— Sério. Qual o problema com o Ray? - ele quer saber.

Felicity Smoak

— Como assim? - questiono, confusa com a pergunta dele.

— O que falta nele? - ele explica.

— Não tem problema nenhum! - afirmo, de imediato - Ele é bonito, inteligente, bem sucedido, engraçado - Oliver torna a se remexer no banco novamente e começo a me divertir em provocar isso nele - É um ótimo amigo, compreensivo, carinhoso...sedutor... - falo e, como esperado, ele não consegue se conter.

— Sedutor?! Vocês já...?

Tsc. Tsc. Tsc. Nada sutil, Queen... - sorrio mentalmente e, dessa vez, meu pensamento não escapa pela boca.

— Não! Mas sou amiga dele por tempo suficiente para perceber que as mulheres não são tão resistentes com ele por perto.

— Só você - ele me encara e vejo a interrogação em seu olhar. Ele quer que eu confirme.

— Eu não gosto dele desse jeito - afirmo, sem saber direito porque estou dando explicações a Oliver.

— Mas como? O cara parece ser um verdadeiro Dom Juan!

— Pra maioria das mulheres. Na realidade, minha mãe é louca para que eu dê uma chance a ele - Oliver se remexe de novo - Mas não rolou sabe? Aquela química? Nunca senti...Não há faíscas entre nós.

Oliver parece aliviado (?).

— Sei. Mas ele parece ser bem persistente.

— Ele gosta mesmo de mim. E não é só no sentido romântico, não! Acima de tudo, Ray é um grande amigo.

— Sei - ele repete.

— Além do mais, no momento eu não quero e não preciso de um namorado, só isso! - acrescento.

— Você já disse isso antes... - ele fala, com cuidado - Pelo visto, tem alguma página que você ainda não virou...

Engulo em seco, sentindo o frio agarrar minhas entranhas lentamente enquanto flashs cruzam minha mente freneticamente. Como mais chocolate, numa tentativa de me manter calma. Vamos lá, não seja fraca! Já tem mais de um ano que você não entra em crise...— encorajo a mim mesma.

— Vamos dizer simplesmente que meu último relacionamento não foi exatamente saudável e feliz...- falo num só fôlego - Não quero falar sobre isso, por favor - imploro, sentindo meus olhos começarem a arder.

— O.k. - Oliver assente e sorri tranquilizadoramente, pegando minha mão livre e a pondo delicadamente entre as suas, acariciando a palma com o polegar, seus olhos de uma ternura tão grande que quase me leva às lágrimas - Não vou invadir sua privacidade. E convenhamos que meu histórico romântico também não é dos melhores...- acrescenta, amargo.

E aí que eu tenho a sensação de saber de alguma coisa que eu não sei que sei. Estranho, eu sei. Mas vindo de mim...

— Você...- começo, e acho que ele percebe minha confusão.

— Antigamente, assim como você, não gostava e nem queria falar sobre isso. Mas hoje, eu finalmente tive a sensação de que esse capítulo da minha vida encerrou, então acho que posso te contar...

— Contar o quê? Se não quiser...

— Eu quero! - ele suspira profundamente e aumenta o aperto entre nossas mãos, me encarando com intensidade, tornando impossível que eu desvie meu olhar da sua tormenta azul. - Há dois anos, eu estava em um relacionamento firme com Helena Bertinelli...

— Sei quem é...- comento, me lembrando com clareza da bela mulher, branca de cabelos lisos, pretos e olhos azuis. Sem ofensas, mas mesmo conhecendo seu rosto apenas pela TV, aquela mulher me dava arrepios, sua aparência era extremamente fria e calculista, até para mim, que não a conhecia pessoalmente. Na verdade, sempre a achei sonsa...Prontofalei! Opa, pensei, né? Mas, até que ela fazia bem o tipo de Oliver, com seu corpo e porte de modelo, fora a família podre de rica...

— Pois é. - Oliver continua - Acho que, no fundo, sempre desconfiei, só não queria enxergar. Helena foi a pessoa a quem mais me entreguei, sabe? Eu não tinha um relacionamento muito próximo com meu pai, não me sentia parte desse mundo e ela...parecia realmente me entender, compreende? Eu confiava demais nela para dar ouvidos aos boatos, sentia que estávamos acima dessa baboseira toda...Por Deus! Eu a pedi em casamento! - ele bagunça os cabelos, parecendo extremamente irritado consigo mesmo por algo que não compreendo. Outra coisa que não compreendo, aliás, é porquê estou me sentindo enojada ao vê-lo falando de seu relacionamento com ela, ou da intensidade de seus sentimentos... - Todo mundo sabia, todo mundo comentava e só eu que ficava de besta na situação. Achava que era só fofoca, boatos, intriga da oposição, como todos nós que somos muito conhecidos passamos...

— Mas o que...? - estou cada vez mais confusa.

— Ela e meu primo mais velho, Mark, sempre foram muito amigos...

Eu. Não. Acredito!

— Então, eu nunca dei muito ibope para o falatório - Oliver continua, ignorando minha cara de descrença - Mesmo quando o que mais tinha era manchete: "O pior cego é aquele que não quer ver" e coisas do gênero...Hoje eu fico besta com o quanto me permitir cegar por meus sentimentos! Eu confiava tão cegamente nela que...- ele suspira de olhos fechados - Que achava que o que tínhamos também era o suficiente para ela. Achei que se desse mais de mim, se mostrasse o quanto podia fazê-la feliz, se amasse por nós dois seria o suficiente para mantê-la ao meu lado...

— Não me diga que ela tava mesmo...

— Eu adoraria poder te dizer o contrário, mas...- ele faz que sim com a cabeça e eu arfo. Que tipo de imbecil completa trai Oliver Queen?

— Ela estava. E o bobo da corte aqui só caiu na real depois que vazou um vídeo deles dois se pegando dentro do meu carro! Meu carro, pô! - seus olhos desviam de mim, furiosos.

— Oliver, eu...- tento falar alguma coisa, mas ele parece perdido em meio ao próprio desabafo.

— Sabe o melhor? Depois da descoberta, o que não faltou foi matérias do tipo: "E a ficha cai", "Glorioso Queen é passado para trás" e assim por diante. Quer dizer, não basta ser traído pela noiva, depois de 3 anos de relacionamento, com o próprio primo, tem que ser tachado de corno em rede nacional! Eu não simplesmente levei um chifre por quase 1 ano, como tudo aconteceu debaixo do meu nariz e quem furou meu olho foi meu primo! Cadê a consideração? E ela? Deus, eu dei tudo de mim à ela e ela dividia seu precioso tempo e corpo com nós dois, sem um pingo de remorso! - seus belos olhos azuis estão banhados de uma sobra magoada.

 Neste momento, tudo que minha mente processa é:

Vaca! Vaca! Vaca! Vaca!

— Mas que vaca! - Ops, escapou!

— Me conte algo que eu já não tenha descoberto...- ele bufa - Sério que você não leu nada a respeito? - pergunta, incrédulo.

E é então que eu percebo que já conhecia essa história vagamente, só não sabia que o corno em questão era Oliver Queen. Até porque, se formos parar pra pensar racionalmente, nem mesmo deveria existir uma mulher estúpida o suficiente pra trair Oliver Queen, né?

— Por incrível que pareça, lembro muito vagamente de uma manchete falando sobre o noivado rompido de Helena Bertinelli, após uma traição por parte da mesma. MAs não sabia que o noivo era você, nem que o cara era seu primo. Se já tinha uma imagem ruim dela, agora é oficial.

— Ela teve o que mereceu. No fim das contas, meu primo a trocou, pouco depois do nosso rompimento e eu devolvi cada pequena coisinha que tinha relação com ela...só não devolvi minha dignidade que eu perdi enquanto estávamos juntos, né? - ele sorri, sem humor - O resultado é que, na verdade, todos seguiram em frente e eu fiquei para trás...nisso eles venceram! Eles tem suas pessoas, eu não.

— Você nunca mais namorou ninguém? - pasmo.

— Não. E, os já mencionados tabloides devem dar uma ideia do que minha vida afetiva se tornou depois dela...Várias mulheres sem rosto e sem nome, que tive por uma noite e nada mais, festas, boates e, ao mesmo tempo, o cara viciado em trabalho...realmente não me orgulho disso, se quer saber - ele balança a cabeça e, pela primeira vez, parece envergonhado.

— Meio que você ligou o coração no botão "Mulher é tudo vaca!" - afirmo, tentando amenizar a tensão dele, que sorri do meu comentário.

— Eu não colocaria nessas palavras, mas acho que é algo desse tipo...

Sorrio e termino a barra de chocolate.

— Pra ser sincero - ele continua e me encara - eu nunca mais tinha sentido vontade de realmente conhecer uma mulher até o momento em que nos esbarramos hoje de manhã.

— Oliver, eu...- começo a ficar nervosa.

— Só conhecer! Calma, Felicity! Eu disse conhecer. O.k?

Respiro fundo e sorrio. Que mal há nisso, afinal?— penso.

— O.k. - eu o encaro, docemente, sabendo lá no fundo que estou apenas mentindo para mim mesma.