2. Capítulo V: Uma nova Eadlyn.

Sabe aquela sensação de déjà vu? Eu senti no momento em que vi as duas garotas limpando o quadro em um dos corredores do grande castelo. Era para eu ter feito algo, xingado, gritado ou até mesmo dizer que eu as escutei. Eu defendi a minha irmã, porque na minha vez, eu fui covarde, porque na minha vez eu não entrei no corredor onde elas estavam e exigi que me respeitassem por ser quem eu sou.

Mas eu fui covarde.

Andar tranquilamente é uma coisa que eu não faço a muito tempo, sempre parece que o relógio está brigado comigo. Sempre correndo. Então quando eu estava olhando os papéis na minha mão e uma folha caiu. Não foi novidade para ninguém e para a minha sorte eu estava sozinha, me abaixei para pegar. E naquele momento eu soube.Sou eu.

—Trisha não é certo você falar assim dela.-uma voz fina falou. Eu estava ainda abaixada colada na parede, não tive coragem de olhar para ver quem falou.

—E eu estou falando alguma mentira Kesha? Não. È a mais pura verdade. Ela é corna e eu tenho certeza que ela sabe. Toda mulher sabe quando o marido pula a cerca.

—Eu não acho o senhor Kile um mal homem.-a voz fina falou de novo.

—Kesha eu nunca disse que ele é um mal homem, na verdade eu estou muito feliz de ter eles como Majestades. Mas o que eu ouvi e você também, é que aquelas garotas não pareciam estar mentindo sobre tentar algo com o Rei. Uma disse que viu ele com a dama de companhia da Rainha no corredor conversando bem próximos, não importando se a Rainha iria vê-los.

—Você acha que ele trairia a Rainha?-a voz fina falou e eu tive vontade de chorar, ela estava com pena de mim.

—Kesha, os homens são assim, aprenda. Não duvido nada que ele já não esteja traindo ela com todas as garotas que se joguem no colo dele.

—Eu gosto da Eadlyn, eu torci por ela na seleção. Eu também cresci no palácio. Eu queria que ela ficasse com o Sr. Kile.-e eu não percebi que eu estava chorando até então.

—Eles vão ficar minha irmã, vem aqui, você tem muito o que aprender.

E eu levantei  do chão em um pulo, não me importando se eu estava amassando ou não os papéis. Não sei se eu estava chorando pela menina inocente ou por saber que o meu casamento é uma grande mentira e até as criadas percebiam que o Kile não era fiel. O Kile não estava só com a Angeliny. O Kile está me traindo com qualquer uma.

Eu entrei no quarto e agradeci por não ter ninguém. Fui direto para o banheiro, eu estava toda borrada mas eu não me importei chorei até não aguentar. Quando acabei, limpei o rosto e olhei no meu espelho.

—Você vai seguir em frente, você é a Rainha. Você não vai chorar por homem nenhum. Nem mesmo pelo homem que você sempre amou. Ele não te merece Eadlyn.-limpei a última lágrima que escorreu.

Eadlyn esqueça aquela declaração no baile. Esqueça aquele beijo. Esqueça que você aceitou que você ama o Kile. Esqueça. Por favor apenas esqueça.

E eu esqueci. Por quarenta minutos com a minha mãe e a minha Dinda eu esqueci até que eu era Rainha. Eu não voltei mais ao meu escritório. Fui para o Salão das Mulheres, eu precisava delas, eu precisava que elas me fizessem esquecer a minha vida. E por quarenta minutos, eu esqueci. Deixei a minha irmã caçula envergonhada quando toquei em alguém chamado Kaden. Brinquei com a minha priminha chamada Mia. Estava tudo uma maravilha até quando saiu, eu, minha mãe e America.

—Claro que eu apoio, Dinda. A senhora e a mamãe precisam descansar.-eu disse com um braço dado com a minha mãe e outra com a minha Dinda.

—Mas Eadlyn e se você precisar da nossa ajuda. E se acontecer algo?!

—Dinda não quero a ofender, mas nesses três meses quantas vezes eu pedi a sua ajuda?-America fez uma cara de quem não gostou.-Sim apenas duas vezes. Qualquer coisa eu falo com o Kile  ou com a Gina, com alguém. Mas eu quero que as duas mulheres da minha vida saiam para aproveitar.

—Foi o que eu falei para ela filha. Confesso que estou muito animada para conhecer a França.

—Então aproveita bastante mãe. E manda um beijo para o Ahren por mim.-Dinda sorriu, não dava para esconder a felicidade de ver o filho de novo.

—Então quando vocês vão?-eu perguntei.

—Logo. Confesso que estou morrendo de saudade do meu filho.-Dinda disse com um sorriso lindo de se ver.

—O que é aquilo?-minha mãe perguntou olhando alguns passos mais a frente. Gina estava de costas para nós mas pelo jeito estava brigando com as três criadas. Gina sempre foi exigente mas também sempre foi uma mãezona. Andamos alguns passos e para o meu total desespero todas ouviram quando uma das criadas disse.

—Mas Gina eu tenho que avisar a Rainha que eu vi o Rei beijando a Anegliny.-a garota estava com uma voz de desespero, minha mãe soltou um ''ah" e a Dinda ficou parada em estado de choque.

—Belsy esse assunto não nos desrespeita.-mas a tal de Belsy soltou um pequeno xingamento quando olhou para mim, o que fez a Gina girar e me olhar ficando vermelha. 

Todas agora estavam olhando para mim, ninguém falava nada. Eu olhei as três criadas e quando eu parei na menor, magrinha eu percebi que ela era a tal de Kesha. A garota que há quarenta minutos atrás estava com pena de mim. Ela me olhava de forma diferente, e naquele momento eu não poderia desmoronar não de novo. Por ela eu vou ser uma Rainha. Por ela eu vou ser Eadlyn Schreave, mesmo que eu queria chorar por ele ter me envergonhado da pior maneira possível.

—Agradeço você querer me contar, Belsy. Mulheres tem que sempre estar unidas. Fique tranquila eu vou tomar todas as providencias dessa situação, na verdade vou fazer isso agora, vai que eles se empolgam.-e eu senti que a minha risada no final foi maléfica, mas naquele momento o que eu mais sentia era raiva. Uma raiva do Kile, da Angeliny, que eu não conhecia. Eu me virei para a menor, Kesha.-Kesha certo?-ela assentiu nervosa e fascinada por eu saber o seu nome o que me fez abrir um pequeno sorriso.-Venha amanhã no meu quarto, ás onze da manhã, estou precisando de uma ajudante.-ela assentiu com os olhos brilhando.

Eu me virei e não me importei de deixar elas para trás e subir para o meu quarto. Não sei porque eu disse que precisava de uma ajudante, eu não preciso, já tenho Angeliny, a Kara e a June minha secretária. Mas quando eu olhei a Kesha, eu não queria deixar ela fazendo aqueles trabalhos, não que não sejam dignos, pois é muito digno. Minha mãe já foi uma criada e meu pai é um guarda. Mas naquele momento eu quis fazer uma boa ação, pelo menos alguém nesse momento está feliz. E também eu percebia que a Kara não estava dando conta sozinha, cuidar de dois quartos, não é fácil.

Quando abri a porta do meu quarto de Rei. Angeliny estava arrumando as minhas maquiagens. Pensei que quando eu a visse, iria querer mata-la. Mas não, a verdade é que eu eu sempre soube. Não foi novidade nenhuma. Com a Angeliny eu sabía desde que eu me casei com o Kile. Então quando eu disse para Angeliny retocar a minha maquiagem para a próxima reunião com o conselho. Não houve nada de diferente.

—Claro Eadlyn.-Angeliny disse sorrindo para mim.

—Majestade ou senhora. Apartir de hoje quero que você me chame como eu sou. A Seleção já acabou Angeliny. Eu ganhei.-eu disse e me sentei na cadeira.

Sabe aquele ditado, água mole em pedra dura, tanto bate até que fura. Considere a pedra a minha paciência e essa chegou no seu limite nesse momento.

—Eadlyn quer dizer Majestade. Você sabe me dizer se o Kile está com algum problema?-eu a fitei séria pelo espelho agora que ela estava penteando o meu cabelo.-È porque ele está distante, hoje eu fui falar com ele e ele...

—Chega!-eu gritei levantando. Angeliny deu um pulo para trás e a Kara que estava na porta do closet me olhou assutada, eu percebi que ela tinha algo na mãos.-O que foi Kara?

—Se-senhora eu encontrei isto na parte do Sr. Kile mas eu não mexi, caiu quando eu estava arrumando o seu terno. Eu não sei onde estava, e estou com medo que ele ache que eu estava desrespeitando a sua privacidade. A senhora poderia entregar a ele e dizer que não foi a minha intenção deixar cair.-Kara falava nervosamente e baixo.

—Claro Kara.-ela me deu um livro médio de capa peta. Só falta ser um diário. 

E se for um diário melhor ainda, eu sorri com o meu pensamento, eu vou poder saber o que ele pensa, o que ele faz. Abri o livro, a primeira página não tinha nada, mas não era um diário e sim um livro de desenhos, as páginas brancas e desenhos feito pelo Kile. Mas não qualquer desenhos. Eu virava a folha e via o castelo, a mãe, o pai, os irmãos, a minha família, a família dos Legers, eu vi um desenho de todos juntos, depois quando eu virei a folha eu vi a Angeliny. Ela arfou ao meu lado e eu fechei os olhos.

—Saí.-eu disse baixo mas eu acho que elas não escutaram.-Saíam!-eu gritei e as lágrimas já desciam.-Saíam daqui! Agora!-eu gritei mais alto e elas se mexeram nervosas, não entendendo a minha reação.-Não. Não. Não. Por que? Por que comigo?

Eu continuei com o livro nas mãos, olhando página por página. Vendo cada um que o Kile amava, cada contorno, cada toque, cada tempo que ele gastou fazendo esses desenhos. Kile me disse que não desenhava pessoas porque não sabia representa-los, apenas carros, o que ele gostava. Mas os desenhos estavam perfeitos, cada detalhe de cada pessoa ele conseguiu transmitir para o papel. Mas aqui está a prova nas minhas mãos que ele desenha, a prova que ele desenha todos, todos, menos eu. Eu não estava nesse livro, eu não estou em nenhuma página, 50 páginas e eu não estou, Angeliny estava desenhada sorrindo, linda com um vestido azul. E eu a sua esposa estou em nenhum desenho, nenhum.

—Não!-eu gritei e joguei tudo o que estava em cima do meu camarim no chão.

Ele só me desenhou uma vez. Eu fui até o meu closet e peguei o desenho que ele me fez dormindo na seleção. Esse foi o único desenho que ele fez de mim, ele fez porque eu pedi. Porque eu pedi. Eu amassei o papel e joguei em algum lugar. Eu não tinha dúvidas, aquele livro era do Kile. Eu joguei o livro no chão e fui até o closet dele. Talvez as páginas tenha acabado e ele não conseguiu me desenhar, talvez tenha mais livros. E eu procurei, joguei as suas roupas no chão e não achei nada. Nenhum outro livro. E a verdade estava absorvida.

Kile não me ama. Não como eu o amo. Talvez ele me vê apenas como uma amiga de infância, uma menina bonita, inteligente. Ele não me ver como eu o vejo. O homem que eu sempre fui apaixonada, desde quando era um menino, desde quando ele me deixou para ser Rei e não me procurou. E eu chorei mais, Kile não me procurou quando estava estudando apenas se afastou sem importância, como se eu fosse nada, como se eu fosse um ninguém. E eu chorei mais, por me lembrar que no segundo dia de seleção, Kile me chamou de ninguém. Chorei lembrando quando ele me humilhou na frente de todos quando Alanna caiu na piscina. Ele me pediu desculpas, mas talvez ele nunca tenha gostado de mim. Talvez eu sempre fui um peso para ele. Um peso que ele tem que carregar agora.

—Ele não me ama. Ele não me ama.-eu disse indo até o meu closet e peguei as minhas roupas e comecei a rasgar.-O que eu estou fazendo aqui? Eadlyn o que está fazendo aqui? Seu casamento é uma grande palhaçada. Todos devem está rindo de você agora. Kile deve sentir pena de você. Pena por você ser um nada. Vai ser a arquiteta que você sempre quis. Esquece ele. Você não tem mais nada. Nada. Ele não se importa com você.

E eu deitei no chão junto com as roupas rasgadas, eu estava largada, me sentia suja, humilhada, envergonhada e magoada. Eu queria, eu queria voltar no tempo e ser apenas uma garotinha, enolhi as pernas e comecei a chorar. Eu o amo. Eu sempre o amei. 

Não sei quanto tempo eu fiquei naquela posição, uma, duas horas, não me importa. Eu chorei, eu chorei muito, mas era necessário. A Eadlyn de lamentações acabou de morrer. Essa é uma nova Eadlyn. A Eadlyn esposa do Kile acabou de ser trancada nos piores lugares da mente. Ela chorou, se humilhou, foi humilhada, amou e para quê? Para nada. No final, ela acabou em posição fetal chorando por ele. Por isso que eu sou Eadlyn Schreave, a Rainha de Illéia. A mulher que não espera nada de ninguém e não quer nada de ninguém. 

Eu abri a porta da sala de reunião. Estava devidamente arrumada e maquiada. Com um vestido preto e a parte de cima era em preto e branco. Logo que entrei escutei. 

—Ela não deveria estar aqui, não precisamos dela. Ela tem que cuidar do castelo é isso  que Rainhas fazem.-Não precisava nem olhar para quem falou, Shakan, estava de costas para a porta. Não estava todos os ministros, faltava poucos, o Kile ainda não tinha chegado como o Maxon e o General. 

Eu entrei com o meu salto de 15cm batendo no chão e falei sem olhar para ele.

—Eu não perguntei nada ao senhor.-eu disse e me sentei na minha cadeira do outro lado da mesa, em frente a cadeira do Kile. Eu em uma ponta e o Kile na outra da mesa.

—Senhora desculpa se eu a ofendi, mas eu só disse a verdade. Nós não precisamos da senhora aqui. A senhora pode voltar aos serviços de uma Rainha.-ele disse de pé olhando para mim.

—Senhor Shakan eu não estou no meu melhor dia, então eu peço que o senhor guarde as suas opiniões sobre mim para o senhor.

—Claro senhora. É que sabemos que uma Rainha não tem poder nenhum quando se tem o Rei, é por isso que eu acho que a senhora não é necessária aqui.

—Acabou senhor Shakan ou tem mais alguma coisa a dizer?-ele olhou para mim e não disse nada.-Então pegue as suas coisas e saia do meu castelo. O senhor está demitido.

—A senhora não pode fazer isso.-ele gritou, eu percebi que os outros ficaram em silêncio, talvez assustados.

—O senhor me respeite. E eu posso fazer o que eu quiser, eu sou a sua Rainha. Agora saía.-eu disse séria.

—Não. A senhora não pode fazer isso. Eu desejo falar com o Rei.

—Ou o senhor saí pelas suas pernas com a sua dignidade intacta ou o senhor saí com a ajudas dos guardas. O que o senhor prefere?-eu perguntei e depois de um longo minuto nos encarando ele saiu e ele parou, antes de chegar na porta encarando alguém e quando ele saiu, eu vi, era o Kile. Eu respirei fundo.

—Quando uma mulher diz que não está nos melhores dias, os senhores não podem testar a paciência dela. Acho que estamos entendidos?-eu disse e todos começaram a falar, sim senhora, uns até fizeram uma reverência. E eu só escutei um riso, fui ver de quem era, Kile. E eu sorri para ele, o dele ainda estar por vir.

A reunião foi excelente. Todos me ouviram e quando eu pedi a opinião de todos a maioria concordou. 

Vamos ver se eles vão ou não vão me respeitar.

Estava saindo do banheiro com a minha camisola preta que vai até a coxa. Meu guarda roupa estava oficialmente mudado e com eles vem o uso de camisola, cansei de colocar camisola que vai até os pés ou calças. Quando eu me assusto com o Kile sentado no sofá do quarto. Ele nunca chegou esse horário, nunca.

—Você sabe o que aconteceu com as minhas roupas, elas estão no chão.-eu olhei friamente para ele e ele percebeu.-Tudo bem, eu queria dizer....-ele estava sentado, eu não olhei para ele quando comecei a passar meu creme nas pernas. Eu tinha ficado sem as garotas, desde a minha explosão no quarto, Kara entrou para arrumar as roupas mas quando eu entrei depois da reunião, eu a dispensei junto com a Angeliny.-Que foi admirável como você se comportou com o Shakan.

—Aham.-eu disse e olhei para ele, que estava com os braços no joelho para frente, olhando a minha perna que estava em cima da cama.-Apreciando a vista?

—O que?-ele disse e olhou para mim.

—Eu disse, apreciando a vista?-e continuei com a perna em cima da cama.

—Estou.-ele disse e sorriu.

—Que pena, o show acabou.-eu disse e tirei o pé da cama e me deitei na cama me cobrindo.

—Eadlyn.-ele levantou e veio para frente da cama.

—Nada de Eadlyn.-eu disse e me virei para trás para ajeitar o travesseiro.

—Eu queria conversar.

—Conversar? Conversa? Você teve três meses para poder conversar mas não quis conversar. Agora você quer conversar? Volte para onde você fica todas as noites antes de vir para o quarto. Você teve tempo demais. Eu te dei tempo demais. Mas agora acabou.

—Eadlyn.

—Kile. Quando eu disse que não estava em um bom dia, também servia para você. Não teste a minha paciência, pois eu pego as minhas coisas e vou para o outro quarto e você nunca mais irá me ver na sua cama.

—Não.-ele disse rápido.-Tudo bem, eu entendi você está nervosa, vou deixar você dormir. Amanhã conversamos.

—Não tem mais amanhã.-eu disse e deitei a cabeça no travesseiro.

Eu dormir no momento que eu fechei os olhos. Estava tão cansada mentalmente e fisicamente, que eu sonhei que o Kile mexia no meu cabelo e no meu rosto e eu sorria e ia para os seus braços que me apertavam fortemente. Eu abri os olhos, e era apenas um sonho. O quarto estava escuro, e o Kile estava virado para o outro lado, longe de mim.