Diário de Josh escrita por Eu-Pamy


Capítulo 3
Mamãe no volante, perigo constante!




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Querido diário, hoje meu dia não foi muito bom, o que é estranho, porque eu deveria estar feliz por não ter tido aula, mas fiquei exatamente o contrário, talvez por estar tão impressionado pela cena que eu vi hoje mais cedo.

Mas deixa eu explicar direito:

Pela manhã, acordei no mesmo horário de sempre, seis e meia, tomei um banho quente rápido, vesti a roupa do uniforme, fiz minha higiene pessoal, depois sai do quarto e desci as escadas para a cozinha, ainda com sono e me esforçando a cada passo lento, meu corpo pesando uma tonelada àquela altura. Cumprimentei minha mãe – que já estava bem desperta no meio da cozinha, vestida socialmente, tocando com um garfo a torradeira, como se fosse um bicho perigoso. Há muito tempo deixei de me questionar sobre a enorme disposição desta mulher, e finalmente aceitei a teoria de que ela não é uma pessoa de verdade e sim um androide vindo do futuro para colher informações sobre a atual civilização. Ok, eu posso ser um pouco imaginativo ao acordar, mas é por que ainda não deixei de sonhar completamente. 

Depois que minha mãe me viu, tive que vê-la reclamar do péssimo filho que eu era, vir na minha direção, melar minha bochecha com um beijo desnecessariamente demorado, depois apertá-las com as duas mãos enquanto murmurava com a voz mais irritante do mundo: “Meu bebezinho, zinho, zinho. Tá com fome bebê? Mamãe fez bolo de fubá ontem, quer um pedacinho?” Para a minha mãe comprar um bolo pronto da padaria equivalia a mesma coisa de fazer um.      

Sentei a mesa com um carranca cansada, largado, apoiando meu queixo no punho da minha mão, o cotovelo na mesa. Meus cabelos ainda estavam bagunçados e eu me negava a arruma-los, tamanha minha preguiça naquele momento. Não era como se alguém na escola fosse se importar com o estado do meu penteado. Minha mãe me encarou com o canto dos olhos por um segundo, uma ruga de indignação na testa, depois se aproximou como quem não quer nada e simplesmente avançou o garfo quente por causa da torradeira no meu braço.     

“Ai! Porque fez isso?” Perguntei choroso, massageando o local dolorido.

Ela não mudou a expressão.

“Humpf... Bem feito. Quantas vezes eu já não te disse para não colocar os cotovelos sobre a mesa? Só menino ogro faz isso.”

Menino ogro... Só minha mãe para ter essas expressões.    

Dando-me por vencido, não retruquei, falando ao invés disso: “Aceito um pedaço de bolo, sim. Obrigado”.

Com um sorriso no rosto, ela foi me servir.

“Ótimo, é bom que coma mesmo. Você está muito magro, até parece o esqueleto de um gafanhoto anêmico”.

Sabe, às vezes eu me pergunto por que não tenho uma boa autoestima, e é nessa horas que eu lembro da minha adorável mãe.

“Quer leite também?” Ela me questionou com o olhar afiado, uma das sobrancelhas erguida, me entregando o prato com o pedaço generoso de bolo.

“Não...”

“E vai comer bolo puro?" Levantou as duas sobrancelhas desta vez "Assim vai se engasgar!”

“Está bem, eu aceito”

Feliz com a minha resposta, ela caminhou até a geladeira a procura do leite. Colocou um pouco num copo, depois o chocolate, mexeu e me entregou. Em seguida, se sentou numa cadeira e ficou me encarando por alguns segundos, quase sem piscar, até que eu ficasse constrangido demais com o seu olhar e puxasse conversa.

“Então... Vai ficar aí só me olhando?”

Minha mãe deu de ombros.

“Você sabe que eu acordo cedo, e como você demorou para acordar resolvi tomar meu Shake de vitamina logo de uma vez, sozinha.”

“É que eu não ouvi o celular tocar na primeira vez” Me expliquei, omitindo a parte de que eu havia desligado o primeiro alarme há algumas semanas.

Mais alguns segundos se passaram, e eu já estavam começando a ficar incomodado com a intensidade daquele olhar sobre cada garfada que eu dava, quando as torradas ficaram prontas e minha mãe foi ver. Dei a última garfada no bolo e então do nada minha mãe pegou meu prato e o devolveu com duas torradas com geleia.

“Estou cheio...”

“Não, bebê. Você precisa comer! Meninos da sua idade devem ter uma alimentação reforçada. Eu vi isso numa revista. Você sabe que se eu pudesse eu comeria também, mas eu não posso! Estou de dieta, sabe disso! Agora, come sem reclamar porque já estamos atrasados por sua causa.” Tagarelou com seu tom incontrariável.

Com preguiça de arrumar confusão naquela parte da manhã, me obriguei a comer. Quando terminei estava me sentindo tão cheio que quase me ajoelhei para rezar, pedindo aos céus que minha mãe decidisse logo me levar para escola. E mesmo sem o fazer, fui atendido.

“Vai escovar seus dentes, estarei no carro. Andale! Andale maria mole!” Disse batendo palma – como se eu fosse um cachorro – e saindo da cozinha.

Suspirei, soltando o ar dos meus pulmões bem lentamente, depois aspirando da mesma forma por alguns instantes, até que estivesse suficientemente calmo para me levantar, colocar a louça na pia, seguir para o banheiro, escovar os dentes, pegar minha mochila no sofá da sala e depois sair de casa e ir ao encontro da minha mãe no carro – sabe, o carro? Aquela arma mortal que alguns adultos não deveriam poder usar? Então, minha mãe estava dentro de uma, apontando-a diretamente para mim com um sorrisinho diabólico no rosto, que fez meu sangue congelar. Em poucas palavras, minha mãe não é o que chamam de exemplo de bom motorista civilizando. Se nem civilizada minha mãe é, quanto mais boa motorista. Ela xinga os outros motoristas, faz barbeiragem como subir na calçada, parar na faixa de pedestre, não dar sinal quando vai virar, estacionar em duas vagas, atravessar faróis vermelhos e etc., essas coisas que todo iniciante está acostumado a fazer, mas como minha mãe já não está nessa categoria há algumas décadas, a classificaremos como barbeira mesmo, do tipo que fica irritada caso alguém comenta alguma coisa sobre sua falta de jeito na direção e que se diz uma ótima motorista.

O que está longe de ser verdade, até porque se fosse assim ela não teria batido quatro carros e atropelado – de leve, como ela faz questão de enfatizar – uma garotinha que atravessava a faixa de pedestre com seu cachorro. Felizmente, tanto a dona quanto o cachorrinho sobreviveram, mas não se pode dizer que o pobre animal viveu seus melhores dias depois disso.           

Abri a porta do passageiro e entrei, e a primeira coisa que fiz foi colocar o cinto de segurança – quando é minha mãe dirigindo, ninguém esquece de colocar o cinto, como é comum acontecer quando o motorista é outra pessoa. Chama-se instinto de sobrevivência.

Olhei para ela, seus lábios ainda estavam distorcidos naquele sorrisinho torto assustador.

“Qual a graça?” Eu tive que perguntar, o que logo se mostrou um grande erro, o primeiro daquele dia. Com treze anos de convivência, eu já deveria ter aprendido que às vezes a melhor coisa que eu faço é ficar quieto.

“Nada...” Deu a partida “Eu só estava reparando no seu jeito de andar.” Respondeu simplesmente.

Franzi o cenho. E o que raio aquilo queria dizer?

“O que tem o meu jeito de andar? Eu ando normal! Não tem nada demais no meu jeito de andar” Por alguma razão me senti na obrigação de me defender. Entenda, às vezes um homem precisa ser macho e sustentar seu ponto de vista, porque se não as mulheres pisam em você. 

E isso foi meu segundo erro.

“Há! Querido, você anda que nem uma bailarina nas pontas dos pés. O que é? Quer parecer mais alto? Até parece que está de salto.”

Meu queixo quase caiu.

“Eu não ando como uma bailarina!” Respondi indignado. “Eu nunca nem vi uma bailarina andando, mas tenho certeza que é muito diferente do meu jeito de andar!”

Minha mãe riu, manobrou o carro, deu bom dia para a vizinha que levava o lixo para fora – murmurando de forma raivosa para mim que a dona Vilma, essa tal vizinha, era a maior fofoqueira do bairro, e que ela ainda não devolvera a travessa que lhe tinha emprestado há algumas semanas – e saímos avançando com o seu Crossfox 2014 prata pela rua, o clima friozinho típico das manhãs, enquanto o céu começava a ganhar a aparência de dia, com seu tom azul-claro, e branco pelas nuvens, ainda que um pouco cinzento naquela parte da manhã.

“Will, admita, você anda que nem a bailarina que fez o Cisne Negro.” Deu continuidade ao assunto, me olhando por um segundo logo após “Ok, chatinho, se não quer que eu diga isso eu não digo. Não foi para ofender.”

Revirei os olhos.

“Desculpe se eu não consigo ver aonde que eu andar como uma garota de collant e sapatilha poderia ser um elogio. Eu meio que não nasci com esse tipo de percepção” Falei todo sarcástico, cruzando os braços.

Minha mãe achou graça.

“Você heim. Mas sabia que não são só mulheres que usam collant? Homens também usam”

Fiz uma careta.

“Mãe, está querendo consertar ou piorar a situação?”

Ela riu.

“Ok, vou colocar uma música”.

Então ela ligou o rádio, trocou de estação várias vezes até que encontrou uma que tocava Super Freak, de Rick James – a música que a Olive dançou no filme A Pequena Miss Sunshine, de 2006. Um dos meus preferidos daquele ano. 

“Isso sim que é música” Disse minha mãe, começando a dançar e cantar o refrão da música. “Lembro de ter dançado essa música algumas vezes para o seu pai quando namorávamos. Ai, ele adorava, mas adorava mais ainda a minha performance, é claro”

“Mãe... Por favor, sem detalhes”.

“Ah, qual é Will, não seja um chato de galochas. Porque eu não posso relembrar os meus bons tempos com você?”

“Porque isso é nojento. Não quero pensar em você dançando isso pro meu pai”.

“Bom, mas eu dancei. E muito!” Soltou uma mão do volante, aumentou o volume e voltou a cantar “She's a very kinky girl. The kind you don't take home to mother. She will never let your spirits down. Once you get her off the street, ow girl. Blow, Danny!” Graças a Deus, a última parte da música. Não que eu não goste dessa, mas minha mãe cantando faz com que o silêncio ganhe um valor maior, entende? 

“Mãe, por favor...”

“Ah, qual é, não corta meu barato, você é tãaao certinho, até parece seu pai, credo. Olha, essa música que começou agora também é boa. Qual é mesmo o cantor?”

“Eu não sei...” Na verdade eu sabia, mas não queria prolongar aquele assunto.

“Como assim você não sabe? Você tem que saber!”

“Eu não tenho que saber coisa nenhuma.”

“Claro que tem, você sempre sabe de tudo”.

“Isso não é verdade...”

“Ah, não. Então me responde, qual a cor do suor do hipopótamo?”

“Eu não sei o que isso...” Ela ficou me encarando, bufei. “Vermelho... E, por favor, olha pra estrada”

“Qual o truque da chuva de ‘Cantando na Chuva’?” Continuou, decidida.

“Bom, eles colocaram leite junto da água para que a chuva ficasse mais visível, mas...”

“Agora uma que todo Nerd sabe, quanto tempo demorava para os pés do Frodo, do Senhor dos Anéis, ficar pronto?”

“Uma hora e meia. Elijah Wood acordava às cinco da manhã e colocava os pés na cola.”

“Viuuu... Você é o meu pequeno geniosinho. Sabe de tudo.”

Suspirei, frustrado.

“Não vale! Você só fez perguntas que sabia que eu conseguiria responder. Isso não significa nada, a não ser que eu gosto de sites de curiosidades.”

“Você é meu nerdzinho bonitinho” Disse com voz de criança quando passamos com tudo sobre uma lombada. Engoli em seco. “Está bem, a última só para provar que estou certa: quanto é noventa e seis vezes oitenta e quatro?”

Bom, essa foi jogo sujo. Minha mãe sabia muito bem que quando se trata de matemática eu sou inigualável, quase uma calculadora humana. Quando pequeno um dos principais passatempos entre meu pai e eu era os números, ele adora ficar me testando, fazendo mil e uma contas para eu resolver de cabeça, e sempre ficava orgulho ao ver que eu acertava todas sem muita dificuldade. Não é a toa que sou o campeão da olimpíada de matemática da minha escola. Eu sei, assim fica cada vez mais difícil me defender.

“Oito mil e sessenta e quatro.” Respondi desanimado.

O sorriso de minha mãe se alargou.

“E então? É ou não é meu pequeno Einstein falando. Admita, será melhor para você se admitir sua genialidade.”

“Sabe, mãe, isso não significa nada. Eu poderia ter falado qualquer número que você iria-...” Estava dizendo, quando de repente minha mãe apertou a buzina me fazendo pular no meu lugar, o porquê dela ter feito isso eu não sei. 

Olhei para frente. Estávamos passando por uma rua bastante deserta, com exceção de nós e um Golzinho branco à nossa frente, que seguia numa velocidade desnecessariamente baixa, o que certamente estava testando os nervos de minha matriarca.

Seguimos por alguns minutos, o carro da frente parecendo cada vez mais lerdo.   

Ela buzinou de novo, os olhos pegando fogo, e então uma senhorinha de uns sessenta anos colocou a cabeça do lado de fora do outro carro, para nos encarar.

“Mãe...”

“Will, não precisa. Eu até sei o que você vai falar, mas nós temos que ter paciência com essa gente, meu filho, ninguém tem culpa de ser velho e ter os sentidos deteriorados pelo tempo. Antes de recrimina-la, se coloque no lugar dela, não devemos julgar as pessoas pelas suas rugas. Essa gente merece respeito...” Eu sorri, era difícil ver minha mãe com uma postura tão adulta, isso certamente era um acontecimento “...mesmo que andem a trinta por hora numa rua onde o limite é oitenta, ainda assim nós devemos ser superiores e... Calma ai, aquela velha desgraçada deu o dedo do meio para mim?” Pronto, acabou a calmaria.

“Mãe...”

“Era só o que me faltava! Pera aí que eu vou dar uma lição nessa velha escrota.” Dizendo isso, minha mãe entrou na contramão da rua, acelerou até alcançar o Gol, buzinando feito uma louca. A senhora nos encarou assuntada. “Will, mostra o dedo pra ela!” Ordenou ela, furiosa. Estávamos lado a lado com aquele carro desconhecido, e eu não poderia estar mais chocado. 

“Mãe...”

“Mostra que eu estou mandando! Obedece sua mãe, menino!” Gritou, ainda no encalço do outro carro, como se estivéssemos num filme de Velozes e Furiosos. Por sorte, aquela rua era bastante deserta naquela hora do dia.

“E aquele papo de sermos superiores?” Questionei, abismado. Não acreditava que aquilo estava acontecendo.

“Tá bom, se você não quer mostra então afasta pro lado ai.” Sem cuidado, ela me jogou com a mão contra o banco e se inclinou sobre mim, na direção da janela. “Ei dona Benta” Referencia ao Sítio do Pica-pau Amarelo. Ok, não sei por que parei para explicar isso, mas tudo bem “Já que a múmia da sua mãe não te deu educação, pega esse seu dedo nojento e chupa ele!” Aos poucos eu reparei no outro carro. A senhorinha não estava sozinha afinal, havia uma mulher ao seu lado, e atrás três crianças tão chocadas quanto eu. Ótimo, minha mãe estava se superando, será que é isso que ela quis dizer com ser superior? Superior às barbaridades que ela está acostumada a fazer?

Com os olhos arregalados, falei: “Mãe... Por favor, olha as crianças.”

“E só mais uma coisa!” Gritou para a velhinha, e então acelerou “Como poeira velha esclerosada do inferno!” Passando a frente do Golzinho, minha mãe acelerou tanto que logo sumimos de vista. Meu coração acelerando junto cada vez que ela afundava o pé no acelerador. Rindo histericamente, ela soltou olhando pra mim: “Ai, isso não foi demais?”   

Respirei fundo. Eu provavelmente deveria estar mais branco que difundo maquiado. 

“Mãe! E-eu...” Coloquei a mão no peito “Eu estou sem palavras.” Eu estava literalmente de queixo caído, incrédulo. Como minha mãe poderia ser tão sem noção?

Passamos o restante do caminho com ela tentando contar algo que aconteceu no seu serviço que ela achou muito engraçado, mas como ela mais ria do que falava, não consegui entender muita coisa. Aproveitei esse tempo livre para editar algumas fotos no meu celular. Eu gostava de tirar foto de paisagens, era mais um dos meus passatempos, apesar de eu não ter muito dom para esse, era comum captar uma imagem que realmente valesse a pena, tanto que minha mãe vivia querendo revela-las, para emoldura-las e pendurar nas paredes, o que eu achava um verdadeiro exagero.      

“O que está escrito naquela placa que aquele marronzinho está segundo, querido?” Ela me perguntou em certo momento, quando estávamos bem próximos da minha escola, cerrando os olhos na tentativa de enxergar as letras miúdas por causa da distância que estava à placa.

Assim como eu, minha mãe sofria da péssima visão da família, e como eu também ela precisava usar óculos, mas ao invés disso ela usava lentes de contato, porque era moderna demais para isso, porém, distraída também para perdê-las todo santo mês. 

Olhei para onde ela apontava.

“Acidente à frente, favor diminuir a velocidade” Eu li, franzindo o cenho.

Alguns minutos depois, passamos por uma parte caótica na avenida. Uma via estava interditada por causa de um acidente de carro, e estava bem difícil de passar por lá. Havia uma ambulância no local, uma viatura e alguns policiais. Aparentemente dois carros haviam se chocado com bastante brutalidade, levando em conta o tamanho do prejuízo e do amassado em ambos os veículos. Reparei num homem parecendo bastante abalado conversando com alguns policiais e numa pessoa ferida sendo levada de maca para a ambulância. O homem estava com as roupas rasgadas e sujas de sangue, mas a pessoa na maca, provavelmente um mulher, estava com vários ferimentos e desacordada. Tentei não olhar mais depois disso, pois a imagem era muito forte.

“Jesus Cristo, que Deus tenha piedade dessa alma senhor” Murmurou minha mãe, levando a mão ao peito, onde uma medalhinha se encontrava pendurada pelo colar.

Minha mãe nunca foi uma pessoa muito religiosa, mas nessas horas acho que todo mundo tenta ser.

Ficamos em silêncio pelo restante do caminho, uma melancolia estranha dominando todo o veículo. Até as músicas que tocaram no rádio passaram a ser mais calmas e tristonhas.

Quando chegamos à escola, reparamos numa grande aglomeração de gente a frente do portão de entrada. O estranho é que pelo horário, o portão já deveria estar aberto. Eu estudava na escola Dom Miguel de Cervantes, uma das mais respeitadas da região, ainda que pública, era uma das melhores, pelo menos era o que os professores costumavam dizer, nos lembrando da sorte que tínhamos toda vez que alguém aprontava.

“Oxi, o que está havendo?” Minha mãe falou, estacionando o carro ali perto.

Descemos e fomos juntos ver o que estava acontecendo afinal.   

“Com licença, porque o portão não está aberto?” Minha mãe perguntou a uma mocinha de uns vinte anos quando nos aproximamos. A moça estava com uma mochilinha rosa nas costas, e segurava a mão de uma menininha ao seu lado, provavelmente sua irmã.            

Ela passou as mãos nos cabelos amarrados, e sorriu com franqueza.

“Não sei... Ainda não deram nenhuma informação. Simplesmente estão mantendo os portões fechados até agora.”

“Que estranho...” Minha mãe se virou para mim “Eu tenho que ir trabalhar, será que você não pode ficar até abrirem essa porcaria de portão?” Eu assenti “Ligue-me se algo acontecer, está bem? Quero estar informada”

“’Tá...”

Com isso, ela me deu um beijo exagerado na testa, segurando meu rosto com força pelas mãos, e saiu. Limpei o batom da minha testa e me encostei à parede. Fiquei me sentindo sozinho – mesmo cercado de gente – por alguns minutos, até que Kevin apareceu, se aproximando de mim com um sorriso caloroso nos lábios.

 


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