Ondas de uma vida roubada escrita por Maresia


Capítulo 18
Chegarei a tempo!




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                Parada em frente do velho e vazio orfanato, Diana observava com melancolia aquela desolação arrepiante, aquela tristeza inequívoca, aquela frieza sangrenta, fazia um mês que não percorria aquela rua que atentamente a vira crescer, lutando contra os vícios e as tentações que deambulavam insolentes através das pobres e violentas ruelas de Brooklyn. O seu vestido azul-turquesa esvoaçava embalado pela poluída brisa, levando para além mar todos aqueles bons sentimentos que outrora brincavam naquela instituição, afogando aqueles radiantes sorrisos que espreitavam em cada brilhante janela, sufocando aquelas divertidas vozes que enchiam o coração da doce Elisabeth. A morena subiu os degraus sujos e inabitados, deixando a marca das suas sabrinas brancas refletidas na espessa camada de pó, encostou a sua mão fria à maçaneta enferrujada, contudo esta não se abriu, permaneceu imóvel, estática, sem vida. A Vingadora tristemente sentou-se no topo da escadaria, olhando o vazio da sua alma abandonada, algumas gotas de prata e coragem rolaram pelas suas marés azuis, amarando no infinito do seu ser, cobrindo o rosto com as mãos sentiu alguém sorrateiramente aproximar-se do seu lamento.

— Diana, não te devias refugiar na morte, mas sim na vida que te espera, na vida longa que se estende a teus pés, agarra-a com força, não a desperdices. – Aconselhou uma voz calma. A adolescente ergueu os olhos, a seu lado encontrava-se um homem imóvel, parado observando a velha casa. Trajava vestes negras e uma máscara que lhe ocultava o rosto.

— Quem é o senhor e como sabe o meu nome? – Questionou a morena em voz determinada, erguendo-se e adotando uma posição defensiva.

— Simplesmente alguém. – Disse o estranho em voz enigmática, saltando com extrema leveza para o passeio. – Até qualquer dia Vingadora. – Despediu-se com um aceno.

— Espera! – Ordenou a Sereia, seguindo-o através da rua. – Ele é muito rápido quem é este tipo? Bolas que velocidade, talvez nem o Cap o conseguisse apanhar, caramba. – Pensava enquanto corria atrás do estranho mascarado.

— Os teus treinos com o Capitão América estão a sortir efeito, porém ainda estás a anos-luz das minhas capacidades. – Cismava o homem, enquanto desaparecia na multidão que se dirigia apreçada para a estação dos comboios.

— Bolas! Perdi-o, não perdes pela demora. – Murmurou Diana irritada, parando junto da entrada principal da apinhada gare.

— O tempo separou-os, contudo o sangue que lhes corre nas veias é o mesmo, esse facto ninguém pode negar. – Pensou o estranho, tranquilamente instalado numa carruagem avistando Diana pelo canto do olho.

                A Sereia caminhou através da barulhenta cidade de Nova York, com a confusão a seu lado, recordando aquela estranha conversa, bem talvez aquilo nem sequer fosse designada conversa, com aquele misterioso homem, quem se esconderia por de baixo da máscara? Todavia os seus pensamentos foram catapultados para algumas noites atrás, quando teimosamente tentava lutar contra uma terrível insónia que a assaltava persistentemente, lembrava todos os tenebrosos momentos do dia em que enterrara a sua família, contudo não se lembrava de vislumbrar o nome de Marlene escrito nas lápides brancas. Tinha que conferir que os seus pensamentos não a enganavam, tinha que compreender se Marlene estava viva, tinha que fazer alguma coisa por ela.

                A jovem ultrapassou em passada lenta os enormes portões que encerram a morte, vagueou melancolicamente por entre os túmulos brancos, lendo cada nome aí gravado. Algumas pessoas viraram os seus rostos curiosos quando avistaram Diana caminhando sozinha através da areia fria, talvez achassem suspeita ou talvez louca, contudo a Vingadora não se importou e continuou a sua busca.

—Linda, Philip, Ronald, Christy, Alex, Edward, Elisabeth… - Murmurava ofegante, enquanto tentava suprimir as lágrimas, as suas emoções, os seus sentimentos. – Ela não morreu. – Concluiu aliviada, sentindo a esperança percorrer-lhe o espírito. – Vou fazer o que estiver ao meu alcance para a ajudar, prometo. – Garantiu em voz toldada pelas lágrimas que finalmente escaparam dos seus olhos, ajoelhada sobre o túmulo da Madame Lisa.

— A tua beleza contrasta perfeitamente com a pureza deste lugar, é incrível. – Afirmou uma voz alta e segura das suas palavras, Thor o lindo Deus do Trovão estava parado a escassos centímetros da morena, vislumbrando com pesar aquela paisagem silenciosa.

— Thor assustaste-me. – Exclamou Diana, erguendo-se para fitar o seu amigo.

— Ódin está a olhar por eles, fica tranquila. – Disse o Deus em voz delicada, dando um abraço amistoso a Diana.

— Ódin? – Perguntou a Sereia confusa.

— Ódin o pai de todos. – Explicou o louro, conduzindo a Vingadora para fora do campo sagrado.

— Por vezes esqueço-me de que tu és um Deus, desculpa. Agradece ao teu pai por mim. – Proferiu a morena tristemente. – Como sabias onde estava? – Questionou, olhando Thor com admiração.

— Conheço-te, é apenas isso. – Explicou o Deus do Trovão. – Porque vieste aqui? Acredito que não te fará bem nenhum. 

— Certa noite, enquanto tentava dormir, recordei-me que no dia do funeral não tinha visto o nome da Marlene nas lápides, então tive que vir verificar, entendes? – Esclareceu Diana, apesar de Marlene sempre ter feito a sua vida num inferno ela não a poderia deixar à mercê da sua própria sorte e da sua incontrolável ambição e inveja.

— Realmente, tu tens um coração de ouro. – Comentou Thor sorrindo orgulhoso.

— Vamos até à mansão dos Vingadores? Quero pedir ao Cap se me pode ajudar a encontrá-la. – Sugeriu a Sereia, convicta de que Steve a poderia auxiliar.

— Certo. – Assentiu Thor alegremente.

                Meia hora depois, a Vingadora e o deus entravam na saleta de estar apinhada de ruido vocal.

— Onde está o Cap? – Interrogou Thor em voz audível, dirigindo-se a Janet.

— Ele não está, teve assuntos para tratar com o Nick Fury. – Explicou a Vespa sorrindo.

— Oh boa, algo me diz que vai demorar. – Lamentou-se a morena em voz baixa, sentando-se no sofá perto de Tony Stark que lia atentamente uma revista, onde na primeira página brilhava artisticamente a sua cara.

                A um canto Clint conversava animadamente com o Homem Formiga Scott Lang, bebendo saborosamente duas cervejas bem geladinhas.

— Pareces cansado meu, o que se passou? Problemas durante a noite? – Comentava Scott, examinando as profundas olheiras que desfiguravam o atraente rosto do Arqueiro que tanto sucesso fazia entre as mulheres.

— Oh que problemas nem tu imaginas! – Exclamou o Gavião sorrindo preguiçosamente.

— Mais uma conquista? – Perguntou o Homem Formiga, adivinhando a resposta.

— Nada disso, foi apenas uma aventura de uma noite, uma noite não, uma hora talvez. – Explicou Clint, roubando um trago da cerveja do seu amigo, pois terminara a sua. – Ela nem era assim tão bonita, mas pronto. O que passou, passou e amanhã haverá mais. – Afirmou de forma convencida.

— Pelo menos sabes o nome dela? – Questionou Scott de forma reprovadora.

— Uhm, deixa-me pensar, acho que era Marlene, bem vou lá fora apanhar um pouco de ar, vens? – Perguntou sem dar muita importância aquele assunto passageiro e já habitual.

— Já lá vou ter. – Respondeu Lang, olhando o seu amigo com cara de poucos amigos.

                Diana ao ouvir tal diálogo sentiu o seu coração bater de raiva, ciúme e esperança. Esgueirou-se furtivamente atrás de Clint, encontrando-o por fim perto da porta do grande ginásio.

— Hey Clint, precisamos de falar. – Anunciou em voz decidida, correndo até ele, com a sua linda cabeleira voando nas suas costas.

— O que queres? – Perguntou o Arqueiro em voz baixa, olhando as pernas da morena com profundo interesse.

— Escutei a tua conversa com o Scott. – Confessou Diana, ignorando aquele olhar provocador.

— Acho que não tens nada a ver com quem eu durmo ou deixo de dormir. – Defendeu-se o Gavião encostando-se despreocupadamente à parede.

— Neste preciso caso, até tenho. – Disse a Sereia sem rodeios, avançando ligeiramente na direção do louro. – Como se chama a rapariga com quem dormiste? – Perguntou arrogantemente.

— O que é isto uma cena de ciúmes? – Questionou o Gavião deliciado.

— Só se eu estivesse completamente desesperada é que sentiria ciúmes de alguém como tu. – Mentiu a Vingadora de forma perspicaz, desde aquela noite que se envolvera com o Arqueiro nunca mais deixara de pensar nele, sabia perfeitamente que não passara de uma conquista temporária, contudo ninguém comanda as leis do coração. – Diz-me o maldito nome agora, não estou a brincar. – Exigiu de forma agressiva.

— Não tens nada a ver com isso. – Protestou o ilusionista das setas, tentando escapar daquele olhar mergulhado em raiva. – Faz-me um grande favor e não te metas na minha vida. – Pediu.

— Diz-me agora! – Ordenou Diana em tom colérico, perdendo a paciência e avançando rapidamente até ao Arqueiro, segurando-o pela garganta com força, encostando-o à brilhante parede. – Eu não estou a brincar, diz-me como ela se chama! – Insistiu, aumentando a pressão dos seus dedos na traqueia do herói.

— Estás louca? Ou apanhaste algum vírus esquisito? Larga-me. – Inquiriu Clint ofegante.

— O nome e eu largo-te, acredita, não tenho prazer nenhum em estar tão perto de alguém nojento como tu. – Ofendeu a Sereia, olhando aqueles olhos lindos repletos de luz e rebeldia.

— Marlene. – Murmurou o Arqueiro, libertando-se da pega de Diana. – Ela era apenas uma prostituta, qual é o interesse? – Perguntou confuso com aquela atitude raivosa que nunca antes vira nos olhos da morena.

— Onde ela estava? – Questionou a Sereia não desmontando a sua postura agressiva.

— Num bar, perto de Brooklyn. – Respondeu Clint. – Já respondi ao que tu querias, acho que tenho o direito de compreender o que se passa. – Afirmou.

— Ela é a única sobrevivente do ataque do Dentes de Sabre, e tu és um porco por abusares de uma miúda fragilizada. – Ripostou Diana, sentindo uma nova onda de ódio e ciúme percorrer-lhe o espírito.

— Eu não sabia, posso ajudar? – Prontificou-se o louro honestamente, apercebendo-se finalmente do gigantesco erro que estupidamente cometera.

— Claro que podes, desaparece da minha vida. – Atirou a Sereia mordazmente. Começando a correr até ao interior da moradia

— Espera Diana, por favor, vamos falar sobre isto. – Chamou Clint surpreendido. – Ela é mesmo teimosa, bolas! Tu és um grande idiota. – Pensou enquanto fazia o mesmo caminho que Diana acabara de percorrer.

— Onde vais Diana? O que aconteceu? – Perguntou Thor alarmado, vendo a sua amiga dirigir-se a extrema velocidade ao elevador.

— Já sei onde ela está, vou ter com ela, até logo. – Explicou a morena em voz ofegante, enquanto o elevador fechava a sua porta metálica. – Desta vez chegarei a tempo! – Pensou ela, caminhando apreçada sobre a calçada suja. – Chegarei a tempo, espera por mim!

                Diana tinha plena consciência de que a tarefa que a aguardava não iria ser fácil, nem reconfortante, Marlene sempre a invejara, sempre a odiara, sempre cultivara profundos sentimentos negativos por ela, contudo ela tinha que tentar, não iria desistir.

Conseguirá a morena salvar Marlene das perdidas garras da prostituição? Estará Diana pronta para enfrentar mais esta dura partida do destino? O que fará ela com os sentimentos que nutre por Clint?


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