Por trás das lentes escrita por Megan Queen


Capítulo 50
Epílogo


Notas iniciais do capítulo

Boa noite, gente! Lembram de mim?

Finalmente (!!!!!!!!!!) esse epílogo está pronto e é com muita dor no coração que eu aceito que Por Trás das Lentes está chegando ao fim!

Espero que aprovem o capítulo final da jornada destes Oliver e Felicity e que se apaixonem outra vez por eles junto comigo :)))
Vamos aos dedicados?
Sophie River, Ciin Smoak, Adriany Lorrany e Mirian, MUITO OBRIGADA por terem tirado do seu tempo para escrever palavras de carinho em suas recomendações e encher meu coração de amor. Eu nem tenho palavras para agradecer por terem me acompanhado até aqui!

Aos demais, que comentaram, acompanharam, favoritaram e cobraram, muito obrigada por nunca terem desistido de mim. Essa história é tão de vocês quanto minha!
Eu quero dedicar esse capítulo a mais 3 pessoinhas especiais:
Mirian, meu amor, já pode GRITAR ALELUIA que o epílogo que você tanto implorou, finalmente saiu e ele é muito seu!
Mili, você é uma das minhas primeiras leitoras e nunca me abandonou ao longo desses 3 anos! Eu nem sei o que seria de mim sem seus surtos e reações ao que escrevo durante essa jornada :)
E DannyDixon, obrigada por se tornar minha beta e me inspirar a escrever esse epílogo com suas dicas maravilhosas e tão sintonizadas com o meu estilo!
Vou deixar as lágrimas e os demais agradecimentos pro final, okay?

Boa Leitura!



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From the way you smile

To the way you look

You capture me

Unlike no other

From the first hello

Yeah, that's all it took

And certainly

We had each other

And I won't leave you

Always be true

One plus one, two for life

Over and over again

— Over and Over Again (Nathan Sykes)

Felicity Smoak 

Tomo uma respiração profunda antes de agarrar uma cestinha de salgados que um dos garçons passou carregando numa bandeja e me sento com alguma agitação à mesa vazia, devorando as bolinhas de queijo com muito prazer.

— Seu apetite anda turbinado, não? - ouço a voz brincalhona de Oliver antes de sentir suas mãos calejadas se porem sobre meus ombros, massageando.

— Estou grávida! - justifico como se isso respondesse todas as questões do Universo, deslizando minha mão por minha barriga redonda de 8 meses e meio.

— Oh, eu vejo. - ele ri e beija minha testa antes de puxar uma cadeira para si mesmo e sentar de frente comigo, sua mão cobrindo a minha, um pequeno chute se fazendo presente no mesmo instante.

— Pequena traidora. - reviro os olhos e ele me lança um sorriso de menino. - Ela podia ao menos disfarçar sua preferência pelo toque do pai. - resmungo, pondo mais alguns salgados na boca, e Oliver balança a cabeça, divertido. 

— Claro que não. - estala a língua. - Eu mereço essa preferência, não é, princesa? - sua cabeça se aproxima de minha barriga e, numa reação à sua voz, sentimos a ondulação do bebê em meu ventre.

— Puta merda, Oliver, não a agite, isso dói! - reclamo, massageando a área sobre minhas costelas, onde o pequeno bolinho se formou quando nossa filha se moveu para mais perto da voz do pai, até que ela retorna à posição inicial. - E posso saber por que você merece a preferência se sou eu que carrego essa coisinha para cima e para baixo durante os últimos meses e cujos pés estão destruídos dentro do maldito sapato? - ergo uma sobrancelha, me fazendo de ofendida.

— Já combinamos que nada de palavrão na presença do bebê, mocinha. - ele cutuca a ruga entre minhas sobrancelhas, mas há um sorriso de canto em sua boca perfeita. - E deixe eu ver esses pés. - se inclina para beijar minha testa novamente e então afasta sua cadeira para trás, puxando minhas pernas para seu colo e retirando meus sapatos com carinho. Não consigo evitar o gemido de satisfação quando suas mãos habilidosas apertam minhas juntas nos lugares certos. Oliver havia se tornado profissional em massagear meus pés inchados.

Escuto os gritinhos infantis ao redor da mansão e suspiro, fechando os olhos para aproveitar o trabalho que ele faz no peito do meu pé esquerdo.

— Sua mãe nunca vai mudar, não é? - murmuro com um sorriso, movendo os olhos pelo ambiente decorado da festa de aniversário. - Pensei que Thea havia dito algo sobre pequeno e familiar. - aceno a mão ao redor do ambiente cheio, o aroma de churros se espalhando enquanto o burburinho de conversas preenche o local.

— Não, ela não vai mudar. Pensei que já houvesse tido tempo suficiente para que você se acostumasse com isso, sweet...— ele inclina a cabeça de leve e eu sorrio afetuosamente, me derretendo como em todas as vezes que o ouvia me chamar assim.

— Nunca haverá tempo suficiente para que eu me acostume. - rio.

Oliver para sua massagem por um momento e olha em meus olhos, amor transbordando de suas íris azuis.

— Amo você, sabia?

Dou uma risada suave.

— Também amo você, Oliver. - estendo a mão e acaricio o dorso da sua, que subiu para minha panturrilha. - Não pare ainda. - advirto com uma carranca brincalhona e ele revira os olhos antes de voltar a massagear meus pés.

Olho ao redor novamente, encontrando nossos amigos espalhados por diferentes cantos da festa, e dou um suspiro contente.

Todos nós havíamos passado por tanta coisa para chegarmos nesse ponto. 

Alguns mais do que outros.

E, apesar de toda a dor que vários desses momentos causaram, hoje eu vejo que tudo isso nos tornou mais fortes. Prontos para hoje. Prontos para a felicidade que nos aguardava no fim do caminho.

— Samantha Queen Harper, nada de mais docinhos e ponto! - a voz estridente de Thea corta o ambiente e nós dois mordemos um sorriso de diversão ao ouvi-la chegar com estardalhaço e sentar a pequena Sammy sobre a mesa de madeira.

— Mas a vovó disse que é meu aniversário e eu posso! - a garotinha cruza os braços e faz um bico, seus cabelos lisos e castanhos balançando suavemente quando ela sacode a cabeça, inconformada.

— Eu estou dizendo que você não pode, mocinha! - Thea rebate séria. - Você está elétrica e não vamos ficar a noite em claro porque a senhorita não consegue dormir quando come muito doce.

— Mas... - sua vozinha treme. Troco um sorriso cúmplice de diversão com Oliver ao observarmos a expressão ameaçadora nos olhos de sua irmã. - Tudo bem, mamãe. - Sammy era mesmo uma menina muito esperta.

— Ótimo. - ela dá um sorriso pequeno e pega uma liga cor de rosa para amarrar os cabelos da filha num rabo de cavalo, deixando seu rosto corado e molhado de suor descoberto. - Vocês viram o tratante do meu marido em algum lugar? - Thea finalmente se vira para nós e Oliver sacode a cabeça ainda rindo, voltando a se concentrar na tarefa anterior, seus dedos apertando a sola do meu pé. - Esse é o problema das malditas festas gigantes. - ela reclama e então vira para a filha. - Não repita a palavra que a mamãe falou. - adverte.

— Malditas? - a menina pergunta com curiosidade e eu olho para Oliver prendendo o riso, Thea suspirando com cansaço. 

— Deus me ajude. - ela sussurra, assentindo, antes de prestar atenção em nós. - Já está quase na hora de partir o bolo e ele desapareceu. - conta, descendo a pequena da mesa, que corre para longe em dois tempos, depois de estalar um beijo na minha barriga e outro na bochecha de Oliver. - Eu acho bom ele aparecer porque não quero me tornar uma viúva e criar sozinha uma filha de 3 anos. - comenta e eu rio.

— Quem irá matá-lo? - questiono.

— A filha de 3 anos. - ela responde como se fosse óbvio, Oliver gargalhando alto.

— Não sei como Roy consegue sobreviver a cada um de seus dias. - digo e Thea me estira a língua, numa atitude infantil demais para seus 28, quase 29 anos.

— Podia ser pior. - ela dá de ombros se sentando ao meu lado e tomando a cestinha de salgados da minha mão. 

— Ei! 

— Como poderia ser pior? - Oliver questiona, ignorando o fato de que eu e sua irmã estávamos brigando por coxinhas.

— Pense em Tommy. - ela dá de ombros e nós três olhamos juntos na direção que ela acenara, as coxinhas sendo esquecidas enquanto observamos.

— É, tem isso. - concordamos, assentindo todos juntos. - Poderia mesmo ser pior. - inclino minha cabeça num ângulo estranho até ter certeza de que Thomas Merlyn estava mesmo com metade do corpo em baixo de uma das mesas, puxando um menino pequeno pelo tênis azul. 

Haviam se passado 10 anos desde aquele tempo escuro lá atrás. E, apesar do tom jocoso em nossas conversas sobre as famílias que formamos, elas eram tudo o que apenas podíamos sonhar naquela época tão distante.

Ao mover os olhos pela aglomeração de conhecidos que Moira conseguiu de alguma forma fazer caber na festa de Sammy, suspiro com satisfação. Se Deus havia ordenado ao homem que enchesse a Terra, nós havíamos levado essa ordem bem a sério.

Sara e Tommy haviam sido abençoados com um casal de gêmeos, 10 anos atrás, e Angelicque e Maxon eram com certeza pestes completas, apesar de serem as crianças mais bonitas e inteligentes possíveis. Sim, tanto Tommy quanto Sara haviam perdido a aposta que fizeram sobre seu próprio bebê, e agora uma mini versão masculina da minha amiga disparava como um raio loiro de olhos azuis para todos os lados, seguido de perto pela mini versão feminina do Merlyn com suas tranças castanhas e seus espertos olhos acinzentados, fazendo Sara surtar exatamente como no dia em que descobriu que estava carregando uma encomenda dupla em seu útero. Sorrio ao lembrar do escândalo que ela armou no dia, mas logo meus olhos se movem para a família sentada na mesa logo ao lado da confusão Lance-Merlyn.

Caitlin está distraída brincando de fazer caretas com o pequeno Matthew, de 2 anos de idade, sentado em seus joelhos, enquanto Barry tenta convencer Claire, de 8 anos, a ficar sentada quieta depois de parar uma corrida frenética dela atrás de um menino loiro que escapou de seu ataque quando ele interrompeu a brincadeira.

— Oliver... - chamo, estreitando mais os olhos, ao me dar conta de algo.

— Hmm?

— Tommy não está tentando agarrar Max. - informo e vejo as sobrancelhas dele se unirem, quando se dá conta de que o Merlyn não está lidando com as peripécias do próprio filho. 

— Não, não... - Thea informa e sorri apontando o garotinho loiro correndo pelo gramado com uma tesoura na mão, seu sorriso típico de Merlyn fazendo qualquer um ter arrepios de preocupação. - Hmm, Felicity? - ela dá um sorriso preocupado na minha direção.

— Diga... - murmuro ainda com os olhos presos na cena da mesa que balançava para lá e para cá com o tumulto embaixo dela.

— Talvez eu tenha ouvido Max falar para Sophie que sabia cortar franjas... - Thea me dá um olhar culpado ao falar.

E lá vamos nós. Eu e Oliver também temos nossa contribuição para a superlotação de crianças nesta festa.

— O quê?! - arregalo os olhos. - Oliver, onde está nossa filha? - o encaro interrogativamente e ele finalmente presta atenção em nós.

— A deixei brincando com a menina de Digg nesse instante... - ele ergue as mãos, alegando inocência, e arqueio uma sobrancelha ameaçadora. Eu o conhecia.

Sophie era nossa monstrinha do meio, com 4 anos, mas o tinha na palma das mãos e o passava para trás na maior parte do tempo.

 - Talvez... Não nesse instante... – ele admite e eu bato a mão na testa.

Levantamos juntos ao ver Sara arrancar Angel, a gêmea de Max, do outro lado da mesa deles e suspiramos em uníssono ao ver o cabelo desgrenhado da pequena Merlyn, enquanto seu rostinho vermelho está formando uma careta furiosa, sua intenção de cometer um assassinato evidente nas mãos em formato de garras.

E por fim, havia nosso primogênito, nascido no mesmo dia dos gêmeos Lance-Merlyn, em meio ao surto coletivo das quatro famílias no hospital.

— James. - olhamos um para o outro e suspiramos a mesma coisa.

Ficamos alguns instantes apenas observando a cena de Tommy agarrando nosso garotinho pelas pernas e então Oliver suspira alto.

— Acho que devo interferir... - comenta, pondo as mãos nos quadris.

— Sim, deve. - dou dois tapinhas em seu abdômen. - A folga acabou, daddy. Vou atrás de Sophie, certifique-se de que James não cortou nenhuma mecha do cabelo de Angel também. - o empurro de leve na direção do Merlyn.

— Eu amo essa vida. - ouço ele murmurar para si mesmo como se estivesse tentando convencer-se e prendo o riso ao ver seu peito inflar, prevendo suas próximas palavras. - James Robert Smoak Queen! - seu grito é capaz de ensurdecer qualquer um.

~•~

— Não, você não pode deixar Max brincar de cabeleireiro com você, Sophie! - passo a mão pelo rosto duas vezes, na tentativa de controlar minha vontade de matar a miniatura masculina de Sara e me concentrando na minha miniatura. 

— Mas por quê? - um biquinho vermelho aparece nos lábios dela e eu volto meu olhar para o buraco em sua franja para não ser vencida por sua expressão de cachorro que caiu da mudança. 

— Porque ele estragou seu cabelo, meu amor, apenas por isso! - olho para o garotinho Merlyn, que me encara envergonhado, chutando a tesoura de ponta redonda para debaixo da mesa. 

— Não acho que sarcasmo funcione bem com crianças de 4 anos, querida... - a voz familiar se ouve atrás de mim e eu sorrio cansada antes de virar para minha amiga. 

— Pelo amor de Deus, me diga o quê funciona com crianças de 4 anos! - ergo minhas mãos num bufo frustrado e depois as ponho nos quadris, me endireitando para cumprimentar melhor nossa visita intrometida. Ela ri. 

— Não faço ideia, uma vez que os garotos ainda tem 3 anos e Grace jamais foi uma criança, ainda que tenha apenas 9 anos... - suspira e se senta, pegando uma taça de champagne enquanto eu seguro uma Sophie ligeira, que tenta escapar de mim com sua franja destruída. - Por falar nisso, não é justo que eu tenha que educar uma mini-gênio e não você. 

— Faça-me o favor! - empurro delicadamente minha filha para o banquinho ao meu lado e ela senta, cruzando os braços roliços. - James e Sophie são máquinas de destruição e você está realmente se queixando de sua pequena gênio? 

— Deus do céu, como você pretende arrumar o cabelo dessa criaturinha? - os olhos azuis da mulher ficam levemente vesgos quando ela inclina a cabeça para avaliar o estrago. 

— Não faço a menor ideia. - assumo, e volto a alisar minha barriga no meu tique nervoso habitual durante minhas gravidezes. 

— Aqui, tire todo esse estômago dilatado do caminho e passe a tesoura para mim. - ela dispensa com a mão e puxa Sophie pelo braço até que estejam frente à frente. 

— Como é? - estalo, mas recebo um sorriso desdentado de expectativa da minha caçula enquanto a tia penteia a mecha destruída com os dedos e a mede. 

— Ande, Smoak... Pelos meus cálculos, se eu começar agora, poderei arrumar a franja da sua filha um segundo antes de termos uma pequena procissão da minha prole e do meu marido em desespero nesta cozinha. - avisa, pegando a tesoura que lhe entrego automaticamente.

De forma quase ensaiada, dois segundos depois de Sophie ter tido sua franja completa transformada em uma franja lateral, ouvimos a balbúrdia se aproximando. 

— Eu tentei contê-los. - a voz derrotada chega a nós num claro pedido de desculpas antes que Ray atravesse o batente, com um menino de cabeça para baixo sobre os ombros e outros dois pendurados em cada lado de suas calças jeans. 

— Não, papai, você nem mesmo teve a chance... - a pequena Grace revira os olhos cinza por trás das armações de seus óculos e joga uma das tranças castanhas sobre os ombros.

Prendo um sorriso e aceno com a cabeça, observando o clã Palmer se espalhar pela cozinha e Ray caminhar até a esposa, beijando sua testa antes de transferir um dos trigêmeos para seus braços. 

— Helena Rosa Bertinelli-Palmer, a epítome da dona do lar e mãe. - declaro e ela bufa, bagunçando o cabelo do filho, antes de fazer uma careta pra mim. - Nunca vou deixar de me surpreender com isso. - prossigo. 

— A sua sorte é essa barriga monstruosa, porque ainda lembro o suficiente da minha antiga vida para quebrar alguns ossos... - sussurra só para mim, tapando os ouvidos do pequeno, e Ray deixa escapar uma risada. 

— Eu espero do fundo do coração que não tenha acabado de ouvir uma ameaça à integridade física da minha esposa grávida... - sorrio sem nem precisar virar para fitar Oliver, e Sophie se solta da minha saia para correr até o pai. 

— Queen. - Ray sorri, estendendo a mão. 

— Palmer. - ele devolve e um aperto firme se segue, ambos com um dos braços ocupados por seus caçulas.

— Esse lugar é muito pequeno para tanta gente, pelo amor de Deus, todo mundo circulando para a varanda! – Helena bate palmas e nós rimos antes de obedecê-la e caminharmos numa pequena passeata até o lado de fora.

Enquanto a família Bertinelli-Palmer caminha até o pequeno pula-pula que Moira instalou para a festa e Ray, Helena e Grace colocam os trigêmeos Edward, Louis e Theo dentro do brinquedo, Oliver me puxa até o largo balanço de madeira em forma de banco, na lateral do ambiente, sentando ao meu lado com Sophie em seu colo e dividindo uma cestinha de salgados com ela.

Estou quase abrindo a boca para reclamar da divisão injusta de salgados quando meu mini Oliver chega correndo com uma cestinha idêntica nas mãos.

— Trouxe pra você, mamãe. – diz, me olhando manhoso, com a cara que faz sempre que está com ciúmes da irmã e também quer colo.

Sorrio. Ele sabia mesmo como me comprar.

— Aqui. – puxo seu bracinho magro para perto e pego a cestinha antes de me ajeitar melhor. – Se sentar com cuidado para não esmagar a Mia, você pode se aconchegar também. – barganho e ele me retribui com um sorriso desdentado antes de tomar todo o cuidado do mundo e sentar sobre minhas pernas.

Oliver ri pelo nariz, embora não tenha tirado os olhos de Sophie enquanto lhe entrega mais salgados. Ele sempre disse que Jamie é o queridinho da mamãe e que, não importa quantos anos tenha, eu sempre o aceitarei em meu colo. Dou de ombros. É verdade.

Quando descobri o sexo do nosso filho, 10 anos atrás, eu chorei sem parar na sala de ultrassom enquanto ele tentava não desabar também com a constatação de que estávamos mesmo tendo um bebê e que ele seria um menino, nosso menino.

A escolha do nome veio da forma mais natural possível e, novamente, Oliver não pode evitar chorar junto comigo quando eu lhe disse que queria dar-lhe o nome dos dois homens que amamos e que perdemos e que queria que eles vivessem outra vez através do nosso filho, sempre lembrados e guardados em nosso coração.

Quando James Robert Smoak-Queen veio ao mundo, seu choro abafado colou todos os pedaços quebrados de nós dois e transformou nós três em uma família completa. Eu jamais poderia agradecer o suficiente por esse pequeno milagre, quando vi seu rostinho tão perfeito e assustadoramente igual ao de Oliver, roubando meu coração para si no primeiro olhar.

Sorrio quando meu marido estende o braço e nos envolve, segurando todos nós juntos enquanto James acaricia minha barriga distraidamente. Passo minha mão por seus cabelos escuros como os meus originalmente eram e rio baixinho da pequena peça que a genética nos pregou ao entregar o fato de que não sou loira de verdade.

— Eu gosto de salgadinho. - Sophie declara de repente e nos viramos para olhar seu rostinho pensativo quando ela continua. - Eu gosto do papai  e da mamãe. Eu gosto do Jamie quando ele não está mexendo com os sapos do jardim. E eu gosto de abraços quentinhos. – ela enumera, contando em seus dedos gorduchinhos e apontando para cada um dos itens que menciona. – Então eu acho que hoje é o melhor dia dos todos! – conclui, finalmente, com a típica eloquência que seus longos 4 anos de vida permitem, e todos nós sorrimos.

Não posso evitar suspirar ao pensar quão absurda essa cena pareceria 10 anos atrás.

So don't ever think I need more

I've got the one to live for

No one else will do

I'm telling you

Just put your heart in my hands

I promise it won't get broken

We'll never forget this moment

It will stay brand new

'Cause I'll love you

Over and over again

— Over and Over Again (Nathan Sykes)

 

~Flashback~on~

(10 anos atrás...)

— Thea, levanta do meu sofá, eu já falei que você precisa aprender a definição de privacidade no dicionário. - bufo, entregando a chave do apartamento para Sara, já que ao chegarmos, a porta já estava aberta e a Queen instalada em nossa sala, assistindo Cartas para Julieta. - Onde está Caitlin?

— No telefone com a decoradora. - ela responde com descaso e eu coloco as sacolas sobre a mesa de centro. - Eu sei que estamos saindo da zona que foi esse último mês, mas não podemos esquecer que o casamento é na sexta feira que vem, certo? - recorda e suspiramos todas juntas.

Estava sendo uma correria.

Havíamos convencido Barry e Cait a não adiarem seu casamento por causa dos problemas que se sucederam conosco.

Os preparativos já estavam a todo vapor mesmo e, até a data, Oliver já estaria recuperado o suficiente para não parecer mais um sobrevivente do Holocausto em cima do altar, embora ainda tivesse que usar suas muletas, o que ele substituiria por uma bengala elegante no dia do casório. 

Ao mesmo tempo, eu havia passado os últimos cinco dias me revezando entre a mansão, para cuidar dele, o hospital, para ver Helena, e a QC, onde tinha que ir no fim do dia para entregar as planilhas e revisões que fazia em casa para Walter, uma vez que eu havia entrado como supervisora do setor de TI, há duas semanas e meia.

Era muita coisa.

Eu estava para explodir.

Some-se a isso o fato de que hoje à noite iríamos anunciar minha gravidez num jantar que Moira havia organizado e podemos concluir que meus nervos estavam convulcionando.

— Eu sei. - Sara vai até a geladeira e pega uma jarra de água. - Mas o que está fazendo aqui, Queen?

— Mamãe pediu para que eu buscasse Felicity para o jantar. - Thea revira os olhos, saltitando até mim. - Ela está muito paranóica sobre esse jantar, parece que acha que você vai fugir pela janela desse prédio. E Oliver está tão ansioso quanto. - seus olhos se estreitam e Sara cruza os braços, me olhando desconfiada.

— O que vão aprontar, Smoak? - a Lance murmura.

— N-Nada. - dou de ombros e vou até Sara, tomando o copo de sua mão e bebendo um gole generoso. 

— Oh meu Deus! - Caitlin surge entre nós, parecendo ter ouvido a parte final da nossa conversa.

— Puta que pariu, Snow! Tem um bebê a bordo, esqueceu??? - Sara esbraveja, pondo a mão sobre a barriga com o susto e eu disfarço rapidamente ao ver que fiz o mesmo.

— Foi mal. - Cait lança um olhar de desculpas para ela e então me olha com os olhos castanhos enormes e brilhantes. - Não estão percebendo? - questiona e nós nos entreolhamos antes de voltar a encará-la, negando. - OLIVER VAI PEDIR VOCÊ EM CASAMENTO! - ela bate palmas, quicando no chão, as outras arregalando os olhos e virando para mim.

— O quê?! - exclamo. - De onde tirou isso? 

— Ele está nervoso como nunca, e Moira parece degustar de um segredo delicioso... - ela comenta como se a lógica fosse irrefutável. - Barry estava tão inquieto quanto eles na noite em que me pediu. - pisca e Thea começa a dar pulinhos.

— Ah meu Deus! Ela está certa. Minha nossa, Oliver vai pedi-la! - ela agarra minhas mãos enquanto eu abro um sorriso nervoso. Eu tinha duas alternativas: estragar o anúncio de Moira e contar sobre a gravidez agora mesmo ou fingir comprar a suposição delas de que o motivo do nervosismo de Oliver era um iminente pedido de casamento.

Adivinha qual eu escolhi. 

Mordo a almofada do meu polegar e dou um sorriso incerto.

— Vocês acham mesmo? - Sim, eu sou uma sonsa e só espero que Thea não queira decepar minha cabeça por isso.

— Claro que sim! Tudo faz sentido agora... - minha cunhada revira os olhos empolgada e as outras duas concordam com sorrisos enormes. - Vamos. Já peguei sua bolsa com suas coisas, mamãe nos quer lá antes das 6. - avisa e eu a encaro com recriminação.

— O que eu acabei de falar sobre privacidade? - bufo e ela dá de ombros. 

— Não seja boba, apenas mexi um pouco no seu closet, não é como se eu tivesse passado um tempo estudando o fato de que você precisa repaginar seu estoque de lingerie antes que Ollie o faça por você. - estala a língua e meu rosto esquenta. 

— Um dia, simplesmente vou matá-la. - comento com ninguém em especial.

— Conte comigo. - Sara sorri, num suspiro.

— Eu gosto dela. - Cait fala.

— Felizmente você não é sua cunhada, ou sua opinião mudaria. - franzo os lábios.

— Eu estou aqui. - Thea trina, ultrajada. 

— Seria difícil não notar. - lanço um olhar enfezado pra ela.

— Você me ama, Smoak, não precisa ser tão óbvia sobre isso. - seu sorriso é largo e negligente enquanto enlaça seu braço ao meu. - Agora vamos. Não passei trinta minutos revirando sua gaveta de calcinhas até achar algo aceitável para que depois chegássemos atrasadas. - me reboca para a saída. 

— Eu já disse hoje que você é uma péssima cunhada? - olho para ela, que me lança um sorriso brilhante enquanto descemos as escadas. 

— Não com essas palavras ainda, mas estou lisonjeada. - pisca.

— Você é uma péssima cunhada.

— Também amo você.

 

~•~

Recuso a travessa cheia de almôndegas, torcendo meu nariz para o molho e seu cheiro característico, antes de disfarçar minha expressão e me virar para observar Oliver quando sua mão toca a minha com suavidade. Ele não está olhando para mim, mas o movimento de seus dedos é marcante ao escovar as costas dos meus e então entrelaçá-los, apertando apenas o suficiente para calor passar entre nossas peles. 

— Oliver... - suspiro, ao entender o que esse gesto significa, e então seus olhos azuis-tormenta colidem com os meus, decididos. Quando ele faz um aceno positivo, apenas retribuo, sorrindo minimamente em concordância.

O que não quer dizer que minhas mãos não estão suadas e tremendo, ou que meu estômago não deu um giro completo dentro da minha barriga, quando meu namorado se levanta da cadeira e pigarreia, chamando atenção do restante dos presentes.

Olho para Thea, Caitlin e Sara alternadamente e as 3 faltam quicar em suas cadeiras, provavelmente achando que acertaram em cheio na sua suposição de pedido de casamento. Suspiro. Thea odeia perder e não duvido que tenha apostado dinheiro nessa proposta que não irá ocorrer. Não essa noite, pelo menos.

Então olho para Moira e vejo seus olhos cintilando quando se dá conta do que está prestes a acontecer.

É claro que tudo isso dura alguns segundos breves antes que Oliver comece a falar.

— Eu queria aproveitar para fazer um brinde, essa noite... – ele diz e, pode ser impressão minha mas sua voz está trêmula, assim como sua mão ao erguer a taça. – Nós, todos nós que estamos aqui hoje, temos muito ao que ser gratos. Gratos pela família, gratos pelos amigos. Mas principalmente gratos pelo amor. – suspira. – Não dá para negar que foi o amor, esse sentimento temido e adorado, que trouxe a todos nós até aqui, até este momento. Amor pela vida... – seus olhos buscam Lyla e Diggle na outra extremidade da mesa, a pequena Sara cochilando sobre o ombro forte do pai. – Amor pela família... – mais uma vez seu olhar se desloca e para em Moira, Thea e Walter, que se abraçam e sorriem. – O tipo de amor que cresce na amizade e cura feridas... – Sara, Tommy, Caitlin, Barry e eu suspiramos junto com ele. – O tipo de amor sem o qual estamos incompletos. – a atenção de Oliver volta a se fixar em mim, e sinto meu coração bater na garganta. – Um amor que cresce e cria raízes até ser parte de quem você é. Que muda suas pretensões, que te faz questionar tudo. Um amor que destrói cada parede que existe ao redor daquele pedaço do nosso coração que juramos nunca mais entregar a outra pessoa, até deixa-lo vulnerável, até que ele não nos pertença mais. Um amor do mesmo tipo daquele que me faz acordar todos os dias e ter certeza de que nem a dor mais lancinante que já passei, o momento mais sombrio que já atravessei, nenhum deles é feio o bastante pra ofuscar o tanto que o sorriso da mulher que eu amo aquece meu coração. – pisco meus olhos inutilmente, as lágrimas pendendo dos meus cílios enquanto o homem mais extraordinário que conheço se vira totalmente para mim e prossegue. – Eu passaria por tudo outra vez, eu iria numa viagem só de ida ao inferno por apenas um minuto em que fui amado por você, Felicity Megan Smoak. – o ar de todo o Universo não seria o bastante para suprir meus pulmões agora. – Valeria a pena por um único “eu te amo” trocado. Valeria a pena pela forma como você puxa o lençol só pra você na cama, para depois jogar tudo no chão e resolver se aquecer nos meus braços. Valeria a pena por um único dia apenas estando ao seu lado. – à essa altura suspiros femininos e até alguns masculinos preenchem o ar, Oliver afastando sua cadeira e se ajoelhando à minha frente.

Engasgo, recuperando a capacidade de falar quando ele leva a mão ao bolso.

— O que diabos você pensa que está fazendo? – o sussurro nervoso escapa de meus lábios sem freio.

— Espero que você tenha algo menos agressivo para dizer quando eu fizer a pergunta. – ele pisca para mim, inabalável, e eu engulo em seco, apertando sua mão com força.

— Mas que perg-...?

— Dá pra parar de interromper, mulher? – Thea grita do outro lado da mesa e nós dois a encaramos enquanto ela aponta a câmera de seu iPhone para nós. – Vai estragar o registro pra posteridade se não calar essa boca e deixá-lo fazer a coisa toda direito. – ela revira os olhos e Sara me olha com um sorriso enorme. – Ótimo, pode começar de novo, Ollie? – a Queen caçula faz um gesto com a mão e nós rimos antes que ele volte a me encarar, balançando a cabeça antes de tirar uma caixa retangular fina do bolso do paletó e olhar nos meus olhos.

— Quando eu te conheci, eu não estava procurando por você, eu não estava procurando por ninguém. Eu não queria ninguém. Eu era uma casca de um homem, metade de uma alma. – sua expressão fica mais e mais séria à medida que ele prossegue e eu prendo minha respiração. – Eu achava que já tinha visto tudo no mundo, que tinha perdido tudo de bom e conhecido tudo de mau. Eu estava satisfeito com o nada pintado de ouro que a minha vida era. – ele suspira. – Eu tinha perdido a mim mesmo, minha família convivia com a mera sombra de quem eu era e tentávamos todos seguir em frente com isso da melhor forma que conseguíssemos. E então você esbarrou comigo, ou eu esbarrei com você, e eu não conseguia tirar meus olhos do seu rosto.

— Eu estava tão furiosa com você. – lembro e ele ri.

— Eu sei. Você fez questão de deixar isso bem claro. – complementa e, por um instante, somos apenas nós dois. – Mas havia algo em você, na cor em seu rosto enquanto falava sem parar ou no brilho vivo em seus olhos, que me fez querer estar vivo, ser grato por estar vivo, pela primeira vez em muito tempo. Eu simplesmente não pude deixá-la ir embora.

— Você é um stalker, Queen. – seguro as lágrimas e brinco com meus dedos entre os dele, mas então ele me estende a caixa que estava em sua outra mão.

— A primeira vez que você me olhou com algo perto de simpatia, você disse algo engraçado... – ele comenta distraidamente enquanto abre o fecho e revela uma barra de chocolate exatamente igual à que me ofereceu no dia em que nos conhecemos, no seu carro, com um delicado anel de ouro branco, com um diamante maior central e vários outros menores, fixado bem no meio da barra. Mordo os lábios tentando conter meu sorriso quando ele ri para mim. – Você disse que com uma barra dessas...

— ...Você podia até me pedir em casamento que eu aceitaria. – recordo, rindo e balançando a cabeça, enquanto algumas outras risadas são ouvidas na mesa. – Não acredito que lembrou disso.

Sweet, eu tenho guardado essa informação desde o momento que você me deu esse pequeno segredo de como te arrancar um “sim”. Eu sou um homem de visão. – pisca e meus olhos lacrimejam quando baixo meu olhar e reparo no entalhe de cisnes na lateral do anel, formando o suporte para as pedras de diamante. Minha mão vai automaticamente para o colar que ele me deu meses atrás, meus dedos tocando o pingente enquanto Oliver pronuncia as palavras que mudam novamente minha vida. – Felicity Megan Smoak... Casa comigo?

— Isso não é justo. – suspiro, segurando as lágrimas. – Sabe... – abro e fecho a boca. – Realmente não tem como dizer não pra essa barra de chocolate. – brinco e ele revira os olhos, me olhando com impaciência por uma resposta de verdade enquanto Thea solta um pequeno silvo zombeteiro, então eu me inclino e seguro seu rosto entre minhas mãos, encostando nossos narizes antes de murmurar. – Eu sempre direi “sim” para você, Oliver. – sinto seu suspiro sobre mim como se qualquer outra resposta fosse possível, e então me afasto um pouco e ergo minha mão direita. – Ponha meu anel aqui. – rio e todos batem palmas e gritam felicitações à medida que ele coloca a jóia no meu dedo anelar.

E então, enquanto Thea filma o anel em meu dedo, Oliver se senta, joga o braço sobre meus ombros e diz tranquilamente:

— A propósito, estamos grávidos!

E a posteridade jamais entenderá que o barulho de água e a tela preta vem do iPhone de Thea escorregando dentro da taça do irmão quando ela assimila a notícia.

~•~

 

— Sim, você ainda é a pior cunhada que existe, então eu não estarei abraçando você ainda, apenas o meu feijãozinho. – Thea desenlaça seu braço do de Roy antes de vir para perto de mim e começar a falar com a minha barriga, enquanto abraça minha cintura. – Olá, meu amor, a titia promete não fazer nada com a sua mamãe por enquanto, mas espere só até você sair daí para ver o que eu farei com ela. – murmura, fazendo carinho sobre meu ventre com o indicador e arrancando risadas de mim e de Oliver, que reviramos os olhos, juntos.

Speedy, já faz uma semana, você não pode guardar ressentimento para sempre. – ele murmura, virando para que eu ajeite a gola de sua camisa, ambos procurando nosso lugar na festa de casamento de Barry e Caitlin, que está a pleno vapor, com o casal cumprimentando os convidados enquanto caminham para sua própria mesa.

— Isso foi um desafio? – ela rebate, inabalável, e eu suspiro.

— Como você lida com toda essa capacidade de guardar rancor que ela exibe por aí? – questiono para Roy e ele encolhe os ombros antes de erguer as mãos.

— Não olhe para mim! Eu nunca escondi uma gravidez dela... – o Harper rebate e eu acerto minha clutch em seu ombro.

— Eu não escondi minha gravidez dela! – bufo. – Eu só queria que Oliver fosse o primeiro a saber. – justifico.

— Mamãe foi a primeira a saber! – Thea retoma a discussão pela milésima vez.

— Na verdade, Helena foi... – divago e ganho um olhar assassino em minha direção. – ...mas  não é minha culpa se elas desconfiaram sozinhas. – me defendo.

Eu fui a primeira a desconfiar, Smoak! – Thea sibila e Oliver suspira tão alto que parece estar sentindo dor física.

— Damien me deu menos dor de cabeça com os afogamentos... – murmura e agora nós três olhamos de cara feia para ele pelo humor negro. – Deus me ajude, eu preciso de uma bebida! – ele estica o braço e agarra uma taça que um dos garçons passa carregando numa bandeja, antes de por a mão na minhas costas e me incentivar a caminhar até a mesa com nossos nomes, Roy levando Thea junto.

— Tommy, se você me perguntar mais uma vez se estou me sentindo bem, eu irei enfiar seu rosto dentro do primeiro balde de gelo que encontrar! – ouvimos Sara ameaçar assim que tomamos nosso lugar perto deles.

— Você vai fazê-la ter um ataque a qualquer dia... – murmuro, apontando para o Merlyn, que parece realmente chateado dessa vez.

— Ela não estava se sentindo bem hoje de manhã, nem hoje de tarde. – explica e a loira apenas revira os olhos e toma um petisco do prato de Thea, jogando na boca e mastigando furiosamente. – Eu só estava perguntando se...

— Eu estou ótima! – ela finalmente rebate, cortando a pergunta dele, e eu olho para Oliver, que me devolve o olhar com um levantar de ombros.

— Okay. – Tommy apenas grunhe e vira para o outro lado, puxando assunto com Ray, claramente bravo com a namorada.

— Juro por Deus que vou parir essa menina antes do tempo de tanto que o pai dela me tira do sério! – ela cutuca, tão brava quanto, e Tommy apenas ergue um dedo, sem tirar os olhos do Palmer.

— Menino. – diz e nós seguramos o riso quando Sara claramente pisa seu pé por baixo da mesa e ele finge não ter sentido.

— Pelo amor de Deus, parem de falar de parir! – Laurel suspira e Sara estira a língua para ela.

— Estamos falando da sua sobrinha. – se defende e Tommy rapidamente atalha:

— Sobrinho.

— Juro por Deus que vou matá-los se tiver que conviver com os dois por muito tempo durante essa gravidez. – a advogada massageia as têmporas e Sara solta um bufo ultrajado.

— Você não mataria sua irmãzinha grávida! – estala a língua. – Deve ter uma categoria especial para esse tipo de crime!

— Não tem, não... – Laurel enfia um salgadinho na boca e mastiga rapidamente antes de acrescentar. – Além do mais, meu réu primário vai ter que servir para algo algum dia.

— Às vezes ela me dá medo. – Ray comenta e Tommy ri pelo nariz.

— Ela sempre me dá medo. – ele diz e nós rimos, o clima tranquilo voltando a habitar a mesa por alguns minutos, pelo menos.

O jantar segue de forma tão tranquila quanto possível entre as alfinetadas de Thea para mim e as alfinetadas de Sara para Tommy e vice versa, Ray, Oliver e Roy sabiamente se ocupando em manter as bocas cheias e não ter que se envolver, e logo Barry se aproxima trazendo Caitlin pela mão. Sorrio ao ver a felicidade gritando no rosto radiante dela.

— Graças a Deus, está terminantemente curada da febre da noiva louca. – Thea brinca e Cait dá um tapinha em seu braço antes de se inclinar para me abraçar.

— Obrigada por tudo! – ela murmura. – Mal posso acreditar que tudo está tão perfeito para todas nós. – diz e sigo seu olhar até meu amigo, seu marido, que conversa com Oliver.

— Vocês vão ser muito felizes juntos, Dr.ª Allen. – pisco, apertando sua mão e sorrindo. – Vocês merecem isso.

— Vocês também. – ela beija minha testa e então acerta um tapinha na mão de Thea, que está ajeitando o laço de seu vestido pela centésima vez. – Deixe o pobre vestido em paz, Queen. – ri, jogando um beijinho no ar para o bico emburrado da outra.

— Allen? – chamo e Barry vira para mim com um sorriso gigantesco. – Cuide da minha amiga ou...

— ...Você vai destruir minha vida virtual, documental, fiscal e real. – ele recita minha ameaça frequente e nós rimos. – Pode deixar, Smoak.

— Tommy? – Sara se vira repentinamente para ele e aperta seu braço.

— O que eu fiz dessa vez, mulher? Eu já entendi que você está bem e que é pra eu deixar você respirar, ok?! – ele ergue as mãos exasperado, mas para de brusco ao olhar para o rosto dela. Sigo seu olhar, assim como metade da nossa mesa e logo o motivo fica óbvio. Ela está pálida.

— Acho que não estou tão bem assim. – ela murmura e assistimos quando os dois olham algo por debaixo da mesa. – Oh, merda. Merda. Merda.

Antes que possa pensar sobre isso, me levanto e Oliver logo se apóia na muleta para fazer o mesmo, o rosto de Tommy ficando lívido enquanto empurra a cadeira para trás e puxa Sara para seu colo, erguendo-a nos braços.

— Ela está sangrando. – ele sibila e todos trocamos um olhar tenso. – Isso não é bom, certo, Caitlin? – seus olhos estão assustados e frenéticos ao olhar para a doutora.

— Provavelmente um descolamento da placenta. – ela responde. – Acho melhor levá-la a um hospital. Os três primeiros meses são os mais perigosos para o bebê. - Cait parece a ponto de ela mesma levar Sara até o hospital mais próximo.

— Você fica. – Sara grunhe para a noiva e então aponta para um Barry tão assustado quanto. – Tire ela daqui. – pede e então vira para Thea e Roy. – Vocês ficam também. – comanda, com uma precisão implacável apesar da dor evidente em seu rosto. - Ray, você nos leva no carro de Laurel. – diz, apontando para a irmã, que já se levantou e estendeu a chave para o Palmer, se preparando para acompanhá-los.

— Nós vamos junto. – aponto, dando um olhar para Cait, garantindo que ela aproveite a própria festa e que eu cuidarei de Sara. Puxo o braço de Oliver, que também me passa as chaves do carro depressa.

E, em menos de uma hora, todos nós recebemos juntos o alívio de saber que Sara está bem e que tudo não passou de um susto e ao mesmo tempo, também fomos presenteados pelo grito estérico dela e o desmaio de Tommy ao descobrir que os bebês, no plural, também estavam ótimos.

~•~

— Ray? – a palavra ecoa pelo ambiente apesar de mal passar de um sussurro e o moreno se levanta num pulo como se eu tivesse atirado nele. – O que está fazendo aqui? – meus olhos se estreitam e eu brinco com meu anel de noivado, tentando fazer a pergunta do modo menos intimidador possível, os bipes mecânicos preenchendo o ar por várias vezes antes que ele finalmente relaxe e volte a se sentar olhando na direção do leito com um carinho inacreditável.

Já era tarde e eu não tinha conseguido vir no horário de sempre, mas não quis falhar com meu compromisso e dirigi todo o caminho até aqui para cumprir minha rotina semanal de visita e conversar um pouco com ela, ainda que não tivesse certeza de estar sendo ouvida.

— Eu... Eu tenho vindo vê-la. – ele murmura de volta e eu me aproximo calmamente, esperando que ele prossiga. – Não sei explicar por quê. – Ray dá de ombros ao ver meu olhar questionador. – Também já desisti de me perguntar qual a razão de sentir essa necessidade. – diz, com um sorriso mínimo, voltando seus olhos novamente para o rosto tranquilo de Helena.

— Desde quando você vem até aqui para visitá-la? – pergunto, sentando numa cadeira ao seu lado, sem qualquer julgamento em minha voz.

— Eu tentei ignorar a minha vontade de saber sobre ela, porque afinal de contas, sequer nos conhecemos e tudo que fiz foi colocá-la nessa situação...

— Não foi sua culp-...

— Mas no dia do casamento de Cait e Barry... – ele interrompe minha frase, se negando a ouvir-me contradizê-lo. – Quando trouxemos Sara para cá, eu apenas não pude me impedir de caminhar até aqui e vê-la. – suspira e, para minha surpresa, seus dedos tocam os dela de modo breve e singelo, numa carícia rápida, mas significativa.

— Isso foi há 4 meses, Ray. – tento não piscar com o choque da informação, afinal essa é a primeira vez que nos encontramos dentro desse quarto. – Como...?

— Para todos os efeitos... – ele coça a cabeça, parecendo envergonhado, mas prossegue. – Eu ainda sou o noivo. – explica e eu rio de choque ao lembrar das informações forjadas que demos ao médico no dia do acidente que colocara Helena nesse leito. – Não me julgue. – pede. – Acho que eu apenas me sinto culpado pela forma como isso aconteceu e quero me certificar de que está tudo bem com ela... Que ela vai acordar. – se apressa em explicar e eu lhe dou um sorriso tranquilizador.

— Você é uma boa pessoa, Raymond Palmer. – estico minha mão e aperto a dele. – E tenha certeza de que, tanto quanto nós, Helena sabe que o acidente não foi sua culpa. – garanto e ele suspira, me olhando angustiado.

— Seus olhos... Quando encontraram os meus... Ela parecia estar sentindo tanta dor e em tantos lugares. – ele franze a testa, claramente desgostoso. – Eu pensei que ela iria morrer em meus braços. – sua voz falha e ele olha para mim com intensidade. – E doeu, Felicity. Doeu em mim. – explica. – Eu não estou aqui porque sou uma boa pessoa. Eu estou aqui porque eu me importo. – diz e eu lhe ofereço um sorriso compreensivo. – Eu quero muito que ela acorde e que viva.

— Eu também quero, Ray. – suspiro. – Também quero muito.

Passamos alguns segundos olhando para o rosto de Branca de Neve da Bertinelli num silêncio pensativo antes que qualquer um fale outra vez.

— Ela e Oliver, huh...? – ele pigarreia e eu sorrio baixinho.

— Pois é... – dou de ombros. – Eles passaram um bom tempo juntos na verdade. – acrescento. - É estranho e tudo, mas realmente não muda o quanto gosto dela. – explico, com sinceridade.

— Você é uma boa pessoa, Felicity Smoak. – ele pisca e eu sorrio.

— Hoje, quando penso no relacionamento deles, eu acredito que Helena apenas tomou conta de Oliver enquanto eu não o encontrava. – digo, com simplicidade. – Fico feliz por ela ter estado lá por ele quando eu não pude, e fico feliz por ela ter aberto mão dele, apesar da forma torta e da dor que isso causou,  assim eu pude ter minha chance de consertá-lo. – sentencio. – Acho que tudo aconteceu exatamente como deveria.

— Faz sentido. – Ray meneia a cabeça e então olha para ela, suspirando ao percorrer seu rosto com os olhos. – E quem cuidou dela depois que Oliver foi embora de sua vida? – murmura e eu me recosto à cadeira, exalando sonoramente.

— Essa é a questão. Oliver foi o único a cuidar dela em muito tempo. – sinto meu peito apertar pela solidão da vida dessa mulher com quem tanto me importo, apesar de mal poder dizer que a conheço. – Ele tem vindo vê-la comigo várias vezes, mas fora nós três e Diggle, ela aparentemente não tem mais ninguém. – explico, com pesar.

— Você acha que ela seria capaz de deixar alguém cuidar dela de verdade, algum dia? – paro por um momento com a pergunta sincera e interessada de Ray, observando em silêncio o quadro completo do homem alto e bonito sentado com reverência aos pés da cama de uma bela desconhecida a quem salvou e de quem é incapaz de manter-se longe.

— Sabe? Eu acho que Helena tirou a sorte grande com o noivo que escolheu. – brinco e nós dois pulamos juntos com o barulho de tosse incontrolável que vem do corpo magro deitado na cama, a morena tentando sem sucesso erguer o tronco e apontando para um copo com água ali próximo.

— Puta merda! – Ray corre até ela e agarra o copo, tentando ajudá-la a beber um gole devagar enquanto eu apenas observo chocada ela agarrar sua mão e olhar para ele assustada antes de murmurar com a voz arrastada.

— Olhos castanhos. – sua testa está franzida e seu rosto está mais pálido que nunca, mas seus olhos tem um brilho muito vivo.

— Oi. – Ray responde com um sorriso nervoso que me dá vontade de rir, mas estou muito paralisada para isso. – Vou chamar seu médico. – balbucia e, quando se afasta, os olhos dela encontram os meus, me tirando do meu torpor.

Num segundo estou do lado da cama, puxando-a para um abraço cuidadoso mas ainda assim apertado.

Nunca mais me assuste assim, okay? - sinto-me sorrir entre lágrimas de alívio.

— Felicity... – ela murmura, ainda com a voz rascante pela secura de sua boca. – Obrigada. – murmura e, quando me afasto para vê-la melhor, vejo que também tem lágrimas nos olhos. – Tão grande. – baixo o olhar e a vejo colocar uma mão trêmula sobre minha barriga protuberante de 6 meses e meio.

— É um menino. – digo, chorando de verdade agora. – Eu e Oliver vamos nos casar. – ergo a mão para mostrar a aliança para ela, uma lágrima descendo por seu rosto e deixando um rastro molhado em sua bochecha.

— Quanto tempo eu...?

— 6 meses e duas semanas. – respondo depressa e ela arregala os olhos, sua outra mão de juntando à primeira sobre minha barriga e um chute sendo sentido por nós duas automaticamente. – Alguém está feliz por ter você de volta ao mundo dos vivos. – brinco e ela solta uma risada enrouquecida, olhando para mim enquanto tenta assimilar tudo. – Acordou bem a tempo para ser a madrinha do feijãozinho. – sussurro e seus olhos azuis claros ficam ainda maiores e mais molhados.

— Eu não posso...

— Você vai.

— Oliver...

— Ele vai ficar tão feliz quanto eu fiquei quando souber que você acordou. A escolha foi minha, mas ele apoiou 100% ter você como madrinha de James. – explico sem conseguir conter meu sorriso. – Eu sei, muita informação. – digo, ao ver seus olhos piscarem tentando assimilar tudo. – Vamos ter tempo para explicar tudo depois.

— Obrigada. – ela repete e nos abraçamos de novo, ainda que de forma desajeitada porque ela realmente não sabe como fazer isso.

— Aqui... – estendo o copo para ela outra vez e ela bebe mais água com avidez para molhar a garganta. – Como se sente? – pergunto.

Ela engole um pouco e pisca duas vezes antes de me olhar confusa.

— Que história é essa de que eu tenho noivo? – pergunta, fazendo menção ao momento em que ela acordou em um ataque de tosses. – Acho que eu me lembraria disso. – franze a testa.

No mesmo instante, Ray retorna acompanhado do médico de Helena e vejo quando os olhos dela se cravam nele cheios de um interesse contido. Sorrio e sussurro próximo ao seu ouvido.

— Este é Ray Palmer. – digo e ela me encara, ficando vermelha ao ser pega encarando enquanto ele conversa com o médico na entrada do quarto. – Seu noivo. – concluo e a cor some totalmente de seu rosto, seus olhos piscando sem parar. – Longa história. – pisco.

E nenhum de nós sabia que acabaria por se tornar uma longa história mesmo, a ser contada a cada aniversário de casamento, brindada com risadas sobre as vantagens de acordar noiva de um bilionário sem precisar ter gastado nada comprando roupas para um único encontro.

~•~

— Eu vou chorar de novo! – mamãe exclama e todas nós suspiramos dentro do quarto iluminado onde os últimos ajustes são dados em meu vestido.

— Donna, eu juro por Deus que não aguento mais retocar sua maquiagem! – Thea bufa, mas mamãe já está no meio do caminho para uma cena digna de Oscar.

— Você está tão linda! – ela exclama, ajeitando o véu atrás de mim e eu sorrio, apertando sua mão e olhando pelo espelho a refinada Moira Queen com seus olhos secos e maquiagem intacta ao brincar com o pequenino James sentada numa poltrona grande no canto da sala. As duas não poderiam ser mais diferentes. – Eu estou muito orgulhosa de você, querida. – mamãe chama minha atenção outra vez e eu me viro num farfalhar de saias para abraçá-la.

— Pare de chorar, Mamma. – sorrio e ela funga, tentando se recompor. – Obrigada. – sussurro e ela franze a testa. – Eu jamais estaria aqui se não fosse pela senhora me convencendo a enfrentar meus monstros e chutar o traseiro deles para ficar com Oliver e ir atrás do nosso final feliz. – suspiro. – Obrigada, mamãe. – repito, e os olhos dela se enchem outra vez enquanto ela assente, sem dizer nada.

— Okay, chega de papo emocional. – Helena se enfia entre nós duas e pega mamãe pelo braço, a afastando de mim. – Vamos lá, Thea, me ajude a consertar essa maquiagem. – chama e a Queen caçula suspira.

— Pensei que tinha me livrado da general Bertinelli quando você e Ollie terminaram, mas veja só a que ponto chegamos. – resmunga e todas nós rimos enquanto as três se afastam para a suíte, Helena me dando uma piscadela discreta antes de sumir pela porta do banheiro.

— Ele dormiu. – Moira murmura, se levantando e caminhando até mim com o bebê adormecido nos braços, seus cabelinhos lisos e escuros penteados para o lado para combinar com o pequeno traje social que a avó escolhera para ele.

— É o bebê de 3 meses mais elegante que eu já vi. – sorrio, acariciando sua bochecha gordinha.

— Genes impecáveis. – minha sogra pisca para mim com um sorriso orgulhoso e eu coro. – Você está maravilhosa, Felicity. Uma verdadeira princesa. – elogia, acentuando meu rubor com suas palavras. – Meu filho é mesmo um homem de sorte.

— Se alguém tem muita sorte aqui, eu com certeza sou essa pessoa. – devolvo, beijando sua bochecha. – Vai ser uma honra passar a ser da família, Elizabeth. – pisco, chamando-a pelo nome que ela usou ao se apresentar para mim quando nos conhecemos. Ela ri e nos viramos para o espelho juntas, encarando nosso reflexo com um suspiro. Estendo a mão e ajeito os brincos azuis que ela me emprestou para a cerimônia, fazendo jogo com o broche da minha avó, que mamãe trouxe.

— Onde Sara colocou os gêmeos depois que eles dormiram? – Moira finalmente fala, recuperada da onda de nostalgia.

— No antigo quarto de Thea. – aponto para a esquerda, na direção que minha amiga seguiu quinze minutos atrás com Tommy atrás de si, um bebê nos braços de cada um.

— Vou levá-lo para lá. – Moira avisa e eu beijo a cabecinha cheirosa de James antes de assentir, ela se afastando silenciosamente com ele no segundo seguinte. – E Felicity? – chama da porta e eu me viro. – Você já é da família. – sorri. Sinto os olhos encherem, mas pisco as lágrimas e sorrio de volta antes que ela saia, deixando apenas uma fresta aberta na porta.

Dou mais uma olhada no espelho e me concentro na câmera em cima da mesinha de centro. Thea estava ensaiando alguns cliques ainda há pouco e a esqueceu por aqui. Estendo a mão e a pego, passando as imagens que minha cunhada capturou dentro do quarto, inclusive as fotos de Caitlin e Sara sentadas no tapete aos pés da minha poltrona, eu com James no colo e as duas com Angel e Max. Isso foi pouco antes de Caitlin ser chamada para ver os últimos detalhes da decoração e Sara colocar os bebês para dormir e chamar por Tommy para ajudá-la a carregar os dois para o quarto com os berços. Eles eram uma dupla incrivelmente boa apesar da dose dobrada de trabalho que tinham que enfrentar e eu tinha de admitir que ainda ficava surpresa ao ver a sincronia com que lidavam com os bebês. Rio ao lembrar da velocidade em que o Merlyn brotou no quarto ao primeiro chamado da noiva.

Um pequeno movimento chama minha atenção e ergo os olhos para o espelho, mordendo um sorriso ao encontrar os olhos que roubaram meu coração à minha espera.

— Fique onde está! – exclamo, quando Oliver faz menção de desencostar da fresta pela qual me observava da porta e caminhar para perto. Ele para imediatamente, ainda confuso, mas me dá um sorriso torto quando me vê apontar a câmera em sua direção, fazendo até mesmo uma expressão traquinas para a foto que tiro de sua pequena aventura de espionagem na área que todas as mulheres fizeram de tudo para mantê-lo longe.

— Se terminou... – ele se aproxima rapidamente, cruzando o espaço entre nós com três passos largos, e me enlaça pela cintura com habilidade, puxando meu corpo para perto do seu. No entanto, antes que possa encostar seus lábios aos meus, recupero a coordenação motora e espalmo as duas mãos no peito do paletó de seu smoking azul marinho.

— Dá azar ver a noiva antes do casamento. – aponto, cutucando seu ombro com meu indicador, ainda que um sorriso estrague minha tentativa de repreendê-lo. Eu gostava da ideia de que Oliver fora incapaz de esperar até a cerimônia para me ver, ainda que não fizesse nem 24 horas que estávamos sem nos ver. Gostava até demais.

— O azar pode ir se foder, porque até o final desse dia você vai ser minha esposa nem que eu mesmo tenha que tirar uma licença para nos casar.

— Acho que isso não estaria dentro da legalidade ainda assim. – comento, inclinando a cabeça e arrancando uma risada dele.

— Eu fugiria com você, sweet. – ele dá de ombros, um sorriso de menino em seus lábios. – Sempre vai ser você para mim. Sempre serei eu para você.

— Às vezes essa palavra parece presunçosa, não acha? – murmuro em tom de brincadeira, roçando o nariz no dele quando ele volta a tentar me beijar. – Afinal o que nós sabemos sobre o sempre, se ninguém nunca viveu tudo isso? – pergunto e ele para por um momento, fitando meus olhos com intensidade enquanto parece refletir de verdade sobre a questão.

— Você é o meu sempre. – sua resposta vem cheia de uma certeza que amolece minhas pernas e faz minhas mãos tremerem.

— E você é o meu. – suspiro, adorando a simplicidade de suas palavras e o quanto elas parecem apenas certas.

— Então isso é tudo que eu preciso saber. – ele finalmente consegue me beijar e eu deixo que o calor de sua boca na minha leve embora todos os meus pensamentos. Porque ele estava certo. Eu sempre o amaria, mesmo que o sempre fosse intocável.

— Não acho que eu seria capaz de fugir. – me faço de difícil, retornando ao tema anterior ao afastar os lábios dos dele, e Oliver ri pelo nariz.

— Você é minha, Smoak. – rebate, confiante.

— Futuramente Queen. – jogo meus braços sobre seus ombros e o sorriso orgulhoso em seus lábios faz meu estômago esfriar de ansiedade.

— Sabe... Eu nunca fiz amor com ninguém da família Queen antes. – brinca e eu gargalho.

— Eu já. Você não perde por esperar. – devolvo com uma piscadela e é a vez dele de rir.

— Sinto interromper... – Helena fala e eu quase caio de susto ao vê-la tão perto de nós. Malditas habilidades de espiã. — Você, intruso, disse que só queria vê-la. – ela vira para Oliver e eu entendo o porquê da piscadela de mais cedo. Prendo o sorriso com a parceria clandestina dos dois. – E você, Cinderela, não deveria estar dando incentivo para que ele arrancasse esse vestido tão cedo. – vira para mim e eu faço minha melhor cara de inocente. – Agora que já viu a garota... – ela se volta para Oliver outra vez e ele revira os olhos, claramente insatisfeito pelo pouco tempo que tivemos. – Você tem um minuto antes de sua sogra e sua irmã saírem do banheiro. Eu não tenho certeza de qual das duas tentaria te matar primeiro caso te encontrassem aqui, então melhor não arriscar. – avisa.

— Você é a porra de uma general, Bertinelli. – ele acusa, mas sabiamente se afasta, caminhando até a porta. Porém, ao chegar à saída, vira para ela com um olhar provocativo. – A propósito, seu noivo acabou de chegar.

— Ele não é meu noivo! – ela devolve, exasperada, mas ele já saiu, e eu estou prendendo o riso quando seu olhar irritado encontra o meu. – O que foi?

— Todo mundo sabe que vocês estão dormindo juntos. – balanço a cabeça e as bochechas dela coram por instante, mas Helena logo recupera sua pose altiva e joga o cabelo sobre o ombro.

— Que seja. – diz. – Não vou me casar com ele. Casamento é para tolos sentimentais como Oliver e você, Lis. – diz e eu reviro os olhos.

— Só não chore quando eu disser meus votos. – digo, imperturbável, ao pegar o batom para retocar.

Porque eu sabia que casamento acabaria sendo para todos nós.

From the heat of night

To the break of day

I'll keep you safe

And hold you forever

And the sparks will fly

They will never fade

'Cause every day gets better and better

— Over and Over Again (Nathan Sykes)

                        

~Flashback~off~

Tempos atuais...

— No que está pensando? – já é tarde da noite e Oliver aparece na varanda do nosso quarto vestindo apenas a calça de moletom enquanto eu observo o céu limpo dessa noite de verão e deslizo a mão preguiçosamente por minha barriga. Viro completamente para encará-lo antes de responder sua pergunta.

— Nesse exato momento, estou pensando em como odeio a natureza por fazê-lo manter esse corpo aos plenos 38 anos de idade enquanto eu não passo de um balão. – cutuco seu abdômen quando ele se aproxima, e sim, ainda é duro e trincado como era há uma década. Bufo e ele ri antes de me girar para a varanda e me abraçar por trás, suas mãos cobrindo as minhas em meu ventre e seus dedos brincando com minha aliança. Sinto seu suspiro sobre meus cabelos e relaxo em seu abraço. – James já dormiu? – pergunto e ele assente.

— Sim. – diz e, antes que eu pergunte, acrescenta. – Sophie também. – sinto mais do que ouço sua risada quando ele beija meu pescoço e meu ombro. – Ela me fez ler 4 histórias antes de pegar no sono. – seu tom é de lamento, mas nós dois sabemos que ele adora seguir os caprichos de sua pequena imperatriz.

— Você a está transformando numa ditadora. – brinco e franzo a testa quando a bebê começa a chutar nossas mãos. – O que vai sobrar de você para mim depois que tivermos mais uma mulher brigando por seu coração nessa casa? – faço um biquinho e Oliver ri contra minha pele.

— Você sempre será a número 1, sweet... – garante e eu giro em seu abraço, colocando minha barriga entre nós antes de espetar o dedo em seu peito.

— Eu ouvi você dizendo isso para Sophie ontem, mocinho! – acuso, cruzando os braços sob os seios.

— Não acredito que minha esposa tem ciúmes da própria filha. – ele ergue os olhos para o céu antes de me olhar com uma incredulidade divertida. Ergo uma sobrancelha petulante. Ele suspira e então descruza meus braços, Mia chutando outra vez, claramente descontente por estar sendo mantida de fora da conversa. – Felicity Megan Smoak Queen... – sua voz vem recheada do orgulho que ele sempre exala ao falar meu nome completo e meu coração acelera da mesma maneira de sempre, também. – Você é a minha esposa. A mulher da minha vida. A mãe dos meus filhos. Eu sou tão imensamente grato por você que eu não posso nem mesmo colocar em palavras. – suas mãos se encaixam nas laterais do meu rosto e ele me dá um beijo leve e profundo ao mesmo tempo, se afastando para continuar. – Metade do tempo em que estamos juntos eu peço a Deus para não estar sonhando e na outra metade eu O agradeço por ter colocado vocês quatro... – suas mãos descem para as laterais da minha cintura, abraçando a mim e à bebê. - ...na minha vida. – ele beija meu nariz. – O que mais você quer de mim, mulher? – sorri com diversão e eu dou um soquinho em seu ombro.

— É realmente uma droga estar casada com alguém tão bom com as palavras. – resmungo e ele gargalha.

— Você adora isso em mim. – pisca, em tom de flerte, me puxando para nosso quarto com nossos dedos entrelaçados e só parando comigo quando chegamos diante da nossa cama, a cabeceira original que fizemos bem à nossa frente.

Estão ali dezenas de nossas fotos, que eu tirei ao longo dos anos.

Eu havia parado de fotografar profissionalmente quando ainda estava na minha primeira gravidez, mas durante os anos que se seguiram, a minha câmera esteve comigo em cada momento especial, capturando os pedaços da história que escrevemos juntos.

Estão ali, emolduradas, as fotos de Oliver e Thea que tirei no dia em que nos conhecemos. A foto do lago no parque onde eu “ensinei” Oliver fotografar. A foto de seu sorriso para mim quando estávamos deitados na grama. A foto do dia do nosso noivado. Do nascimento de James, com Moira e mamãe segurando o bebê deitadas uma de cada lado meu no leito hospitalar, enquanto Thea fotografava tudo. Do nosso casamento, quando eu flagrei Oliver espiando pela porta do quarto em que me vesti de noiva. A foto que tirei de Helena olhando para Ray, sentados lado a lado na primeira fileira. O casamento de Thea e Roy, de Sara e Tommy. O nascimento de Sophie. James, Angel e Max brincando na chuva.

Uma parede inteira de memórias eternizadas. E eu não conseguia não sorrir ao olhar para elas.

— Acho que precisamos de mais espaço... – Oliver comenta, seu olhar também capturado pelas fotos que recobrem toda a parede da cabeceira da cama.

Dou de ombros.

— Ainda temos outras 3 paredes. – digo com simplicidade e ele ri, sentando no colchão e me puxando com cuidado para sentar em seu colo. – Obrigada. – murmuro, beijando sua têmpora esquerda.

— Pelo que? – suas sobrancelhas se unem e eu deito a cabeça em seu ombro.

— Por ser a pessoa que me tirou do meu mundinho limitado e criou um universo comigo. – repito as palavras do meus votos de casamento. – Por abrir meu coração de formas que eu jamais imaginei serem possíveis. – suspiro e afasto a cabeça para olhar em seus olhos, o azul-tormenta conhecido aquecendo meu peito exatamente da mesma forma que aqueceu no começo. – Eu vivia escondida por trás das lentes e você me ensinou que existe uma vida para ser vivida além delas. – murmuro. – Obrigada por viver essa vida comigo.

— Eu não a viveria com mais ninguém. – ele devolve e eu sei, acredito, que eu também não.

Essa é a nossa vida. A nossa história. Pode não ser perfeita, mas é a única que eu quero contar.

Para sempre.

Girl when I'm with you

I lose track of time

When I'm without you

You're stuck on my mind

I'll be all you need

Until the day that I die

I'll love you

Over and over again

— Over and Over Again (Nathan Sykes)

 


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Notas finais do capítulo

Lencinhos à mão? Lá vamos nós!
Obrigada à todos que fizeram parte dessa caminhada!
OBRIGADA pelos 444 acompanhamentos, 683 comentários,129 favoritos e as 17 recomendações que essa história acumulou até aqui!
Obrigada por terem continuado comentando, teorizando, torcendo e interagindo comigo por aqui e pelo twitter (algumas até pelo WhatsApp)! Foi um percurso longo e nem sempre fácil, mas vocês foram incríveis comigo e eu sempre serei grata por todo o apoio que recebi nesse que foi o meu primeiro trabalho exposto!
Eu poderia escrever um longo texto de despedida, mas apesar de ser um adeus para Por Trás das Lentes, eu sempre estarei voltando!
Então...
Foi um prazer, e até a próxima!



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