Felicity Smoak

Acabei de constatar duas coisas.

Coisa número 1: Eu vou morrer antes dos 25 anos.

Coisa número 2: Minha futura assassina é a minha melhor amiga, que me olha como se fosse cuspir adagas em minha direção quando Barry bate na porta, avisando que o almoço já vai ser servido.

— O.k. Você não pode se esconder aqui pra sempre, Sara. - digo, parando à sua frente e impedindo que ela comece sua milésima caminhada pelo quarto - Está na hora de seguir um de seus conselhos e encarar essa!

— Felicity, você não faz ideia de pelo quê estou passando - ela põe a mão na testa - Tem um playboy bilionário me seguindo!

— Helloooow! - estalo os dedos em sua cara - Se esqueceu do porquê de estarmos aqui? É justamente porque tem um playboy bilionário me seguindo, Sara! Então, bem-vinda ao clube e curta o espetáculo.

— Mas você não o beijou! - ela argumenta.

Me pego pensando no que poderia ter acontecido caso Oliver tivesse aceitado meu convite e entrado. Sinto meu rosto esquentar.

— Meu Deus! - Sara grita - Você o beijou! - aponta meu rosto, sorrindo.

— O quê?! - exclamo, horrorizada - Claro que não! - jogo um travesseiro nela. - Não consigo entender por que não quer o Tommy mas ainda assim me empurra para Oliver. - bufo.

— Porque está na cara que ele está caidinho por você...- ela revira os olhos.

— E um cara que, depois de 3 meses e um único beijo, dirigiu até aqui para te ver, não está caidinho por você? - arqueio a sobrancelha, irônica.

— É diferente - ela bufa - Tommy apenas está com o orgulho ferido porque o rejeitei.

— E quem te garante que esse também não é o caso de Oliver?- provoco.

— Felicity...- ela estreita os olhos - Por que será que estou sentindo que está se divertindo ao me ver no mesmo barco que você?

— O-O quê? C-Claro que não! - ponho a mão no peito com minha melhor cara de inocência. O que posso fazer se a vida manda tão bem com ironias? — sorrio internamente.

Vejo Sara me fuzilar com o olhar e percebo que não foi tão internamente assim.

— Felicity...- ela rosna e quase posso visualizar suas mãos em meu pescoço me esganando lentamente.

— Sara! - corto, irritada - Por favor, deixe de ser hipócrita! Se acha que Oliver é um cara legal e um bom partido, assuma que Tommy também possa ser, afinal, os dois são farinha do mesmo saco. - concluo, impaciente.

— Mas...

— Sem mas! Proponho uma troca - falo, desesperada para que ela pare com o drama.

— Que tipo de troca?

— Eu serei gentil com Oliver e o deixarei se aproximar se você fizer o mesmo com Tommy - ela abre a boca para protestar - Sem nada romântico envolvido! Seremos amigos. Eu e Oliver, Tommy e você. Já disse que não quero um namorado então não exigirei isso de você - acrescento, rapidamente - Vamos lá, "você poderia gostar dele se tentasse" - faço aspas e ela revira os olhos com minha péssima imitação de sua voz.

— Não acredito que está usando minhas próprias palavras contra mim...

— Topa?

Ela pensa um pouco.

— Topo. Quem tá na chuva é pra se molhar, mesmo! - se rende.

Eu sei que não fui muito honesta com essa troca. Eu e Oliver já estamos nos dando relativamente bem, mas Sara não precisa saber disso. E, ao ver os olhares que ela troca com Tommy ao se reencontrarem e durante todo o almoço que estava uma delícia, aliás, percebo que vou ter de tirá-lo da minha lista de 3 com certeza. Das duas uma: Ou esses dois vão terminar em pegação, ou esses dois vão terminar em pegação! O frisson entre eles é palpável e, apesar de saber que vão passar um bom tempo entre tapas e beijos, vão acabar ficando juntos. De onde eu tirei todo esse conhecimento amoroso? Muitas maratonas de comédia romântica!

A irmã de Oliver, Thea, é simplesmente maravilhosa! Nos conhecemos há mais ou menos 1 hora e meia, mas já nos adoramos mutuamente. Seu namorado, Roy, ao contrário do que eu pensava, não faz parte da elite, mas é dos Glades assim como eu, Sara e Barry, só que de uma parte ainda mais pobre! Eles se conheceram quando ele foi contratado para trabalhar como barman na boate de Oliver, fato que Oliver parece se arrepender amargamente. Pelo visto, o Queen mais velho não é o único que gosta de se misturar com a plebe. Aliás, me diverti bastante ao ver Oliver bancando o irmão mais velho ciumento, junto com Tommy - ainda não entendi essa parte direito, mas tudo bem. E me diverti mais ainda ao ver Thea não dar a mínima para eles e provocá-los juntamente com Roy, que parece adorar a petulância da namorada, apesar de temer o cunhado.

Então, antes que Oliver assassine o pobre rapaz, Tommy sugere que comecemos logo o ensaio e as entrevistas.

Acaba que achamos a galinha dos ovos de ouro, pois logo estamos maquiando, entrevistando e fotografando Oliver, Tommy e Thea, o que vai nos render matéria pra 1 mês!

Tudo sai às mil maravilhas, pois os 3 são extremamente divertidos e fotogênicos e facilitaram nosso trabalho grandemente.

Depois de terminarmos, vou até a cozinha beber água. Uma empregada, vinda do Além, aparece do nada e me serve, sumindo com a mesma rapidez que apareceu. Depois de desistir de encontrar as entradas secretas que esses empregados usam, bebo minha água e coloco o copo no balcão, me encostando no mesmo para olhar as fotos.

Chego em uma que Oliver está sentado no sofá com o calcanhar direito sobre o joelho esquerdo, coçando a nuca e olhando para baixo enquanto sorri envergonhado por estar sendo clicado incessantemente por mim.

— Como alguém pode ser tão bonito assim? - murmuro comigo mesma, olhando para a câmera.

— Eu pergunto a mesma coisa todos os dias ao espelho - ouço a voz rouca dele atrás de mim e me viro num pulo, completamente vermelha.

— O-O quê? C-Como...Q-Quando você chegou? - pergunto, gaguejando desenfreadamente, desejando que um buraco se abra sob meus pés.

— Ainda há pouco - ele dá de ombros, se aproximando mais se mim. Oh, não! Isso não é bom, nada bom! — Você estava tão distraída que não me viu chegar - ele sorri e abaixo minha cabeça, corando até a raiz dos cabelos. Ele me encurrala contra o balcão, pondo uma mão em um dos meus lados e eu engulo em seco quando ele ergue meu rosto com a outra mão em meu queixo - Não sei se já disse isso, mas você fica linda quando está corada.

— Não, não disse - minha língua é mais rápida que meu cérebro e a mordo enquanto ele ri baixo.

— Pois agora estou dizendo - ele dá um sorriso de canto e eu suspiro à medida que ele desliza o indicador pela linha do meu maxilar, sua respiração se acelerando junto com a minha. Simplesmente não consigo me mover enquanto ele se aproxima, seu cheiro está em todos os lugares, me atordoando. Contra todos os meus princípios e minha consciência, eu desejo sua boca contra a minha. Ele umedece os lábios com a língua, parecendo indeciso.

— Felicity...- meu nome sai como uma súplica, seu rosto a centímetros do meu, seu hálito me queimando.

— Ollie? - a voz estridente de Thea nos interrompe e Oliver bufa, frustrado, encostando a testa em meu ombro enquanto eu fecho os olhos, escutando os passos dela se aproximando - Tommy mandou perguntar se...- ela chega e nos observa, sua voz morrendo aos poucos - podíamos...nadar - Oliver se afasta e para uns dois passos distante de mim, que continuo estática e rubra. A feição dele não está das melhores. - Oh, droga! - Thea vagueia os olhos entre mim e ele, nervosa - Meu timming é um desastre! - ela fecha os olhos, culpada - Eu interrompi alguma coisa, não foi? - ela abre os olhos e nos encara.

— Não! - eu digo, ao mesmo tempo em que Oliver diz "Sim" e ele revira os olhos - Não  interrompeu absolutamente nada, Thea! Nadinha! Nada meeeesmo... - lhe dou um sorriso nervoso.

— Acho que já entendi, Fe... - ela sorri.

— Peraí, ela pode te chamar de "Fe" e eu não? - Oliver cobra, se fazendo de ofendido.

— Exatamente! Que bom que entendeu, Oliver... - sentencio e subo as escadas para meu quarto correndo.

Eu estou tão ferrada! — penso, me jogando na cama macia.

Mas, como minha vida parece uma purgação interminável de pecados, meus e do mundo, ouço um trovão ensurdecedor do lado de fora. Em questão de minutos, uma chuva torrencial começa a cair sobre o teto.

Desço as escadas e ouço todos discutindo sobre o que fazer em frente à TV ligada, na sala.

Eu, Sara, Barry e Diggle queremos voltar para Starling com chuva e tudo. Barry por Caitlin, que a essa hora já deve estar se roendo de preocupação já que, devido à chuva, o sinal caiu e estamos ilhados virtualmente. Diggle por Layla, que está grávida de 7 meses. Eu e Sara, bem...sem comentários, né?

Já Oliver, Tommy, Thea e Roy querem passar a noite na fazenda. Oliver e Tommy por motivos óbvios. Thea e Roy...motivos óbvios também.

Ou seja, estamos empatados. Até que a televisão nos desempata. Nos viramos ao mesmo tempo para a tela ao ouvirmos a notícia de que a ponte na estrada que leva para Starling foi interditada por causa da tempestade, já que se tornou escorregadia e a força do vento pode ocasionar acidentes em cima da mesma.

— Acho que agora está decidido - Oliver levanta uma sobrancelha - Vamos ficar.

Essa noite vai ser um desastre! — penso, enquanto eu, Sara, Diggle e Barry sentamos no sofá, rendidos e Thea dá pulinhos animados e diz que vai arranjar pijamas para mim e Sara. A garota trouxe um guarda-roupas!

Motivos para crer que essa noite será uma tortura:

Primeiro, Oliver e eu debaixo do mesmo teto não vai dar no que preste.

Segundo, embora eu tenha dito a Oliver que sou fascinada por tempestades, eu me referia às que acontecem durante o dia, por causa da linda mistura entre os tons de branco, cinza e azul, como a cor dos olhos dele...Mas minha reação à tempestades noturnas é justamente o inverso. Elas trazem à tona partes de mim, lembranças minhas e medos meus que eu tento sufocar há muito tempo e dos quais não me orgulho. Ao olhar para Sara e Barry, que me encaram preocupados, percebo que não sou a única que teme que isso aconteça.