Ondas de uma vida roubada escrita por Maresia


Capítulo 16
Pradaria das desilusões




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/670836/chapter/16

                Uma velha enfermeira de rosto doce e porte atarracado fez a sua amável entrada no quarto de Diana, transportando nos seus braços um pequeno tabuleiro com uma terrível refeição, na opinião da maioria dos hóspedes hospitalares.

— Aqui tens o teu almoço, minha querida, e uma nova visita. – Anunciou em voz animada, colocando o tabuleiro na mesinha-de-cabeceira daquele metal grosseiro designado ferro.

— É o Capitão América? – Perguntou a morena, erguendo-se com extrema dificuldade, sentindo o seu coração pulsar de hesitação.

— Lamento minha bomboca, mas não é quem tu querias, mas acredito que vais ficar radiante na mesma. – Disse carinhosa a velha mulher, sorrindo alegremente. – Pode entrar! – Exclamou, dirigindo-se à pequena brecha que deixara entre a porta e a parede.

— Boa tarde, minha dorminhoca! – Saudou divertido o Homem-Aranha, entrando aos saltos na divisão.

— Oh, és tu. – Murmurou a Sereia ligeiramente abatida.

— Tanta felicidade por me veres, quem esperavas o príncipe William de Inglaterra? – Perguntou Peter na brincadeira, dando um pequeno beijinho na face da sua amiga.

— Ela não pode fazer muitos esforços, nem ter contacto com emoções muito fortes. – Preveniu a enfermeira em voz autoritária, começando a auxiliar Diana a comer a sua detestável sopa.

— O que acha que eu vou fazer com ela pular do alto da Torre Eiffel, talvez fosse boa ideia! – Brincou o herói, as duas senhoras riram com prazer. – Eu posso fazer isso, se quiser. – Ofereceu-se prontamente, apontando para a pequena tigela de água quente com cor que a simpática senhora segurava.

— Eu agradecia, não imaginas o número exorbitante de pacientes que estão hospitalizados neste centro, obrigada. – Explicou a enfermeira aliviada, passando o objeto a Peter. – Passo por aqui mais tarde para dar a medicação, até logo. – Despediu-se com um aceno e saiu a grande velocidade do quarto.

— Esta coisa tem um sabor horrível. – Queixou-se Diana em voz baixa, fazendo cara feia para a colher que Peter conduzia até à sua boca.

— O que me davas se eu te garantisse um almoço em condições e delicioso? – Questionou o Homem-Aranha, subindo ligeiramente a sua máscara para revelar um radiante sorriso.

— Faço-te os deveres da escola. – Negociou Diana.

— Proposta inválida, tu já me fazes isso, tenta outra vez. – Retorquiu o herói, abanando um pequeno saquinho com um cheirinho muito agradável de um qualquer fast-food que guardara por baixo do seu fato.

— Tento arranjar-te um cartão de descontos dos Vingadores, que tal? – Propôs a morena, inalando aquele gordo aroma.

— Esses cartões não existem, não me tentes ludibriar. – Atirou Peter, remexendo o pacote junto do nariz da sua amiga.

— Eu desisto. – Conformou-se a Vingadora perante a ausência de contra-propostas que agradassem ao perspicaz herói.

— Então eu digo o que quero e tu só tens que cumprir à risca o que eu te solicitar. – Afirmou em voz bem-disposta. – Fica boa depressa, é isso que desejo em troco deste menu de cinco estrelas. – Pediu em voz calma e serena, começando a desembrulhar uma saborosa hambúrguer e umas batatas fritas. – Não sabia o que querias beber por isso trouxe uma garrafa de água. – Esclareceu, retirando uma pequena garrafa de água do pacote vazio que colocou rapidamente no interior do seu disfarce numa tentativa de eliminar provas que conduzissem ao crime alimentar.

— Obrigada Pe… quer dizer Homem-Aranha. – Os dois adolescentes sorriram timidamente perante aquele deslize de Diana. – Isto comparado com esta comida é um autêntico manjar dos Deuses. – Comentou enquanto comia deliciada. – Pelo que entendi, irei comer esta espécie de comida enquanto aqui estiver. – Desabafou.

— Em relação a isso não há problema nenhum, vou recrutar um grupo para garantir que tens uma alimentação realmente aceitável. – Prontificou-se o herói, lançando um olhar de poucos amigos aquilo que chamavam de sopa.

— Obrigada. – Agradeceu a adolescente, bebendo um pouco de água da garrafa que Peter segurava. – Bem, eu tenho tentado não pensar nisto, porque me recuso terminantemente a acreditar no que os meus olhos vislumbraram quando entrei no orfanato, eu não quero acreditar, não quero. Porém por mais que lute contra à minha mente, não consigo evitar olhar aquelas imagens aterradoras que eu jamais imaginaria que pudessem cruzar a minha vida, como estão as crianças e a Madame Lisa? – Perguntou amargamente, engolindo em seco todos aqueles tenebrosos pensamentos que lhe assolavam a mente.

— Bem, bem Diana é que, é que… - Peter não era capaz de expressar aquelas terríveis e arrepiantes notícias, deixara de ter coragem para falar e a morena percebeu isso. A porta abriu-se num rompante de alívio para o Homem-Aranha.

— Homem-Aranha peço-te gentilmente que te retires, preciso de falar com a Diana, obrigado. – Pediu a voz calma embora triste de Steve Rogers, imóvel junto à umbreira da porta.

— Quem sou eu para negar um pedido a tal homem, faça as honras Capitão. – Brincou o Aranha, acenando delicadamente para a Sereia, saindo do quarto sem olhar nos olhos daquele homem que quase provocara a morte da sua melhor amiga. Talvez não devesse sentir raiva nem rancor daquele homem, todavia naquele momento não o conseguia evitar, contudo sabia que era passageiro, tudo voltaria ao normal.

— Fico contente por o ver. – Disse Diana sorrindo timidamente.

— Deves odiar-me. – Murmurou Steve em voz sumida, trocando a cadeira de madeira pela borda da cama da morena.

— Nunca me passou isso pela cabeça, gosto demasiado de si para o odiar. – Afirmou Diana sendo verdadeira em cada sílaba que prenunciava, Steve sorriu.

— Fico feliz, sei que fui muito imprudente, mas posso assegurar-te que as minhas intenções foram boas. – Proferiu o Capitão América, recordando o momento em que estupidamente enviara Diana ao encontro da morte.

— Cap, eu não sinto nenhuma raiva, nenhum rancor, nenhum ódio, fique tranquilo, mas existe algo que lhe gostaria de perguntar, e pedia-lhe, que seja qual for a resposta, não a mascare com borboletas, estou pronta para saber a verdade. Como estão as crianças do orfanato e a Madame Lisa? – Questionou a Sereia corajosamente.

— Não te vou mentir porque na minha opinião seria uma ofensa à memória das crianças com quem partilhaste a tua infância, e seria um insulto maior à memória da mulher que te educou para seres a miúda especial que és hoje, eles estão todos mortos. – Afirmou com pesar na voz.

— Certo. – Murmurou a Vingadora, tentando manter-se forte, todavia era impossível perante tal trágica notícia, e algumas lágrimas traíram a sua aparente força e rolaram dos seus olhos cor de água manchando o seu ferido rosto.

— Chorar alivia o espírito. – Afirmou o Soldado, acariciando a mão trémula da jovem ternamente. – Perdermos alguém de quem gostamos simboliza uma dor indescritível, parece que levam metade de nós também, eu compreendo o que sentes. Eu estou aqui. – Reconfortou-a.

— O senhor já perdeu alguém de quem gostava muito? – Questionou Diana, derramando milhares de gotas de sal.

— Nem imaginas quantas, mas continuo forte para honrar as suas vidas, é o melhor tributo que lhes posso oferecer. – Admitiu Steve, sentindo o seu rosto afogar-se na tristeza.

— Farei o mesmo, o senhor será o meu exemplo. – Decidiu a Sereia limpando o seu rosto com um guardanapo que Rogers lhe estendia. – Pode ajudar-me a beber um pouco de água? – Pediu ligeiramente envergonhada. Steve pegou a garrafa e levou-a até aos lábios da morena, sentindo o seu coração bater com força contra as suas costelas. – Obrigada. – Agradeceu.

— Sinto-me lisonjeado por ser um exemplo para alguém. - Prenunciou o bravo Capitão sorrindo tristemente. – Vais ficar melhor, tenho a certeza. – Disse tranquilamente reconhecendo aquela familiar força de vontade e coragem indomável para encarar o desconhecido.

— Ainda existe uma coisa que me preocupa. – Admitiu a adolescente em voz sumida, recordando a triste e abandonada pobreza do orfanato. – Quem vai pagar os funerais das crianças e da Madame Lisa? A instituição não possuía dinheiro para tais gastos. – Explicou preocupada.

                No luxuoso gabinete localizado na Torre onde estava sedeada a Stark Enterprise, Tony estava sentado numa confortável cadeira de pele, remexendo apressadamente numa pasta repleta de documentos provavelmente muito importantes. Alguém bateu à porta, desfazendo a profunda concentração do Homem de Ferro.

— Entra Pepper querida! – Ordenou em voz grave, alisando o cabelo com a mão.

— Senhor Stark, o senhor Murdock chegou, posso mandá-lo entrar? – Perguntou a insubstituível secretária em voz doce.

— Pensei que essas etiquetas entre nós não existissem. – Comentou Tony sorrindo maldosamente.

— Estou a trabalhar. – Respondeu Pepper profissionalmente. – Posso mandar entrar ou não? – Insistiu, ignorando os olhares sedutores que o herói lhe lançava.

— Claro que podes, olha o teu horário termina às cinco, não te esqueças. – Afirmou divertido, atirando um beijo à dedicada empregada.

                Daí a alguns segundos Pepper irrompia de novo pelo gabinete acompanhada por um homem bem-parecido de lisos cabelos ruivos.

— Boa tarde meu caro Matt! – Saudou educadamente o Homem de Ferro, vendo a linda rapariga fechar a porta atrás de si.

— Fiquei muito surpreendido quando hoje de manhã cheguei ao meu escritório e tinha uma chamada sua à minha espera, senhor Stark. – Comentou o recém-chegado ligeiramente interessado.

— Mais surpreendido fiquei eu por precisar de um advogado, vamos deixar essas realezas de nos tratarmos por você, afinal somos quase amigos, não é verdade Matt? – Proferiu Tony, começando a procurar algo em uma das suas muitas gavetas.

— Porque me chamaste aqui afinal de contas?- Inquiriu o brilhante advogado em voz serena.

— Bem, preciso dos teus serviços como advogado fantástico que és, desculpa mas desta vez vais deixar a fatiota em casa! – Brincou Stark sorrindo divertido.

— Era uma das minhas interrogações se viria aqui como advogado ou como Demolidor. – Confessou Matt. – Em que te posso ajudar? – Perguntou, receando no seu interior a resposta, sabia que Stark era imensamente rico, e os bafejados pela fortuna têm tendência em arranjar sarilhos complicados.

— Ontem ocorreu um grande massacre no bairro de Brooklyn, não sei se ouviste dizer? – Explicou Stark, perdendo a diversão do seu rosto.

— Escutei rumores, apenas isso. – Respondeu o ruivo, absorvendo cada palavra que o outro prenunciava.

— O ataque foi perpetuado por um mutante com uma elevada taxa de perigosidade designado Dentes de Sabre um antigo inimigo do Wolverine, enviámos um de nós ao local para controlar a situação só que ela foi gravemente ferida e está agora a recuperar no hospital, com um diagnóstico reservado. – Continuou respirando fundo.

— Corre risco de vida? – Questionou Matt preocupado. - O coração dele palpitou a grande velocidade quando falou na Vingadora que foi ferida, deve ser alguém especial para ele. – Pensou.

— Não, ela já não corre qualquer risco de vida. – Informou o herói sorrindo tristemente. – Porém aquele maníaco vitimou duas dezenas de pessoas, um adulto e dezanove crianças. – Tony voltou a respirar fundo.

— Meu Deus. – Pensou Matt indignado. – Onde estavas tu quando aquelas crianças foram mortas, de férias certamente. – Cismou com azedume.

— Essas crianças eram a única família da Vingadora que foi ferida, tenho que fazer algo por eles, entendes? – Perguntou, olhando o vazio.

— Claro que sim, o que sugeres que façamos? – Questionou impressionado o advogado.

— Quero que trates de todas as burocracias relacionadas com os funerais de todos eles. Não poupes nos esforços nem no dinheiro, eu pago quanto for necessário. Achas que consegues tratar disto? – Perguntou o Homem de Ferro.

— Claro que sim. Fica tranquilo, vou já trabalhar nisto, mais tarde informo-te do que aconteceu. – Prontificou-se Matt feliz por lhe terem posto nas mãos uma missão tão nobre e tão digna, nunca imaginou que o poderoso Tony Stark fosse capaz de realizar tal ação de solidariedade.

— Obrigado, espero notícias em breve. – Despediu-se o Homem de Ferro apertando a mão do Demolidor.

— Até breve. – Despediu-se igualmente o ruivo. Saindo sem mais palavras.

                Diana esperava ansiosa a resposta que nunca mais vinha, olhava tristemente para o Capitão que lhe devolvia o olhar sem mover os seus lábios. De súbito o telemóvel de Steve tocou avisando que recebera uma SMS. Este leu e passou-o a Diana.

— Está tudo tratado. – Leu a morena em voz alta. – O que significa? – Perguntou confusa.

— O Tony vai tratar de tudo relacionado com os funerais, podes tranquilizar-te. - Explicou Rogers sorrindo. – Ele não para de me surpreender. – Pensou no seu íntimo.

— Tenho que lhe agradecer. – Disse Diana em voz calma, sentindo o alívio percorrer o seu espírito.

— Ele virá mais tarde para falar com os médicos. – Informou Steve, levantando-se. – Bem, agora é melhor descansares, queremos que voltes rapidamente para casa, não é verdade? – O herói sorriu abertamente.

— Cap, posso fazer mais uma pergunta? – Questionou timidamente a Sereia.

— Mas só mais uma. – Brincou o Capitão América.

— Quem cuidará do meu cão enquanto eu estiver aqui? – Interrogou a morena.

— O Clint ficará com ele, já tratamos de tudo, ele ficará bem entregue. – Esclareceu o Soldado.

— Duvido. – Pensou Diana, temendo pela saúde mental do seu querido Gavião.

— Até logo e dorme um pouco. – Despediu-se Steve, saindo do quarto com um aceno.

— Até logo. – Respondeu a Vingadora, fechando os olhos e abraçando com gosto o profundo sono.

                A alguns quilómetros dali, Clint brincava alegremente na sua sala com o enorme cão branco.

— Dá-me já essa almofada, seu maldito! – Exclamou o Arqueiro, vendo o objecto ser-lhe arrancado da mão a tremenda velocidade. – És tão teimoso como a tua dona, seu maldito! – Reclamava enquanto corria atrás do cachorro que divertido fugia a sete patas.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Ao inicio não pensei em ter o personagem Matt Murdock (Demolidor) na história, mas depois de ler a história "Demolidor: Diabo da Guarda" decidi inclui-lo na minha história.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Ondas de uma vida roubada" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.