Ondas de uma vida roubada escrita por Maresia


Capítulo 19
O que as luzes não mostram


Notas iniciais do capítulo

Ao longo desta história, encontrarão inúmeras referências ao quotidiano social, temáticas negativas que se abatem sobre diversas faixas etárias. Acredito que a escrita é o melhor e mais fiável veículo de consciencialização e sensibilização para evitar que erros aparentemente banais e inocentes condenem a vida de todos e de cada um de nós para sempre, tornando os danos causados irreversíveis.



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As luzes iluminam fracamente aquele pub embriagado com o cheiro do vício e da perdição, aquelas lâmpadas que enfeitiçavam os olhares dos mais atrevidos e ousados ganhavam vida pela mão da soberba noite Americana. As jovens estrelas subiam ao palco, mostrando todo o seu encanto contagiante, os seus sorrisos iludiam os corações daqueles que tendem em cair na tentação do corpo e do prazer. As estrelas desfilavam os seus corpos com aquelas finas roupas esvoaçantes, dançando com aqueles saltos provocadores que faziam as delícias dos mais fracos. Marlene subiu em último, trajando um elegante vestido preto que revelava de forma disponível a sua adolescência para aqueles que a quisessem explorar. Logo alguém pousou as suas perversas atenções nela, convidando-a para um copo que começaria na mesa e terminaria na cama certamente.
— Cem dólares por noite. – Murmurou a jovem de forma sedutora, deixando ver mais um pouco da sua perna já bastante reveladora. O homem assentiu e deu-lhe um beijo no pescoço.
Diana entrou discretamente na instituição de alterne, sentou-se no canto mais afastado do centro do festim, perscrutando as imediações com os seus lindos olhos, tentando encontrar Marlene, e não tardou. Ali estava ela, sorrindo por tudo e por nada, sendo perversamente apaparicada por aquele sujeitinho que teria idade para ser seu avô, bebendo alegremente das mais diversas bebidas, com a promessa de adquirir uma quantia choruda no fim da noite. A Sereia controlou a sua raiva mordendo com força os seus lábios, aquilo era demasiado humilhante até para aquela miúda detestável, ninguém merece vender o corpo para ter uma boa vida. A morena apesar de não estar vestida de forma provocante e nem possuir qualquer tipo de maquilhagem, continha uma beleza que não passava despercebida a muitos dos visitantes daquele estabelecimento, contudo apenas um teve a coragem de lhe fazer uma abordagem mais direta.
Um homem de meia-idade aproximou-se dela em passada segura, os seus cabelos brancos reluziam perante aquela fantasmagórica iluminação, trajava um fato cinza e uma camisa branca que indicava na perfeição a sua classe social, mais um novo rico à procura de algum divertimento, de alguma adrenalina que o fizesse sentir alguns anos mais novo.
— Aceita uma taça de champagne francês? – Perguntou em voz baixa, porém ciente das suas verdadeiras intenções escondidas com a máscara da simpatia, sentando à beira da morena que o olhou com repugnância, pousando delicadamente sobre a mesa duas taças brilhantes que transbordavam daquela bebida social chamada champagne.
— Não! – Respondeu Diana em tom claro, mostrando todo o seu profundo desagrado.
Todavia algo roubou a atenção da jovem, Marlene saía do pub dando o braço ao seu credor. Diana levantou-se num rompante, correndo desenfreadamente para alcançar a porta, dando vários empurrões em diversas pessoas que apreciavam as vistas.
— Marlene espera! – Ordenou a Vingadora em voz determinada, dando um golpe no homem deitando-o por terra.
— Tu? – Inquiriu a “menina” abrindo os seus olhos devido ao terror de Diana a encontrar em tais circunstâncias comprometedoras. – O que fazes tu aqui?
— Venho ajudar. – Explicou Diana, mantendo um dos seus pés no pescoço do homem que lambia a calçada. – Podemos conversar? – Questionou esperançada, adivinhando a resposta.
— Não temos nada para falar. – Ripostou Marlene, abrindo a porta do carro que a levaria a mais uma negra noite de simples e despido sexo, no entanto Diana fechou a porta apenas com um gesto da sua mão, não iria deixá-la escapar.
— Só te peço dois minutos, somente isso. – Pediu a morena, esforçando-se por manter o tom baixo e tranquilo. – Porque estás aqui? – Perguntou rapidamente, evitando mais uma negação da outra.
— Porque preciso de dinheiro, não é óbvio? – Explicou Marlene arrogantemente.
— Existem outras formas de ganhares dinheiro sem ser a vender o corpo, tu mereces melhor do que isto. – Afirmou Diana.
— Tu não sabes nada da minha vida, não compreendes, não consegues entender. – Reclamou a jovem. – Para ti é fácil falar, é fácil julgar, sempre tiveste tudo o que querias, sempre! – Gritou, sendo consumida por toda aquela inveja que a destruía. – Tu não imaginas o que eu passei quando soube o que aconteceu no orfanato, onde tu estavas quando todos eles morreram, a viver certamente a tua vidinha de conto de fada. – Provocou em tom sarcástico.
— Em relação a isso só te posso pedir desculpa, se o tempo voltasse atrás eu faria tudo diferente, acredita. – Lamentou-se a Sereia com pesar, recordando aquele terrível pesadelo real que lhe assassinava as noites de sono. – Porque não me procuraste? Tu sabias que eu te podia ajudar, tu sabias que jamais te voltaria as costas. – Explicou sinceramente.
— Eu nunca aceitaria as tuas ajudas, ouve bem o que eu te digo, nunca mais me venhas perturbar ao meu emprego, nunca mais! – Ordenou Marlene estridentemente.
— Preferes vender o corpo a troco de umas migalhas de atenção e de dinheiro sujo do que aceitares a minha ajuda? Tu és completamente louca e estúpida! – Retaliou Diana em voz alta, perdendo as estribeiras. – Tu por acaso tens noção dos riscos que corres? Tens consciência das doenças que podes apanhar? Tens noção de que isto não é vida para ninguém? Pergunto mais uma vez, queres a minha ajuda ou não? – Insistiu esperançada.
— Tu és lenta? Ou és mesmo burra? Eu só quero que desapareças! – Afirmou Marlene com rancor na voz, afastando Diana com um empurrão. – Vai morrer longe! – Praguejou, atirando um olhar repleto de ódio à morena. – Um dia serei melhor do que tu, posso garantir-te. – Jurou.
— Tu nunca serás melhor do que eu, sabes porquê? Porque o dinheiro fácil não me seduz. O sexo sem sentimentos nada me diz. E o que tu fazes repugna-me, mete-me nojo! – Afirmou a Vingadora, tremendo de raiva, não por Marlene, mas por si, por falhar tantas vezes até perante tarefas supostamente fáceis. – Tu és uma desonra para a Madame Lisa, ela teria vergonha de ti. – Concluiu, virando costas à serva da prostituição e ao seu lacaio que com dificuldade se erguia do chão.
— Nunca mais me apareças à frente! – Vociferou o sujeito furioso, entrando no carro de rompante.
— Por favor, eu baixo o preço. – Implorou a prostituta desesperada por lhe negarem o seu subsídio.
A Vingadora entrou de novo no pub, tinha como objetivo descobrir informações sobre a habitação e os locais que Marlene frequentava enquanto não estava a exercer a sua profissão, não iria desistir assim tão facilmente, porém uma mão pousou-lhe no ombro fazendo-a recuar.
— Vamos embora, este não é lugar para uma miúda como tu. – Disse a voz calma do Gavião Arqueiro.
— Larga-me! – Ordenou Diana irritada. – Não preciso de ti.
— Vamos falar, por favor. – Pediu Clint calmamente, fazendo pressão no ombro da morena para a conduzir para fora do bar. – Eu ouvi tudo o que disseste aquela miúda, foste uma boa amiga. – Elogiou, parando a largos metros da instituição de alterne. – Mas acho que está na altura de desistires, tu não imaginas os perigos que se escondem por trás do brilho das luzes, não imaginas o que te fariam se soubessem que tu andas a tentar interferir num negócio que move milhões e milhares de criminosos. Ela já é crescida, sabe o que faz. – Preveniu preocupado, olhando Diana nos olhos, onde a frágil lua se recortava contra o azul do mar.
— Não quero saber do que tens para me dizer. – Protestou a Sereia mal-humorada, começando a andar numa tentativa de se afastar daquele rapaz.
— Espera! – Exclamou Clint, correndo atrás dela. – Não insisto para falarmos, mas posso levar-te a casa pelo menos? – Perguntou.
— Não, eu sei andar sozinha. – Respondeu a morena com desprezo. – Mas aposto que lá no bar existem montes de raparigas que dariam tudo para tu as levares a casa! – Provocou.
— Escuta, eu quero explicar o que fiz. – Afirmou o Arqueiro.
— Não tens que me dar explicações, tu és livre para fazeres o que quiseres. Deixa-me em paz. – Retaliou a Vingadora começando de novo a caminhar.
— Eu só não quero que penses coisas erradas sobre mim, dá-me essa chance. – Pediu Clint.
— Azar, eu já penso. Adeus. – Despediu-se Diana.
— Adeus. – Respondeu o Gavião tristemente.
Já em casa, Diana sentou-se no sofá, acariciando o pelo do seu querido cão, lutava teimosamente contra o seu coração, esforçando-se por aniquilar todos aqueles sentimentos que a assombravam desde aquela noite. Sabia que apesar de Clint ter dormido com ela jamais lhe seria fiel, jamais teriam uma relação em que a base fosse a confiança, jamais suportaria ser perseguida pelo fantasma da traição. A jovem tinha plena consciência que apesar de Clint morar permanentemente no seu pensamento jamais seria o homem indicado para si.
— Vamos dormir, amanhã tenho aulas bem cedo. – Murmurou tristemente, levantando-se e seguindo até ao seu pequeno quarto.
Clint estava sentado na sua varanda, examinando o firmamento estrelado, cismando sobre tudo o que se estava a passar com ele, tudo o que Diana o fazia sentir, tudo o que ele a fizera passar. Ele nunca se deixara agarrar por nenhuma miúda, nunca se importara com o que elas pensavam das suas atitudes, nunca lhes dera qualquer tipo de explicações, mas algo estava a mudar.
— Nem penses que irei mudar, nem penses. – Garantiu em voz sumida, levantando-se e caminhando até ao seu deserto quarto, deitando-se na sua cama fria.
Um homem vagueava perdido nos subúrbios passageiros da sua mente sofredora, mascarando a sua alma com as trevas que envolvia as suas vestes, parou perto do prédio onde Steve dormia profundamente, olhando com pesar aquela triste janela fechada, olhando com pesar a melancólica vidraça do seu espírito, olhando com pesar a fria saudade que inundava o seu coração, olhando com pesar o distante e surreal passado que não estava ao alcance da sua mão. O Capitão América remexeu-se desconfortavelmente da sua cama, procurando a sua almofada que lhe fugiu durante o sono. O caminhante da noite esgueirou-se através dos seus pensamentos e dirigiu-se rapidamente à sua casa, onde reinava a nostalgia e a perda.
Como reagirá Diana a mais um derrotista fracasso? Será ela rival para os sentimentos que assaltam o seu coração?


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Notas finais do capítulo

O homem que aborda Diana no bar é nada mais nada menos do que Stan Lee.



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