New Legends Gaiden escrita por Phoenix M Marques W MWU 27


Capítulo 3
Gaiden de Sagitário - parte 2


Notas iniciais do capítulo

Avante Seiya! Salve os inocentes desses novos invasores.
Para isso, o ex cavaleiro de Pégaso conta com a ajuda de dois jovens Cavaleiros de Ouro novatos e cheios de determinação.



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            - Marin... Tente ajudar essas pessoas – pediu Seiya. – Tire-os dos limites da cidade. Eu vou atrasar aquele pessoal.

— Seiya, você nem sabe do que se tratam! – arguiu Marin. – Devíamos descobrir do que se tratam primeiro...

— Se esses seres são capazes de atacar uma cidade inofensiva e indefesa, habitada por pessoas pacíficas, eles precisam ser detidos, não importa quem sejam. E para alguém que já enfrentou Marinas, Espectros, Marcianos, Pallasitos, Guerreiros Deuses e o diabo a quatro, uma batalha a mais não é nada.

— Mas eu quero te ajudar! Eu sou uma amazona, e sou tão capaz de lutar quanto...

— Vá Marin! Confie na minha capacidade, como sempre confiou. Eu sou um Cavaleiro de Ouro... Isso não será nada para mim.

— Seiya...

— E, por favor, faça com que Seika fique em segurança. Você é a pessoa em que mais confio para fazer isso!

            Marin engoliu o orgulho e assentiu. Ela correu em disparada rua abaixo, para ajudar as pessoas a saírem da cidade e para procurar Seika.

            Seiya se voltou para a massa de seres humanoides que se aproximava. À primeira vista, eles pareciam muito altos, com cerca de dois metros de altura. Depois, ele notou o barulho de cascos que era produzido por eles ao se mover, e concluiu que, por parecerem altos, eles deviam estar montados em cavalos. Pensando nisso, ele começou a divisar os contornos dos animais nos quais os invasores estavam montados.

            Ao longe, com a sombra causada pelo sol do entardecer, ele tinha certa dificuldade em enxergar a turba que se aproximava. Porém, à medida que eles se aproximavam, diminuindo a velocidade ao se darem conta de que havia alguém em seu caminho, ele notou algo perturbador.

            Quando seus contornos finalmente ficaram visíveis para o campo de visão de Seiya, ele percebeu que os guerreiros que adentravam Rodorio não estavam montados em cavalos. Da cintura para cima, eram homens de estatura elevada e pele cinzenta, a maioria deles com cabelos desgrenhados e barbas ralas. Da cintura para baixo, seus corpos eram de cavalos garanhões puro-sangue. Ou seja, eles eram os cavalos... Eles eram criaturas “fantasiosas” da mitologia grega, que Seiya logo reconheceu.

            Eram centauros.

...

...

            Quando o grupo se aproximou de Seiya, uma das criaturas, que estava mais à frente da manada e tinha um aspecto mais envelhecido em relação aos demais, fez sinal para que os demais avançassem na direção onde Seiya estava parado, encarando a tropa, e aquilo pareceu ao cavaleiro uma ordem de ataque.

            Como ele esperava, dois dos centauros seguiram o comando e avançaram contra o antigo Cavaleiro de Pégaso.

            Seiya abaixou seu capuz, incendiou seu cosmo e preparou-se para o ataque. Ao ver o rosto dele, o “líder” da manada se alarmou, como se o reconhecesse, e tentou dizer algo aos seus subordinados que haviam avançado, mas eles já estavam quase em cima de Seiya.

Meteoro de Pégaso!!

            Seiya achou por um momento que não fosse conseguir efetuar sua técnica principal de maneira adequada. Fazia anos que ele não entrava em combate, e podia estar enferrujado; e seu cosmo podia não guia-lo de maneira apropriada. Os anos de exílio poderiam tê-lo deixado sem prática e sem habilidade para combater assim repentinamente.

            Mas, quando ergueu seu punho em direção aos centauros, ele visualizou os inúmeros punhos recobertos de luz que tomavam a forma de meteoros e pareciam irromper de sua palma fechada, viajando na velocidade da luz.

            Os dois centauros foram atingidos em cheio e voaram longe, indo bater de encontro aos muros da cidade que ainda não haviam sido destruídos.

            O líder dos centauros ergueu seu braço como que para ordenar que sua tropa não se movesse, em seguida pronunciou algo em uma língua estranha para eles, como se enfatizasse seu gesto. Então ele deu dois passos para a frente e encarou Seiya, ainda um pouco distante.

— Vejam só quem temos a chance de encontrar aqui... – disse ele, falando em grego moderno, para sua tropa, indicando Seiya com gestos dos braços abertos. – O famoso Seiya de Pégaso. Mas me parece, irmãos, que ele foi promovido para uma patente superior...

— Espere – interrompeu Seiya. – Como sabe o meu nome?

            O líder da manada riu levemente.

— Seu nome, ó “matador de deuses”, é conhecido por várias criaturas dos tempos mitológicos. Sim, Seiya, cavaleiro de Atena... Mesmo entre nós centauros, a sua fama correu. Logo agora, que voltamos à vida e fomos libertados do sofrimento do Tártaro, para espalharmos nossa glória pelas terras antigas, temos a sorte de encontrar um peixe grande do exército de Atena. Quando o destruirmos, Seiya, nossa fama será gigantesca. Assim, ninguém ousará deter nossa onda de conquistas, para que tiremos a Grécia das mãos dos humanos e repassemos o controle dela para as criaturas míticas. Já passou da hora de encerrar a era dos humanos. Eu, Kendros, chefe da tribo dos centauros, decreto que iremos destruir esta vila para iniciar nosso reinado sobre esta terra.

— Uau. Você conseguiu me deixar ainda mais confuso... Mas acho que entendi o principal, Kendros. Enquanto insistirem com essa ideia de planejarem destruir a cidade, eu tenho a obrigação de detê-los.

             Quem diria... seis anos longe do Santuário, e Seiya já tinha uma batalha para enfrentar no dia de seu retorno. Tinham que ser centauros... Que apropriado.

— Armadura! – exclamou ele.

            A urna de armadura voou da estalagem onde ele havia conversado com Marin para onde ele estava, e a armadura de Ouro saiu de dentro dela no caminho. Ela apareceu em sua forma object, o centauro alado, e em seguida cobriu o corpo de Seiya quase que por completo.

            Kendros bateu palmas, fingindo entusiasmo.

— Bravo, cavaleiro de Atena... Vejo que os relatos eram verídicos. Você já não é mais um Cavaleiro de Bronze... ascendeu até a posição mais elevada do exército de Atena, a dos Cavaleiros de Ouro.

— Droga, chefe! – murmurou um dos centauros mais afastados. – Outro Cavaleiro de Ouro! Já é o terceiro que encontramos por aqui! Esses caras nunca sabem quando se render!

— Quarto, na verdade – disse outro centauro. – Chefe, você não se lembra de que surgiu um outro há pouco tempo, de aspecto mais velho do que os anteriores? Então, esse daí é que seria o quarto Cavaleiro de Ouro que nos encontramos nessa região.

— Isso não importa – retrucou Kendros. – Que venham quantos Cavaleiros de Ouro o Santuário quiser mandar... Nossa tropa não será detida por meros soldados da deusa da sabedoria. Não agora que contamos com a proteção de nosso mestre. Se os Cavaleiros de Ouro estão aparecendo, porém... Deve ser verdade o que diziam sobre a localização do Santuário ficar próxima de uma vila antiga. Sinto que há realmente um véu de magia antiga ocultando a localização do Santuário das nossas vistas... Mas também sinto que estamos perto de encontra-lo. Está decidido, vamos destruir os Cavaleiros de Ouro. Sem seus principais guerreiros, o Santuário não terá como se defender, e logo o tomaremos de assalto. A deusa que protege os humanos também deve cair junto com eles.

            Seiya tentava absorver aquelas palavras enquanto Kendros enunciava seu monólogo. Então os centauros haviam enfrentado outros Cavaleiros de Ouro antes dele... Três, para ser mais preciso. Será que eram seus amigos do passado? E o que havia acontecido com esses cavaleiros? Não dava para identificar, pelo discurso dos centauros, se eles haviam vencido os Cavaleiros de Ouro que encontraram antes. Seja como for, Seiya precisava detê-los: eles planejavam invadir e destruir o Santuário, que, por alguma razão, ainda não haviam conseguido encontrar, mas se já haviam chegado até Rodorio, não faltaria muito para que chegassem lá. Além disso, eles afirmavam ter saído do Tártaro por ação de algum “novo mestre”. Seiya tentava decifrar o significado daquelas palavras. Não estava gostado de nenhuma das opções que se formavam em sua mente.

            Ele não via mais nenhum habitante do vilarejo em volta, e torcia para que Marin tivesse conseguido leva-los para um lugar seguro. Por enquanto, até que estivesse certo de que ninguém mais na cidade corria o risco de ser morto pelas mãos dos centauros, ele tinha que distraí-los de alguma forma.

— Você pode ter enfrentado outros Cavaleiros de Ouro, Kendros... Mas você reparou na minha armadura? – perguntou Seiya.

            O líder dos centauros paralisou-se de repente, interrompendo seu próprio discurso.

— Você sabe o que a Armadura de Sagitário representa, Kendros?

— Não...! – murmurou Kendros. – Não ouse...

— Você sabe qual é a origem da constelação de Sagitário?  Sabe por que ela foi criada? Em homenagem a quem?

— Não ouse...! Cale a boca! – gritou Kendros, desesperado. – Irmãos! Não deem ouvidos ao nosso inimigo!

— O centauro da constelação de Sagitário, a figura mitológica que ela representa, não é outro senão...

— NÃO!

— Senão o grande Quíron, o maior instrutor de heróis da antiga Grécia – completou Seiya calmamente.

Não pronuncie esse nome! – tomado de fúria, Kendros avançou e sacou um arco de suas costas; preparou sua flecha e atirou-a contra Seiya.

            Ágil, o antigo Cavaleiro de Pégaso segurou a flecha com as mãos, até notar que a flecha era feita de um algum material incandescente, que começou a queimar a pele de Seiya; ele a largou prontamente.

            Ele voltou seus olhos para Kendros e para a turba de centauros. Eles haviam recuado, com exceção do líder, olhando admirados para a Armadura de Sagitário.

— Então a armadura representa Quíron...? – murmurou um dos centauros que tinham o aspecto mais jovem. – O maior dentre os centauros? Nesse caso, será que é certo atacar o guerreiro cuja armadura simboliza Quíron...?

— SILÊNCIO! – bradou Kendros para os demais centauros, e atirou outra flecha contra o jovem centauro que havia falado; a flecha trespassou o peito dele, e o centauro caiu no chão, morto. – Não há motivos para hesitação. Nossa manada nada tem a ver com aquele ser, que se sujeitou aos semideuses. Nós liquidaremos Seiya e seus companheiros, e o Santuário será arrasado em seguida. Toda a Grécia vai nos reverenciar como seus novos líderes. Se algum de vocês não estiver de acordo com estes termos, serão considerados inimigos também. Alguém mais deseja se pronunciar a respeito disso? Alguém mais acha que há motivos para não atacarmos Seiya?

            Seguiu-se um silêncio avassalador. A trupe dos centauros havia voltado a encarar Seiya com fúria, mas agora o Cavaleiro de Sagitário estava satisfeito. Havia conseguido manter a atenção de todos eles.

— OK, já que voltamos ao foco, podemos mudar um pouco de assunto... – sugeriu Seiya. – Pois bem, Kendros, você disse que vocês voltaram à vida por ação de um novo mestre... Antes de me matarem, que tal me dar a chance de conhecer ao menos o nome de seu mestre? Considerem isso como um último desejo meu.

            Kendros escoiceou o chão e fitou Seiya com astúcia.

— Ora, é bastante sábio de sua parte reconhecer que estará morto pelas nossas mãos em breve, Seiya. Pois bem, já que faz tanta questão, eu lhe digo quem nos deu a graça de reviver... Foi o grande Marte, o deus da guerra, ou Ares, se preferir chama-lo pela forma grega.

            Seiya franziu a testa.

— Isso é impossível. Marte foi derrotado por Kouga e pelos Cavaleiros de Bronze há seis anos. Ele ainda deveria demorar séculos para se reerguer. E ele não tem o poder de reviver os mortos...

— Rapaz, você é chamado de “matador de deuses”, mas parece que não conhece muito sobre a natureza dos deuses. – Kendros trotou levemente sem sair do lugar, visivelmente nervoso e cansado de esperar mais para poder atacar Seiya, mas o antigo Pégaso sabia que era necessário segurar a atenção da manada por mais algum tempo. – Marte é um pouco diferente dos demais deuses. Eles vivem em conflito, entre suas personalidades grega e romana, mas ele é um caso especial; ele consegue agir perfeitamente como Marte e também agir como Ares, e às vezes as duas partes até cooperam entre si. Os outros deuses não conseguem fazer um uso tão bom de suas contrapartes romanas... É quase como se Marte e Ares fossem deuses distintos. E por isso, ele conseguiu se levantar novamente, mesmo tendo sido derrotado recentemente pelos Cavaleiros de Atena. As regras de esperar séculos para se levantar após uma derrota com o cosmo restaurado podem até valer para os demais deuses, mas para Marte, que conseguiu manter o equilíbrio entre suas partes romana e grega, elas já foram superadas há muito... Mas isso está longe da sua limitada compreensão de humano, cavaleiro. Quanto ao fato de poder reviver os mortos... Sim, todos os guerreiros caídos em combate devem suas almas a Marte. Logo, ele tem sim o poder de reviver os mortos a seu bel-prazer, desde que tenham sido guerreiros mortos em combate. Uma vez revividos, todos nós juramos lealdade a Marte. E, cumprindo o desejo dele, nós tomaremos a Grécia para nós, para podermos fazer de Marte o maior dos deuses, destronando Atena e todos os demais.

            Seiya definitivamente estava suando frio. Então o cosmo de Marte havia voltado a se manifestar, a ponto de trazer guerreiros do passado de volta à vida? Aquilo soava muito mal. Na pior das hipóteses, podia ser o prenúncio de uma nova guerra santa, e o Santuário definitivamente não estava preparado para uma guerra santa naquele momento, pelo menos de acordo com o que Saori havia lhe contado nas cartas.

— Se é assim, vocês sendo lacaios de Marte e se levantando contra o Santuário, não tenho escolha a não ser eliminá-los – declarou Seiya.

— Hm! Quero ver você tentar, Cavaleiro de Pégaso. Nem toda sua fama e força serão capazes de conter o nosso numeroso exército! Este é meu pelotão de choque, que já é bem vasto, mas ainda há os pelotões de meus quatro oficiais. Eles estão rumando para o Santuário e sitiando a cidade nesse momento. Mesmo que por milagre você conseguisse superar nosso primeiro batalhão, os outros quatro destruiriam a cidade e o Santuário, e também a qualquer cavaleiro que se intrometesse em nosso caminho. Vejamos até quando você aguenta, meu jovem, diante de nossa tropa... Esteja avisado, Seiya! Não teremos clemência alguma para com você. Escolheu enfrentar nossa tropa sozinho, e sofrerá as consequências disso.

            Seiya sentiu algo ao longe; ele teve a impressão de serem cosmos em movimento, vindo em direção à cidade. Não pareciam ser hostis, pelo menos em relação ao dele. Talvez fosse algum reforço; talvez fossem os Cavaleiros de Ouro que Kendros tinha mencionado antes. O que quer que fosse, Seiya precisava retardar os centauros o suficiente para que não tivesse que lutar sozinho, visto que agora a cidade estava definitivamente vazia, e ele não precisava mais se preocupar com a segurança dos aldeões. Ele lutaria com todas as suas forças.

— Que seja, Kendros. – Ele assumiu sua postura de combate. – Estou pronto! Mostre-me a força de suas tropas!

— Ataquem, meus irmãos! – gritou o líder dos centauros.

            Uma dúzia de centauros (que devia corresponder a cerca de 20% do total do grupo de Kendros) partiu para cima de Seiya ao mesmo tempo. Ele não hesitou em atacar.

Meteoro de Pégaso!!

            Seu punho disparou novamente inúmeros raios de luz em forma de meteoros contra as criaturas. O golpe foi tão potente que, além de derrubar os doze que haviam avançando, alcançou também Kendros e alguns dos demais centauros da linha de frente.

            Seiya viu a poeira se erguer do chão devido ao impacto de seu golpe, enquanto os centauros abatidos iam caindo em direção ao solo, mas se surpreendeu ao ver que os demais centauros estavam ilesos. Então, ele notou que Kendros agora segurava uma lança longa, que havia sacado de seu arsenal disposto em suas costas, e que estava finalizando um movimento com ela, como se tivesse girado a arma para bloquear o golpe de Seiya, protegendo a si mesmo e aos centauros da frente do impacto do golpe.

            Aquilo fez Seiya se lembrar do golpe Remo Giratório, do espectro Caronte de Aqueronte. A lembrança não foi benéfica. Pelo menos, ao contrário do remo de Caronte, a lança de Kendros não havia repelido de volta o ataque de Seiya.

— Humpf! Por que a surpresa, meu jovem? – debochou Kendros, empunhando a lança. – Nós centauros somos hábeis na utilização de vários armamentos, apesar do arco e flecha serem nossa principal forma de ataque. E é claro que eu seria capaz de bloquear seu golpe, devido ao comprimento da minha lança e por ter visto seu golpe pouco atrás, quando você surgiu diante de nós. Um mesmo golpe não funcionaria duas vezes... Acho que os cavaleiros tem uma regra parecida, não? Sorte que ainda não usei nada de meu arsenal de habilidades para golpeá-lo, a não ser aquela pequena flecha... Mas aquilo foi apenas um aquecimento. Então, Seiya? Sem mais opções de ataque, vejo que não tem como me enfrentar. Sim, homens, relaxem... Eu mesmo enfrentarei Seiya – disse ele para sua tropa.

            Seiya ponderou sobre usar seus outros golpes, mas o Meteoro de Pégaso era sua marca registrada e o golpe de maior potência que possuía. Seis anos sem combates estavam começando a pesar sobre os ombros dele e exibir suas consequências. Ele viu Kendros se adiantando, e viu que teria que arriscar-se ao máximo para vencê-lo.

            Resignado com aquilo, ele começou a andar para frente.

— Como queira, Kendros. Eu irei enfrenta-lo... Mas não pense que já viu todas as minhas habilidades. Não subestime minha força.

— Hmmm... É o que veremos, Seiya! – bradou Kendros, preparando-se para avançar contra o oponente.

            Mas Kendros não conseguiu concluir seu movimento, porque várias coisas ocorreram naquele momento.

            Ao longe, Seiya sentiu dois cosmos se manifestando em direção ao local onde os centauros estavam concentrados, encarando o Cavaleiro de Sagitário. Em seguida, a fileira de centauros se viu desfeita, repentinamente, por dois vultos de luz dourada que irromperam pelos flancos. Os dois vultos se postaram entre Seiya e Kendros, forçando o líder dos centauros a recuar para reorganizar sua tropa.

            Seiya olhou mais atentamente para os dois vultos. Eram duas pessoas usando Armaduras de Ouro.

            Um deles era um garoto, talvez de 16 anos, porém muito alto, dando a impressão de que era mais velho. Era musculoso, tinha pele morena, olhos negros, e longos cabelos escuros, mas com vários fios grisalhos em destaque, apesar do rosto jovem. Ele usava a Armadura de Touro, ainda com o chifre quebrado da luta entre Seiya e Aldebaran tantos anos atrás, e uma capa branca nas costas da armadura. Na parte interna da capa havia duas bandeiras bordadas em tamanho pequeno: uma era a do Brasil, e a outra Seiya não identificou, mas julgou que se tratava da bandeira de um dos estados brasileiros.

            A outra figura era uma garota que aparentava 13 anos. Também era alta para sua idade, embora ainda fosse pelo menos duas cabeças menor do que seu colega de Touro. Tinha olhos castanho-esverdeados, cabelo castanho liso e revolto, e uma pele cor de oliva, quase como se fosse indígena. A menina tinha um belo rosto e uma postura esbelta, de causar inveja a muitas top models. Usava a Armadura de Peixes, também com a capa branca nas costas, que tinha um brasão da família real da Bélgica na parte interna. A exemplo de Marin, ela não usava máscara.

— Não vamos permitir que vocês permaneçam na Vila de Rodorio! – exclamou a garota, com sotaque francês, para os centauros.

— Nós não deixaremos vocês atacarem este cavaleiro! – disse o garoto, falando em grego com um sotaque do Nordeste brasileiro. – Iremos ajudar nosso colega Cavaleiro de Ouro a resistir à sua ofen...

            O garoto parou de falar. Havia olhado para Seiya, percebido a armadura que ele usava e depois reparado no rosto dele. Ele empalideceu e ficou embasbacado.

— Ca-Caraca...! – ofegou ele. – Você é aquele cara...! Seiya de Pég... digo, Seiya de Sagitário!!

— O que houve, Josafá?? – perguntou a moça da armadura de Peixes. – Você parece assus... Caramba!! É ele mesmo! O cavaleiro de quem todos falam no Santuário!

— Han, como vocês sabem meu nome? – indagou Seiya.

— CHEGA! – gritou Kendros, enfurecido. – Minha paciência chegou ao limite. Irmãos, MATEM ESSES CAVALEIROS!!

            A turba de centauros reorganizada marchou em direção a Seiya e aos dois adolescentes. Mas o Cavaleiro de Touro tomou a frente, e Seiya percebeu o cosmo dele se elevando.

Grande Chifre!!— bradou o menino chamado Josafá, esticando as mãos em direção aos centauros.

            Uma imensa onda de choque foi liberada das mãos do garoto, e repeliu todos os centauros da tropa para longe, inclusive Kendros; Seiya ouviu-os atingindo os muros da cidade, ao longe. Ele se deu conta de que o menino havia impulsionado os centauros para fora do campo de visão deles para dar aos cavaleiros tempo para se reorganizarem.

— Ufa – suspirou o garoto, desfazendo a posição de ataque. – Pelo menos assim eles vão nos dar um tempo.

— Foi um bom movimento – disse Seiya.

            O menino ruborizou e voltou a encarar Seiya.

— Ahn... Obrigado, s-senhor – disse ele.

— Creio que não seja necessário me chamar de “senhor”, rapaz – pediu Seiya, sorrindo de leve.

— Ah, claro... Eh... – O menino olhou sem jeito para sua colega de Peixes, que também estava sem reação diante da presença de Seiya. – Bom, eu acho que é melhor nos apresentarmos... Eu sou Josafá. Sou o cavaleiro de Touro...

— Eu sou Liège, amazona de Peixes – disse a garota de sotaque francês. – É um prazer conhece-lo, senhor... Digo, Seiya.

— Ah, sim! É realmente um prazer! – exclamou Josafá, saltitando de entusiasmo. – Seiya, nós ouvimos muito a seu respeito lá no Santuário! Todos os seus feitos e missões... Nem sei como descrever a sensação de finalmente conhece-lo! Ouvi dizer que você ficou um tempo fora do Santuário...

— É, sim, eu fiquei alguns anos fora – admitiu Seiya. – Na realidade, eu estou retornando hoje. Atena se correspondeu comigo e requisitou o meu retorno. Vocês, a essa altura, já devem saber das preocupações dela e dos pressentimentos sobre inimigos que se levantam contra o Santuário... Pelo visto, eles chegaram mais cedo do que eu esperava.

— Caramba, uma pessoa com contato direto com as correspondências de Atena... Só os cavaleiros mais importantes têm esse direito... – comentou Josafá, encarando o chão.

— Josafá... Você está falando seus pensamentos em voz alta, de novo! – advertiu Liège.

            Josafá pareceu se dar conta da gafe e olhou assustado para sua amiga.

— D-Desculpem – falou o garoto, olhando de Seiya para Liège. – Eu nem percebo quando faço isso... Em geral fica pior quando estou nervoso. Ver os centauros atacando essa cidade indefesa, ver as pessoas fugindo... Isso me deixou bem tenso.

— Acalme-se, filho – pediu Seiya. – Vida de cavaleiro é assim mesmo. Você vê pessoas correndo perigo o tempo todo... E cabe a nós impedir que algo de ruim aconteça a elas.

— S-Sim, eu sei, é que... Bom, faz tempo desde a minha última batalha – comentou Josafá. – Não sei se eu estava pronto para esta missão.

— Esperem – disse Seiya. – Há quanto tempo vocês são Cavaleiros de Ouro?

            Josafá e Liège se entreolharam antes de responder.

— Eu sou cavaleiro desde os dez anos – admitiu o brasileiro.

— E eu virei amazona aos sete anos – revelou a garota belga. – Mas o que isso tem a ver com a situação, Seiya?

— É simples. Vocês dois não viraram cavaleiros da noite pro dia. Ninguém vira. Vocês dois, apesar de jovens, já devem ter experiência o suficiente como Cavaleiros. Um tempo sem batalha não faz mal a ninguém... Falo por experiência própria – garantiu Seiya. – Mesmo os melhores cavaleiros precisam de um tempo de descanso, por mais longo que possa parecer. E no fim das contas, nós não perdemos nossa essência de cavaleiros por conta disso. Afinal, vocês já devem ser cavaleiros a, o quê, seis anos? É praticamente o tempo que estou longe daqui. E sempre que somos necessários, estamos prontos para defender os ideais dos cavaleiros, independente do tempo em que ficamos parados.

— Sim, sim – confirmou Josafá. – Faz seis anos que nos tornamos cavaleiros... Fomos promovidos juntos. Mas é a primeira grande batalha que temos que enfrentar, ainda mais junto de outro grande Cavaleiro de Ouro.

— Ora, rapaz – disse Seiya. – Não mereço esse tratamento todo. Os doze cavaleiros de Ouro são importantes em igual medida.

            Josafá fez uma careta.

— Eu não estava... Ah, tudo bem. Obrigado, Seiya, pelo conselho.

            O garoto estendeu a mão. Seiya apertou-a.

— Será uma honra lutar ao seu lado – garantiu Josafá.

— Eu digo o mesmo – retribuiu Seiya. Em seguida, ele estendeu a mão para Liège. – E você, minha cara...? Seria bom cumprimenta-la também, para selarmos de vez essa parceria de combate.

            Liège permaneceu afastada, e ergueu as mãos em um gesto de defesa.

— Não, senhor Seiya, eu estou... Eu estou bem por aqui mesmo – disse ela. – Eu também fico grata por suas palavras, mas é melhor evitarmos...

— Ah, relaxa, Seiya, é que a Liège é meio complexada sobre essa história de contato com outros seres humanos – disse Josafá, bem-humorado. – Ela gosta sempre de ficar distante de tudo e de todos... Nem imagino como Atena conseguiu convencê-la a ajudar nessa missão.

            Liège cerrou os punhos e fuzilou Josafá com o olhar, enfurecida.

— Eu não sou “complexada” – retrucou ela. – E eu gosto da senhorita Saori. Ela é uma das poucas pessoas que me entende. É claro que eu responderia a um chamado dela para uma missão. Seja como for, eu não gosto de entrar em contato com outras pessoas por... Hm, por razões pessoais. Digamos que é coisa de família.

            Josafá continuou rindo, mas Seiya não prestou atenção.

— Não tem problema – disse ele para Liège. – Eu respeito seus motivos. De qualquer maneira, já vi uma amostra do poder de vocês quando atravessaram o grupo dos centauros. Foi o suficiente para confiar na capacidade de vocês para este combate e para que eu me tranquilizasse com a perspectiva de ter vocês como parceiros de batalha. E devo dizer que, agora que já sei do fim da norma do uso das máscaras, você foi bastante beneficiada por isso.

            Liège corou levemente e tocou seu rosto, como se procurasse por alguma falha.

— Ah, é... O-Obrigada, Seiya – gaguejou ela, enquanto Josafá continuava rindo. – Nunca reparei muito na minha aparência... Eu nunca liguei muito para beleza, na verdade.

— Se eu fosse mais jovem e não estivesse comprometido, eu iria tentar conhece-la melhor. – Seiya sorriu, e Liège corou ainda mais. Josafá ainda estava entregue ao êxtase da risada. – Ah, foi apenas uma brincadeira – acrescentou Seiya ao ver a cor se espalhando pelo rosto de Liège. – Estava apenas tentando descontrair. Logo teremos que concentrar nossos esforços para o combate novamente... Aliás, pelo jeito, o golpe do Josafá lançou os centauros para muito longe, tanto que eles ainda não conseguiram retornar ainda.

— Aquilo foi impulso – disse Josafá, em tom de brincadeira, quase sem fôlego por ter ficado tanto tempo rindo de Liège, mas logo assumiu um tom de preocupação. – Mas, Seiya, se quer saber, aquele não era o único pelotão dos centauros. Tinha pelo menos mais uns três na área em torno da vila. Eles nos atrasaram, tentando nos impedir de chegar aqui, já que desde o começo o Grande Mestre disse que nosso dever era ir até Rodorio para protegê-la dos invasores. Quando nós sentimos seu cosmo entrando em choque contra os centauros que haviam chegado aqui primeiro, nós corremos para tentar despistá-los e chegar até a vila, mas acabamos tendo que nocauteá-los para podermos passar, porque eles eram muitos. E mesmo assim, nós vimos que muitos deles se reergueram depois de termos julgado eles mortos.

— Eles devem ter algum tipo de magia obscura que dificulte o processo de morte – sugeriu Liège. – E eles ficavam o tempo todo dizendo que tinham se levantado do Tártaro para uma nova vida em busca de poder... Bom, é meu palpite. Ou isso, ou são todos completamente insanos.

            Seiya se recordou das palavras de Kendros sobre o Tártaro e sobre os demais pelotões que ele afirmou que estavam se dirigindo para a cidade.

— Eu já imaginava que eles teriam reforços... Eles afirmaram ter voltado à vida por intermédio de Marte, o deus da guerra – comentou Seiya, e Liège e Josafá se entreolharam aturdidos pelas palavras dele. – Pelo visto, depois de trazê-los de volta à vida, ele fez com jurassem lealdade a ele.

— Marte? – murmurou Josafá. – Uau... Isso é mau.

— Isso é muito mau – enfatizou Seiya. – Mas antes de nos preocuparmos com Marte, vamos pensar num jeito de deter esses centauros. Vocês disseram que eles conseguem se levantar da morte mesmo depois de terem caído em combate. Eu acho isso estranho, porque eu dei combate a uma dúzia deles agora há pouco e os venci, e eles não se reergueram depois disso.

            Seiya apontou para eles os cadáveres dos centauros que ele havia abatido, que estavam jogados em janelas ou estirados junto às paredes das casas da vila.

— OK, isso sim é bem estranho... – comentou Josafá. – Talvez seja por causa da sua cosmo-energia, que é bem maior do que a minha ou da Liège, mesmo sendo todos Cavaleiros de Ouro.

— Eu também vi algo estranho quando os enfrentávamos do lado de fora da cidade – lembrou-se Liège. – Dois deles começaram a discutir entre si e se enfrentar em meio ao confronto conosco. Parece que discordaram sobre a maneira com que o combate estava sendo conduzido... Como se não estivessem nos enfrentando devidamente, sei lá. Eles falaram em grego antigo, e meu domínio do grego atual já é questionável, do antigo nem tenho como demonstrar. Seja como for, um deles puxou uma faca da cinta e atacou o outro, atravessando o peito dele. O carinha caiu mortinho no chão, e eu não o vi se levantar.

— O Kendros, o líder deles, atacou um dos subordinados que estava hesitando em me atacar – lembrou-se Seiya, contemplando o cadáver do centauro golpeado por Kendros instantes atrás. – Ele desferiu uma flecha nele, e ele continuou morto depois disso. Assim como os que eu ataquei antes.

— Parece então que eles não são imunes aos ataques dos próprios companheiros – falou Josafá. – Mas como faremos com que eles lutem entre si?

— Temos outra opção. – Seiya fitou duramente os dois adolescentes. – Meu golpe conseguiu atingi-los em definitivo por estar fazendo uso de uma cosmo-energia maior que as de vocês, como vocês mesmos notaram. O que implica dizer que vocês ainda não conseguiram elevar seu cosmo o suficiente para vencer esses inimigos. Como Cavaleiros de Ouro, vocês já atingem facilmente o Sétimo Sentido. Contudo, para esta situação, vocês devem superar esse nível. Com meus anos de prática, eu já consegui alcançar e manter um nível em combate que é superior ao Sétimo Sentido... O Oitavo Sentido.

— O Arayashiki? – perguntou Liège. – Já ouvi falar... Eu achava que ele fosse usado apenas para permitir que os Cavaleiros conseguissem ir até o Mundo Inferior sem estarem mortos.

— Essa é a principal função dele, claro – confirmou Seiya. – Mas o Arayashiki também pode e deve ser usado em combate. Às vezes, quando nos deparamos com oponentes que se propõem a superar o Sétimo Sentido, somente alcançando o Oitavo Sentido é que poderemos derrota-los. Vocês dois devem se esforçar para alcançar, ainda que temporariamente, o Oitavo Sentido nesta missão. Só assim poderão evitar que os centauros retornem à vida cada vez que forem vencidos. Sei que acabamos de nos conhecer e que não tenho autoridade nenhuma sobre vocês, mas é um apelo que lhes faço para que tenhamos sucesso nessa luta.

— Sim, claro – concordaram os dois jovens.

— Faremos o impossível para alcançar o Arayashiki e salvar a vila, Seiya. Fique certo disso – argumentou Liège.

— Estou confiante de que vocês alcançarão seu objetivo neste combate – afirmou Seiya. – Vamos nos apressar, então, pois a proteção da vila é nossa prioridade máxima no momento. Mas, antes disso, preciso perguntar a vocês. Um dos soldados disse ao Kendros, líder dos centauros, quando eu estava enfrentando-os antes de vocês chegarem, de que eles já se tinham se deparado com quatro cavaleiros de Ouro nos arredores da vila, contando comigo. Vocês fazem ideia de quem possa ser esse quarto cavaleiro?

            Josafá e Liège se entreolharam novamente, com seus semblantes exibindo preocupação, como se eles esperassem ser castigados.

— Bom... Por não termos tanta experiência em combate... Foi uma decisão de Atena – balbuciou Josafá. – Ela nos enviou para cá, mas com a condição de que um cavaleiro sênior estivesse nos supervisionando.

— É verdade – concordou Liège. – E foi por isso que ela enviou conosco o...

            Ela se interrompeu. O barulho de cascos havia voltado. Os três Cavaleiros de Ouro se viraram em direção aos muros caídos da cidade.

            Um novo grupo de centauros havia surgido diante deles. Devia ser um dos outros grupos que Liège e Josafá haviam defrontado antes de encontrar Seiya. Alguns membros desse grupo estavam bem feridos, como prova de que tinham enfrentado os Cavaleiros de Ouro antes de chegar ali. Porém, mesmo esses feridos pareciam bem dispostos e cheios de energia, ansiando por combater e por matar.

— Ora, ora, ora... – comentou um dos centauros, que estava mais à frente, e que usava um capacete azul-escuro. Devia ser o líder daquele pelotão. – Bem que o mestre Kendros avisou que os moleques Cavaleiros de Ouro podiam buscar reforços. E foram trazer logo o famoso Seiya de Pégaso... Pois bem, guerreiros de Atena. Sua existência patética está prestes a chegar ao fim. Contemplem a fúria da tropa de Agenor, servo de Marte e primeiro tenente do mestre Kendros.

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Notas finais do capítulo

Olá pessoal. Após um longo tempo sem postar, estou de volta.
São quase 13 meses sem postar nessa história.
Vou tentar ficar alternando entre essa e a New Legends principal. Para que os capítulos saiam com maior frequência.
Espero que tenham gostado do capítulo, e expressem suas opiniões nos comentários. Boa leitura!



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