Estrada para o outro lado escrita por slytherina


Capítulo 4
Ressaca


Notas iniciais do capítulo

"A noite acabou, talvez tenhamos que fugir sem você. Mas não, não vá agora, quero honras e promessas. Lembranças e histórias. Somos pássaro novo longe do ninho." Eu sei - Legião Urbana



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A noite já estava plena, com a lua e as estrelas brilhando majestosamente no céu, quando Dean acordou. Estava com uma maldita ressaca. A cabeça pesada e latejante, como se fosse um maldito bumbo que um percussionista insano insistisse em bater com toda força. E a náusea. Ele perambulou com pernas bambas até o vaso sanitário, quando então expeliu todo o álcool que havia ingerido. Deixou-se arriar no chão do banheiro, até as forças voltarem para poder voltar para a sala.

Ele havia adormecido em um canto da sala, completamente vestido, bêbado demais para deitar-se confortavelmente no sofá. A garrafa de uísque barato estava vazia, rolando no chão. Ele a coletou atabalhoadamente e a depositou no cesto de lixo da cozinha. Dean sentiu a cabeça vazia e a ausência de lembranças do que quer que tenha acontecido mais cedo. Procurou pela caixinha de medicamentos no armário do banheiro e sentiu-se sortudo por encontrar alguns comprimidos de analgésicos. Tomou um comprimido com água gelada. Geralmente era Sam quem levava remédio para ele, quando estava com ressaca. Por falar nisso, onde estava Sam?

"Sammy?" Dean chamou. A casa ecoou sua voz no silêncio absoluto.

Nenhuma resposta. Ele se dirigiu ao quarto de seu irmão e abriu a porta devagarinho. Não havia ninguém ali. A cama estava intacta. Ele passou a procurar sistematicamente em todos os cômodos da casa, e a gritar o nome do irmão. Por fim foi até a frente da casa e olhou para a rua deserta, iluminada por alguns postes de luz e a lua cheia no céu.

Por fim ele desistiu e voltou para casa. Quem sabe Sam tenha ficado aborrecido e saído para dar uma volta?Olhou para o relógio de pulso. Cinco horas da manhã. Sam, se tiver realmente saído para espairecer, deve ter decidido dormir fora de casa, pois de maneira nenhuma ele perambularia por aí de madrugada.

Dean foi para seu quarto. Tirou o Jeans e as duas blusas, ficou só de cueca samba-canção, e vestiu uma camiseta velha e esburacada, com o logo da boca linguaruda dos Rolling Stones na frente. Deitou-se em sua cama de solteiro e ficou pensando no irmão. Sempre manhoso e chorão. Irritável e opinioso. Um cabeça dura que sempre insistia em fazer as coisas do jeito que achava melhor, e que sempre defendia suas opiniões com unhas e dentes. Por isso que freqüentemente levava uns safanões do pai. É claro, Dean também se metia no meio, para aplacar a raiva do pai, e evitar que Sam fosse muito castigado.

Sam também era o aluno exemplar, que tirava 10 em tudo, e seu boletim escolar era recheado de médias A+. Qualquer família teria orgulho de ter um menino assim. Sam era tão inteligente, que com certeza iria para uma universidade, graduar-se com honra e mérito. Dean tinha muito orgulho dele.

E Sam tinha AIDS.

Com que diabos Sam havia feito sexo sem camisinha? Que estupidez fora aquela? Depois de tanta propaganda na televisão? Depois de haver educação sexual nas escolas? E Sam ainda havia cometido o deslize de fazer sexo desprotegido e com um completo estranho? Whoa! O fato de Sam ter feito sexo com um homem havia passado quase que completamente despercebido por ele. Seu irmão era gay. Gay! Sam era gay e ele nem havia percebido.

Refletindo honestamente, ele não se importava com isso. Sam podia ser gay o quanto quisesse. Ainda era seu irmão querido, a quem jurara proteger e guardar quando tinha apenas quatro anos de idade, e Sam não passava de um molambo com grandes olhos laranjados e um sorriso desdentado. Dean amava Sam, e nunca desprezaria seu irmão por ele não ser hetero, ou por ter contraído AIDS. Ele precisava dizer isso a Sam, assim que ele chegasse em casa, pela manhã. Sam haveria de perdoá-lo pelo comportamento daquela noite. Tinha certeza que sim. Dean adormeceu novamente, dessa vez mais calmo e sereno.

Muito mais tarde, o sol da manhã atravessou a vidraça da janela do quarto e iluminou o rosto de Dean, fazendo com que suas sardas ficassem mais aparentes e seus pelos mais loiros. O calor daquela luz incomodou Dean, que acordou grogue, ainda com o resquício da bebedeira da noite anterior.

Ele se aliviou no banheiro, e escovou os dentes, para tirar aquele hálito de coisa morta da boca, depois foi pra cozinha preparar o café da manhã. Pegou trigo, ovos e leite. Preparou panquecas com todo o cuidado e carinho do mundo. Recheou-as com frutinhas roxas, as preferidas de Sam. Depois, uns ovos fritos com bacon, porque ninguém é de ferro, para si mesmo, enquanto esperava a cafeteira elétrica aprontar o café. Sam adorava coisas naturais, orgânicas, veganas. Essas firulas naturebas, a que Dean não dava a mínima importância, mas respeitava. Ele pegou a caixinha de leite e a de suco de laranja, da geladeira, tinha suas químicas, mas era o mais próximo do original da mãe-natureza, que Dean poderia conseguir.

Ele serviu-se do seu café da manhã, enquanto esperava por Sam. Após terminar o desjejum e lavar a louça suja, Sam ainda não havia voltado para casa. Será que ele estava muito magoado com Dean? Será que ele havia ido para a escola a partir da casa do colega? Só havia um jeito de saber. Dean foi até o quarto do irmão, pra ver se sua mochila escolar estava lá.

Não, a mochila não estava lá. Dean percebeu um papel dobrado encima da escrivaninha do quarto espartano do irmão. Ele sabia o que era mesmo antes de alcançá-lo e ler o próprio nome escrito no papel dobrado, escrito na letra caprichosa do irmão. "Para Dean".

Dean amassou o papel e sentou-se pesadamente na cama de solteiro de seu irmãozinho. Ele sentiu os olhos arderem e humedecerem. "Não faz isso comigo, Sammy, por favor."

Ele reuniu forças para desamassar a bolinha de papel e ler a mensagem do irmão.

"Dean

Sinto muito por ter te decepcionado. E sinto muito também pela decepção que causarei em papai, quando ele souber de tudo. Amo muito vocês.

Não foi culpa sua se eu não tomei precauções no sexo. Você e papai tomaram conta de mim muito bem, e eu aprendi na escola sobre Doenças Sexuais, então eu não tenho desculpas pelo que aconteceu. Fui apenas tolo e idiota.

Entendo que você esteja bravo comigo e que queira investigar tudo o que ocorreu, porque você é um caçador, mas meus colegas não têm culpa nenhuma, nem sabem de nada. Eles foram proibidos de entrar no bar, pelo leão de chácara local. Eu fui o único que entrou porque sou muito alto e tenho cara de adulto. Por favor, Dean, não os incomode sobre isso, pois eles voltaram para suas casas e acharam que eu tinha voltado para a minha.

Eu não quero ser um estorvo para você e papai, agora que estou doente, e não quero que tenham medo de se contaminar com minha doença. Eu ouvi o que você disse sobre saber como se contaminaria, após eu sangrar quando me bateu. Saiba que eu desprezo a mim mesmo por isso. Eu não quero te passar minha doença, meu irmão.

Decidi cuidar sozinho de mim mesmo. Vou embora de casa para outra cidade, longe de tudo e todos que me conhecem. Nunca mais farei sexo na vida, nem nunca deixarei ninguém entrar em contato com meu sangue, até o dia da minha morte.

Não se preocupe comigo e não venha atrás de mim.

Adeus!

Sam"

"Não, não, não, não. Sam! Sammy!" Dean gritou a plenos pulmões, como se seu irmão estivesse no meio da rua e pudesse ouvi-lo, enquanto as lágrimas lhe inundavam a face. A seguir, ao perceber que isso era inútil, trocou rapidamente de roupa e pegou as chaves do Impala.

"Espere por mim, irmãozinho. Estou indo buscá-lo." Dean deu a partida no velho automóvel e saiu veloz, sem destino, guiado apenas pelo instinto e o desespero.


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