrumaram os seus materiais escolares e dirigiram-se ao bar com o intuito de Diana tomar o pequeno-almoço, pois devido ao seu habitual atraso não tivera tempo, e o seu estômago queixava-se de forma revoltada e audível.

— Mas afinal o que se passa contigo, foste mordida pelo mosquito da má disposição? Tens andado menos concentrada, menos divertida, menos disponível para as nossas saídas e nem tens implicado com a Stora de História! – Comentou o herói preocupado, dirigindo-se para um pequeno banco beijado pelo sol num dos cantos mais recatados do enorme pátio. – Ainda não conseguiste ultrapassar a morte das crianças e da Madame Lisa? – Perguntou de forma compreensiva.

— Esse assunto ainda me dói muito aqui no peito, contudo estou a lutar cada dia que passa para ultrapassar esta mágoa. – Confessou a morena em tom triste, bebendo um grande trago do seu sumo de frutas.

— Então tem alguma coisa a ver com aquele rapaz com quem tiveste a algumas noites atrás? – Insistiu Peter, olhando para o relógio.

— É isso mesmo, por mais que me esforce não o consigo tirar da minha cabeça. – Desabafou a Vingadora, brincando distraidamente com os cordões do seu vestido cor-de-rosa. – E o pior de tudo é que me cruzo frequentemente com ele, não tenho como evitar. – Explicou, amachucando o guardanapo que segurava o seu bolo.

— Ele anda aqui na escola? – Questionou o Aranha, olhando em redor.

— Claro que não. – Respondeu Diana, atirando com mestria o guardanapo e o pacote do sumo no caixote do lixo. – Eu não sei o que fazer. – Afirmou.

— Mas eu sei, diz-me quem é o maldito desgraçado e eu dou-lhe uma tareia à moda do Aranha! – Sugeriu Peter em voz sumida sorrindo com malícia.

— Deixa-te disso. – Repreendeu a Sereia, recordando aqueles magníficos olhos azuis que invadiam persistentemente o seu coração.

— Espera lá, tu disseste que te cruzavas com ele frequentemente, certo? – Questionou o herói, franzindo o sobreolho. – Então só pode ser um Vingador! – Atirou com ar vitorioso. – Talvez devesses seguir a carreira de astrólogo, certamente ganharias imenso dinheiro! – Pensou, fitando o firmamento.

— Pára com isso, eu não te digo. Anda a campainha já tocou! – Repreendeu a morena determinada, caminhando até à próxima aula, Matemática.

— Já sei quem é. – Anunciou Peter com ar pensativo. – É o Tony Stark, ele tem mesmo esse estilo de mulherengo, sem dúvida. – Revelou com a maior das certezas.

— Estás enganado. Chega desta conversa, logo depois do almoço tenho o exame de condução, preciso de estar concentrada. – Pediu a Vingadora, entrando no largo corredor que conduzia à sala de Matemática.

— Vai correr tudo bem, tenho a certeza! – Incentivou Peter alegremente.

                Por volta das quatro horas, a Sereia dirigiu-se até à mansão dos heróis mais poderosos da Terra, a fim de contar aos seus amigos a agradável novidade, entrou rapidamente pela sala vazia, avistando Tony que caminhava até ao exterior da moradia.

— Tony! – Chamou em voz doce. – Tenho uma coisa para te contar, eu passei…

— Passaste no exame de condução, sim eu sei querida. – Antecipou-se o blindado Homem de Ferro sorrindo divertido.

— Como sabes? – Perguntou Diana surpresa.

— Porque eu sei sempre tudo, não é verdade? – Exclamou Stark. – Eu falei com o teu instrutor minutos depois de tu teres finalizado o exame. – Explicou, mostrando toda a sua contagiante influência. – Parabéns minha querida! – Parabenizou em tom alegre, abraçando Diana com força e dando-lhe diversos beijos na face. – Tenho um presentinho para ti, acho que vais gostar! – Anunciou. – Já pensaste no carro que vais comprar?

— Não, ainda não, tenho que analisar primeiro a minha conta. – Explicou Diana.

— Agora já não te tens que preocupar com esse assunto, eu resolvi tudo. – Declarou o milionário sorrindo, fazendo diversas carícias no lindo cabelo cor de chocolate.

                Vários passos anunciaram a chegada de alguém que pigarreou alto revelando a sua presença.

— O que se passa aqui? – Perguntou a voz audível e alarmada de Steve Rogers.

— O que achas que se passa? – Provocou Tony sorrindo sinicamente.

— Não se passa nada. – Respondeu a morena, separando-se de Tony Stark. – Cap passei no exame de condução. – Proferiu em voz alegre, olhando com admiração aquele bonito e cansado rosto, sentando-se num canteiro onde cresciam lindas tulipas negras.

— Muitos parabéns, fico muito feliz por ti. – Felicitou o bravo Capitão sorrindo de satisfação.

— Bem, bem, voltando ao assunto do presente. – Interrompeu Tony em tom autoritário. – Podes vir comigo até à garagem? – Inquiriu.

— Claro que sim! Vamos Cap? – Perguntou a Vingadora, pegando na mão do super-soldado para enorme reprovação e indignação do Homem de Ferro.

                Diana vislumbrava incrédula uma magnífica viatura preta, deliciava-se com aquele delicioso perfume a novo, olhava impressionada para aquele brilho imaculado, envolvia-se naquele conforto extraordinário, a sua cabeça rodava num grande turbilhão de loucura, ritmo e velocidade.

— Este é o Audi R8, um modelo extremamente recente, dotado de uma cilindrada incrível, e agora é teu. – Apresentou Tony, orgulhoso da sua conta bancária sem fim.

— Adoro, é fantástico! – Exclamou Diana, sem querer acreditar na sua sorte.

— Podias-me ter avisado, gostaria de participar na compra. – Vociferou Steve em voz revoltada, enquanto Stark abria a reluzente porta da viatura para proporcionar a entrada da Sereia.

— Desculpa, esqueci-me por completo! – Desculpou-se falsamente o Homem De Ferro.

— Bem vou andando, mais uma vez parabéns. – Despediu-se Rogers, maldisposto, acenando educadamente à morena.

— Obrigada Cap, até logo. – Retribuiu a Sereia sorrindo.

— Tomei a liberdade de abastecer o depósito. – Afirmou Tony, sentando-se junto da jovem, examinando cada perfeito detalhe daquela beleza da indústria automóvel. – Precisas de dinheiro? – Interrogou de forma inesperada, enquanto a morena ligava o potente motor do seu novo companheiro.

— Não, obrigada Tony, o que tenho é suficiente. – Respondeu a Vingadora sinceramente. – Tony, tu és fantástico, sem dúvida és um grande amigo. – Elogiou honestamente.

— Eu sei, estou aqui para o que quiseres e para o que precisares querida. – Disponibilizou-se Stark, remexendo no rádio da viatura. – Bem agora tenho que ir, a minha fortuna não cresce sozinha. Vai lá fazer inveja à maioria dos adolescentes. – Despediu-se alegremente, dando um enorme beijo na cara da Sereia que retribuiu.

— Até logo! E mais uma vez obrigada! – Gritou a Vingadora, saindo a grande velocidade da imensa garagem, desfilando suavemente através das rodas do seu potente Audi.

                Cerca das cinco da tarde, um homem bem-parecido entrou nas instalações vazias de um qualquer banco. Dirigiu-se tranquilamente até ao balcão.

— Boa tarde, senhor, o que posso fazer por si? – Questionou educadamente o bancário de serviço.

— Boa tarde, quero depositar dois mil dólares nesta conta. – Pediu o homem, retirando da sua carteira um papel muito gasto e velho.

— Certo, obrigado pela sua preferência. – Agradeceu o profissional do banco.

— Precisa de mais algum documento? – Perguntou o proprietário da conta.

— Não, a operação já está concluída. – Respondeu o bancário, devolvendo o gasto papel ao senhor que o guardou instintivamente. – Até á próxima!

— Até à próxima. – Despediu-se o homem, saindo rapidamente das instalações.

                Depois do jantar, a morena conduziu a sua belíssima viatura até a casa do Peter, queria mostrar ao seu melhor amigo aquele magnífico presente. Estacionou o carro junto da porta mal iluminada, pegou no seu telemóvel e escreveu rapidamente uma SMS.

— Vem à porta! – Leu Peter, sentado na borda da sua cama. – Vou lá fora. – Anunciou confuso, olhando a sua tia que cozinhava o jantar.

— Olá Peter! – Exclamou a morena divertida, abrindo o vidro.

— Uau! Meu Deus! Ganhaste a lotaria ou algo do género? – Questionou o herói, completamente atónito com aquela visão.

— Entra. – Disse Diana, abrindo a porta. – Foi o Tony que me ofereceu. – Explicou.

— Achas que se eu vestir uma mini-saia e colocar um top super decotado ele também me dá um destes? – Interrogou o Aranha deliciado.

— Não acho que não, não fazes o género dele! – Brincou a Vingadora, imaginando o seu melhor amigo vestido de mulher, os dois adolescentes riram com prazer. – Amanhã venho-te buscar. – Afirmou.

— Certo, mal posso esperar por ver a cara do Johnny! – Exclamou Peter feliz, vendo o rosto daquele miúdo detestável roer-se de inveja.

                A Sereia vagueou através dos longos mantos pretos que cobrem as estradas, só agora compreendia como era difícil enfrentar a terrível onda de trânsito que desfila através de Nova Iorque, sem rumo aparente, porém o seu coração sabia perfeitamente onde ela queria ir, mas lutava teimosamente contra a sua lógica mente, uma luta desigual entre a razão e a inconstante paixão, ela não se podia deixar dominar pela máquina dos sentimentos, não podia! Parou na sua habitação para trocar de roupa, tinha esse terrível hábito de mudar o vestuário diversas vezes durante o dia. Colocou uma mini-saia preta muito delicada, um bonito top de renda vermelho muito justo e calçou umas sandálias de salto alto pretas, estava pronta, mas pronta para quê, pensava enquanto entrava de novo no carro.

— Não posso! – Murmurou, enquanto dava uma valente guinada no volante para evitar um pesado camião de mercadorias. – Tenho que o ver. – Decidiu determinada, perdendo a batalha contra o teimoso coração, fazendo inversão de marcha seguindo uma diferente direção.

                Diana entrou a grande velocidade no pobre bairro repleto de inúmeros dialectos, conduzida pela loucura e por aqueles lindos e traquinas olhos azuis que violavam sem permissão a sua alma. Cruzou-se com diversas crianças que brincavam irresponsavelmente na berma do alcatrão, evitando-as. Parou junto de um enorme bloco de cimento uniforme decorado com milhares de vidrinhos e diversas portas de madeira, observando com atenção um grupo de rapazes que dialogavam rapidamente num dialeto que reconheceu como sendo russo. Caminhou até à enferrujada porta de entrada, esticou a sua mão trémula para tocar a uma qualquer campainha, contudo alguém antecipou os seus pensamentos. Uma mulher negra de rosto simpático estacava na umbreira suja do prédio, segurando pela mão duas meninas muito bonitas, certamente suas filhas.

— Boa noite, desculpe incomodar, mas eu venho visitar o…

— Boa noite, vem visitar o Clint, estou certa? – Questionou a amável senhora sorrindo.

— Como sabe? – Perguntou a morena surpreendida, era assim tão óbvio?

— Porque uma jovem tão bonita só viria a este prédio para visitar o Clint. Ele está no terraço num jantar de convívio. – Explicou com simpatia, afastando-se para ceder a passagem à Vingadora.

— Obrigada! – Agradeceu a Sereia, começando a subir aquela infindável muralha de escadas que a levariam até aos pisos superiores, de onde provinha um cheirinho delicioso a comida grelhada que lhe indicou o caminho certo.

                A adolescente adentrou timidamente pelo vasto terraço captando as atenções da maioria dos atentos moradores.

— Olha! Ninguém me disse que iríamos ter convidadas! – Exclamou o homem responsável por domar as chamas, distraindo-se e queimando uma bifana.

— Ela é mesmo linda, meu Deus! – Comentou um outro homem que bebia profissionalmente uma enorme caneca de cerveja.

— Vem para aqui docinho! – Chamou um homem velho exibindo um fardo bigode.

— Deixem de ser estúpidos! Ela é minha amiga! – Ralhou a voz zangada do Gavião Arqueiro, reconhecendo o doce rosto de Diana mascarado com toda aquela produção. – O que fazes aqui? – Perguntou confuso, quebrando a distância que os separava.

— Desculpa ter vindo sem te avisar, todavia preciso de falar contigo. – Explicou a morena, ignorando aqueles insuportáveis comentários sexistas que lhe chegavam aos ouvidos.

— Falamos depois do jantar, pode ser? – Inquiriu Clint, lambendo involuntariamente os lábios perante tal beleza. – Janta connosco! – Sugeriu divertido.

— Certo. – Assentiu a jovem sem pensar duas vezes na proposta.

— Senta-te aqui. – Disse o Arqueiro em voz alta, indicando uma cadeira vazia a seu lado.

— Obrigada! – Agradeceu a Sereia sorrindo, aceitando um pão com uma bifana que lhe era estendido pelo homem da grelha.

— Gostas de sangria? – Perguntou o Gavião. – Prova um pouco da minha. – Ofereceu, passando o seu cheio copo a Diana.

— É ótima, eu quero por favor. – Pediu a morena.

                Por volta das onze horas, a mesma senhora negra que abrira a porta à linda Vingadora apareceu no convívio, transportando nos seus braços dois deliciosos bolos.

— Este é de chocolate! – Esclareceu sorridente, fitando o seu braço esquerdo. – Este é de morango com natas batidas! – Anunciou, olhando o seu braço direito, pousando delicadamente as sobremesas sobre o tampo de madeira.

— Toma, eu sei que adoras chocolate! – Exclamou Clint jovialmente, oferecendo uma generosa fatia de bolo à morena. – Eu prefiro este aqui! – Disse com ar guloso a brincar-lhe nos olhos rebeldes.

— Posso provar? – Pediu Diana, enfeitiçada por aquele vermelho contagiante.

— Abre a boquinha, aqui vai o avião! – Brincou o Arqueiro, transportando um grande pedaço até à boca da Vingadora.

                No fim da deliciosa refeição Clint e Diana ajudaram a levantar as mesas, a dobrar as toalhas, a lavar a muita louça e a extinguir as chamas revoltas que ainda brincavam no fogareiro de lata.

— Ele sabe mesmo escolhe-las! – Exclamou o homem do fogo, quando Clint lançava um pouco de água ao rosto da bonita Sereia.

— Bem, vamos até ao meu apartamento para falarmos mais sossegados. – Afirmou o Gavião em tom cansado, acenando aos seus amigos. – Eles gostaram de ti. – Constatou.

— São todos muito simpáticos. – Elogiou a morena sorrindo, enquanto desciam alguns patamares de escadas.

— Chegámos! – Anunciou Clint, parando junto de uma porta castanha, retirando uma chave do bolso dos seus calções brancos. Diana fitou a maçaneta brilhante por de trás da qual se escondia o fantasma da insegurança e da ilusão, talvez devesse voltar para trás.

                Como decorrerá o improvável encontro? Quantos segredos se escondem por de baixo dos cobertores?


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Para descrever o cenário do jantar de convivio, inspirei-me na banda desenhada intitulada "Quem pelo arco vive" da autoria de Matt Fraction e desenhos de David Aja.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Ondas de uma vida roubada" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.