RECONSTRUÇÃO escrita por Eduardo Marais


Capítulo 22
O pai de todas as cores...




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— Sem força, o guerreiro não luta; sem coragem, o guerreiro não conquista; sem confiança, o guerreiro não vence*! – o alto brado emitido por Vasco é ouvido e ampliado por um pequeno truque de Yasemine, provoca comoção e arranca os últimos resquícios de medo que ainda pairavam sobre os seus comandados.

E quando os raios do sol atingem aquele espaço da Floresta das Esmeraldas, Zelena retira a proteção e todos os habitantes das florestas vizinhas percebem a alteração na natureza.

Tendo visto a redoma verde ser dissipada, os comandantes da Rainha Má ordena que o bloco, até então imóvel, dos soldados de areia, avance sem saber porque e o que estava fazendo. Seu objetivo era exterminar sem saber o que e a quem.

No mesmo instante que a proteção é retirada, o navio Jolly Rogers também perde a sua proteção de invisibilidade e começa a avançar na direção do litoral. O primeiro canhão é disparado em direção ao maior navio da frota real e ao atingi-lo, apanha a todos de surpresa.  Do fundo do mar, surgem tritões e sereias, nadando ao lado do navio de Gancho. Um exército imenso, poderoso e ágil demais para ser impedido.

A quebra da proteção verde é imediatamente avisada pelos espelhos do castelo de Regina. Alguns deles explodem e provocam um som alto e incômodo. Solomon desperta, atemorizado com a sensação surgida em sua alma. Corre para fora de seu quarto e encontra Regina atordoada com o incômodo.

— O que está havendo? – ela se sente zonza e apoia-se no reverendo.

Ambos seguem para a sala dos espelhos, observam alguns cacos espalhados pelo chão e evocam imagens que os informariam sobre aquele impacto sentido enquanto ainda dormiam. Todos os espelhos falam ao mesmo tempo e exibem a batalha campal que havia se iniciado nos primeiros raios daquele dia. As imagens dos navios sendo afundados pelas mãos e caudas dos filhos de Poseidon.

Solomon leva a mão ao peito e permite que a covardia o invada por longos segundos. Os filhos de Poseidon haviam entrado naquela batalha e não queriam perdas. Vê o belo rosto do impiedoso Capitão Gancho, com seu sorriso ferino que o tornava parecido com um gato rosnando. Ele estava no deque principal ao lado do Príncipe James e de uma linda mulher. Morena. Incrédulo, o reverendo procura mais informações e encontra Regina assistindo à luta em terra e a união de várias forças contra ela.

— Veja, Solon! Há habilidosos na linha frente ao ataque! Estão usando um muro de energia contra os nossos soldados!

Os olhos do reverendo não param em uma cena apenas. Vasculha todos os movimentos, procurando detalhes que lhe remetessem à identificação dos líderes. Ele se sobressalta, quando vê o voo rasante de macacos voadores, rasgando os soldados com suas garras. Em seguida, vê os homens-gaviões decepando cabeças com seus machados de duas lâminas.

— Faça alguma coisa! Eles vão acabar com nosso exército! – Regina berra e se afasta da sala e gesticulando, derruba vários objetos grandes na sala. – Precisamos de mais soldados! Terei de fazer mais soldados, sozinha!

O coração de Solomon quase deixa de bater em seu peito, quando os espelhos focam suas superfícies sobre um dos lideres. Alto, forte e muito ágil em sua luta corporal, o homem golpeia um dos soldados, antes de cortar fora seu braço. Aquele golpe veloz e potente, tinha sido experimentado pelo reverendo, quando ele avançara sobre sua rosa vermelha, naquela tarde antes da partida de Nova Iorque. Mesmo mascarado, ele pode reconhecer Vasco.

Ele crispa as mãos como se estivesse apertando algo que não existia. Seus sentimentos oscilam dentro de seu coração e sua alma enche-se ainda mais de amor por aquele menino dentro do corpo de um homem. Que se danassem todos os reinos! Seu lindo Vasco estava na Floresta das Esmeraldas e viera resgatar sua amada! Ele estava lá e tudo ficaria mais fácil, para trazê-lo para perto e minar as forças de Cosima e seus guerreiros. Usaria o amor para fazer com que Vasco e Cosima cedessem.

Ainda em seu devaneio, Solomon não percebe os gritos roucos de Regina, ordenando sua presença no laboratório. Exigia que ele fosse imediatamente e como bom noivo que era, iria acalmar sua amada.

Cerca de uma hora depois, Solomon e Regina são avisados por um servo, que os espelhos clamavam a presença do casal. Sem hesitar, eles se materializam na sala e assistem as imagens das centenas de uniformes vazios e dos poucos soldados de areia que ainda resistiam. Observam o recuo inexplicável das tropas de rebeldes, sendo perseguidas pelos poucos soldados sem rosto, que ainda existiam.

Conseguem sentir o impacto do surgimento de nova proteção, envolvendo a recuada estratégica das tropas desconhecidas. Riam como crianças felizes. Os poucos soldados de areia que havia restado, continuavam batendo suas espadas sobre a redoma, agindo mecanicamente como acéfalos que eram.

— Vamos produzir mais soldados... - Regina ia afastar-se, quando o reverendo a detém delicadamente.

— O amor de Cosima é o líder do exército. Eu reconheci um golpe que ele aplicou em mim, numa ocasião. Ele é um soldado ágil.

— Do que está falando? – ela grita.

— Uma das memórias que Cosima roubou de você, irá nos trazer vantagem. – ele sorri. – Ela não queria que você soubesse que o homem amado, tem sentimentos por outra mulher: você.

Um sorriso malvado surge nos lábios bonitos de Regina. Ela se interessa.

— Foi por esse motivo que Cosima o enviou para outro reino e depois roubou suas memórias.

— Poderemos usar isso ao nosso favor.

— Sim, minha amada. – Solomon segura o rosto de Regina com carinho. – Farei com que ele saiba que você estava grávida quando foram separados e que poderei ferir você e o bebê. Tudo o que quero para preservar o amor que o fez atravessar o portal, é a presença dele aqui em nosso castelo. Com ele, virá Cosima resgatá-lo...então, teremos os dois líderes e o exército não resistirá. Nem precisaremos de mais soldados, minha amada.

Uma sensação orgástica invade os sentidos de Regina. Ela olha para os espelhos e consegue sentir a serenidade invadir seu corpo.

Todos retornam para a aldeia e os feridos são medicados pelos que haviam ficado. Exauridos pela exigência do esforço, Emma, Yasemine e Galeano são levados para o descanso e para serem hidratados. Precisariam dormir.

— A primeira batalha está vencida! Temos de organizar nossas tropas, porque isso foi apenas uma provocação à Rainha Má! – Cosima recebe um abraço forte de Vasco e ia beijá-lo, quando ele toca sutilmente os lábios dela com a ponta do indicador.

— Venha, Vasco! – a voz de Zelena é atendida e os comandantes seguem o líder. – O Capitão está na linha!

Um sorriso ilumina os lábios do cavaleiro, com a brincadeira da mulher. Um espelho exibia a imagem risonha do pirata.

— Henry me contou desse truque do espelho, mas eu nunca tinha feito! Salve, salve, Vasco!

— Salve, salve, Capitão! Pelo seu sorriso, posso afirmar que o ataque surpresa...

— Os navios foram todos afundados! Os tritões levaram os tripulantes humanos para onde pudesse chegar à praia, nadando. Os soldados de areia foram engolidos pelas águas e destruídos pelos cunhados e cunhadas de Yasemine!

Uma risada divertida surge dos lábios de Vasco.

— Como está minha Emma?

— Está exaurida, companheiro. Ela foi valente demais à frente das tropas. Arrisquei a vida dela, de Yasemine e Galeano, mas Zelena ficou na retaguarda para nos proteger.

— Meu coração está quase pulando do peito! – David entra na linha de visão. – Eu nunca havia disparado com um canhão!

Todos riem da fala do príncipe.

— Então, o primeiro recado foi dado? – Killian sorri. – Vou ao litoral e buscarei informações com os aldeões e quiçá novos aliados. Espero notícias em dois dias por este espelhinho aqui. Câmbio e desligo!

— Palhaço! – resmunga Zelena se afastando para ver seu filho.

Robin se aproxima de Vasco e tenta ser cordial.

— Quantos dias descansaremos? O casal real virá furioso e mais preparado belicamente.

Rápido e ágil, Vasco se vira como se fosse golpear o ladrão, que se assusta.

— Você conhece o castelo de Regina por dentro, certo?

— Certo!

— Quero que Nicolas e você entrem no castelo e descubram onde é guardado o elixir criado com as habilidades roubadas. Abram as masmorras e libertem os habilidosos aprisionados. Consegue fazer isso?

Desdenhoso e sentindo-se desafiado, Robin gargalha.

— Não me subestime, Cavaleiro Inexistente. Posso ser surpreendente!

— Prove que você é útil, ladrão. Vai precisar de pérolas para abrir um portal até o castelo? Ou terei de enviar Yasemine com vocês?

Mais uma vez, Robin sorri desdenhoso. Disfarça sua raiva e seu despeito.

— Considere feita a missão! – ele fala com os dentes travados e sai do campo de visão do homem.

O sol se põe naquele dia e leva embora todas as cores com que havia presenteado o mundo.

 


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Notas finais do capítulo

* Frase de Juahrez Alves.



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