Mais que o Acaso. escrita por Thaís Romes


Capítulo 9
Lembranças do acaso.


Notas iniciais do capítulo

Oi gentes!
Espero que curtam...



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OLIVER

Estou em meu quarto, olhando Thea mexer em meu armário e jogar tudo o há dentro em cima da minha cama. Em momentos como esse, me pego pensando no porquê de não ter pego minha chave de volta. Me jogo em uma poltrona e fico a observando, até que não posso mais me conter, tamanho o absurdo.

—Não vai encontrar bebida nenhuma aí. –murmuro, massageando minhas têmporas.

—Você não bebe, por que eu estaria procurando bebida no seu guarda roupas? –diz com naturalidade, jogando uma blusa por sobre os ombros.

—O que infernos você está fazendo, Speed?

—Procurando o presente que comprei para seu aniversário do ano passado, aquele que você nunca usou. –tento me lembrar de qual foi o tal presente, mas concluo que é melhor ficar em silêncio. –Eu posso jurar que vi o guardar no bolso de um dos seus smokings.

—E acredita que eu não os lavo a um ano? –em resposta, ela simplesmente aponta para a fileira imensa de smokings, praticamente idênticos. -O que você quer com o meu presente?

—Pode confessar que não se lembra do que é Ollie, estava tão bêbado quando te dei, que não me admiraria. –ela suspira cansada, e senta-se na cama a minha frente. –Foram entradas para o parque aquático, aquele que nosso pai nos levava em Ivy Town. –morde os lábios, como se estivesse envergonhada. –Eu sei que não somos mais crianças. Mas você estava perdido, e tudo o que eu queria era meu irmão de volta.

—Sinto muito, Speed. –me levanto da poltrona, me sento a seu lado na cama, puxando-a para meus braços.

—Eu sei. –murmura feito uma criança, com o rosto enterrado em meu peito. –Pensei em você levar Felicity e os garotos, teria que comprar duas entradas infantis na portaria, mas já é um começo. Talvez isso te ajude com o Wally. –sorrio.

—Quando é que você vai parar de cuidar de mim? –brinco, dando um beijo no alto de sua cabeça. –Eu quem sou o irmão mais velho! –escuto uma risada quase ofensiva vindo dela.

—Agora, você pegou um pouquinho pesado! –debocha se afastando para me ver, mas seus olhos marejados anulam o sarcasmo de sua voz.

—Posso te fazer uma pergunta? –olho em seus olhos azuis esverdeados, com meu rosto sério.

—Claro, o que foi?

—John Diggle, ele é meu segurança, não é? –Thea limpa uma lágrima que havia escorrido por sua face, depois se levanta arrumando a roupa.

—Não sei de quem você está falando. –dá de ombros saindo do quarto e começo a segui-la.

—Ah, você sabe sim! Speed, volta aqui, por que eu não vou arrumar essa bagunça!

FELICITY

—Eu não vou de avião. –Wally protesta pela decima vez.

—Sabe que são sete horas de viagem de carro, quatro de trem. –semicerro meus olhos, olhando para seu rostinho sério. Sinto falta dos sorrisos de Wally, de como ele era leve, brincalhão e atrapalhado, quase uma cópia do pai.

—Eu também não vou. –Bart cruza os braços sobre o peito, fazendo bico.

—Você nem sabe o que é um avião. –aperto a ponta de seu nariz me levantando.

—Eu não vou, se o Wally não for. –corrige.

—É assim, eles brigam o dia todo, me levando à exaustão. Mas quando é o interesse de um deles em jogo, não tem briga nem conversa. –reclamo para Sara, me levantando.

—Vocês os criaram bem. –dá de ombros. –Acho que podemos ir de trem, vai ser legal, Felicity.

—Ray conseguiu tirar algum tempo para a viagem? –questiono, voltando a arrumar as malas. Bart tenta dobrar as roupas, mas acaba fazendo ainda mais bagunça, só não o mando parar, por ser tão fofo de se ver.

—Não, seremos só nos duas e as suas pestes! –brinca, pegando Wally no colo, ele já está ficando muito grande para fazermos isso com frequência, mas nenhuma de nós gosta de admitir. –Por que não vão brincar com Ollie? –sugere, voltando a colocar meu filho no chão.

—Vem Bart. –Wally o pega pelas mãos. –Nós vamos de trem, não é mãe?

—Vamos sim querido. –bagunço seus cabelos. –Só vamos andar de avião, quando você estiver pronto. Eu prometo. –ele sorri de lado, posso ver Barry em seu gesto, o que faz meu coração se apertar um pouquinho.

—Contou ao outro Ollie sobre a viagem? –pergunta assim aqui que os garotos passam pela porta.

—Posso ter comentado algo. –começo a tentar fechar a mala. –Sara, pode se sentar aqui? –ela o faz, com um sorriso de diversão.

—Não o convidou?

—Claro, vou leva-lo a tira colo, para a casa da família do meu marido. –murmuro sarcástica, enquanto fazia força para fechar a mala.

—Tenho certeza que Iris e Joe adorariam conhece-lo. Felicity, não tem nada de mais em seguir a própria vida, todos que te amam, torcem por sua felicidade. –ela coloca a mala no chão. –Uma está pronta, faltam três!

—Então vamos fazer logo essas outras três, e parar de falar sobre Oliver. O homem, não o cachorro. –sinto uma necessidade boba de especificar, fazendo Sara soltar uma gargalhada de diversão.

Perto do meu horário de almoço na empresa, me surpreendo com Oliver entrando em meu escritório, com um largo sorriso nos lábios. Ele não vestia o paletó de seu terno, e trazia um saco de papel nas mãos.

—Incomodo? –pergunta depois de já ter entrado, acabando com qualquer vontade minha de revisar programas.

—Claro que não. Mesmo se incomodasse eu não diria, já que é meu chefe. –respondo sorrindo. –O que é isso? –aponto para o saco em suas mãos, enquanto ele se senta em minha frente.

—Nosso almoço. –Oliver tira várias caixinhas de comida chinesa de dentro do saco. –Acabei de saber que farei uma viajem nesse tarde, vim me despedir de uma forma adequada.

—Subornos envolvendo comida são meus preferidos! –solto sem pensar, enquanto pegava uma das caixas e escuto o riso divertido de Oliver. –Quero dizer, para onde você vai? –tento soar séria.

—Blue City, mas volto no domingo.  É uma conta pequena, com uma empresa de transportes.

—Bom, eu também vou viajar hoje. –digo casualmente e o vejo me olhar um pouco espantado.

—Pretendia me subornar com comida? –finge seriedade, abro a gaveta da minha mesa, tirando dois ingressos de lá.

—Star City contra Central. Próxima quinta. –entrego a ele os ingressos. –Ray me deu, são bons lugares.

—Muito bons, gosto da sua forma de suborno. –abre um sorriso lindo, que quase me fez errar a boca.

—E eu torço para Central, então vamos ter o primeiro teste de nossa relação. –falo me arrependendo no mesmo momento. –Não que eu pense que nós estejamos em uma relação...

—Felicity, nós estamos em uma relação. –diz dando risada. –E eu sou bastante competitivo. –avisa. -Onde vão, no fim de semana? –sorrio, por ele incluir os garotos, mesmo eu não tendo dito nada.

—Central City. –respondo vagamente.

Oliver deixa sua comida de lado, dá a volta em minha mesa, para se escorando em minha frente. Retira de forma delicada a caixinha de minhas mãos, depois as envolve com as suas. Não acho que vá me acostumar nunca com as linhas quase perfeitas de seu rosto.

—Já não te disse que está tudo bem? –beija as palmas de minhas mãos e o observo hipnotizada. –Agora me diga, dessa vez, como se não estivesse tentando não falar em Barry. –existia algo em seus olhos sempre que dizia o nome de Barry, não eram ciúmes, estava mais para algo parecido com empatia, o que é impossível já que eles nunca se viram.

—A irmã adotiva dele vai se casar no sábado e eu sou a madrinha. –dou de ombros.

—Ótimo. Viu, nem foi tão ruim assim. –brinca, me puxando para que eu me levante. –Vou sentir sua falta. –diz me abraçando, depois sinto seu nariz em meu pescoço, no meio de sua procura por meus lábios, e me beija de forma doce, quando os encontra.

—Vou sentir a sua também. –respondo, me dando conta do quanto aquilo é verdade.

CENTRAL CITY

Quando desembarcamos em Central, vejo Joe parado em frente a seu carro. Ele tinha um grande sorriso no rosto, do tipo que não via a mais de um ano. As crianças saem correndo em direção ao avô, Sara e eu corremos atrás delas, desajeitadas, levando as malas como podíamos.

—Cara, você vai ficar maior do que eu! –Joe exclama de forma exagerada para Wally, que abre um grande sorriso de alegria com o elogio. –E você? –se vira para Bart, que solta uma gargalhada só do avô falar com ele. –Está tão forte, que acho que vai ser lutador quando crescer.

—Mamãe quer que eu seja médico, para pagar o que devo a ela. –responde nos fazendo dar risada.

—Cada centavo. –completo, me adiantando para dar um abraço apertado em meu sogro.

—Olá querida. –ele beija o alto da minha cabeça, antes de nos afastarmos. –Sara! –se volta para minha amiga. –Onde está aquele poste, do seu namorado?

—Ray ficou trabalhando. –responde sorrindo. –Mas mandou o presente, que é o mais importante! –bate na mala, e nós damos risada.

—Vamos logo, Iris está pirando. E deixando a todos tão loucos quanto ela!

A casa de Joe está exatamente como me lembro, até o cheiro de pinho é o mesmo. Respiro fundo assim que passo pelas portas, e consigo me lembrar com clareza do primeiro dia em que Barry me levou para conhecer a família dele. Nós tínhamos quinze anos, erámos garotos. Mas já namorávamos escondidos desde o colégio, e estaríamos ingressando na faculdade, muito adiantados, não dava mais para protelar.

Iris era a única que sempre soube de nosso namoro, bom, ela e minha mãe, que está muito longe de ser um pessoa normal. A verdade é que nós tínhamos certeza de nosso futuro, costumávamos brincar que dominaríamos o mundo juntos. A verdade é que nós éramos o mundo um do outro...

—Mãe, você está bem? –Wally me desperta de meus devaneios.

—Claro, meu amor. –abro um sorriso para ele, que assente antes de sair correndo a procura da tia.

—Eu arrumei o antigo quarto de Barry para vocês. –Joe diz muito baixo, para que somente eu escutasse. –Mas se for demais, podem ficar no de Iris...

—Não Joe, vai ser bom para os garotos. –interrompo. –E eu estava com saudades daqui! –isso o faz abrir mais um daqueles sorrisos, dos quais eu sentia falta.

—Nesse caso, seja bem vinda em casa!

—Obrigada. –dou um beijo no seu rosto, e olho em volta à procura do meu pequenininho.

—Ele já subiu a muito tempo! –Sara aponta para a escada.

—Vou ir salvar Iris, antes que os sobrinhos a matem espremida entre eles! –digo correndo escada a cima.

Iris estava em seu quarto, usando um pijama de flanela. E como eu havia previsto, Bart e Wally a abraçavam e beijavam ao mesmo tempo, enquanto ela dava risada sem parar. Sara e eu entramos no quarto e nos sentamos no chão, observando a cena. Eles eram loucos pela tia, e por não a verem com frequência a reação era sempre a mesma, quando enfim se encontravam.

—Meu Deus, mas vocês são muito lindos! –exclama em meio aos beijos.

—Desse jeito vão acabar com a noiva antes do casamento! –Sara brinca.

—Hum, a tia Sara está com ciúmes! –Iris brinca com um sorriso orgulhoso. –Agora, vocês esperem, que eu quero cumprimentar a mãe de vocês. –fala, se soltando deles.

Ela dá um breve abraço em Sara, que logo puxa Wally para seu colo. Me levanto quando Iris vem em minha direção, e nos abraçamos apertado. Não eram preciso palavras, ambas sabíamos do que sentíamos falta.

—É tão bom ter vocês em casa! –murmura quando nos afastamos.

—É bom estar aqui.

—Agora que está aqui, por que não me conta sobre... –ela se inclina, para falar em meu ouvido. –Oliver Queen?

—Quem te contou? –pergunto chocada, vendo um largo sorriso no rosto de Iris.

—Meu pai pode ter me dito qualquer coisa. –dá de ombros em resposta. –Fel, ele tem mesmo os braços... –começa a tentar demonstrar o tamanho com as mãos, e não aguento segurar o riso, ainda mais com Sara a meu lado, confirmando as suspeitas de Iris. –Ah não! Deveria ter trago essa obra de arte, para que eu pudesse ver de perto!

—Atrapalho? –escuto a voz de Eddie, que estava parado na soleira da porta.

—Claro que não, amor! –Iris responde arrumando a postura, o que só nos faz rir ainda mais.

Ele vai até a noiva, e lhe dá um beijo breve nos lábios, que faz Wally murmurar um “eca”. Depois abraça Sara e eu, por fim cumprimenta os garotos, cheio de intimidade. Eddie e Barry sempre foram bons amigos, eles realmente se respeitavam, e gostavam um do outro. Depois da morte de Barry, ele sempre tentou estar presente para nós, como pode.

—Wally, nós podemos bater um papo de homem, você e eu? –pergunta agachado na frente dele.

—O que foi, tio Eddie? –Wally cruza os braços sobre o peito, o olhando com atenção, até parece gente grande.

—Sara, pode levar Bart, só um pouquinho? –Eddie pede a ela, que sorri, saindo com ele nos braços. –Amanhã, eu vou me casar com a sua tia Iris, você sabe disso, não é? –pergunta, Iris passa seu braço sobre meus ombros enquanto observamos a cena.

—Todo mundo sabe disso. –fala o obvio.

—Claro. –Eddie murmura rindo. –O que quero te dizer, é que seu pai seria o meu padrinho, eu queria muito que ele estivesse aqui. –o vemos tentar manter a voz casual, com muito esforço. –Então, eu gostaria que você o substituísse.

—Eu? –Wally aponta para o próprio peito, como se não acreditasse.

—Claro que é você. –responde rindo.-Nós colocamos um terno, penteamos o cabelo da forma certa, você chega atrasado, e ninguém vai perceber a diferença. –brinca bagunçando seus cabelos.

—Meu pai era muito mais alto. –o lembra, esticando os braços.

—Isso é fácil de resolver, se quiser mando um dos policiais lá da delegacia te levarem sobre os ombros deles...

—Ah, isso não! –Iris protesta, antes que se tornasse um plano oficial, sem mais volta.

—Okay, você anda. –Eddie revira os olhos de forma teatral. –Mas o que me diz, vai ou não ser o meu padrinho?

—Posso mãe? –Wally se vira para mim, tão animado que praticamente quicava no mesmo lugar.

—Se quiser. –dou de ombros respondendo.

—Eu quero, tio! –exclama feliz, dando um abraço apertado em Eddie, e sussurro um “obrigada” para ele, que me dá uma piscadela em resposta.

Uma grande tenda foi montada no jardim dos West, tudo estava decorado em branco, e um pouco de creme, com mesas rusticas e flores do campo. Iris parecia uma princesa, em um vestido de renda, com mangas curtas e um longo véu. Eddie era o retrato da alegria, nunca antes os vira tão felizes. Eu estava sentada na mesa dos noivos, com Bart em meus braços, enquanto via Wally sobre um pequeno palco, pronto para começar seu discurso, Eddie estava certo, ele parecia um mini Barry, e eu não me aguento de tanto orgulho.

—Oi. –diz no microfone, arrancando risadinhas do público, o que parece o fazer travar por um longo momento. O vemos fechar os olhinhos e respirar fundo, enquanto tirava o papel do discurso que o ajudei a escrever na noite passada, mas ele muda de ideia, e o guarda novamente, antes de voltar a falar. –Tio Eddie, me chamou para substituir o meu pai, era para ele ser o padrinho hoje. –conta.

—Não era esse o discurso. –Iris murmura baixinho para mim.

—Não era. –confirmo.

—Mas eu sou bem parecido, então ele pensou que vocês não perceberiam. –diz em tom de brincadeira, e nós damos risada. –Mas como estou no lugar dele, acho que tenho que dizer o que meu pai diria, desculpe mãe. –sopro um beijo para ele em resposta. Wally se vira para os tios. –Ele diria antes de tudo, que sente muito por não estar aqui. Depois ele falaria alguma coisa sobre o tio Eddie se comportar. O ouvia dizer isso o tempo todo para você. –limpo uma lágrima que se escorre por meu rosto, e vejo Iris fazer o mesmo. –Deveria dizer o quanto você está bonita hoje, mas só depois de implicar com alguma coisa em você. –nós sorrimos. –Meu pai iria querer que vocês fossem felizes, e que... –Wally limpa o rostinho, Iris e Eddie se levantam indo até ele, mas param no meio do caminho quando o veem se recuperar. –Meu pai era um bom irmão, ele me ensinou a ser assim por Bart. Peço desculpas no lugar dele, por eu precisar estar em seu lugar hoje. –Wally pega a tacinha com refrigerante, e a levanta como havíamos ensaiado. –Aos noivos. –diz com a voz fraquinha.

Iris e Eddie o abraçam forte, e descem com eles nos braços. As pessoas no salão limpavam as lágrimas. Vejo Sara e minha mãe tentando se recompor, em uma mesa no centro do salão. E me levanto com Bart nos braços, para fazer meu brinde, ou tentar fazê-lo. No meio do caminho, Iris o pega.

—Você foi maravilhoso! –elogio Wally que estava nos braços de Eddie, dando um beijo nele, antes de seguir em frente. –Aquele garoto, é meu filho. –digo orgulhosa, no microfone, arrancando risadas das pessoas. –Preciso de um momento. –respiro fundo, e fecho meus olhos, quando volto a abri-los foco em Eddie e Iris, decidida a não ter mais nostalgia. Então faço um discurso sobre como eles são almas gêmeas, e expresso o quanto desejo que eles fiquem juntos para sempre. Mas tudo o que consigo ver, é o sorriso fácil de Wally, que corria em direção a minha mãe. Finalmente, meu filho estava de volta.


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Notas finais do capítulo

Me digam o que acharam...
Bjnhos!