O Boxeador Irlandês escrita por Tylerrj


Capítulo 1
A Entrevista




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Prisão Estadual de Londres, Inglaterra

14h30min

Segunda-feira

O delegado começa a me questionar:

–E então, diga o que aconteceu.

–Eu estava no bar, com meus amigos, tomando umas cervejas. E quando olhei para frente, eu vi um cara armado. Ele começou a atirar na minha direção, mas eu consegui virar a mesa e me proteger – eu digo, com um rosto sério.

–E depois?

–Depois que a arma dele esvaziou, ele correu. Eu corri atrás dele e derrubei-o.

–E depois disso?

–Eu comecei a bater nele. Comecei a perguntar para ele quem o mandou fazer o serviço, mas ele não dizia nada.

–E o que você fez com ele?

–Eu bati nele com um soco inglês e ele desmaiou. Eu o levei até meu carro e dirigi até a Ponte de Londres.

–E depois disso?

–Eu o amarrei com uma corda que tinha no meu porta-malas e acordei-o, cortando os dois tendões de Aquiles dele com uma faca de combate, que eu tinha no porta-luvas, para fazer ele não conseguir correr.

–E você continuou a conversar com ele?

–Sim.

–E depois?

–Eu peguei outra corda do meu porta-malas, amarrei no pescoço dele. Depois eu amarrei a outra ponta da corda na Ponte. E depois joguei o filha-da-puta da ponte!

–Mas por que você fez isso?

Eu olho para o delegado e digo com clareza:

–Para fazer aquele merda sofrer!

O delegado para o vídeo de entrevista. Eu não acredito que esses ingleses me fizeram ver a entrevista de que quando fui preso. Já é um bom começo para se começar uma entrevista de condicional. Na sala estava uma psicóloga, na mesa direita, o delegado, no meio, e o oficial da condicional, na mesa esquerda. Eu estava sentando na frente deles, em uma cadeira de madeira. Olho no relógio do teto e vejo que está muito claro para parecer duas e meia da tarde.

Nisso, o delegado começa a ler minha ficha de estadia:

–Drake Simons, preso por homicídio de terceiro grau e por seu envolvimento no IRA. Seu antigo emprego era lutador de Boxe no torneio amador e soldado do IRA. Nascido em Dublin, na Irlanda. Veio para Londres quando tinha vinte anos, foi preso há oito anos, tendo hoje sua primeira entrevista de condicional.

Eu fixo o meu olhar neutro. Bem, uma entrevista de condicional não é só umas perguntas sobre o que você vai fazer da vida ou não. É uma análise psicológica do prisioneiro para ver se ele está pronto para a vida comum de um cidadão. Mas pessoas como eu não tem mais uma vida comum porque não sabem mais fazer outras coisas comuns.

A psicóloga comprova os dados da minha mudança:

–Desde que ele chegou aqui, se envolveu em onze brigas, indo parar na solitária três vezes. Mas três anos depois, quando começou a ter consultas comigo, ele apresentou mudanças de oitenta por cento na área psicológica. O que justifica que é possível ele não ter mais uma atitude de criminoso.

–Você se consideraria pronto para a condicional, Sr. Simons? – perguntou o delegado.

–Se eu estivesse daquele jeito no vídeo, lógico que não – eu disse.

–Eu sempre tive curiosidade de perguntar a você porque se envolveu nessa vida de soldado do IRA – esclareceu o oficial da condicional.

–Bem simples: isso era a única coisa que eu sabia fazer para ganhar a vida!

–E o Boxe? Não era mais importante para você?

–Para mim o Boxe sempre foi mais importante.

–E por que você não prosseguiu com isso?

–Deve ser porque eu era um irlandês desgraçado que matava ingleses por diversão! Ou porque eu não era muito sortudo!

O oficial da condicional se assusta com o meu jeito de esclarecer como eu era. Mas continua a conversar comigo:

–Você desde que chegou aqui, tem lutado no ringue da prisão. Desde que chegou você é imbatível, possuindo trinta e seis vitórias, todas por nocaute, baseado no que os outros prisioneiros disseram. Eu admito que sempre acompanhei suas lutas desde a época que você lutava no torneio.

–Para ser sincero, Senhor Oficial, eu nem sabia que se praticava Boxe em um lugar desses. Então me considero sortudo!

–Como você conseguiu se manter em forma?

–Como todos os lutadores: eu malhava sempre que podia, corria em volta do pátio sempre que podia, treinava como se fosse lutas de título, e principalmente, lutava toda a vez que eu tinha oportunidade. Eu me lembro que fui sentenciado á quinze anos de prisão. Então eu tinha tempo o suficiente para lutar.

–Mas você cumpriu apenas oito anos. Não acha que um atleta como você...?- dizia o delegado.

–Desculpe-me de interromper o senhor, Senhor delegado, mas em primeiro lugar eu não sou um atleta, eu sou um lutador.

–O que quer dizer com isso?

–Que Boxe não é um jogo. Você joga tênis, joga futebol, joga até golfe. Mas você não joga Boxe!

O delegado fez aquela cara de impressionado e diz:

–Tá certo, Sr. Simons.

A psicóloga começa a me questionar:

–Você nunca teve medo em fazer algo de errado na sua vida de criminoso?

–Sinceramente, Senhora psicóloga, eu nunca tive tempo para ter medo!

–Como assim? – a psicóloga perguntou.

–No ramo que eu trabalhava, qualquer erro poderia ser fatal! Se você pisar na bola, você está morto! É assim que funciona no ramo do IRA.

–E você pretende voltar para esse ramo?

–Para ser sincero, não quero mais matar ninguém! Eu sei que era meu trabalho, mas não tem como eu me arrepender do que aconteceu, pois isso não vai mudar o que eu fiz. Se eu dizer que estou arrependido, eu vou acabar mentindo porque isso não mudará nada no meu passado. Só que estou louco para sair desse lugar, pois não aguento mais acordar e ser considerado um criminoso na sociedade.

–E o que você pretende fazer ao sair daqui?

–Segundo eu pretendo voltar a lutar Boxe e arrumar um bom emprego.

–E em primeiro lugar?

–Tomar um gostoso chocolate quente e comer uma torta de limão!

Todos riram por um momento. Não imaginavam que uma pessoa como eu falaria uma coisa dessas em um momento sério. Mas logo eles retomam a posição. O Delegado olhou para mim e diz para finalizar:

–Você acha que está pronto para a condicional, Sr. Simons?

Eu apenas fico sorrindo. E respondo a pergunta.

Depois disso, o oficial da condicional carimba na minha ficha: APROVADO. Por que eu não iria sorrir? Eu to saindo dessa merda e tendo uma nova oportunidade de vida! Que prisioneiro não iria querer isso?

Apenas volto para minha cela. Quando me deito, um prisioneiro de barba grande, meio gordo, fica na porta da minha cela dizendo:

–Você está ocupado?

–Não agora. Por quê?

–Estão perguntando, já que você vai ser solto, se vamos ver você lutando pela última vez aqui no ringue da prisão.

Eu apenas fico sorrindo, pois adoro quando os dias de luta chegam. São os dias mais divertidos! Eu apenas digo:

–Me dê cinco minutos.

–Com certeza, cara!

O prisioneiro gordo se retira. Está na hora de eu colocar meu uniforme! É o momento que eu mais gosto. É a hora que você se sente o melhor. O fodão! O cara que mata a cobra e mostra o pau! Bem, isso é como os brasileiros falam, e todo brasileiro é gente boa! Pode crer.

É o momento onde você prova para todos o que você sabe, no meu caso, que eu sei dar porrada em nego trouxa! Eu pego a minha bermuda de lutar que eu recebi de presente de um amigo quando ele me visitou. Um short curto preto. Pego minhas duas faixas para enrolar nas duas mãos. Isso serve para fazer com que os dedos não fiquem inchados e amortecer os golpes. Pego meu protetor bocal e coloco nos dentes. Começo a enrolar as duas mãos de forma organizada. Fico me lembrando de como o meu treinador usava as palavras certas para me incentivar.

Ele dizia:

– Você veio para mostrar para ele que você é o melhor! Você está aqui para manter seu nome! Você é bonito, e ele é feio!

Essas palavras ficavam na minha cabeça, me incentivando até na hora de transar com uma mulher muito gostosa! E o bom é que ajudavam pra caralho! Começo a me aquecer, preparando o meu modo de boxeador! Fazendo uma coisa que os boxeadores chamam de “sombra”, que é lutar com um boxeador imaginário. Faço isso por apenas um round, que seria equivalente á três minutos. Coloco o meu tênis e vou em direção ao ringue. Com a esperança de me manter de pé durante a luta inteira.


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