Por trás das lentes escrita por Megan Queen


Capítulo 48
Don't have anything to lose


Notas iniciais do capítulo

Hola!
Quase um ano hein? Sentiram Saudades? Eu senti. De todas vocês. Muita saudade.
E a história voltou de capa nova presenteada pela Luzi ♡ Eu amei e vocês?
Não vou me delongar muito por aqui pq já tô 3 dias atrasada em relação ao prazo que me dei. Mas o fato é: Voltei por vocês, voltei porque com as mensagens e comentários vocês me fizeram perceber que a história merecia esse esforço. Então, o crédito é todo de vocês, que leram e tiraram tempo para me incentivar a voltar.
Meu obrigada mais que especial para as três pessoinhas maravilhosas que recomendaram a fic durante esse período de hiatus, Meri, Dreamy Girl e misskrux. Chorei com as palavras de vocês e fiquei tao feliz que me senti no dever de tentar corresponder às suas expectativas.
Enfim. Preciso super de comentários sobre esse capítulo, não tenho certeza se ficou tão bom quanto o que escrevi originalmente e se consegui passar direito a emoção necessária. Posso ter perdido o jeito então preciso do feedback para saber se devo continuar.
Obrigada Obrigada Obrigada por serem as melhores leitoras do mundo. Eu amo vocês.
Xero ❤



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Sara Lance

Acordo com o quarto sendo iluminado por um clarão repentino e pisco várias vezes ao ver o brilho alaranjado se propagando em frente à janela panorâmica do quarto que divido com meu namorado. Que merda está acontecendo?

Giro nos lençóis apenas para ver Tommy no milésimo enésimo sonho, ressonando tranquilamente. Depois que eu lhe contara a notícia, ele estava tão calmo como nunca o vira antes e até as linhas faciais de seu rosto estavam relaxadas como as de um menino. Nem mesmo as implicâncias de Thea, que veio jantar a noite conosco apenas para poder encher o saco do irmão sobre sua recém descoberta paternidade, foram suficientes para tirar o sorriso que continua costurado em seu rosto. Suspiro. O prédio poderia cair sobre nós agora mesmo que ele não se importaria em abrir os olhos nem por um instante.

Saio da cama devagar e caminho descalça para fora do quarto, vendo Thea estirada no sofá-cama também num sono imperturbável. Ela é mesmo uma Merlyn afinal. Ajeito seu lençol com cuidado e desligo a TV. Ela havia ficado para passar a noite porque estava muito nervosa com o sumiço de Oliver e, apesar de eu e Tommy estarmos certos de que provavelmente não era nada demais, deixamos que dormisse aqui.

Paro.

Prendo a respiração por um instante ao ouvir um pequeno murmúrio sofrido vindo de fora do apartamento. Feminino. E quem quer que seja estava ofegando também.

Olho novamente para Thea e, após ouvir um arquejo um pouco mais angustiado, resolvo sair e ver por mim mesma o que está acontecendo. 

Quando finalmente saio no corredor, eu estaco. Primeiro ao ver Lyla Diggle acocorada no meio do hall frio e escuro, gemendo de dor e com a mão apoiada na base da enorme barriga de grávida. E segundo ao ver a glock que ela deixa escorregar da mão. 

— Ai meu Deus, Lyla! O que está fazendo aqui?! - grito aos sussurros, me aproximando dela. - Ai meu Deus, Diggle sabe que está aqui? 

— Eu estava... - ela puxa o fôlego e me olha, suada. - Estava protegendo vocês. - explica, como se fizesse todo o sentido do mundo a esposa grávida do segurança da minha cunhada e do irmão dela estar parada no meu corredor às 4 da manhã, empunhando uma arma e...

— Ai meu Deus! Você entrou em trabalho de parto! - aponto e ela desce seu olhar para o sangue que suja o carpete caro do corredor, por pouco não caindo antes que eu a apóie e a ajude a sentar.

— Pare de dizer "Ai meu Deus"... - ela revira os olhos e eu percebo que estava repetindo isso sem parar, mas foco na careta de dor que ela faz e resolvo agir.

— Preciso chamar Tommy. Precisamos tirar você daqui e levá-la a um hospital com urgência. - faço menção de levantar, mas ela agarra meu braço com força sobrehumana, provavelmente me deixando com um hematoma ali. 

— Não! Não vai dar tempo... Ela já está vindo, Sara. - outra careta e outro arquejo. - NÃO me deixe sozinha. Por favor.

Respiro fundo e me agacho à sua frente, tentando não pirar de vez.

— Okay. Você consegue fazer isso, certo? Vai ficar tudo bem. - falo com um sorriso nervoso. - Dobre as pernas. - comando e ela me obedece, quase gritando de dor, mas os corredores estão completamente vazios e silenciosos. Aperto sua mão, sem fazer a menor idéia do que vem a seguir. - Tá. - olho em seus olhos. - Minha única experiência com partos foi o meu nascimento, não acho que isso conte muito. - confesso e ela ri, mas logo grita de dor e aperta minha mão com força suficiente para quebrar alguns dedos. - Eu vi em algum lugar algo sobre controlar a respiração.

— Eu fiz exercícios de respiração. - ela ofega, assentindo. 

— Vamos começar por aí então. - digo e começo a ajudá-la a manter o ritmo respiratório. Suas contrações apenas aumentam e seus gemidos viram gritos torturantes. 

Deus! Eu provavelmente sou a pior parteira da história da humanidade. — penso, sentindo o estômago revirar e rezando para não vomitar ali mesmo tudo o que comi na semana.

— Já estou vendo a cabeça. - grunho, a cena nauseante me fazendo ter vontade de levantar, pegar aquela arma, ir até o quarto e acordar Tommy com um tiro no peito e outro na cabeça, tudo isso depois de castrá-lo. Eu não quero ter que botar uma criança pra fora. Socorro. - Só mais uma vez, você consegue. - sacudo os ombros de Lyla levemente enquanto ela geme cansada e recosta a cabeça na parede.

Logo um choro estridente corta o ambiente e eu sinto meu corpo inteiro tremer de alívio enquanto seguro o pequeno serzinho agitado e sujo em minhas mãos.

— Você conseguiu, Sra. Diggle. - sorrio e ela me lança um olhar exausto e feliz ao mesmo tempo.

— Que diabo está acontecendo aqui? - ouvimos os passos de Thea, e giramos a cabeça em direção a garota descabelada e enrolada em um lençol pink vir coçando os olhos. - JESUS! - ela arregala os olhos e vem correndo até nós.

— Que timming. - murmuro, secando o suor no braço e puxando o lençol dela para enrolar o bebê choroso em meus braços. - Vá chamar Tommy e traga algo esterilizado para cortarmos o cordão dessa guerreira aqui. - comando e Thea obedece num piscar de olhos, ainda em choque.

Viro para Lyla e vejo seus braços trêmulos erguidos, pedindo para segurar a filha. 

— É tão linda, não é? - ela murmura quando eu entrego com prazer, fascinada ao ver toda a alegria em seu rosto exaurido pelo esforço. Ao ver a satisfação e a beleza dessa cena eu desisto por enquanto da idéia de matar meu namorado por ter me colocado nessa.

— É uma princesa. - concordo e ela sorri para mim.

— Anda fazendo partos por aí com frequência? - questiona com humor.

— Só nas madrugadas livres. - pisco e deixo a bebê Diggle agarrar meu dedo em sua mãozinha minúscula. 

                    ~♡~

Bem, eu conheço a sensação

De se encontrar preso a beira do abismo

E não há cura

De se cortar com uma navalha afiada

Eu estou lhe dizendo que

Nunca é assim tão ruim

Aceite isso de alguém que já esteve onde você está

Caído no chão

E você não tem certeza

Se você pode aguentar mais

— Lullaby  (Nickelback)

Oliver Queen

Fazia séculos que eu não me sentia assim.

Acuado. Preso. Perdido.

Felicity tinha me libertado desse tipo de sentimento, ela me fez sentir tão feliz que eu realmente havia esquecido qual era a sensação de viver em meio à sujeira que era o meu passado.

E agora eu simplesmente a havia arrastado para toda essa lama.

John para o carro a alguns metros da bola de metal retorcido e fumegante na pista. Vários carros já se aglomeraram ao redor e muitas pessoas se acotovelam para ver de perto. 

Nem mesmo parece real.

Quando ele desliga o carro, levo as duas mãos para trás da cabeça e respiro fundo, tentando não enlouquecer. 

— Como ela fez isso, John? - murmuro, sentindo tantos pedaços espalhados que não sei como recolhê-los. 

— Só a própria Felicity pode te responder isso, Oliver. - ele suspira, também assimilando a imagem à nossa frente. - Fique aqui, vou checar o andar de Tommy.

— Não. - desafivelo o cinto e Diggle me dá um olhar de advertência. 

— Sua perna. - lembra.

— Foda-se a minha perna, é a minha família lá em cima e eu vou vê-los. - sentencio e ele me olha por alguns segundos antes de assentir. - Tudo bem, vou ajudar você com isso. - meneia a cabeça e sai da van, passando para o meu lado e me içando para fora. A dor é como se estivessem rasgando a metade do meu corpo fora e, à medida que manco com dificuldade apoiado em meu segurança, sinto como se labaredas de fogo lambessem todo o meu lado esquerdo. Trinco os dentes e me encosto contra a parede interna do elevador, ofegando como se tivesse corrido quilômetros.

— Você estava certo. - afirmo e John me encara de sobrancelha erguida.

— Quando se trata de minha opinião sobre suas decisões, eu sempre estou certo, Queen. Apenas me diga de que parte em especial está falando. - provoca e eu solto um riso fraco por entre os dentes.

— De tudo. - suspiro. - Eu fui hipócrita. Eu sacrifiquei tanto... pegar Damien deixou de ser sobre meu pai no momento em que li aquele arquivo. Eu quis matá-lo mil vezes e ressuscitá-lo apenas para matá-lo outra vez. Não queria envolvê-la nos meus problemas, mas a quebrei do mesmo jeito. - admito, derrotado. 

— Ela sabe sobre o arquivo, Oliver. E eu realmente espero que você ache um jeito de fazer vocês dois passarem por isso. - ele me olha pesadamente. - Porque tão certo como ela é a única que pode consertá-lo, você é o único que pode consertá-la. Não importa se você a quebrou. Você é o único que pode montá-la outra vez. Você já o fez antes, pode fazer de novo. - garante e o elevador apita.

Me apoio no braço de John, tentando me forçar a acreditar que ficaríamos bem, mas sinto meu coração parar quando nos deparamos com a poça de sangue na porta do apartamento de Tommy. Espessa, enorme, crua e pegajosa.

Minha cabeça gira com milhares de imagens se projetando em minha cabeça. Thea, Tommy e Sara mortos no carpete, seus corpos sem vida empilhados desajeitadamente uns sobre os outros. Me escoro na parede fria e sinto meus membros pesados enquanto Diggle murmura vários "nãos" e entra no apartamento destrancado com a arma levantada. 

— Que porra é essa, Digg? Tira essa coisa da minha cara! - sinto meus batimentos subirem e o sangue esquentar quando a voz chocada de Thea atinge meus ouvidos. Me arrasto pelas paredes até chegar à sala escura e me lanço na direção da minha irmãzinha, a abraçando apertado. Beijo sua testa, permitindo a mim mesmo sentir o alívio que era vê-la aqui, viva e bem. - Graças a Deus, Ollie, eu estava a ponto de morrer de preocupação com você e... - ela para ao finalmente olhar direito para mim. - Céus! O que inferno fizeram com você? - seu olhar fica horrorizado e seus dedos mapeiam as feridas e inchaços em meu rosto. - Ollie, sua perna... Ela está torta como uma trave empenada. - seus lábios se franzem em desgosto. - Onde você esteve?

— Eu fui sequestrado, speedy. - opto por uma meia verdade. Estava cheio disso. - Mas Diggle me resgatou antes que o pior acontecesse. - explico e ela lança um olhar cheio de gratidão e amor para ele. - Mas eu preciso saber de vocês. - retomo a urgência. - Estão todos bem? Onde estão Tommy e Sara?

— Estamos todos ótimos! - ela me olha como se eu tivesse enlouquecido.

— E todo aquele sangue na porta? - franzo a testa.

— Ah! Aquilo foi Lyla. - ela dispensa com a mão e revira os olhos.

— Como é? - Diggle corre até ela e segura seus ombros.

— Queria saber porque você anda deixando sua mulher grávida perambular pela madrugada armada como se fosse a Viúva Negra ou algo do tipo, aliás... - ela ergue uma sobrancelha e vejo o desespero de John crescer.

— Thea, o que aconteceu? - pressiono. 

— Ela entrou em trabalho de parto com o barulho da explosão do carro lá em baixo. - Thea abre um sorriso gigantesco e John desaba no sofá. - Parabéns, papai!

— Deus! - ele ofega. - A coisa só fica mais maluca. - dá um riso incrédulo e, apesar de todo o meu mundo estar ainda em colapso, me sinto feliz com essa primeira notícia boa do dia. - Onde ela está agora?

— Sara fez o parto... Nem me pergunte. - Thea corta quando nós dois abrimos a boca para questionar essa informação. - E Tommy as levou para o Hospital Geral. - resume. - Então, sugiro irmos de uma vez. Ollie precisa de cuidados médicos desesperadamente e eu mal posso esperar para segurar minha afilhada! - ela pega as chaves do apartamento e faz um gesto para a seguirmos. 

Diggle vem até mim ainda com sua expressão de choque e apóia meu lado, me ajudando a sair. 

— Ah! Ligue para Felicity, Ollie. Ela estava muito preocupada com você ontem à noite. - Thea avisa e meu peito dói. 

Por um instante, Diggle desfaz sua expressão contente e me lança um olhar compadecido. Nós dois sabíamos que não era tão simples. 

                   ~♡~

Por favor, deixe-me tirá-la

Dessa escuridão e levá-la para a luz

Porque eu tenho fé em você

Que você irá passar por outra noite

Pare de pensar sobre isso

É o caminho mais fácil

Não há necessidade de apagar a vela

Porque você não está pronta

Você é muito jovem

E o melhor ainda está por vir

— Lullaby  (Nickelback)

Helena Bertinelli

Piloto a moto pelas ruas tranquilas e silenciosas da periferia de Star. Faltava pouco para eu entrar na parte mais movimentada da cidade. Vejo o brilho dos prédios se propagar e respiro fundo.

05:43 a.m.

Olho a hora no visor e acelero. Amanda odiava esperar e, tendo em vista os últimos acontecimentos, ela deveria estar doidinha para enfiar suas unhas afiadas no meu coração.

Enquanto atravesso a cidade, permito minha mente vagar por um rumo que não me permitia na maior parte do tempo. 

Era estranho como minha vida era direcionada por momentos. A de todos nós é. Momentos que te marcam, que te modificam. 

No meu caso, olhar para o passado era como olhar para uma estranha. Uma estranha estúpida. 

Helena Rosa Bertinelli. Criada em meio ao luxo e as aparências da máfia italiana. Eu estava acostumada a me ver em volta com sussurros, áreas proibidas e mentiras. E eu tinha aprendido a não me importar. 

Até saber das mortes. Centenas delas. Todas as semanas. 

E quando me tornei adulta eu já sabia que o sobrenome que carregava estava mergulhado no sangue de pessoas, inocentes ou não, que cruzaram o caminho do meu pai, o patriarca.

Então viera Michael. Inteligente, jovem, bonito. O homem que amei e que ficou do meu lado mesmo depois de descobrir o que eram os "negócios" da minha família. Juntos, reunimos provas para acabar de vez com as barbaridades da máfia italiana e para me livrar da culpa que sentia em fazer parte daquilo.

E daí tudo mudou.

Meu pai descobriu tudo. As provas. As investigações. Tudo.

E achou que a iniciativa partira do meu noivo.

Faço o pneu da moto roncar e viro numa curva, sacudindo a cabeça para espantar o borrão que era lembrar da morte dele. A primeira que fora diretamente para a minha consciência. Fuzilado. Às ordens de meu pai.

Depois disso, eu havia mergulhado de cabeça no ódio que queimava em minhas veias a cada fôlego que tomava. Eu comecei a fazer a limpeza com minhas próprias mãos. Eu havia matado pessoalmente tantos membros da máfia que isso se tornou relaxante.

E provavelmente eu teria conseguido matar a mim mesma se John Diggle não tivesse me encontrado. Mesmo que a Argus tivesse me encontrado por qualquer outro meio não teria sido igual. Diggle me ajudara a canalizar meu ódio e me transformara numa agente de elite. Meu único combustível era a sede de vingança contra meu pai.

Oliver chegou pouco depois. Até hoje eu tenho dificuldade de entender quão rápido criamos uma ligação. Provavelmente isso aconteceu por termos gatilhos tão frágeis e parecidos. A única diferença é que enquanto Oliver estava em busca de vingança por seu pai, eu estava buscando vingança contra meu pai.

O fato é: em questão de meses, éramos uma das mais eficientes equipes da Argus nos EUA. Eu, John e Oliver. Eu estava mais que bem com isso. Era o mais próximo que eu tinha de estabilidade.

Mas não para Oliver.

Depois de 3 anos, ele estava farto. Farto das mortes. Farto dos riscos desnecessários. Farto da escuridão. E eu sabia que a única coisa que o mantinha ali era eu. Oliver me amava mais do que eu merecia ou sabia lidar. E eu me vi sufocando em meio a esse sentimento que eu temia mais que tudo. Eu não podia perdê-lo como perdi Michael. Então resolvi pelo menos dessa vez ter o controle sobre isso. Ninguém o tiraria de mim. Eu o faria.

E o fiz.

O que apenas piorou tudo.

Porque toda a culpa que eu já sentia em nosso relacionamento foi triplicada com a culpa que senti ao ver o que fiz com ele. O ódio que vi em seus olhos direcionado a mim.

Depois de ele ter saído da Argus e cortado completamente seus laços comigo, assim como John, eu me tornei uma agente solo. Porém, nunca deixei de acompanhar sua vida através dos registros que a Argus sempre mantém dos passos de seus ex-agentes, para garantir que todos continuem de bico fechado. Eu queria ter certeza de que me afastar dele tinha mesmo sido para o seu bem.

E foi assim que eu soube sobre seu envolvimento com Felicity Megan Smoak. Assim que bati os olhos nas fotos, eu a reconheci, mesmo por baixo de toda aquela mudança de visual. Aquela garota tinha sido mais um dos momentos marcantes da minha vida. Eu nunca me esquecera do vazio em seus olhos naquela noite tanto tempo atrás. Amanda havia tirado Oliver da missão por motivos que só agora entendo, ele provavelmente teria atrapalhado mesmo. Eu era uma das únicas que sabia sobre quão irracional ele podia ser quando estava emocionalmente envolvido, mas ela não era burra.

O importante é: quando os vi juntos, Felicity e Oliver, toda a culpa que sentia por tê-lo afastado foi embora. Ela o consertaria e ele a consertaria. Ambos lidavam com a escuridão de maneira oposta à minha. Eles combatiam as sombras com luz. Eu achava isso inútil e sem sentido, mas ao vê-los juntos, percebi que era o único jeito que funcionava. 

E foi por isso que eu me preocupei quando Amanda se interessou pelo arquivo da garota e logo depois surgiu com Oliver, nos colocando numa equipe outra vez. Eu sabia o que ela ia fazer. Ia usar o ponto fraco de Oliver contra ele. A única coisa que não entendi era porque ela estava apelando para o gatilho do descontrole se isso o faria fracassar na missão. Não entendia porque ela queria que ele falhasse. 

Agora eu sei.

— Helena? - ouço a voz trêmula de Felicity em meu ouvido e quase perco o controle da moto.

— Graças a Deus, mulher! Quase me matou do coração, maluca! Por que desligou a droga do comunicador? - esbravejo, deixando o alívio  apertar meu peito.

— Eu estou bem. Não surte.

— Não surtar? Pelo que eu sei, você podia muito bem ter parido na minha garagem!

— Não seja dramática, mal tenho duas semanas de gravidez. - ela bufa, dando um riso fraco.

— Okay. - respiro fundo. Um pequeno silêncio se instala entre nós. - Você está bem?

— Na verdade não. - sua voz sai baixa.

— Quer falar sobre isso? - ofereço. - Tenho alguns minutos até chegar no meu destino.

— Eu o matei. - ela fala, como se estivesse em transe. 

— Eu sei. - suspiro. - Não faça isso. Não se culpe. Damien era um monstro, você fez um favor ao mundo quando o matou e eu juro que vou quebrar as pernas do primeiro bastardo que questionar isso. - afirmo e ela suspira. - Eu mesma o teria matado.

— Eu só preferia que não tivesse sido eu. - ela diz.

— Entendo. - paro a moto no acostamento e respiro fundo. - Não deixe isso atormentá-la. Acabou. Oliver está vivo. Graças a você. E Damien nunca mais fará mal a ninguém. Graças a você. Você fez a coisa certa, Smoak. 

— Okay. - ouço quando ela puxa fôlego com força. - Vai se encontrar com a Waller agora?

— Não que eu esteja animada para isso. - bufo. - Alguém precisa responder pela bagunça que nós fizemos. Somos uma pedra no sapato da Waller agora. - rio pelo nariz. - Eu tenho que explicar como o cara que deveria estar morto está vivo e como o cara mau de repente está morto. Ela deve estar pirando. 

— Tem algo que eu possa fazer...

— Não! - corto. - Para todos os efeitos, você não faz parte disso.

— Mas eu...

— Escute. Você não está mais respondendo apenas por si mesma. Pense na criança que você está carregando. Na segurança do seu filho. Não se meta nisso.

— Tudo bem. Mas vou acompanhar você pelo GPS e pelas câmeras. - teima e eu sorrio.

— Tudo bem, mamãe. - reviro os olhos e dou partida outra vez.

— Helena? - ela chama.

— Sim?

— Obrigada. - diz. - Por me salvar. Mais de uma vez e de mais de uma forma. - suspira.

— Disponha. - sorrio de leve.

Passo por dois cruzamentos em velocidade constante, sentindo o vento bater contra meu corpo. O trânsito já está movimentado, vários carros em direção à área comercial da cidade.

Olho o relógio. Tenho 6 minutos para chegar ao ponto de encontro.

Chego à ponte e diminuo a velocidade, tentando elaborar mentalmente mais um dos meus discursos para despistar e conter Amanda Waller. Gostava de acreditar que eu sabia como dobrá-la, em grande parte por ser sua melhor agente.

Então, eu pisco e lá está. Um caminhão, ultrapassando um sedan. Em cima da ponte. Na minha direção. Tento puxar a moto, mas não há tempo suficiente. Ouço o grito horrorizado de Felicity quando me choco contra o carro. Sinto o ar ser expulso dos meus pulmões com força e minha voz não sai. Giro no ar e bato contra o capô antes de rolar sobre ele tão rápido que minha cabeça dói e bater com brutalidade no concreto da mureta.

Ouço o barulho de ossos quebrando. Meus ossos. Minha vista está escura e cheia de brilhos ofuscantes. Meu peito dói e não consigo respirar direito. Tudo dói. 

De longe, escuto buzinas e pessoas falando, mas estou tão cansada. Um homem grande se aproxima e segura meu rosto com as mãos geladas e trêmulas. O gosto metálico de sangue me engasga e eu estou sufocando, mas forço meus olhos a encarar o rosto aterrorizado à minha frente. Não consigo escutar o que ele diz, mas vejo seus olhos.

Castanhos.

Pisco duas vezes, me sentindo lenta e mole e então, antes de sumir tudo, algo pisca em minha mente. 

Um momento.

Uma fração de segundos.

Eu conheço o motorista do caminhão. 

Ele é um Argus agente.

                   ~♡~

Bem, todo mundo já alcançou o fundo do poço

Todo mundo já foi esquecido

Quando todo mundo está cansado de estar sozinho

E todo mundo já foi abandonado

Eu fiquei de mãos vazias

Então, se você mal está suportando...

— Lullaby  (Nickelback)

Oliver Queen

Bebo mais um gole da minha garrafa de água à medida que Thea entra no quarto cautelosamente e se senta ao meu lado na cama.

— Como se sente?

— Como um homem feito de legos. - zombo de mim mesmo e ela ri.

— Os bonecos de lego que eu fazia com 4 anos eram mais bonitos do que você está agora. - torce o nariz e eu a lanço um olhar enfadado. - Sério, Ollie. Você parece tão péssimo que meu peito aperta. Não preciso de muitos neurônios para saber que quem fez isso ia matá-lo. - sussurra e se aproxima mais, tocando meu braço. - Não quero voltar a ter que me preocupar com você brincando de pega pega com a morte. - diz, mordendo a parte interna da bochecha. 

— Eu sei que não fui completamente honesto com você ou com mamãe sobre as coisas que fazia há alguns anos, mas eu prometo... - olho em seus olhos e seguro sua mão nas minhas. - Que não estarei voltando para aquela vida. - concluo e ela me lança um sorriso pequeno. 

— Felicity sabe sobre o que aconteceu? Essa noite, quero dizer. - ela murmura e eu aperto os lábios. 

— Ela soube, mas não por mim. - admito. - Ela soube de mais coisas também. Coisas que omiti. Que omiti de você também. Ela as descobriu. - confesso. - Receio que Felicity esteja longe de conseguir me perdoar por isso.

— Ah, Ollie. - Thea lamenta. 

— Dig? - ouço a voz da minha garota e engasgo.

Sweet? É você? - limpo a garganta e faço sinal para que minha irmã permaneça em silêncio. 

Acho que por 5 segundos inteiros não obtenho nenhuma resposta do outro lado, só a respiração agitada da mulher que eu amo.

— Oliver. - é o que ela diz quando finalmente resolve falar. Sua voz é uma mistura de medo, alívio, saudade, preocupação, amor e mágoa. - Como você está? - a preocupação vence e ela questiona.

— Vivo. - devolvo, suspirando. - E você?

— Já estive melhor. - ela sussurra e pausa. - Pensei que fosse perder você. - sua voz treme.

— Eu estou bem, sweet ... Vou ficar bem. - digo devagar e ela funga, meu peito doendo ao notar a dor que causei a ela. - Felicity, eu sinto muito por...

— Falamos sobre isso depois, Oliver. - ela me corta, parecendo se recompor. 

— Okay.

— Eu queria falar sobre Helena, na verdade. - seu tom fica tenso e eu me alarmo, Thea me lançando uma encarada curiosa, perguntando sem som o que Felicity está dizendo.

— O que aconteceu?

— Ela estava indo para o ponto de encontro com a Waller quando sofreu um acidente horrível sobre a ponte principal. Ela está a caminho do Hospital agora. - sinto meu coração parar um momento. - Um caminhão invadiu a mão dela e a jogou contra um carro. Coincidentemente, ela se chocou contra o carro de Ray. - informa e meus olhos arregalam. - Ele prestou socorro e a está acompanhando até o hospital. - suspira. - E Oliver? - chama.

— Sim.

— Não foi um acidente.

— Como? - franzo a testa.

— O motorista do caminhão era da Argus. Foi proposital. - informa e eu travo o maxilar. - Precisamos ficar de olhos bem abertos. Podem tentar terminar o serviço. 

— Okay, vou avisar Diggle. - tento assimilar tudo.

— Eu estou a caminho.

— Felicity, eu não acho...

— Eu estou indo ainda assim. Embora você não acredite nisso, eu sou grande o suficiente para tomar conta de mim mesma, Oliver. - diz, cortante. - Venho fazendo isso há bastante tempo e sei que agora você já sabe disso não é mesmo? - acusa e então toma uma respiração.

— Desculpe. - sussurro.

— Okay. Como disse, falamos disso depois. - ela se acalma. - Eu estou indo aí.

— Pode ao menos tomar cuidado? - peço em tom humilde. Amanda devia estar com os olhos em todos os radares e não queria que ela chegasse até Felicity.

— Eu vou. - ela garante. 

— Fique na linha comigo. Pode fazer isso? - murmuro e e ela suspira.

— Posso. Não vou desligar. 

— Eu amo você. - digo antes que possa me conter. Essa frase é tudo que eu quis dizer desde que estive à beira da morte. 

Um silêncio torturante se instala entre nós até que ela responda.

— Que Deus me ajude, mas eu amo você também. - responde baixinho. - Estou saindo. Chego em 10 minutos.

— Okay. Até logo.

— O que ela disse? - Thea pergunta e eu passo a mão no rosto. - Não faça isso. - ela segura meu braço. - Vai estragar os curativos, cabeção! - revira os olhos.

— Thea... Tem algo que preciso lhe contar. - suspiro, medindo quanto eu poderia contar sem envolver ou comprometer minha irmã. Eu já havia envolvido gente demais nessa bagunça. - Helena foi essencial para o meu resgate. - conto resumidamente.

— Helena? Como em Helena Bertinelli? - ela ergue uma sobrancelha.

— Exatamente como em Helena Bertinelli. 

— Woa. Felicity sabe disso? 

— Sim. Ela me ligou agora para falar justamente sobre Helena. - umedeço os lábios. - Quando Helena me ajudou, quando se envolveu no meu resgate, ela se meteu com gente muito, muito poderosa. Essas pessoas, as mesmas que estavam envolvidas no meu sequestro, elas causaram um acidente para Helena ainda há pouco. Ela está a caminho do hospital agora. - suspiro e Thea leva as mãos à boca. - Felicity me ligou para falar isso.

— Deus! Eu pensei que tivesse acabado. - ela murmura.

— Para mim acabou. - esclareço, tocando seu ombro. - Agora só precisamos nos certificar que termine bem para Helena também. - concluo. - Você pode me levar até Diggle? - me levanto com algum esforço e me apoio nas muletas. 

— Claro. - ela diz. - Ollie? - chama, à medida que caminhamos para fora do quarto. 

— Diga.

— Quando perguntei sobre o que Felicity disse... Queria saber o que ela disse quando você falou que a amava. - sorri e eu suspiro, ouvindo quando a mulher do outro lado da linha limpa a garganta.

— Eu preferia que ela não tivesse invocado a ajuda de Deus por isso, mas ela disse que me ama de volta. - suspiro.

— Você tem que arranjar um jeito de consertar o que quer que haja entre vocês, Ollie. - Thea me olha e eu ergo uma sobrancelha. - Por muito tempo estivemos sozinhos no mundo. Eu, você e Tommy. Ela nos deu família. Ela curou seu coração. Ela se tornou minha melhor amiga. Me recuso a perder isso. - sua voz treme e eu sinto meus olhos encherem.

— Speedy... - sustento seu olhar. - Mesmo que Felicity jamais me perdoe, mesmo que ela desista de mim, ela nunca abandonaria você. - sorrio para seus olhos molhados. - Porque ela a ama, independente de mim, e não serão meus erros que a afastarão de você.

— Estou chegando. - Felicity clareia a voz e percebo que também se emocionou. Faço sinal com a cabeça para Thea, mostrando que ela está na linha. 

— Okay. Estamos esperando.

— Tudo bem. - ela suspira. - E diga para Thea parar de ser tão madura e fofa, é assustador. - brinca e eu rio baixo.

— Pode deixar. - sussurro. 

— Cheguei. - ela informa. 

— Te encontro na ala da maternidade. 

— Maternidade? - sua voz soa confusa e eu rio pelo nariz. 

— Ah! Esqueci de contar... Diggle se tornou pai. - conto e ela engasga. 

— Como... Quando... Onde?

— Sara fez o parto... Nem pergunte! - eu e Thea falamos a última parte juntos e Felicity balbucia mais algumas coisas.  

— Estou a caminho. - ela diz por fim.

                   ~♡~

Raymond Palmer

Tento respirar direito enquanto penso no quanto as coisas podem tomar rumos inesperados em um piscar de olhos.

Esse dia havia começado como um qualquer. Eu havia levantado cedo como sempre e estava indo para a cafeteria de todas as manhãs quando tudo virou de pernas para o ar.

Eu me lembro de ter visto pelo retrovisor o caminhão passando para a pista oposta, para me ultrapassar. Em cima de uma ponte. Era insano. Principalmente tendo em vista a moto que vinha na direção contrária. Ele não a estava vendo? 

É claro que tudo isso passou pela minha cabeça em milésimos de segundos e não rápido o suficiente para que eu pudesse evitar o que veio a seguir.

Foi horrível. A moto se desequilibrou e foi jogada contra meu carro. Só então eu notei se tratar de uma mulher. Ela girou e girou e então bateu contra a mureta de forma violenta, caindo no chão tão mole como uma boneca de pano.

Saí do carro o mais rápido que pude e ignorei o barulho das buzinas quando me agachei ao lado do corpo frágil e machucado. Ela estava completamente vestida de couro preto. Retirei seu capacete com cuidado e segurei seu rosto em minhas mãos, enquanto ela parecia estar praticamente inconsciente. Seus cílios tremeram e eu limpei um pouco do sangue em sua têmpora quando seus olhos abriram. Tão azuis que eram quase translúcidos.

— Onde dói? - perguntei, olhando para seu rosto cansado.

— Castanhos... - sua voz não passava de um ofego e seus lábios carnudos logo se tingiram de sangue antes que ela fechasse os olhos outra vez.

Olhei ao redor desnorteado e notei que o motorista do caminhão tinha evaporado. Como eu não sei, no meio de tantos carros e pessoas que se aproximavam. 

Tentando não movê-la mais que o necessário, trouxe seu corpo para meu colo enquanto ligava para a ambulância. Informei a situação e desliguei, rezando internamente para que eles chegassem logo. Eu não estava pronto para ver alguém morrer. Não estava pronto para ver essa garota morrer.

 Enquanto esperava impotente, perdi meu tempo observando a bela mulher desacordada em meus braços. Ela era jovem. Talvez por volta dos 25 anos. E extremamente bonita. Não carregava nenhuma aliança, de noivado, casamento ou compromisso, o que me levava a crer que era uma mulher difícil e forte. Deus! Ninguém merecia morrer tão cedo e dessa forma. 

Devagar, abri sua jaqueta e senti meu estômago dar voltas dentro de mim quando meus dedos se encharcaram. Havia um sulco fundo e empapado logo abaixo do seu peito e a mancha só crescia e se espalhava. Era nauseante ver tanto sangue. Escuro, vivo e pegajoso. 

Os minutos pareceram eternidades até que a ambulância chegou. Os paramédicos a tiraram dos meus braços e a colocaram numa maca enquanto trocavam informações preocupadas entre si.

Só agora, olhando para o corpo pálido e entubado da moça sem nome, me dou conta de que entrei junto na ambulância. 

Pego sua mão fria na minha e observo as unhas pintadas de preto com atenção, enquanto tento não me concentrar nos prognósticos nada favoráveis ao meu redor.

Pelo que eu tinha conseguido ouvir, ela estava em estado crítico. Três costelas quebradas. Uma ou mais podendo ter perfurado o pulmão. Pulso fraco. Hemorragia interna. Baço comprometido. E uma concussão grave.

Eu não a conhecia, mas estava horrorizado com a possibilidade de ver a vida dela se esvair bem aqui na minha frente sem poder fazer nada. Por mais estranho que fosse, eu sei que a mulher à minha frente não é uma pessoa qualquer. Que eu gostaria de conhecê-la.

Balanço a cabeça. Isso é ridículo.

Dentro de alguns minutos, chegamos ao Hospital Geral de Star e os socorristas descem a maca para levá-la para dentro. Sigo seus movimentos automaticamente, me apressando a acompanhá-la. No entanto, quando chegamos a ala operatória, sou informado de que não poderia continuar e que ela está indo direto para a mesa de cirurgia. 

Ponho as mãos na cabeça bagunçando meus cabelos. 

— Como ela está? - ouço uma voz familiar parecendo extremamente ansiosa e me viro para ver a mulher que amei nos últimos 2 anos me olhando nervosa.

— Felicity?! - balbucio, olhando para Oliver Queen e seu segurança atrás dela, ambos parecendo tão tensos quanto ela e o Queen completamente acabado e machucado. Seu rosto cheio de curativos assim como o resto do corpo. O homem parecia ter sido moído numa máquina processadora de sucata. - O que...?

— Helena. A garota da maca. - ela atropela as palavras. - Ela é nossa amiga. - explica e eu respiro fundo.

O seu nome combina com ela. Forte e melódico. 

— Eu não sei direito. - me jogo no banco que está encostado à parede e passo as mãos pelo rosto. - Foi tudo tão rápido. Estávamos em uma ponte e de repente veio o caminhão. Eu não tive como evitar e ela... Ela bateu no meu carro e então contra a barreira da ponte. Foi horrível. Não pude... Eu não pude impedir. 

— Ray... - Felicity põe a mão em meu ombro e eu a encaro, vendo seus olhos marejados. - Não foi sua culpa.

— Ela tem razão. A culpa foi minha. - Oliver expira, parecendo tão acabado por dentro quanto por fora. 

— Como assim? 

— Helena já foi minha noiva. As pessoas... - ele põe a mão na tempora, parecendo sentir dor, enquanto eu absorvo o choque da informação. - As pessoas que fizeram isso comigo são as mesmas que estão por trás do acidente dela. - conta e eu arfo. 

— Ninguém tem culpa. - Felicity se aproxima dele e põe a mão sobre seu peito, o forçando a encarar seu rosto. - Culpa não vai fazer nada por Helena agora.

— Você não estava no volante daquele caminhão, Queen. Não pode monopolizar toda a culpa do mundo para si mesmo. - concordo e ele me lança um olhar surpreso surpreso e agradecido.

— Qual o estado dela? - murmura.

— Ela estava inconsciente. - conto. - E havia muito sangue e coisas quebradas. Não sei ao certo. - balanço a cabeça. - Não está nada bem. - admito e Felicity soluça, Oliver estendendo a mão e segurando a dela, para tentar lhe dar algum conforto.

Naquele instante eu percebo. Não incomodava mais. Não como eu achei que incomodaria. Vê-los juntos. Eu via o amor, a cumplicidade deles e, por mais que ainda não conseguisse entender como aquilo acontecera, já não doía. Pela primeira vez, me senti livre desse sentimento não correspondido. Eu ainda amo Felicity Smoak, mas já não sou mais apaixonado por ela e, só agora, me dou conta disso. Respiro fundo. 

— O que nos resta é aguardar.

— Sim. - eles concordam.

Helena. Ela tinha que sobreviver.

                 ~♡~

Então, só tente mais uma vez

Com uma canção de ninar

E aumente isso no rádio

Se você pode me ouvir agora

Eu estou te alcançando

Para que saiba que você não está sozinha

E se você não pode falar

Eu estou muito assustado

Porque eu não estou conseguindo te falar pelo telefone

Então, basta fechar os olhos

Querida, aqui vai uma canção de ninar

Sua própria canção de ninar

Querida, aqui vai uma canção de ninar

Sua própria canção de ninar...

— Lullaby (Nickelback)

Felicity Smoak 

Caminho às pressas pelos corredores, repetindo para mim mesma que eu tenho que me manter calma.

Eu havia visto tantas vezes a repetição das imagens das câmeras de segurança da ponte que podia repetir de cor a sequência dos acontecimentos. A sensação de impotência se apoderou de mim enquanto via Ray socorrer Helena e a ambulância chegar para buscá-la. Na intenção de fazer pelo menos alguma coisa foi que eu descobri uma informação realmente relevante. Eu havia colocado um sistema de busca facial no rosto do motorista do caminhão depois de ver a forma suspeita como ele deixara o local, explorando os pontos cegos das câmeras. 

E havia quebrado minha xícara ao perceber o que realmente havia acontecido.

Helena foi marcada. A Argus ia eliminá-la. Ela havia ido diretamente contra as ordens de Amanda Waller e participado na morte de um homem extremamente valioso em termos de informações. Resumindo: a morte de Damien ia absolutamente contra os interesses da Argus. Helena era uma desertora. 

— Essa estúpida ainda me pediu para não me preocupar. - resmungo, puxando o capuz sobre a cabeça e ouvindo o estalido dos meus saltos ecoando pelos corredores. - E todo esse tempo esteve com um alvo pintado nas costas. - grunho para mim mesma. Respiro fundo e ponho a mão sobre a barriga. - A mamãe está calma, feijãozinho, ela só quer muito puxar os cabelos estupidamente perfeitos da louca da sua tia. - sacudo a cabeça. - Eu sei, eu a conheço a pouco tempo, mas ela é incrível... apesar de ter dormido com meu namorado. - franzo o lábio. - Deleta isso, querido. Vamos colocar assim: ela é uma boa pessoa que fez algumas escolhas bem ruins e que merece uma segunda chance. - acaricio minha barriga. Eu havia percebido que conversar com o bebê me acalmava mais que tudo no mundo e estava fazendo isso para me concentrar em algo além do fato que a minha mais nova amiga estava entre a vida e a morte, meu namorado havia me escondido partes importantes da sua vida e me investigado pelas minhas costas e que eu havia matado um criminoso sádico procurado no mundo inteiro. 

Giro a esquerda e me deparo com Oliver apoiado contra a parede oposta à porta da maternidade. Sinto o ar passar estrangulado por minha garganta ao vê-lo. 

Oliver parece que foi atropelado por tratores. Sua perna esquerda está engessada e ele está com uma bandagem cobrindo suas costelas. O pior é seu rosto, tendo em vista que as roupas fazem o trabalho de esconder os hematomas. Mas sua calça foi rasgada do lado direito e há um curativo grande em sua coxa. O osso de sua face direita foi quebrado e há uma gase colocada sobre ele. Um de seus olhos está completamente fechado pelo inchaço e há uma mancha escura e de tons diferentes de roxo no encontro de seu nariz com seu outro olho. Sua boca tem um corte que foi costurado no canto e sua têmpora está coberta por mais uma gase. Todo o meu corpo treme com um soluço ao ver sua situação deplorável e imaginar quanto ele teve que aguentar. Alertado pelo som, ele ergue a vista e seu olhar se encontra com o meu. Ele sorri, ou o mais próximo disso, seus olhos azuis parecendo líquidos e intensos ao me fitar.

À medida que caminho em sua direção, luto contra vários impulsos diferentes. Quero abraçá-lo, quero bater nele, quero beijá-lo e chutar seu traseiro depois. 

Mas quando chego à sua frente e vejo sua mão estendida em um pedido humilde, eu a aceito e deixo que ele me puxe para um abraço leve e aliviado. Percebo que, apesar de tudo, Oliver estivera tão preocupado comigo quanto eu estava com ele. 

— Como se sente? - pergunto, me afastando e tomando uma distância segura. Não é simples assim, há milhares de paredes entre nós novamente.

— Bem. - ele estufa o peito como sempre faz quando quer parecer ótimo. Ergo uma sobrancelha incrédula em sua direção. - Eu já estive pior. - ele encolhe os ombros e geme baixinho com o movimento.

— Qual a extensão dos danos? - abraço meu tronco e mudo o peso para o outro pé.

— 2 costelas, uma perna quebrada, um corte profundo na coxa direita, osso da maçã do rosto quebrado, e alguns cortes artisticamente espalhados pelo resto. - zomba de si mesmo. - Além de uma dor de cabeça que está me atormentando. Bom, digamos que eu fui repaginado. - murmura com humor negro e eu fecho os olhos com força. Como ele pode dar tão pouca importância para algo que deixou a si mesmo tão perto da morte, que quase o tirou de mim?— Hey. - ele chama e eu o encaro. - Eu sei que foi horrível, eu estava lá, lembra? - sua mão toca meu braço. - Não estou tentando menosprezar o sofrimento que causei a mim mesmo e a todos os outros envolvidos, só não quero ficar repisando isso. Já estou administrando culpa o suficiente. - suspira.

— Não foi sua cul-... - me freio, eu não estaria sendo sincera se completasse essa frase. Oliver me lança um olhar cansado e resignado. Mordo o lábio, pensando em como deve ser difícil estar na pele dele. - Não foi totalmente sua culpa. - reformulo e ele meneia a cabeça, agradecido pela tentativa. - E como Diggle está? - mudo de assunto. 

— Todos nós estamos ainda assimilando tudo que aconteceu hoje. Ele só está assimilando uma coisa a mais. - Oliver ri baixinho. - A pequena é adorável. É bom ter algo positivo para lembrar desse dia. - comenta. 

— Ele já sabe sobre Helena? - questiono e o olhar de Oliver fica nublado de tristeza, seus ombros parecendo mais caídos. 

— Eu já contei a ele. - diz. - Vamos cuidar dela. - suspira. - Sabe? Sem a Argus, Helena... - ele engasga. - Helena não tem ninguém. - conclui. - Não tem família. Não tem amigos. E tem uma lista infindável de inimigos. - sua voz treme.

— Ela tem a nós. - retruco e ele me olha com admiração. 

— Sempre vou me surpreender com quão grande é o seu coração. - murmura. 

— Digamos que eu deva algumas à Helena e mais outras à Caçadora. - meneia a cabeça. 

— Posso dizer o mesmo. - ele concorda. 

— E além do mais, ela é uma boa pessoa, por baixo de toda aquela escuridão. Eu vejo isso.

— Eu também vejo. As vezes me pergunto se a própria Helena é capaz de ver isso. - estala a língua e vemos Diggle sair do quarto onde estavam a noiva e a filha, assim como Sara, Tommy e Thea. Ele fecha a porta devagar para não chamar a atenção dos outros sobre sua saída. 

— Ela já está a caminho do hospital? - Dig pergunta e eu suspiro, tirando o tablet da bolsa e checando o GPS. 

— Ela está chegando agora mesmo. - alerto, colocando o tablet na bolsa novamente. - Vamos para a entrada da Emergência. - chamo e os dois me acompanham, Oliver mais devagar por causa das muletas. Noto isso e me forço a caminhar mais devagar para acompanhá-lo, sustentando seu lado esquerdo com meus braços. 

— Não precisa...

— Eu quero. - murmuro e ele me observa.

— Ainda está chateada comigo, não tem que ficar próxima de mim. - ele observa. - Eu estou bem. - repete.

— Número um: sim, eu estou chateada como o inferno com você e ainda vamos conversar sobre isso. Número dois: eu estar chateada com você não faz com que eu deixe de me preocupar com seu bem estar. - suspiro e ele apenas me observa, enquanto caminhamos juntos. - E por fim, número 3: Você não está bem. Você não está nada bem. Se tem uma coisa que você não está, essa coisa é bem. Você está péssimo. - afirmo e ele sorri de leve.

— Você é adorável quando está indignada. - murmura e eu o encaro incrédula. - Foi mal, não pude evitar. - encolhe os ombros. 

Me preparo para responder quando vemos a ambulância parar na entrada e vários paramédicos passarem apressados carregando uma maca em direção a ala operatória. Arfo e aperto o braço de Oliver, Diggle levando as duas mãos à cabeça, todos nós chocados demais com a visão da pessoa que estava sendo carregada. Vemos Ray todo sujo de sangue e com uma expressão desolada quando as portas se batem e alguém o impede de acompanhá-la.

Um único pensamento ronda minha cabeça. 

Ela não estava morta, mas estava próxima demais disso...— engulo em seco ao rebobinar a imagem da mulher ensanguentada e pálida, com a máscara de oxigênio sobre o rosto sujo. - Deus! Não a deixe morrer. 

                 ~♡~

Sento num banco um pouco afastado dos outros e apoio os cotovelos nos joelhos, pondo a cabeça dolorida entre as mãos. Já fazia três horas que aguardávamos notícias e eu já tinha quase aberto furos no chão do hospital de tanto perambular para lá e para cá roendo as unhas. 

Oliver e Ray estavam sentados juntos num banco do lado oposto e distante do meu por alguns metros. Como se o dia não tivesse como ser mais surreal. Levanto o rosto e vejo os dois conversando baixo. Não fazia idéia do que falavam, mas estava agradecida por estarem sendo simpáticos um com o outro, o que já era um grande avanço. 

Escuto passos e vejo Diggle se aproximando, vindo do quarto onde sua filha, a pequena Sara (em homenagem à minha amiga, que nem em um milhão de anos eu entenderia como foi capaz de realizar um parto uma vez que vomitava toda vez que tentávamos assistir Grey's Anatomy) iria passar a noite com a mãe. Thea já tinha aparecido e conversado um pouco comigo, mas eu não estava muito comunicativa e ela entendeu isso, indo para casa logo depois. O mesmo aconteceu com Sara e Tommy.

— Posso? - John aponta o espaço vazio ao meu lado e eu assinto depois de pensar por um momento. 

— Não estou sendo uma boa companhia no momento. - adianto e ele dá um sorriso cansado.

— Foi um dia difícil. - concorda, coçando o queixo. 

— No mínimo. - concordo. 

— Quer falar sobre isso? - ele se inclina sobre os cotovelos e apóia o queixo nas mãos. 

— O que tem pra falar? - dou de ombros.

— Como estão as coisas agora que resgatamos Oliver? Como vocês estão? - ele questiona. Diggle, Helena e Oliver eram os únicos que sabiam o quão frágeis as coisas estavam entre nós. Eu não quero falar com Oliver agora. Helena está em cima de uma mesa de cirurgia. Que mal faria falar com Dig? 

— Não sei. Não faço idéia do que fazer com ele. - admito e ele balança a cabeça positivamente. - Em meu relacionamento com Oliver, o maior pilar sempre foi a confiança. Eu confiei nele desde o dia em que nos conhecemos. - suspiro. - Mas ele não pôde fazer o mesmo por mim. E agora não sei se ainda posso continuar confiando nele.

— Não acho que Oliver tenha aberto seu arquivo porque não confie em você. - Diggle murmura, pensativo. 

— E por que?

— Sabe, Felicity, eu venho trabalhando com Oliver há muito tempo. E trabalho com a Argus há mais tempo ainda. Mesmo depois que saí da agência, estou noivo da vice-presidente dela. - ele explica. - E vou lhe dizer o que acontece. - suspira. - Entenda que não estou tentando bancar o advogado do Diabo aqui. Apenas quero que veja as coisas pelos dois lados da situação antes de tomar qualquer decisão sobre vocês dois.

— Tudo bem. - respiro fundo.

— A Argus trabalha em cima da escuridão e do ódio existentes em seus agentes. É isso o que os faz tão eficientes. - suspira. - E, apenas quando você já está muito tempo lá dentro, você se dá conta disso. Às vezes, como no caso da Caçadora, quando a pessoa finalmente se dá conta, é quase tarde demais.

— Não entendo. Do que você está falando? - franzo a testa.

Diggle suspira.

— Lembre a Helena Bertinelli todas as barbaridades que teve de conviver desde a infância, crescendo em meio a máfia, e da forma como seu pai, seu próprio pai, fuzilou o noivo dela na sua frente. - fala em tom incisivo e meu coração acelera. - Lembre ao John Diggle sobre o homem que matou seu único irmão a sangue frio por dinheiro e deixou a esposa e filho pequeno desse irmão sozinhos no mundo. - seu tom sai mais contido e eu toco sua mão, num gesto de consolo. - Conte a Oliver Queen que o mesmo homem que matou seu pai, aterrorizou sua mãe, deixou seu melhor amigo órfão e o manteve um ano no inferno da ilha, também foi o responsável por quebrar a mulher que ele ama. - conclui e sinto meu peito afundar ao finalmente compreender. - Oliver não leu seu arquivo porque não confia em você. Amanda jogou com ele. Ela percebeu que ele já não tinha mais ódio o suficiente dentro de si para arriscar tudo nessa missão, assim ela não conseguiria seu objetivo. Então ela lhe deu isso. Mais um motivo para odiar. Um motivo tão forte que o deixaria cego para todo o resto.

— Eu. - sussurro e Diggle assente. 

— Oliver não confia em muitas pessoas e mesmo aquelas em quem confia nem sempre sabem tudo sobre ele, isso é verdade. Mas você é uma das maiores exceções que ele já fez. Ele está tentando deixar você entrar. - Diggle suspira. - Apenas que esteve muito tempo guardando tudo para si mesmo, se virando sozinho. - dá um sorriso pequeno e eu movo meus olhos em busca de Oliver, que alisa a beirada esfarrapada de sua calça, perdido em pensamentos. Como se estivesse sentindo que é observado ele ergue os olhos e me fita. Passamos um longo momento apenas olhando um para o outro em silêncio e então ele pisca um olho para mim, numa tentativa de amenizar o clima, me fazendo dar um sorriso pequeno em sua direção. 

Esse é o pai do meu filho. Um homem que foi quebrado diversas vezes e que teve de aprender a juntar os cacos sozinho. Que apesar de toda a escuridão em volta de sua vida ainda acredita e procura a luz. Um homem que morreria para proteger aqueles que ama. A pessoa que eu sei que vai estar lá por mim mesmo que eu não peça. Porque é exatamente o que eu faria por ele.

— Ele ainda precisa melhorar, mas você é a única pessoa pela qual ele se esforçaria para isso. - Diggle conclui e eu assinto. 

Não estava pronta para perdoar tudo, mas eu quero. Apesar de tudo, eu compreendo. E não posso dizer que não justifica as escolhas que ele tomou.

— Obrigada. - olho para John e ele assente. 

Antes que algum de nós possa falar mais alguma coisa vemos um médico se aproximar, tirando a máscara do rosto. Todos nós levantamos, até mesmo Oliver, apesar da dificuldade que isso envolvia.

O homem corre seus olhos pelo estranho grupo que fazemos e então pergunta:

— Familiares de Helena Bertinelli? 

— Somos nós. - digo e ele ergue uma sobrancelha, duvidoso. - Irmã caçula. - afirmo na maior cara dura.

— Irmão mais velho. - Oliver se manifesta, limpando a garganta.

— Padrasto. - Diggle cruza os braços.

— Noivo. - todos nós nos viramos na direção de Ray quando ouvimos isso, saindo por um momento do disfarce e então ele fica absurdamente vermelho. Nos recompomos enquanto ele balbucia. - Íamos contar essa semana.

— Ah. - Diggle diz, tentando salvar a situação, e todos nós retomamos a postura.

O médico suspira, convencido.

— A senhorita Bertinelli passou por alguns procedimentos complicados, para dizer o mínimo. - informa e eu agarro o braço de John. - Durante a cirurgia houveram duas paradas cardíacas e quase a perdemos. Seu pulmão ficou um pouco comprometido e ela perdeu muito sangue. Mas sobreviveu. - diz por fim e nós respiramos aliviados. - No entanto, o mais grave foi a batida na cabeça. A senhorita Bertinelli sofreu uma concussão gravíssima e o inchaço no cérebro é preocupante. - ele suspira novamente. 

— O que isso quer dizer? - Oliver questiona e nós encaramos o doutor, ansiosos.

— Não sabemos ao certo a extensão dos danos porque... Bem, ela entrou em coma. - explica e eu sinto o ar engasgar em minha traquéia, Oliver travando o maxilar e Diggle e Ray passando mãos nervosas pelo rosto.

— Ela vai acordar... Não vai? - minha voz sai trêmula. 

— Não tenho como saber, infelizmente. - o médico franze os lábios. - No caso de ela acordar, ainda teremos de descobrir quais as sequelas que com certeza virão. - fala e então pausa. - Aquela garota é uma guerreira. Houve mais de um momento durante a operação em que eu pensei que não resistiria, mas seu corpo continuou lutando. Não acho que ela vai desistir agora. - diz em tom de consolo. - Mesmo assim, sugiro que se preparem para o pior. - admite. - Ela pode acordar amanhã, mês que vem, daqui um ano ou dois... Ou nunca. Não há garantias. - conclui.

— Obrigada pela informação, doutor. - Diggle murmura. - Quando poderemos vê-la?

— Em breve. Quando ela for transferida para um quarto vou mandar buscá-los. - diz, solícito, se afastando.

Quando ele sai, todos nós desabamos, olhando uns para os outros desolados.

— Que bela escolha de noiva eu fui fazer. - Ray murmura e nós o encaramos. - Não estamos noivos. Vocês sabem disso. - revira os olhos. - Foi só uma colocação aleatória. Pelo que eu disse, sabe? Para o médico. - se enrola e Oliver dá um riso fraco.

— Ser noivo de Helena Bertinelli é uma aventura. - Oliver aperta seu ombro. - Boa sorte com isso.

— Você sabe que eu não estou mesmo noivo dela não é? - Ray estreita os olhos, nervoso.

— Sim. - Oliver ri fraco. - Mas é exatamente o tipo de homem que ela precisa. - aperta os lábios e Ray suspira, se sentando.

Vejo meu namorado caminhar até mim em silêncio e só então percebo que estou com lágrimas escorrendo. Doía pensar que a mulher mais cheia de vida que eu conhecera podia nunca mais abrir os olhos. Eu mal tivera tempo de realmente conhecer mais sobre ela, mas havia me apegado. Ela sabia sobre o bebê. Era a única que sabia sobre ele e havia sido nada mais do que absolutamente compreensiva e apoiadora. Ela não merecia morrer assim.

— Hey. - fito os olhos tristes de Oliver e ele seca minhas lágrimas com o dorso de sua mão. - Ela vai ficar bem. - murmura. - Ela sempre acha um jeito de ficar. 

— Como sabe? - fungo, aceitando seu abraço.

— Estamos falando de Helena. - ele responde como se isso fosse explicação para tudo.

Rio triste contra seu peito.

— Ela disse o mesmo sobre você quando fomos resgatá-lo. Que sabia que você ficaria bem porque estávamos falando de Oliver Queen. - recordo e ele ri pelo nariz sobre meus cabelos.

— E eu estou aqui não estou? - diz baixinho.

— Promete que nunca mais vai me fazer passar por isso? - soluço e ele aperta mais meu corpo contra si. - Primeiro você e depois Helena. Eu não posso suportar mais o medo de perder alguém dessa forma. - murmuro e minha voz sai abafada pelo tecido da camisa.

— Vamos fazer isso juntos? Consertar isso? - ele murmura contra meus cabelos e sua voz soa insegura. 

— Eu já perdi demais para a vida. Não vou perder você. Não vou perder o que temos. Não posso. - devolvo.

— Vamos fazer juntos então. - ele beija minha testa e eu suspiro. 

Amanda não ia fazer seu jogo de ódio conosco. Ela não ia tirar o que conquistamos. Eu não permito. 

Just give it one more try

With a Lullaby

And turn this up on the radio

If you can hear me now

I'm reaching out

To let you know that you're not alone

And if you can't tell

I'm scared as hell

Cause I can't get you on the telephone

So just close your eyes

Oh, honey here comes a lullaby

Your very own lullaby

— Lullaby (Nickelback)

 


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Notas finais do capítulo

Teremos mais um capítulo antes do epílogo. Me deixem saber o que acharam de tudo isso aqui.
Qual será o futuro de Helena? De OliCity? E quando é que a Felicity finalmente vai desembuchar com o Oliver sobre esse bebê feijaozinho e secreto? Comentem! Opinem! Favoritem! Recomendem!
Xero ♥