Malia estava com a cabeça apoiada nas pernas de Stiles. Olhava, concentrada, para o livro de geografia e lia em voz alta, tentando absorver tudo o que estava escrito naquelas folhas.

Stiles estava distante, distraído. Observou Malia por vários minutos na tentativa de organizar os pensamentos, tentando entender a si mesmo, mas era em vão.

— Malia...

— Cala a boca.

— Você não pode...

— Não, Stiles! Eu preciso estudar para a prova, não consigo entender nada disso.

Ele suspirou conformado e concordou com a cabeça. Apoiou a coluna na árvore atrás de si e automaticamente, deixou os olhos correrem para a lateral da escola, buscando a dona de cabelos ruivos vibrantes. Não a encontrou.

Voltou a olhar para Malia. A pele morena que ele admirava, já não era tão linda aos seus olhos. Os fios castanhos claros, não pareciam tão atraentes como antes. O rosto, o corpo, tudo em Malia era lindo, no entanto, não provocava mais nenhuma reação nele.

Quanto mais ele olhava, quanto mais pensava e se concentrava em Malia, mais ele pensava no que mudaria em sua aparência. Se o cabelo dela fosse ruivo, se a boca fosse mais grossa, se os olhos fossem verdes, se a pele fosse mais clara, se os seios fossem maiores, se ela... se ela fosse a Lydia.

— Tudo bem, fale. — A voz de Malia surgiu tão repentinamente que fez Stiles se sobressaltar.

— O quê?

— Você vai me enlouquecer se continuar me olhando assim, então fale logo.

Com a nova afirmação, Malia sentou, tirando a cabeça das pernas do namorado. Apoiou a coluna na mesma árvore que ele e o encarou com as sobrancelhas finas erguidas em uma dúvida muda.

— Eu e a Lydia meio que nos beijamos. — A verdade transbordou sem nenhum freio, de forma impensada.

— Se beijaram?

— No shopping. Eu fui sair com ela e aí... — Stiles engasgou na própria frase ao perceber o que confessava. — A gente se beijou.

A culpa que ele guardou dentro de si durante meses, transbordou de suas palavras. Stiles não suportava mais esconder o beijo de Malia e só percebeu isso, com o alívio insano que surgiu.

Ele amava Malia e a ideia de ter a traído daquela forma, era um peso que ele não podia aguentar. Não podia mais esconder a confusão que o dominava, que o fazia se questionar sobre o namoro e até mesmo... se tinha de fato esquecido Lydia.

— Foi só uma vez, mas...me perdoa. — Nada parecia apropriado para dizer em voz alta. Os olhos castanhos encaravam o chão, demonstrando o receio e o arrependimento. — Eu devia ter falado antes.

Malia ficou em silêncio. Ela tinha coragem de encará-lo sem receio, observando as expressões no rosto dele. A culpa, o arrependimento, a vergonha, emanavam dele em uma fragrância distinta que fazia a Hale compreender cada um dos sentimentos que passavam por ele.

— Não sei porque fiz isso. Eu amo você. — Confessou baixinho.

— Mas é apaixonado por ela.

Stiles levantou a cabeça. Encarou o rosto de Malia, vendo a segurança que ela disse aquelas palavras. Ouvir aquilo pareceu fazer peças soltas em sua mente se encaixarem. Se sentiu tremendamente estúpido.

— Eu esqueci ela. — As palavras insanas foram a forma de Stiles tentar convencer a mim mesmo. — Eu achei que tinha esquecido, mas...

Malia o encarou em silêncio. O rosto não demonstrava nenhum julgamento, era pacífico. Os olhos mostravam apenas curiosidade. Isso aumentou a culpa de Stiles e ao mesmo tempo, fez com que se abrisse inteiramente com ela.

— Ela disse que está apaixonada por mim.

— Lydia? — A surpresa no rosto de Malia, teria feito Stiles rir em outra situação. Ela era espontânea e não tinha travas ao falar.

— Sim.

— Se você tivesse falado isso antes, eu já teria terminado com você.

A forma segura e sem mágoas que Malia falou, surpreendeu Stiles. Ele não conseguia entender a Hale. Ficou a encarando confuso e a viu levantar do chão, tirando a areia do short.

— Você quer terminar? — Stiles, que não sabia o que fazer por ser seu primeiro namoro, soltou a pergunta indecisa.

— Levante!

— O quê?

O Stilinski só percebeu que foi uma péssima ideia não obedecer imediatamente, quando as mãos de Malia foram aos seus braços. Ela o puxou sem nenhuma delicadeza e usando força bruta, obrigou que ele levantasse.

Stiles resmungou de dor, mas não disse nenhuma palavra. Foi arrastado por Malia até entrarem novamente no colégio. Ela só parou quando chegaram ao refeitório lotado.

— Eu acho mesmo que o Isaac está afim de mim. — Stiles não conseguiu achar o contexto daquela frase. — Você tinha razão de falar.

— Ah! — Um simples arquejou escapou da boca dele. Não sabia o que dizer.

— Tenho que descobrir se gosto dele e você precisa de alguma prova maior que a Lydia gosta de você.

— Do que você est...

A pergunta foi abafada por um beijo. A boca de Malia foi faminta, selvagem. As mãos dela puxaram o cabelo de Stiles com força demais. Seus lábios exigiram que ele o correspondesse.

Automaticamente, Stiles respondeu ao beijo. Deixou que Malia o guiasse, mesmo sem entender o motivo daquilo. Por costume, ele repousou as mãos no quadril dela.

A sensação de suas bocas, de suas línguas, era boa. No entanto, era somente isso. Não surgiu nenhum sentimento, nenhum nervosismo. Não houve nada além da satisfação carnal de um beijo de língua.

Malia interrompeu o beijo da mesma forma abrupta que começou. Os olhos escuros observaram o rosto do namorado. Ele mostrava confusão e timidez pela exposição do beijo em um lugar cheio.

— Você sentiu alguma coisa? — Ela perguntou ansiosa.

— O quê?

— Durante o beijo, você sentiu alguma coisa? — Stiles continuou sem entender a pergunta, porém percebeu a impaciência dela.

— N-não. — Confessou, olhando para o chão.

— Nem eu, mas eles sentiram.

Stiles demorou uma eternidade para entender quem era “eles”. Virou a cabeça para o lado e viu Isaac e Lydia, sentados na mesma mesa. Os dois os encaravam fixamente.

— Você fez isso de propósito. — Ele concluiu incerto.

— Eles estão cheirando a ciúmes, Stiles.

Aquela simples afirmação, foi o suficiente para ele perceber que realmente podia ser real. Talvez Lydia não estivesse mentindo, nem enganada. Ela podia realmente estar apaixonada.

— Nós precisamos terminar. — Sussurrou convicto. Malia confirmou com o rosto.

— Vamos continuar sendo amigos, não é?

Stiles a encarou com carinho. Abriu um sorriso meigo e sem pensar muito, abraçou Malia. Depositou um beijo em seu ombro e acariciou as costas morenas expostas na blusa.

— Você é minha melhor amiga.

Assim que se separou do abraço, os olhos de Stiles voltaram em direção a Lydia. Ver a expressão magoada, os lábios grossos franzidos de ciúme, foi como um murro no estomago dele.

O sentimento e a certeza, que surgiu foi tão forte que Stiles se sentiu enjoado, atordoado. Prendeu a respiração, encarou o chão. Fechou as mãos em punho.

Naquele dia, Stiles percebeu que era impossível esquecer aquela garota. Nem mesmo a tentativa de namorar, a tentativa de se afastar, foi o suficiente para fazer com que ela o atingisse menos.

Ele sempre foi e sempre seria, perdidamente apaixonado por ela. A diferença, era que pela primeira vez, ele tinha a real chance de ter algo com ela. Daquela vez, os sentimentos de Lydia estavam expostos para ele.

Stiles permaneceu por longos minutos olhando indiscretamente na direção de sua paixão de infância. Seu estomago se debatia, revirava, suas mãos suavam. Tudo que tentou reprimir ao convencer a si mesmo que tinha a esquecido, veio à tona.

— Deus! Por que ela demorou tanto para gostar de mim? — Ainda incrédulo, soltou seus pensamentos naquela pergunta. — Parece que ela quer me enlouquecer.

— Você ama garotas complicadas.

Malia tinha um meio sorriso provocativo ao falar. Ao olhar para ela, mais do que nunca, Stiles a amou e percebeu que ela era uma amiga muito melhor do que ele merecia.

Mesmo sem Malia demonstrar magoa, ele nunca se perdoaria por ter a traído e faria de tudo para a recompensar de alguma forma. Principalmente ao entender, que a amava de uma maneira diferente do que pensava.

— Eu não gosto do Isaac, mas se você quiser ficar com ele, vou ajudar. — Prometeu com sinceridade.

— Se você não ficar com a Lydia, vou rasgar sua garganta com meus dentes.

Eles riram, mas Stiles estremeceu com a fala. Levaria a sério aquela ameaça.