Ondas de uma vida roubada escrita por Maresia


Capítulo 17
Não sei quem sou




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                Decorreram três dias desde o encontro de Matt Murdock e Tony Stark, finalmente os “preparativos” para os funerais estavam concluídos. Diana recuperava a tremenda velocidade, as suas feridas físicas já não eram alvo de grandes preocupações nem precauções, todavia as suas cicatrizes psicológicas sangravam mais do que nunca, doíam mais do que nunca, ardiam mais do que nunca, talvez nunca sarassem, talvez martelassem para todo o sempre no seu espírito. As recordações de todas aquelas inocentes crianças mortas naquele chão que durante tantos anos fora a sua acolhedora habitação, sem vida, imóveis, amedrontadas, sem luz, silenciadas por todo o infinito. E aquela senhora de rosto amável, doce, ternurento, que a tratava como se fosse uma filha, ali, triste, ferida, mutilada, segurando a sua preciosa vida num punhado de brilho e esperança, esperando ver uma última vez aquela doce menina que lhe caíra nos braços enviada pelo nobre mar. Todos aqueles minutos que passara presa aquela débil cama hospitalar traziam-lhe dolorosas memórias daquele fatídico dia que traçara para sempre o seu destino, um estrondoso ruído de inúmeras explosões, seguidos de horrorizados gritos de mulher, temendo pela vida da sua única filha, depois aquele carinho gelado das águas oceânicas, abraçando calorosamente aquele bebé deixado à mercê das ondas. Aquela triste visão de vislumbrar aquele fumo negro repleto do cheiro nauseabundo da morte acompanhando Hyliana até às profundezas marinhas, de onde observaria para toda a eternidade a sua estrela-do-mar.

— Diana! Diana! Estás a ouvir-me? – Perguntou a atarantada voz de Tony Stark, fazendo a morena despertar do seu pesadelo acordada.

— Sim, sim Tony desculpa. – Respondeu Diana em voz trémula, controlando as lágrimas.

— O que se passa contigo, quero ver um sorriso nessa carinha linda. – Confortou-a em tom compreensivo, dando-lhe diversas caricias no rosto bonito. – Em que estavas a pensar? – Perguntou curioso.

— Neles. – Explicou a Sereia sem se alongar.

— Eu compreendo, tem calma, o tempo cura tudo, acredita em mim. – Afirmou em tom áspero, dando a sensação de que algo passado ainda lhe pesava dolorosamente no peito, algo que assombrava as suas noites.

— A que horas vamos? – Questionou a Vingadora, olhando o magnífico relógio que Stark exibia no seu pulso.

— Daqui a pouco, o Cap deve estar para chegar. – Disse o Homem de ferro, olhando igualmente o seu pulso.

— Certo, vamos esperar por ele. – Concordou Diana, segurando a mão que Tony lhe estendia para a ajudar a colocar-se de pé. – Tenho que me vestir, mas preciso de uma enfermeira. – Afirmou com pesar, sentindo o seu braço partido contorcer-se de dor.

— Vou chamar alguém, trouxe-te este vestido, acho que é apropriado para a ocasião. – Afirmou Stark, mostrando a Diana um bonito vestido de renda preto.

— Sim é muito bonito Tony, obrigada. – Agradeceu a Vingadora.

                Daí a alguns segundos, entrava pelo quarto uma enfermeira atarefada para auxiliar Diana a colocar o vestido que Tony gentilmente lhe ofertara. Os dois amigos sentaram-se juntos num pequeno sofá que decorava o largo corredor quase despido de mobiliário esperando Steve que estava ligeiramente atrasado, até que por fim, este fez a sua entrada vistosa no hospital.

— Vamos? – Perguntou em tom sumido, segurando Diana pela mão.

— Só estávamos à tua espera. – Resmungou Stark maldisposto, fitando o outro com sarcasmo.

— Peço desculpa. – Proferiu Steve, prenunciando cada palavra de forma clara.

— Ainda tenho que voltar para cá depois dos funerais? – Perguntou a morena em voz determinada, acabando com aquela picardia ridícula.

— Não, não é necessário, mas também não voltas para a tua casa. – Disse Stark em voz autoritária.

— Ai isso é que volto! – Defendeu-se Diana em tom desafiador, fazendo com que um pequeno sorriso surgisse no rosto atraente do nobre Capitão.

— Estás louca, achas que eu te vou deixar sozinha no estado em que te encontras? Nem penses nisso. – Protestou o Homem de Ferro, olhando aborrecido aqueles lindos olhos cor das ondas.

— Estás a exagerar Tony. – Avisou Rogers, abrindo a porta do carro para proporcionar a entrada de Diana.

— Ai estou? E quem diz isso? – Provocou o empresário em voz rancorosa, sentando-se no banco do condutor, ligando o motor do seu potente Lamborghini.

— Mais tarde falamos sobre isso. – Murmurou o Capitão em voz baixa.

                Todos os Vingadores compareceram na cerimónia fúnebre, Susan Storm apareceu acompanhada dos seus familiares e do seu amigo Ben, Clint também marcou a sua presença trazendo um enorme ramo de cravos brancos, Thor correu ao encontro de Diana que caminhava apoiada pelo Homem de Ferro e pelo Capitão América, dando-lhe um profundo abraço, Peter também não pôde deixar de prestar a sua última homenagem à família da sua melhor amiga. Uma hora depois, a morena via os corpos daqueles com quem partilhara a sorte serem abençoados pela terra fria e protetora, caindo finalmente na escuridão luminosa do céu.

— Aguenta querida. – Murmurou Sue em voz baixa, segurando com força na mão da Sereia que se afogava em milhares de ondas tristes e sofredoras.

— Tens que ser forte, vá lá coragem. – Incentivou Thor, passando-lhe um lenço pelo rosto gelado de dor.

— É melhor alguém levá-la daqui, ninguém merece passar por isto. – Afirmou o Gavião passando uma das suas mãos pelos cabelos molhados da morena.

— Eu devia ter chegado a tempo. - Lamentou-se Diana em voz sumida, perdendo as forças, deixando-se cair nos braços do arqueiro que a segurou prontamente.

— Eu cuido dela, vou levá-la até ao Capitão ele saberá o que fazer certamente, onde ele está? – Perguntou Clint, olhando o pequeno grupo.

— Estou aqui Clint. – Respondeu a voz insegura de Steve, caminhando apressado por entre a multidão. – Vamos levá-la para a mansão dos Vingadores. – Decidiu, fazendo sinal para Clint o seguir. – Tenta protegê-la, a entrada está apinhada de jornalistas, o Tony está a tentar controlá-los mas duvido que seja capaz. – Preveniu em tom urgente.

— Cap se quiseres posso tornar-vos invisíveis para saírem daqui sem problemas. – Sugeriu Susan. – Segura nela com cuidado, ouviste bem? – Disse, em voz ameaçadora, ajudando o arqueiro a colocar Diana no seu colo.

— Porque é que elas me caiem sempre nos braços? – Suspirou Clint, segurando a Sereia carinhosamente junto do seu peito.

— Vamos a isto Susan, obrigado. – Agradeceu Steve profundamente.

                Algumas semanas depois, todos eles estavam sentados no pátio tomando uma fresca bebida, afagando os pés com a relva verde e bem tratada. Diana já recuperara por completo dos seus ferimentos, somente aquele braço partido ainda dava algum trabalho.

— Ainda bem que não foste teimosa e decidiste ficar aqui connosco. – Constatou Tony em tom carinhoso. – Assim recuperaste com mais facilidade. – Completou orgulhoso.

— Em matéria de teimosia tenho muitos exemplos para seguir, não duvides disso meu amigo. – Brincou a morena divertida sorrindo.

— O que eu quero saber é quando é que me vejo livre daquele monstro que chamam de cão? – Interrompeu Clint maldisposto, entornando o copo que Diana pousara a seu lado. – Ups desculpa. – Pediu, sorrindo de forma traquina.

— Tu és muito estúpido não és? – Questionou a Vingadora indignada, com a irritação a ferver-lhe nas veias.

— Ainda não me respondeste, quando é que…

— Hoje, não o quero perto de ti. – Respondeu a Sereia, dando uma valente estalada nas costas do Arqueiro.

— Vocês viram ela agrediu-me. – Queixou-se de forma fiteira o Gavião.

 - Só se perderam aquelas que ela não te deu. – Brincou Steve, limpando tranquilamente o seu valioso escudo.

                Diana durante todas aquelas semanas pensara muito sobre a sua posição como Vingadora, na sua missão de proteger a paz no mundo, de garantir que o mal jamais reinaria sobre o globo, talvez ela não fosse a pessoa mais indicada para desempenhar aquele papel, talvez ela devesse ponderar o seu futuro com calma e atenção, talvez aquela vida repleta de perigo e responsabilidade não fosse a mais justa para uma simples estudante do secundário, talvez devesse desistir. Quantas mais vidas iriam ser desperdiçadas devido aos seus sucessivos falhanços?

— Bom dia. – Saudou uma voz baixa e calma, entrando na enorme sala onde Diana terminava uma ficha de Matemática.

— Bom dia. – Respondeu a jovem em voz serena, levantando os seus sonhadores olhos para vislumbrar o recém-chegado.

                Na sua frente, estava um homem de meia altura, magro, os seus olhos transmitiam calma, serenidade, porém eram banhados por uma profunda tristeza. Trajava umas calças de ganga escura, uma camisa azul clara e um bonito colete preto.

— Espero que estejas a recuperar bem. – Disse no mesmo tom baixo, para grande surpresa da Sereia.

— Sim estou, muito obrigado, senhor…

— Bruce Banner, muito prazer. – Esclareceu o inteligente cientista, esticando uma mão que Diana apertou com gosto.

— Desculpe a minha indelicadeza. – Pediu Diana envergonhada, censurando-se interiormente por não reconhecer tal mediática figura.

— Não tem importância alguma. – Afirmou Bruce com educação, sentando-se perto da morena. – Uma ficha de Matemática, sistemas de equações, é uma matéria fascinante. – Constatou, deitando uma olhadela à folha onde Diana dava as suas complicadas respostas.

— Gosta de Matemática? – Perguntou a morena interessada.

— Adoro. – Respondeu Banner, observando fascinado cada número artisticamente desenhado pela mão da Vingadora. – É raro cruzar-me com alguém que aprecie a nobre arte dos números. – Murmurou pensativo. – Pareces triste, posso ajudar. – Perguntou, examinando aquele olhar que tantas vezes o espelho lhe devolvia.

— A confusão e a tristeza misturam-se no meu pensamento, não sei qual o caminho que devo seguir. – Desabafou Diana, não conseguindo reprimir mais aqueles sentimentos de dúvida que consumiam a sua alma.

— Já não sabes se queres ser uma Vingadora ou uma adolescente normal, eu compreendo a tua confusão é normalíssima, dois mundos tão diferentes como a noite e o dia deixa qualquer um confuso. – Afirmou Bruce sabiamente. – Por vezes não sabemos a que mundo pertencemos, eu percebo o que sentes, eu próprio inúmeras vezes me sinto assim, acredita. – Disse melancolicamente coçando o queixo.

— Quero que saiba que eu não o culpo de nada senhor Bruce, o senhor é só mais uma vítima da frieza e da maldade do mundo, eles aproveitam-se de forma egoísta da sua maior fragilidade para o tornar num mostro, mas o senhor não é nenhum mostro, muito pelo contrário, é um homem brilhante com um coração muito bondoso que apenas sucumbe aos caprichos da humanidade. – Diana andava ansiosa por prenunciar aquelas reconfortantes palavras, contudo nunca surgira oportunidade. Banner escutava atentamente aquelas frases que jamais esperara ouvir da boca de uma adolescente. – Odeio injustiças, traições e falsidades mascaradas com bonitas casas e luxuosos carros, quero que saiba que pode contar comigo quando se sentir mais triste ou mais deprimido. – Ofereceu-se gentilmente, esquecendo por momentos a sua dor.

— As tuas palavras são muito bonitas e puras, porém não resistem perante a arrogância das pessoas que as destroem com talentosa perícia e maldade, obrigado. – Agradeceu Banner, esboçando um frágil sorriso. – A vida é muito irónica eu ofereci-te auxílio e tu é que acabaste por me ajudar, o único conselho que te posso dar é que sigas o teu coração, ele marcará certamente a diferença, pessoas como tu marcam a diferença. – Aconselhou sinceramente, erguendo-se lentamente do sofá. – Onde está o Tony Stark? Venho falar com ele. – Perguntou.

— Está na sala de reuniões, ele acordou muito cedo, deve estar mesmo de mau-humor. – Preveniu a morena.

— Ele pode ganhar-me em dinheiro, mas eu ganho em mau-humor, nem tudo pode ser mau. – Brincou Bruce, seguindo o caminho que Diana lhe indicava. – Até qualquer dia! – Despediu-se.

                Qual será a difícil decisão da Sereia? Colocará ela em primeiro lugar o coração e a vontade de vingar ou os medos que lhe toldam a mente?


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