Ondas de uma vida roubada escrita por Maresia


Capítulo 14
Maldita sorte




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                A estrada manchada de vermelho enchia-se de nevoeiro triste e angustiado, enquanto o corajoso Wolverine corria apelando a todas as suas magníficas forças para conseguir alcançar o tão necessário hospital, antes que a pequena linha de vida de Diana se esvaísse num abismo azul mar, onde duas pessoas espelhavam persistentemente a sua alma quase solta.

— Preciso de um médico! De um médico agora! – Exigia Logan em voz rouca, adentrando violentamente o apinhado estabelecimento de saúde.

— O que se passou senhor? – Questionou uma mulher de bata branca em voz estridente.

— Por acaso é um médico? – Perguntou o X-Man irritado.

— Não, eu não sou…

— Então saia da minha frente antes que eu mostre o meu mau génio. – Ameaçou sem rodeios perdendo a paciência.

— Eu sou médico, posso ajudar? – Questionou um jovem vestido de branco com ar muito chocado perante a aparência selvagem e pouco usual do herói. - Oh meu Deus! Levem-na já para a sala de operações, realizem todos os exames que sejam necessários, vamos salvar esta moça, ouviram rápido! – Impôs-se o médico em voz autoritária, colocando a adolescente com a ajuda de Wolverine numa maca.

— Obrigado meu. – Agradeceu o herói em voz baixa. – Tratem dela, se não eu venho cá e…

— Chega Logan. – Interrompeu uma voz audível embora bastante emocionada pela visão da Sereia quase morta deitada na maca que desaparecia por uma porta rolante no fim do largo corredor.

— Acho que já chegaram um pouco atrasados. – Provocou Wolverine em tom sarcástico, fitando agressivamente o pequeno grupo de heróis que se aninhava em volta do jovem médico.

— Obrigado Logan. – Agradeceu o Capitão América em voz profundamente melancólica. – Ela vai ficar bem? – Perguntou no mesmo tom dirigindo-se ao médico.

— Ainda não avaliei a dimensão e gravidade das lesões, mas dou-lhe a minha palavra de que darei tudo o que tenho para a salvar, senhor Capitão. Temos que avisar a família dela. Alguém tem algum contacto ou algo do género? – Questionou varrendo com o olhar o misterioso grupo.

— Ela é minha sobrinha. – Arriscou Tony sem rodeios nem outra qualquer saída possível para aquela questão constrangedora. – Façam todo o tipo de exames, usem todas as tecnologias que possam dispor, todos os medicamentos que estejam expostos no mercado, contratem algum médico que seja necessário, eu ficarei responsável por todas essas despesas e algumas que venham por acréscimo, façam o que têm a fazer, dinheiro não é problema para mim, a única condição que imponho é que não a deixem morrer, percebeu bem? – Informou Stark em voz rápida, dando graças aos céus possuir uma fortuna incontável.

— Certo senhor. Já vos trago notícias, até já. – Despediu-se o profissional de saúde encaminhando-se a passada larga para a mesma porta rolante.

— Espero que estejas satisfeito com a porcaria que fizeste. – Atirou Tony em voz arrogante, saindo da sala de espera para a rua no intuito de arrefecer os pensamentos.

— Não lhe ligues Cap, todos nós cometemos erros, ninguém é perfeito. – Afirmou a Vespa numa tentativa inútil de o reconfortar.

— Ele tem razão, contra factos reais não existem argumentos plausíveis, eu falhei e não há volta a dar. – Respondeu Steve consciente dos seus erros, olhando tristemente a porta por onde a morena entrara.

— Ela safa-se, é demasiado ruim para morrer já. – Tentou Clint quebrar o gelo mais que cortante, porém apenas recebeu vários olhares recriminadores por parte dos seus companheiros.

                Longos e injustos minutos se passaram desde a partida do médico, deixando os Vingadores entregues à tremenda expetativa, ao caótico desespero, e à constante insegurança. Até que o branco esperança da bata do jovem médico ofuscou e aqueceu o coração de todos eles.

— Como ela está? – Questionaram em uníssono quase perfeito.

— Onde está o tio dela? – Perguntou o médico, olhando em volta.

— Aqui. Já tem notícias? – Perguntou em tom urgente.

— Ela vai sobreviver? – Perguntou o sofredor Capitão esperando obter a resposta que ardentemente desejava escutar.

— Só posso dar essas informações a familiares diretos, por favor acompanhe-me senhor Stark vamos até ao meu gabinete. – Respondeu o médico, fazendo sinal para que Tony o seguisse.

— Mas…

— Não faças balbúrdia. – Avisou o milionário em voz baixa, dando um ligeiro empurrão no Super-Soldado que o olhou furibundo, contudo resignou-se a muito e raivoso custo, vendo Tony Stark desaparecer no corredor de forma pomposa e snobe.

— Quem é que aquele médico pensa que é? – Questionou Thor embebecido pela falta de decência daquele sujeitinho.

— Assertaste na palavra, ele é um médico, e nós e a Diana precisamos das competências dele, por isso acalma-te. – Preveniu Clint tentando apaziguar uma nova e trovejante discussão.

                Tony sentado numa desconfortável cadeira, na sua opinião, observava o jovem médico com ar sério e interrogativo, o segundo perdia-se concentrado numa folha de papel onde estava descrito o diagnóstico clínico de Diana.

— Então como ela está? – Questionou Tony em voz perceptível, perdendo ligeiramente as estribeiras com aquela infundada demora.

— Ela irá sobreviver, tenho plenas certezas disso, não existe margens para dúvidas, contudo o diagnóstico clínico da paciente é reservado, não foram afetados órgãos vitais ou de maior importância, o que é um enormíssimo ponto a nosso favor. – Iniciou o médico, observando esporadicamente as suas valiosas notas. – Ela possui um braço partido, vários dedos igualmente fracturados, bem como diversas costelas, possui ainda inúmeras escoriações por todo o corpo, algumas de maior cuidado, outras nem por isso. – Respirou fundo, olhando Stark que o escutava com a maior das atenções. – As nossas reais preocupações recaem sobre um ligeiro traumatismo na cabeça que pode ou não ser comprometedor, estamos a analisar mais aprofundadamente os danos, claro se eles tiverem ocorrido. Quando ela deu entrada nesta unidade hospitalar realizámos uma urgente transfusão de sangue devido à extrema perda do mesmo, ela reagiu bem à solução e está a estabilizar. – Tranquilizou, vendo que Tony se preparava para interromper.

— Podemos vê-la? – Questionou o Homem de Ferro esperançado.

— Ela está sobre sedativos, mas não vejo nada que impeça a vossa visita. Quando os exames terminarem mandarei alguém chamá-los. – Disse o médico educadamente.

— Espero lá fora. – Decidiu Stark, saindo do gabinete, deixando o profissional entregue à sua papelada.

— Então Tony, como ela está? – Perguntou Thor em voz alta, indo ao encontro do recém-chegado.

— Eu já tive conhecimento do estado clínico dela… - Iniciou o empresário, caminhando até aos restantes membros do grupo que o aguardavam ansiosos.

— Avaliando pelo inimigo podia ser muito pior. – Comentou o Gavião em tom despreocupado, quando Tony terminara a narrativa do estado clínico da Vingadora.

— Sim é verdade, ela teve muita sorte. – Apoiou Janet em tom animado.

— Cap! Cap! Onde vais meu. Tem calma contigo. – Chamou o Arqueiro impressionado, vendo Steve Rogers esgueirar-se sorrateiramente pela porta principal, deixando todos os outros confusos e atónitos com aquela inexplicável atitude, contudo só ele sabia o que percorria o seu nobre coração.

— Deixa-o ir Clint, ele deve estar com dificuldades em lidar com a culpa e com os remorsos, eu no lugar dele também estaria assim. – Repreendeu Stark arrogantemente.

— Não é necessário falares assim, somos companheiros, ou não somos? – Resmungou o Arqueiro irritado.

— Podemos visitá-la? – Questionou Thor impondo-se fortemente a mais uma discórdia certa e dispensável naquele momento.

— Já nos vêm chamar. – Respondeu Stark em voz baixa e rancorosa.

— Alguém deveria avisar a Sue Storm e o Homem-Aranha, eles dão-se muito bem com ela. – Sugeriu Janet.

— Eu trato disso, aproveito e vou comer algo, estou esfomeado, venho visitá-la mais tarde. – Prontificou-se o Gavião, seguindo pela mesma porta onde o Capitão América semeara a sombra da sua ausência.

                Um homem caminhava tristemente e vagarosamente através da ruela ensanguentada do bairro de Brooklyn, olhando com pesar o arrepiado orfanato onde a morte reinava soberana onde os gritos e os apelos de misericórdia das crianças ressoavam como horripilantes notas musicais, onde as palpitações do coração de Diana, palpitações de raiva, impotência, ódio, esperança, telintavam como o vento bate nas rochas marinhas. O estranho parou, imóvel, absorto, rancoroso e alheio à sua própria dor e descrença. Ele devia ter estado ali, devia ter impedido toda aquela calamidade absurda, impiedosa, imunda, impensável, injusta, devia ter estado ali para a segurar nos seus braços, para lhe dizer, aguenta eu estou aqui, devia ter sido ele a impedir que o seu chão se torna-se escarlate, devia ter sido ele, ele, contudo agora não havia nada a fazer, o destino encarregara-se de mais uma vez lançar a sua mão criminosa sobre as suas vidas. Algumas lágrimas rolaram dos seus olhos, cobrindo o seu rosto com a amargura cálida do mar azul e distante, onde a vida se perde e se ganha num segundo imprevisível.

— Perdoa-me. – Murmurou o homem num sussurro ofegante bafejado pela negra culpa consumidora. – Perdoa-me. – Repetiu, afogando-se numa onda de uma vida tristemente roubada, sentando-se nos degraus pintados de sangue carmesim.

                Quem é este misterioso e sofredor homem? Conseguirá ele algum dia capturar o perdão que tanto busca?


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